31 dezembro 2007

Balanço... ?



No último dia do ano fica mal haver algum descarado que não faça o “balanço” do ano que termina e não deixe os votos para o ano que começa !
Eu tenho alguma dificuldade neste cerimonial (na verdade tenho dificuldades com todos os cerimoniais…) porque, para mim, todos os dias acabam e começam anos e ainda não percebi porquê, teimosamente, se insiste em lançar os foguetes no dia (noite) 31 de Dezembro.
Porque não a 3 de Janeiro comemorando os 365 dias que começaram a 4 de Janeiro anterior ? ou a 27 de Julho comemorando os mesmos 365 dias iniciados em 28 de Julho anterior ? ou outro dia qualquer comemorando…

Esta lógica seria bem mais simpática, até porque teríamos muito provavelmente a possibilidade de ter foguetes todos os dias, já que cada qual comemoraria o final do ano que lhe desse mais jeito.
Já viram como seria simpático todos os dias ser-mos convidados para um reveillon ?
E todos os dias ter-mos direito a uns copos pagos pelo amigo (artolas…) que comemorava o fim de ano naquele dia ?
Nestas circunstâncias só teríamos que arranjar 365 amigos destes, criteriosamente escolhidos de acordo com a sua própria comemoração para termos festa todos os dias.
Pronto já sei que há aqui um lapso porque nos anos bissextos precisaríamos de 366 amigos…
Pois claro que não esqueci esse pormenor, mas decidi que ficaria esse 366º dia como meu dia de final de ano.
Isto é, teria comes e bebes todos os dias à pala dos amigalhaços e eu só teria de pagar de 4 em 4 anos… Parece-vos mal ? Seria “porreiro pá !”, era só poupança !

Pois fica aqui determinado, utilizando a minha prerrogativa de V:.M:. que a partir de agora festejarei o fim do ano a 29 de Fevereiro.
Se não concordarem façam queixa à ASAE, ou então arranjem maneira de pôr um 29 de Fevereiro todos os anos.
Juro que não fui eu quem roubou os 29 de Fevereiros todos deixando apenas um “tadinho” de 4 em 4 anos.
Quando cá cheguei, e já foi há uma data de anos, já os calendários eram assim.
Quase todos sem 29 de Fevereiro e todos com umas tipas ranhosas para emoldurar e pôr nas paredes da oficina.


Muito bem, vamos então agora ao tal balanço oficial e obrigatório.

Os 365 dias que começaram em 1 de Janeiro passado constituíram mais uma cena da tragédia a que a Terra vem assistindo continuamente.
Tragédia mesmo, porque outra coisa não pode ser chamado ao que se passa entre os homens que povoam o planeta.
A forma como Velhos, Crianças e Doentes são roubados dos seus direitos humanos mais primários com a complacência, quando não com o incentivo, de governantes e dirigentes é, no mínimo, uma tragédia.
Cada vez mais a miséria absoluta convive lado a lado com a riqueza mais obscena !
Como é possível ser assim ? Que organização é esta, montada por homens, dirigida por homens, alimentada por homens, e que se destina finalmente a destruir… homens ?
Como é possível ?

- Acredito no Quinto Império, porque senão o acto de viver era inútil.
Para quê viver se não achássemos que o futuro vai trazer-nos uma solução que cure os problemas das sociedades de hoje ? (Agostinho da Silva)

Então em jeito de balanço fica o desabafo anterior e em jeito de votos para o futuro fica a esperança das palavras do Prof. Agostinho da Silva.

Pessoalmente também penso que:
-Para quê viver, se não for para ajudar a dar algum sentido à humanidade com que fomos bafejados.
E não tenho desfaçatez suficiente para pedir ao Grande Arquitecto que ilumine os homens.
Ele já o fez, o espírito humano sabe bem onde está a luz.
Basta que nos empenhemos em mantê-la acesa em vez de sistematicamente nos esforçarmos para a apagar.
Todos sabemos distinguir o bem e o mal, não há desculpa neste diferendo.

Esperemos que o próximo ano constitua a recuperação (ou pelo menos o seu início) da Paz na Terra, da distribuição solidária da riqueza, da confraternização entre os Homens finalmente entendidos como iguais.
Que cada um cumpra a sua parte.
Porque aquele objectivo depende do esforço de nós todos. Apenas !

Um ano muito bom para todos.
JPSetúbal

27 dezembro 2007

DESIDERATA

O americano Max Ehrmann nasceu na Terre Haute, na Indiana, em Setembro de 1872, filho de emigrantes alemães.
Idealista e poeta, além de advogado e filósofo, produziu em 1927 um poema a que chamou “Desiderata” que é verdadeiramente uma lição de vida a seguir.

Desiderata é, provavelmente, o “concorrente” mais firme do famosíssimo “If” de Rudyard Kipling.
Porque já anteriormente recorri a ele, por razões muito pessoais e em ocasião particularmente solene para mim, resolvi hoje trazê-lo ao blog, em época de recorrência a sentimentos solidários e tolerantes.

E a vida que defendemos não é isto ?
E o trabalho a que nos dedicamos não tem este sentido ?
O que está aqui não é Maçonaria ?

Claro que é !
E é-o de forma clara e provocante. Sigamos Max Ehrmann e iremos dar, garantidamente, a uma vida mais simples, mais alegre e mais feliz.
É bom rever estes princípios e ensinamentos na época que passa.
E já agora uma revisão de quando em quando também é capaz de fazer bem.

DESIDERATA
Max Ehrmann (1927) advogado e filósofo

Vai suavemente por entre a agitação e a pressa e lembra-te da paz que pode haver no silêncio.
Sem seres subserviente, mantém-te em paz com todos.
Diz a tua verdade calma e claramente e escuta com atenção os outros ainda que menos dotados ou ignorantes, também eles têm a sua história.
Evita as pessoas barulhentas e agressivas pois são mortificações para o espírito.
Não te compares com os outros, podes tornar-te presunçoso ou melancólico pois haverá sempre alguém superior ou inferior a ti.
Alegra-te com os teus projectos tanto como com as tuas realizações.
Ama o teu trabalho, mesmo que ele seja humilde, pois ele é um verdadeiro tesouro na contínua mudança dos tempos.
Sê prudente nos teus negócios pois o mundo está cheio de estultícia mas que isso não te cegue a ponto de não veres a virtude onde ela existe.
Muita gente luta por altos ideais e em toda a parte a vida está cheia de heroísmo.
Sê tu mesmo e sobretudo não simules afeição nem sejas cínico em relação ao amor pois, perante a aridez e o desencanto ele é perene como a relva.
Toma amavelmente os conselhos dos mais velhos e renuncia com graciosidade às ideias loucas da juventude.
Cultiva a fortaleza de espírito para que não sejas apanhado de surpresa nas ciladas inesperadas da vida.
Não te aflijas com perigos imaginários:
muitas vezes o medo é resultado do cansaço e da solidão.
Além de uma disciplina salutar, sê gentil contigo mesmo.
Tu és um filho do Universo e tal como as árvores e as estrelas, tens o direito de o habitar. E quer isto seja ou não claro para ti, o Universo é-te disto revelador.
Mantém-te em paz com Deus, seja qual for o conceito que Dele tiveres.
Mantém-te em paz com a tua alma apesar da ruidosa confusão da vida.
Apesar das suas falsidades, lutas e sonhos desfeitos, o Mundo é ainda maravilhoso.
Sê cuidadoso.
Luta. Luta para seres feliz.

O primeiro verso traz-me a recordação de uma entrevista a que assisti há muito pouco tempo, 2 ou 3 dias, durante a qual José Tolentino Mendonça (Escritor e Padre) disse algo que me ficou... "...os indianos dizem que o silêncio é a linguagem de Deus. Mas é a dos homens também. Nós sabemos ! "
A entrevista teve por tema o "silêncio" e foi um notável pedaço de televisão.
JPSetúbal

22 dezembro 2007

A Ratoeira... global

Meus Queridos Amigos, estou na época de procurar historinhas para os meus Netos.
"Natal/Marketing oblige" !
E encontrei uma historinha para os grandes, verdadeira fábula para os Grandões..., principalmente para os Grandões !

Aqui vai a Fábula da "ratoeira":



Preocupadíssimo, o rato viu que o dono da fazenda havia comprado uma ratoeira: estava decidido a matá-lo!
Começou a alertar todos os outros animais:
- Cuidado com a ratoeira! Cuidado com a ratoeira!
A galinha, ouvindo os gritos, pediu que ficasse calado:
- Meu caro rato, sei que isso é um problema para você, mas não me afectará de maneira nenhuma – portanto não faça tanto escândalo!
O rato foi conversar com o porco, que se sentiu incomodado por ser interrompido no seu sono.
- Há uma ratoeira na casa!

- Entendo a sua preocupação, e estou solidário consigo – respondeu o porco. – Portanto, garanto que você estará presente nas minhas preces esta noite; não posso fazer nada além disso.
Mais solitário que nunca, o rato foi pedir ajuda à vaca.

- Meu caro rato, e o que eu tenho a ver com isso? Você já viu alguma vez uma vaca ser morta por uma ratoeira?

Vendo que não conseguia a solidariedade de ninguém, o rato voltou até a casa da fazenda, escondeu-se no seu buraco, e passou a noite inteira acordado, com medo que lhe acontecesse uma tragédia. Durante a madrugada, ouviu-se um barulho: a ratoeira acabava de pegar alguma coisa!
A mulher do fazendeiro desceu para ver se o rato tinha sido morto. Como estava escuro, não percebeu que a armadilha tinha prendido apenas a cauda de uma serpente venenosa: quando se aproximou, foi mordida.
O fazendeiro, escutando os gritos da mulher, acordou e levou-a imediatamente ao hospital. Ela foi tratada como devia, e voltou para casa. Mas continuava com febre. Sabendo que não existe melhor remédio para os doentes que uma boa canja, o fazendeiro matou a galinha.
A mulher começou a recuperar, e como os dois eram muito queridos na região, os vizinhos vieram visitá-los. Agradecido por tal demonstração de carinho, o fazendeiro matou o porco para poder servir os seus amigos. Finalmente, a mulher recuperou, mas os custos com o tratamento foram muito altos.

O fazendeiro enviou a sua vaca ao matadouro, e usou o dinheiro arrecadado com a venda da carne para pagar todas as despesas.
O rato assistiu àquilo tudo, sempre pensando:
Bem que eu avisei. Não teria sido muito melhor se a galinha, o porco e a vaca tivessem entendido que o problema de um de nós coloca todo mundo em risco?”
Claro que não é original meu, não ! Veio por mail e foi mandada por uma amiga de longa data.
Um beijinho para Ela, que até é capaz de ser nossa leitora.
JPSetúbal

21 dezembro 2007

Arrumar de casa

Os comentários ao texto Interstício levam-me a alterar o que tinha programado para hoje. Uma espécie de "arrumar de casa" antes de me ausentar...

O simple aureole perguntou:

"a dispensa de interstícios é rara (...) e só por razões muito fortes deve ocorrer."
Razões "muito fortes" de que tipo? Tipo "vamos lá elevar o tipo depressa, que ele tem uma doença terminal"? Ou do tipo "ele anda aqui a pisar ovos, passem-no lá senão leva seca"?
Imagino que serão mais do primeiro tipo (quando haja uma manifesta falta de tempo disponível para que o percurso decorra da forma prevista) do que do segundo... Pode saber-se?

A dispensa de interstício é, em todas as Obediências Maçónicas, uma prerrogativa do Grão-Mestre, em regra muito parcimoniosamente usada. Não posso nem devo, é óbvio, pretender "ditar" as condições em que os Grão-Mestres utilizam essa prerrogativa. Mas, relativamente às duas possibilidades apresentadas pelo simple aureole, eu diria que, se algum dia fosse Grão-Mestre (intervalo para gargalhadas...), o meu critério seria que... em nenhumas delas!

Os graus maçónicos, escrevi-o no texto Interstício e repito-o agora, não constituem nada, não atribuem nada a ninguém, apenas ilustram. Acrescento agora que também não devem ser entendidos como honras ou manifestações de apreço. Para isso há medalhas, diplomas, etc.. Logo, não se justifica que um maçon com doença terminal, só por tal estado, seja dispensado de interstício para lhe ser conferido um grau maçónico. Isso em nada o modifica, em nada o beneficia, nem nesta vida, nem na Grande Viagem. Razões legais e de organização de sociedade justificam que se prevejam casamentos urgentes ou testamentos realizados, por urgência, sem as legais formalidades, na iminência de morte, ou no receio dessa iminência. Mas não vejo que o reencontro com o Grande Arquitecto tenha alguma diferença por se ter ou não o grau de Mestre maçon. Perante Ele todos nós somos imberbes Aprendizes, quaisquer que sejam os graus e qualidades com que mutuamente nos outorgamos...

Também obviamente que não dispensaria de interstício um maçon só por ser lento no seu progresso. Cada um é como cada qual, cada um tem o seu ritmo, só há que aceitar e respeitar as idiossincrasias de cada um. Dobrar as regras vigentes só para evitar que "leve seca" seria ofensivamente desrespeitador do ritmo próprio do visado, quiçá mesmo do seu gosto por ambientes desérticos e calmaria absoluta...

Tanto quanto me apercebo, as dispensas de interstício têm sido concedidas, sempre muito esparsamente, essencialmente por três ordens de razões: protocolares, interesse da Maçonaria ou mérito excepcional. Como exemplo de razão protocolar, assinalo o facto de existir o costume, em algumas Obediências de países em que o regime político vigente é a Monarquia de o Soberano ser o Grão-Mestre ou, pelo menos, de o Grão-Mestre ser um varão da família real. Normalmente, o Monarca ou familiar do Monarca não necessita de cumprir os interstícios para lhe ser conferido o grau de Mestre. Como exemplo de interesse da Maçonaria, aponto a situação de se pretender introduzir a Maçonaria em país onde ela ainda não esteja presente (sim, há poucos, mas ainda há...) . Para constituir uma Loja que possa iniciar novos Maçons são necessários, pelo menos, sete Mestres. Poderá dispensar-se de interstício um ou mais maçons, de forma a que sejam elevados rapidamente ao grau de Mestre e possam completar o elenco de Mestres necessário para assegurar as tarefas de introdução e expansão da maçonaria em determinada zona do globo. Como exemplo de mérito excepcional, indico situações de cientistas ou pensadores ou académicos de alto gabarito e irrepreensível estatuto moral que a Maçonaria se sente honrada em incluir nas suas fileiras e que, pelo seu excepcional valor, considera deverem receber tão rapidamente quanto possível o grau de Mestre.

Outras situações porventura haverá que sejam consideradas justificativas da aplicação excepcional da dispensa de interstício. Aos Grão-Mestres cabe decidir, caso a caso. E um princípio essencial da maçonaria é a da plena soberania do Grão-Mestre. É para isso que ele é leito e recebe a confiança de todos os maçons.

Quanto aos simpático comentário do nuno_r, secundado pelo simple do "curso pré-maçónico", a minha ideia e o que busco com a minha escrita neste blogue é essencialmente desmistificar o mito da Maçonaria sociedade secreta e do misterioso segredo maçónico, base de muitos ataques, desconfianças e temores relativamente à Maçonaria. E a melhor maneira de o fazer é falar de Maçonaria natural e abertamente num espaço aberto! Os maçons por tradição utilizam termos e expressões que não são usuais na vida comum? Pois então, mostre-se o significado que os maçons dão a esses termos e expressões e tente-se explicar como, porquê e para quê se usam. Os maçons afirmam-se terem e prosseguirem determinados princípios? Pois então afirmemo-los e expliquemo-los e pratiquemo-los (e alertemos para que os maçons não são perfeitos e, por vezes, alguns também os violam...).

Neste espaço, paulatinamente tenciono, enquanto tiver capacidade, saúde e disponibilidade para tal, escrever sobre tudo o que diz respeito à Maçonaria. Já aqui expliquei e, se necessário, voltarei a explicar, que não há nenhum segredo maçónico, para além daquilo que cada maçon consegue entrever e apreender pelo seu trabalho e que, por natureza, é incapaz de ser transmitido ou explicado a outrem. As únicas coisas que aqui não divulgarei são os sinais, palavras e toques de reconhecimento de cada grau, as Cerimónias de Iniciação, Passagem e Elevação e o conteúdo concreto de sessão maçónica em que tenha participado. Mas não por secretismo ou porque se tenha algo a esconder.

Quanto ao conteúdo das Cerimónias, já o expliquei em relação à Iniciação e essa explicação é válida para as restantes: são cerimónias destinadas a serem vividas e a marcar quem por elas passa. E muito desse efeito resulta da surpresa, do desconhecimento prévio do seu conteúdo. Divulgá-las, descrevê-las, seria empobrecer as experiências de quem por elas passar no futuro. Não serei eu quem cometerá tal dislate.

Quanto aos sinais, palavras e toques e conteúdo concreto de reuniões maçónicas, a razão é muito mais prosaica: segundo a antiga Tradição, jurei não as divulgar. É uma simples questão de honra cumprir esse compromisso. Não importa que os sinais, palavras e toques estejam publicados em diversos sítios e que qualquer um, com um mínimo de diligência, inteligência e persistência possa conhecê-los. O compromisso é meu, eu honro-o. Porque assim o impõe a minha Honra. Nada mais! E a esmagadora maioria, praticamente a totalidade, dos maçons de todo o mundo faz o mesmo, pelas mesmas razões. Dos outros, não reza a História nem a nossa Memória...

Ao nuno_r e ao simple, dois estimados leitores e comentadores (às vezes, emocionalmente tenho a impressão que estou escrevendo apenas para vós dois, embora racionalmente a média diária de quase 150 visitantes diferentes do último ano me mostre o contrário...) e a todos os outros que fazem o favor de me ler, desejo, de todo o coração, Festas Felizes e que tenham um 2008 melhor que 2007 e pior que 2009.

Faço agora uma pausa de alguns dias. Só voltarei a publicar textos aqui a partir de 3 de Janeiro. Não porque esteja cansado, mas porque esta época será só reservada para a família e passada em local sem meios técnicos de publicação de textos. Mas tenciono aproveitar para ir preparando uns textos...

Rui Bandeira

20 dezembro 2007

A um Irmão Colombiano

Durante grande parte do ano passado tivemos connosco um Irmão colombiano que cá esteve por motivos profissionais e que quis, durante esse período, integrar os trabalhos da RLMAD.
Chegado o momento certo o R.Lopez teve de regressar à Colômbia, onde a continuidade da vida o chamava.
Está longe fisicamente mas não deixa a Cadeia de União que várias vezes integrou na Mestre Affonso Domingues.
Era sempre com um gozo especial que nos encontrávamos e discorríamos sobre os assuntos mais diversos, ele a querer saber tudo o que era possível sobre Portugal que admira enormemente, como Povo e como Nação que trabalhou ao longo dos séculos pela reunião de povos e culturas.
Pois o nosso querido Irmão R.Lopez, em comemoração da época solsticial que estamos viver, enviou-nos um poema.
Não me cabe tecer outro comentário para além de confessar que este texto me bateu bem fundo no sentir da Fraternidade que perseguimos e da União que mantemos.
A autoria deste poema é de um Mestre Maçon, também colombiano, e aqui o deixo para Vossa apreciação, como homenagem saudosa ao nosso Irmão R.Sanchez que connosco trabalhou.

Brindis Solsticial

Hoy quiero brindar por mis hermanos,
los masones de manos enlazadas,
hombres libres, de costumbres rectas,
obreros del compás y de la escuadra.
Esos hermanos que siempre toleraron
mis errores, mis defectos y mis faltas,
y me mostraron el sendero iluminado
de la verdad, la virtud y la templanza.
Que me brindaron apoyo en mi tristeza
y le infundieron fuerza a mi esperanza,
y que en momentos de duda me alentaron
a seguir construyendo mi mañana.
Eslabones del fraterno gremio
de acacias, espigas y granadas,
hermanos de quien vive en infortunio
y de quien busca paz para su alma.
Compañeros solidarios de mis luchas,
defensores sinceros de mi causa.
Hermanos que me dieron su ternura
con una espontaneidad que no se engaña.
Para todos abierta está mi casa,
y mi lumbre encendida que los llama.
Esos hermanos de todos los momentos
son los que llevo prendidos en el alma.
Alzo mi copa también por los caídos,
los que emprendieron su viaje a la montaña
buscando un sitial en el Oriente
por donde sale el sol cada mañana.
Al hacerlo evoco al Gran Arquitecto
a cuya gloria trabajo con mi llana,
puliendo las aristas de la piedra
en la cantera del corazón y de mi alma.
En esta fecha del invernal solsticio
cuando todo es sombras, soledad y calma,
escudriño al interior de mis recuerdos
y encuentro voces, abrazos y miradas.
Veo a mis Hermanos, siempre atentos,
a responderme cuando mi clamor los llama.
Por ellos brindo con fe, con alegría
con un sentimiento que a todos los abraza.
"Salud, Fuerza, Unión", son mis deseos
al apurar este vino en mi garganta,
la misma que ofrecí aquella noche
cuando presté mis juramentos en el Ara.
G.V.H., M:.M:.
.
Meu Irmão, muito obrigado !
JPSetúbal

Interstício

Interstício quer dizer solução de continuidade, o intervalo entre duas superfícies da mesma ou diferente natureza.

A Maçonaria utiliza a expressão em termos de tempo. Interstício é o intervalo de tempo que deve decorrer entre dois factos. Designadamente , interstício é o intervalo de tempo que deve decorrer entre a Iniciação do Aprendiz e a sua Passagem a Companheiro e também o tempo que se impõe decorra entre essa Passagem e a Elevação do Companheiro a Mestre.

O interstício é uma regra que admite excepção: o Grão-Mestre pode dele dispensar um obreiro e passá-lo ou elevá-lo de grau sem o decurso do tempo regulamentar ou tradicionalmente observado. No limite, a Iniciação, Passagem e Elevação podem ocorrer no mesmo dia. Mas a dispensa de interstícios é rara – deve ser verdadeiramente excepcional – e só por razões muito fortes deve ocorrer.

Assim sucede genericamente na Maçonaria Europeia. Já a Maçonaria norte-americana é muito menos exigente neste aspecto, sendo corrente a prática de conferir os três graus da Maçonaria Azul num único dia. Esta é aliás, uma consequência e também uma causa das diferenças entre as práticas e as tradições maçónicas em ambas as latitudes. Mas impõe-se observar que algumas franjas da Maçonaria norte-americana, designadamente nas Lojas que se consideram de Observância Tradicional, se aproximam, neste como noutros aspectos, da prática europeia.

A razão de ser do interstício é intuitiva: há que dar tempo para o obreiro evoluir, para obter e trabalhar os ensinamentos, as noções, transmitidas no grau a que acede, antes de passar ao grau imediato. Em Maçonaria busca-se o aperfeiçoamento e este não é, nem instantâneo (instantâneo é o pudim...), nem automático. Depende de um propósito, de um esforço, de uma prática consciente e perseverante. É um processo. E, como processo que é, tem fases, tem uma evolução que se sucede ao longo de uma lógica e de um tempo. Por isso, em Maçonaria não se tem pressa. O tempo de maturação, o tempo de amadurecimento, a própria expectativa, são essenciais para um harmonioso desenvolvimento individual.

Os graus e qualidades maçónicos não constituem nada, apenas ilustram, representam, emulam a realidade do Ser e do Dever Ser. Não se tem mais qualidades por se ser maçon (embora se deva ter qualidades para o ser...). Há muito profano com mais valor e maior desenvolvimento espiritual e pessoal do que muitos maçons, ainda que de altos graus e qualidades. Para esses os maçons até criaram uma expressão: maçon sem avental. Mas procura-se ilustrar com a qualidade de maçon a tendência para a excelência, a busca do aperfeiçoamento. O Mestre maçon não é, por decreto ou natureza, necessariamente melhor ou mais perfeito do que o Companheiro ou o Aprendiz. Mas com os graus a maçonaria ilustra um Caminho, um Processo, para a melhoria de cada um. Há por aí muito Aprendiz que é mais Mestre de si próprio que muito Mestre de avental com borlas ou dourados. Mas o mero facto de ter de fazer a normal evolução de Aprendiz para Companheiro e de Companheiro para Mestre potencia o que já é bom, faz do bom melhor, do melhor, óptimo e do óptimo excelente.

Assim, em Maçonaria consideramos profícuo e valioso que o profano que pediu para ser maçon aguarde, espere, anseie, pela sua Iniciação. E que o Aprendiz tenha de o ser durante o tempo estipulado e tenha de demonstrar expressamente estar pronto para passar ao grau seguinte, por muito evidente que essa preparação seja aos olhos de todos; e o mesmo para o Companheiro passar a Mestre; e idem para o Mestre começar a ver serem-lhe confiados ofícios; e também para o Oficial progredir na tácita hierarquia de ofícios e um dia chegar a Venerável Mestre.

Tempo. Paciência. Evolução. De tudo isto é tributário o conceito de interstício, tal como é aplicado em Maçonaria.

O interstício pode ser directamente fixado, regulamentar ou tradicionalmente, ou resultar indirectamente de outras estipulações. Por exemplo, na Loja Mestre Affonso Domingues consideramos que não é o mero decurso do tempo que habilita um obreiro a aceder ao grau seguinte. Mas reconhecemos que o decurso de um tempo razoável é necessário. Estipulámos, assim, no nosso Regulamento Interno, que o interstício para que um obreiro possa aceder ao grau seguinte seja constituído pela presença a um determinado número de sessões. Com isso, estipulamos que uma certa assiduidade é condição de acesso ao grau seguinte e, como a Loja reúne duas vezes por mês, onze meses por ano, indirectamente fixamos um período de tempo mínimo de permanência no grau. Os nossos Aprendizes, quando passam a Companheiros, merecem-no! E os nossos Companheiros, quando são elevados a Mestres estão em perfeitas condições de garantir a fluente prossecução dos objectivos da Loja, incluindo a formação dos Aprendizes e Companheiros. Nós não temos pressa...

Rui Bandeira

19 dezembro 2007

O trabalho do Aprendiz

O Aprendiz, após a sua Iniciação, não tem apenas de se integrar na Loja. Essa integração, se bem que necessária, é apenas instrumental da sua actividade maçónica.

O Aprendiz, logo na sua Iniciação e imediatamente após a mesma, é confrontado com uma panóplia de símbolos variada, complexa e de grande quantidade. Uma das vertentes importantes do método maçónico é o estudo e conhecimento dos símbolos, o esforço da compreensão e apreensão do seu significado.

Aprender a lidar com a linguagem simbólica, a determinar os significados representados pelos inúmeros símbolos com que a Maçonaria trabalha é, sem dúvida, uma vertente importante dos esforços que são pedidos ao Aprendiz. É uma vertente tão mais importante quanto ninguém deve “ensinar” o significado de qualquer símbolo ao Aprendiz. Quando muito, cada um pode informá-lo do significado que ele dá a um determinado símbolo. Mas nunca poderá legitimamente dizer ao Aprendiz que esse é o significado correcto, que esse é o significado que o Aprendiz deve adoptar. O Aprendiz pode adoptar o significado que o seu interlocutor lhe transmitiu ser a sua interpretação, mas apenas se concordar com ele. Se atribuir acriticamente a um símbolo um significado apenas porque alguém lhe disse entendê-lo assim, está a agir preguiçosamente, não está a trilhar bem o seu caminho.

Não quer isto dizer que o Aprendiz não deva, não possa, atribuir a determinado símbolo o mesmo específico significado que outro ou outros lhe atribuem. Aliás, diversos símbolos são generalizadamente vistos da mesma maneira pela generalidade dos maçons. Mas cada um deve meditar sobre o símbolo, procurar entender o que significa, por ele próprio. Pode – não há mal nenhum nisso! – ouvir a opinião de outros, aperceber-se que significado ou significados outros lhe dão. Ao fazê-lo, está a beneficiar do trabalho anteriormente realizado por seus Irmãos e é também para isso que serve a Maçonaria, é também essa a riqueza do método maçónico. Mas deve, é imperioso que o faça, analisar, reflectir sobre o que lhe é dito, verificar se concorda ou discorda, em quê, em que medida e porquê. e então extrair ele próprio a sua conclusão e adoptá-la como a que entende correcta. Pode ser igual à dos seus Irmãos; pode ser semelhante, mas levemente diferente; ou pode ser muito ou completamente diferente. Não importa! Ninguém lhe dirá, ninguém lhe pode legitimamente dizer, que está errado. É a sua interpretação, a que resultou do seu trabalho, da sua análise, é a interpretação correcta para ele. E tanto basta! E se porventura mais tarde, com nova análise, com os mesmos ou outros ou mais elementos, vier a modificar a sua interpretação, tudo bem também! Isso corresponde a evolução do seu pensamento, que ninguém tem o direito ou legitimidade para contestar!

Ainda que beneficiando da sinergia do grupo, da ajuda do grupo, das contribuições do grupo, o trabalho do maçon é sempre individual e solitário! E também, inegavelmente, difícil. É todo um novo alfabeto que, mais do que aprender, o Aprendiz maçon está a criar e a aprender a criar!

Não é, ainda, porém, esse o principal trabalho do Aprendiz maçon. É um trabalho importante, é sobre ele que deverá, a seu tempo, mostrar a sua evolução, mas ainda assim é apenas um trabalho instrumental.

O verdadeiro trabalho do Aprendiz é, afinal, o de se aperfeiçoar a ele próprio. Incessantemente. Incansavelmente. Interminavelmente. Ou melhor, só terminando no exacto momento em que deixa esta dimensão do Universo e passa ao Oriente Eterno. O verdadeiro trabalho do Aprendiz é trabalhar a sua pedra bruta e dar-lhe, pacientemente, diligentemente, a regular forma cúbica que harmoniosamente se integre na grande construção universal projectada pelo Grande Arquitecto do Universo!

A pedra bruta a aparelhar é ele próprio, as asperezas a retirar são as suas muitas imperfeições, os seus defeitos, os seus deméritos, a forma a trabalhar e a tornar regular e harmoniosa é o seu carácter.

Este trabalho nunca está concluído. Por mais lisa que esteja a sua pedra, por mais regular e harmoniosa que esteja a sua forma, nunca está perfeita, pode e deve sempre aprimorá-la, alisá-la ainda um pouco mais, dar-lhe ainda melhor proporção.

Este trabalho é o verdadeiro, o importante, o essencial trabalho do Aprendiz maçon e é-o para toda a sua vida. É, portanto, também o trabalho do Companheiro e do Mestre maçon. Por isso o Mestre maçon que seja realmente digno dessa qualidade só se pode considerar, ainda e sempre, um Aprendiz e continuar, prosseguir, com perseverança, o sempiterno trabalho de se aperfeiçoar, de trabalhar a pedra bruta, que por muito cúbica que esteja, deverá sempre ver como bruta em relação ao que deve estar, ao que ele pode que esteja, ao que deve aspirar que seja, esperando que, chegada a hora, algum préstimo tenha.

O verdadeiro trabalho do Aprendiz é, tão só, o trabalho de ontem, de hoje e de sempre, do maçon, qualquer que seja o seu grau e qualidade: melhorar. melhorar e, depois disso, melhorar ainda! Tudo o resto é apenas instrumental!

Rui Bandeira

18 dezembro 2007

A Família e o Século XXI


Estes 2 dias tenho estado com um casal amigo que numa espécie de férias saltaram da Madeira para o centro da Europa regressando agora a Lisboa, na volta para a Madeira.
Ele é de origem brasileira, ela de origem beiroa/madeirense, e entre os vários temas que nas nossas conversas sempre saltam com enorme facilidade e fluência um houve que deu origem a um aprofundamento especial.
Falava-se da actualidade da relação homem/mulher, versus casamento, procriação e educação de filhos, constatando-se o divórcio entre a juventude actual e laços da família que nos criou..

Considero tratar-se de uma questão para ser profundamente analisada, criticada e necessitando de uma consciencialização a todos os níveis da sociedade, pelo que trago aqui alguns excertos das várias facetas da questão.

É absolutamente necessário que a discussão do tema se generalize, a fim de que todos tomem consciência de qual a situação, quais as causas e qual a correspondência entre as causas e os efeitos que observamos e dos quais nos queixamos, muitas vezes sem qualquer interesse na procura de uma solução.
Frequentemente apenas por comodismo.
Comodismo relativamente ao trabalho de pensar, comodismo relativamente à procura da solução e à respectiva aplicação prática, se encontrada.

Pertenço à geração que viu nascer a telefonia e depois a televisão, o telefone, o telex, o fax, o telemóvel, a Internet… Tudo isto no tempo de uma geração.
Igualmente vi aparecer o automóvel, o avião, o comboio rápido, os foguetões, a ida à Lua, os passeios fora do globo terrestre.
Numa geração passámos do burro ao foguetão.

Isto é uma revolução tremenda, nos hábitos, nas possibilidades do conhecimento, na diminuição dos tempos de acesso à informação e consequentemente ao mundo.
Hoje assiste-se à guerra em directo, ao vivo e a cores.
Tudo ficou enormemente mais rápido, a necessidade de “ferramentas” para o dia a dia cresceu aceleradamente, descontroladamente.

Quando nos anos de 60 do século passado se estudava a revolução industrial, de facto não sabíamos o que estávamos a estudar nem a dimensão real do fenómeno que alunos e professores procuravam compreender e explicar.

(Um parêntesis para um momento pessoal de recordação a um professor extraordinário que me trouxe discussões profundíssimas sobre o homem e o seu comportamento societário. É a recordação saudosa do meu querido Prof. Adérito Sedas Nunes.)

Esta aceleração descontrolada dos factos da vida diária, a necessidade de dispor de novas e em maior número, ferramentas de defesa para o dia a dia, originou um crescendo de novas necessidades, de facto de novas exigências.
Como as alterações salariais não acompanharam esta aceleração, a situação económica/financeira das famílias ficou com necessidade de responder a situações para as quais os orçamentos familiares não tiveram resposta.
A consequência foi o aumento da participação familiar no esforço produtivo, tentando obter o acréscimo de valor necessário às novas modas e aos novos standards.

Foi assim que a estrutura da família baseada no trabalho externo do homem e interno da mulher, se alterou profundamente.
A mulher teve de sair de casa para trabalhar no exterior, acompanhando o homem nesse esforço, não deixando substituto para as tarefas diárias da casa e do acompanhamento dos filhos.

A mulher como eixo central da família, educadora, aglutinadora dos componentes familiares desapareceu não deixando substituto.
Como até hoje não foi possível encontrar qualquer estrutura de substituição, a sociedade procura uma adaptação à realidade que se tem mostrado bem complexa.

As máquinas são fáceis de substituir. Os sentimentos não, e é de sentimentos que se trata.


JPSetúbal

14 dezembro 2007

O exemplo do burro

Um dia, o burro de um camponês caiu num poço. Não chegou a ferir-se, mas não podia sair dali por conta própria. Por isso, o animal zurrou durante horas, enquanto o camponês pensava em como o poderia ajudar. Finalmente, o camponês tomou uma decisão cruel: concluiu que o burro já estava muito velho e que o poço já estava seco e, de qualquer forma, precisava de ser tapado. Portanto, não valia a pena esforçar-se para tirar o burro de dentro do poço. Pelo contrário, chamou os vizinhos para o ajudarem a enterrar o burro vivo, aterrando, ao mesmo tempo, o poço. Cada um deles pegou numa pá e começou a deitar terra dentro do poço. O asno não tardou a aperceber-se do que lhe estavam a fazer e zurrou desesperadamente.

Porém, para surpresa de todos, o burro acalmou-se , depois de ter levado em cima com algumas pazadas de terra. O camponês olhou para o fundo do poço e surpreendeu-se com o que viu. A cada pazada de terra que caía no seu lombo, o burro sacudia a terra e logo dava um passo sobre essa mesma terra, que caía ao chão. Assim, em pouco tempo, todos viram como o burro conseguiu chegar até à boca do poço, passar por cima da borda e sair dali a trote.

A vida atira-nos muita terra. Todos os tipos de terra. Principalmente se já estivermos dentro de um poço. O segredo para sair do buraco é sacudir a terra com que se leva e dar um passo em cima dela. ada um dos problemas que se nos deparam e que é superado é um degrau que nos conduz para cima. Podemos sair dos mais profundos fossos, se não nos dermos por vencidos: usemos a terra que nos atiram para seguir adiante!

Desta pequena história podemos retirar cinco lições que nos ajudarão a ser felizes:

1.ª - Devemos libertar-nos do ódio e do desespero, que só pioram a nossa situação.

2.ª - Devemos libertar a nossa mente de preocupações exageradas, que só prejudicam o nosso raciocínio.

3.ª - Devemos simplificar a nossa vida, buscando soluções simples para o que só aparentemente é complicado.

4.ª - Devemos dar mais e esperar menos, pois assim não nos desiludiremos.

5.ª - Devemos amar mais e... aceitar a terra que nos atiram, pois ela pode ser uma solução, não um problema!

Adaptação minha de texto de autor desconhecido.
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Nas próximas segunda, terça e, eventualmente, quarta-feira, estarei ausente e sem ligação à Rede, que me permita publicar textos no blogue. Regressarei quarta ou quinta-feira, por alguns dias, antes de fazer uma pausa de Natal e Ano Novo. De qualquer forma, continuem a espreitar o blogue. Há mais autores a escrever aqui...

Rui Bandeira

13 dezembro 2007

Desafio

Lido na edição electrónica do Diário da Serra, de Tangará da Serra, Mato Grosso, Brasil, em artigo de 13/12/2007, de Luciano Góis:

A loja Maçônica 13 de Maio realizou na noite da última terça-feira, 11, um torneio de confraternização envolvendo seis equipes. As equipes foram formadas por jogadores que treinam durante a semana no campo da Maçonaria e outros jogadores que foram convidados, com o propósito de confraternizar e colaborar também com o Lar dos Idosos. Cada atleta doou um produto de limpeza, que foram entregues ao Lar dos Idosos.

Como se vê, Maçonaria não é necessariamente sisudez nem preocupação com aperfeiçoamento. Pode muito bem ser também divertimento, desporto, confraternização.

Afinal de contas, mens sana in corpore sano (mente sã em corpo são) é uma condição que já na antiga Roma se entendia como desejável (por isso é que criaram o brocardo que ainda hoje é utilizado...).

Repare-se ainda como judiciosamente se junta o útil ao agradável: convívio, confraternização, desporto, mas também solidariedade. O torneio foi um pretexto para ajudar o Lar de Idosos em algo que, manifestamente, lhe é útil: produtos de limpeza. E sem um grande custo individual: a "inscrição" de cada jogador para o torneio foi um produto de limpeza. Os produtos recolhidos foram então doados ao lar de Idosos.

Simples, fácil, eficaz!

Esta pequena notícia ensina-nos uma coisa, pelo menos: é possível ajudar, sem necessidade de grandes organizações, grandes esforços. Um pouco de imaginação chega para poder ajudar.

Aprendamos, pois.

A propósito, e se arranjássemos uma brincadeirinha do género cá no nosso cantinho europeu? Que tal um ou mais jogozitos de Futebol de 5? O José Ruah, que dizem que é craque - e, se for, é um craque de peso, basta olhar para ele... - é que podia organizar uma equipa da Mestre Affonso Domingues!

Eu, como o meu departamento é mais o de lançar ideias para o ar e ver se alguém as agarra, avanço já com o desafio: há para aí uma Loja Maçónica que queira medir forças (com a Sabedoria disponível e a Beleza possível) no Futebol de 5 com a Loja Mestre Affonso Domingues? Cá por mim, como é uma actividade profana, estendo o desafio também às Lojas do GOL. Condição essencial: haverá que combinar previamente o que cada jogador deve dar, como taxa de inscrição, para posteriormente ser entregue a uma instituição de solidariedade acordada entre ambas as Lojas.

Quem sabe? Há ideias assim malucas que prosperam... Já viram se, pontapé aqui, golo acolá, um dia se chegasse a um Grande Torneio de Futebol de 5 Maçónico, com direito a transmissão televisiva na Sport TV e tudo? Com os respectivos direitos de transmissão a reverterem para Solidariedade? Deixem-me sonhar...

Rui Bandeira

12 dezembro 2007

Videojogo desvenda os "segredos maçónicos"

Querem saber como é o Ritual de Abertura de uma Loja Maçónica? Como decorre uma Cerimónia de Iniciação? Mais: querem conhecer todo o Ritual de Iniciação? Incluindo Palavras de Passe e Sinais?

Querem?

Então, não seja por isso! O A Partir Pedra está aqui para vos iluminar...

Fiquem então sabendo que está disponível, para descarga gratuita para o vosso computador um pequeno e simples videojogo que desvenda tudo isso. Trata-se de um videojogo graficamente muito primário, que tem por objectivo fornecer informação sobre o que é a Maçonaria. E se fornece informação! Informa tudo, digo-vos eu! Garanto que tudo o que acima referi é facilmente sabido através do dito videojogo, sem especial dificuldade.

Há só dois senãos (há sempre senãos...).

O primeiro é que o videojogo está todo em inglês. Só quem dominar essa língua pode obter os conhecimentos assim desvendados.

O segundo é que esse videojogo foi elaborado por um maçon americano e mostra como abre uma Loja americana, como é feita uma Iniciação na América, quais são os sinais e palavras de passe em uso na Maçonaria Americana, tudo segundo o Ritual de Webb.

Mas garanto que todas as informações que são dadas são fidedignas e correctas! Algumas coisas são iguais ao que se faz no Rito Escocês Antigo e Aceite. Outras são semelhantes. Outras ainda são diferentes, mas facilmente reconhecíveis por um Maçon do REAA. Outras são diferentes.

Pessoalmente, acho o Ritual do Rito Escocês Antigo e Aceite muito mais rico e simbolicamente mais interessante. Acho a Cerimónia de Iniciação do Rito Escocês Antigo e Aceite, de longe, muito mais impressiva e marcante. Mas eu sou suspeito, confesso...

De qualquer forma, quem quer ter uma noção, certa em relação à Maçonaria Americana, e razoavelmente aproximada, em relação ao que praticamos em Portugal e no REAA, certamente que achará proveitoso jogar o jogo. Conseguirá perceber como se processam os Rituais de Abertura e de Iniciação no rito Webb e obterá várias informações, todas fidedignas e correctas, sobre a Maçonaria.

Um alerta: convém dispor de tempo...

E, depois de descarregar o jogo, convém abrir e ler primeiro o ficheiro "Read me" (leia-me). Ali se informa quais as teclas necessárias para movimentar o boneco e interagir com outros personagens e objectos. É muito simples...

O videojogo está disponível para descarregamento gratuito no blogue Excommunicate.net, mais precisamente no texto, publicado em 11 de Fevereiro de 2007, intitulado Secrets of Freemasonry. O descarregamento é proporcionado sob licença Creative Commons Não Comercial 3.0, que em síntese, autoriza a cópia, distribuição e utilização do jogo, desde que sem objectivos comerciais e citando a licença e a origem do jogo. Para fazer a descarga do download file, basta usar este atalho. Os requisitos técnicos para poder usar o jogo são pouco exigentes e, certamente, ao alcance de todos, hoje em dia: Sistema Operativo Windows 2000, XP ou Vista, 128 Mb de memória RAM e processador com uma velocidade mínima de 450 Mhz. Atenção que, se vos suceder como ocorreu comigo, o programa de descarga não cria um ícone com um atalho para o jogo. É preciso ir à pasta onde foi guardado para o abrir. Se fizerem a descarga para a pasta fixada por defeito, encontrarão o jogo em Meu Computador/ Disco Local (C)/Arquivos de Programas/ASCII/RPG2000/Project1. Basta carregar no ícone RPG_RT.exe. A partir daí, o rato é inútil. Só teclado, meus caros... Divirtam-se e saibam um pouco mais!

Quem disse que a Maçonaria é secreta?

Rui Bandeira

11 dezembro 2007

Audi, Vide, Tace

Audi, vide, tace (Ouve, vê, cala) é a divisa inscrita no brasão de armas da Grande Loja Unida de Inglaterra.

Esta divisa é extraída do brocardo latino Audi, vide, tace, si vis vivere in pace, que significa Ouve, vê e cala, se queres viver em paz.

Audi, Vide, Tace. (com um ponto no fim) é o nome de um interessante blogue maçónico americano. Atenção, que, querendo aceder a esse blogue sem ser através do atalho atrás colocado, o endereço a inserir tem um pequeno quê: no endereço, a primeira palavra não termina em "i", mas em "e". Portanto: http://audevidetace.blogspot.com.

O autor deste blogue usa o pseudónimo de Wayfaring Man (Homem que viaja para longe, Viajante). Como eu, é Advogado. Além disso, é Mestre em História Americana. É ainda colaborador de um jornal desportivo e de outras publicações. E é, é claro, Mestre Maçon.

A sua preparação e os seus interesses transparecem claramente no blogue. Os textos que ali publica são excelentemente estruturados e muito bem escritos. Este blogue apresenta vários textos com referências de índole histórica relacionadas com a Maçonaria. Só para mencionar os últimos com essa característica, temos The appeal of Masonic Research (A atracção pela Investigação Maçónica), onde se referencia um oficial naval americano maçon e a busca feita pelo autor do blogue no espólio por ele deixado de documentos com interesse maçónico, com a localização de um caderno com apontamentos em cifra maçónica, e It's the spirit, not the letter,that giveth life (É o espírito, não a letra, que dá vida), referenciando uma publicação maçónica americana que foi mensalmente publicada entre 1915 e 1930. Este interesse pela História, a divulgação de elementos e documentos históricos relativos à Maçonaria Americana, é um ponto de grande interesse deste blogue.

O blogue, porém, não se reduz a História. Longe disso. Wayfaring Man dá a sua opinião sobre temas da actualidade maçónica, sendo visível a ponderação dos seus pontos de vista. Nesta época em que algumas perturbações assolam a Maçonaria Americana, por vezes traduzidas em tempestuosas polémicas em vários blogues e fóruns electrónicos maçónicos americanos, é reconfortante encontrar sempre uma postura de equilíbrio e ponderação no que é publicado neste blogue.

Wayfaring Man denota ainda uma particular apetência pela realização de sondagens sobre questões maçónicas ou relacionadas com a Maçonaria, sendo frequente o lançamento de interrogações à sua audiência, acompanhadas do lançamento de uma sondagem informal.

Este blogue, não sendo dos de mais frequente actualização, não deixa, porém, abandonados os seus visitantes, apresentando em média um texto por semana. E sempre textos que vale a pena ler!

Mais um blogue de qualidade de que aqui dou conta e que vai passar a dispor de um atalho na área do A Partir Pedra a eles destinada.

Rui Bandeira

10 dezembro 2007

Geminação, almoço, leilão


O JPSetúbal já ontem, no seu texto Dia de Festa fez breves referências aos eventos relacionados com a Loja Mestre Affonso Domingues ocorridos no passado sábado. Referências feitas num registo (compreensivelmente) emocional.

Quem leu esse texto e não integra a Loja Mestre Affonso Domingues, no entanto, terá dificuldade em entender que eventos foram esses. A meu ver, e sendo este blogue "escrito por maçons da Loja Mestre Affonso Domingues", justifica-se uma referência mais informativa. Ei-la, pois.

Ocorreu, na manhã do último sábado, "em lugar a coberto da indiscrição dos profanos", a Cerimónia de Geminação entre as Lojas Mestre Affonso Domingues e Rigor, esta reunindo ao Oriente de Bragança. A decisão de geminação fora tomada no ano passado, aquando de uma visita efectuada por uma delegação da Loja Mestre Affonso Domingues à Loja Rigor, já registada neste blogue no texto Uma visita a Rigor.

Com esta cerimónia e a celebração do respectivo Convénio de Geminação, a Loja Mestre Affonso Domingues passa a estar geminada com duas outras Lojas: a Loja Rigor, de Bragança, Loja pertencente à mesma Obediência que a Loja Mestre Affonso Domingues, a GLLP/GLRP, e a Loja Fraternidade Atlântica, de Neuilly-Binot (perto de Paris), integrada na Grande Loge Nationale Française (GLNF ).

A geminação é um protocolo de colaboração especial entre Lojas, traduzindo um propósito de realização de visitas mútuas entre os obreiros das Lojas geminadas e de colaboração na organização de eventos, actividades e realizações comuns.

Ainda no sábado último, a Loja Mestre Affonso Domingues celebrou o seu habitual almoço festivo de Dezembro, contando com a presença dos nossos Irmãos de Bragança, na primeira execução prática do Convénio de Geminação celebrado nessa mesma manhã.

No decorrer deste almoço, foi, como é também habitual na Loja Mestre Affonso Domingues, prestada homenagem ao obreiro que exerceu as funções de Venerável Mestre no ano maçónico anterior, PauloFR, com a entrega de uma pequena recordação. Esse momento de homenagem é a única retribuição que a Loja dá a quem tem o encargo, a responsabilidade e o trabalho de a dirigir durante um ano. O objecto de recordação que lhe é ofertado e a satisfação do dever cumprido são o que cada maçon que exerceu o ofício de Venerável Mestre guarda dessa passagem pela Cadeira de Salomão. E chega! E é muito! E é tudo o que interessa!

O almoço foi abrilhantado pela actuação musical de dois Irmãos, Alexis B., que tocou balalaica e violino, e Acácio R., que tocou guitarra clássica, actuação que mereceu generalizado aplauso de grande agrado.

Como felizmente é já uma tradição do nosso grupo, estiveram presentes no almoço elementos que, no passado, integraram a Loja Mestre Affonso Domingues e que presentemente se encontram adormecidos (afastados por opção própria). O facto de circunstâncias diversas, pessoais ou da vida, levarem a que maçons, por vezes tão contristadamente, decidam suspender a sua actividade maçónica não impede que nesta ocasião especial, como noutras, tenhamos o gosto da sua presença e companhia. Uma vez dos nossos, sempre dos nossos. E a porta de regresso está sempre aberta. Nem sequer é preciso bater, basta entrar e abraçar quem estiver do lado de dentro!

Finalmente - e infelizmente já sem a presença dos Irmãos da Loja Rigor, que tiveram que regressar a meio da tarde a Bragança, que a distância é longa -, teve lugar o habitual leilão entre os presentes das ofertas que, especificamente para tal fim, todos trouxeram. O produto recolhido este ano reverteu para a aquisição de bens que sejam úteis ao CAJIL (Centro de Apoio a Jovens e Idosos do Lumiar) e à CERCIAMA (Cooperativa para a Educação e Reabilitação de Crianças Inadaptadas da Amadora). O nosso contributo é uma ínfima parte do que estas meritórias instituições merecem e necessitam. E esse apoio não tem qualquer mérito ou valor especial. É apenas o cumprimento, pela nossa parte, de uma obrigação de pessoas de bem: apoiar quem supre necessidades sociais importantes de quem mais frágil está, E só é aqui mencionado com um único propósito e uma só esperança: o propósito de chamar a atenção para o mérito destas instituições e a esperança de que quem leia este texto vença a inércia e tome a iniciativa de juntar mais um pequeno grão ao grão miúdo que nós arranjámos. Porque será assim, grão a grão, que vamos lá, que todos ajudamos com a nossa pequena parte ao muito que os responsáveis e voluntários destas instituições fazem.

Portanto, caro leitor, faça o favor de compensar a leitura deste texto com um pequeno gesto: dê o que puder ao CAJIL (Rua do Lumiar, n.º 57, Lisboa, telefone - 217 574 573) e/ou à CERCIAMA (Rua Mestre Roque Gameiro, n.º 12, Amadora, telefone 214 986 830 / 214 986 838). Vai sentir-se muito feliz com esse gesto! E, se e quando puder, não se acanhe: vá lá fazer uma visita e ver a obra que é feita! Eles ficam contentes com o seu interesse e você verificará pessoalmente como é bem aproveitado tudo o que para ali é canalizado!

Rui Bandeira

09 dezembro 2007

Dia de Festa


Como disse Fernando Pessoa e o nosso PVM tem escrito "há momentos únicos".
É de um desses momentos que Vos falo.
A todos os Obreiros da R:.L:.Mestre Affonso Domingues devo um Tiplo Abraço de Fraternidade ritual e principalmente muito profanamente... Amigo.
O dia de ontem ficará para sempre como um marco na minha história pessoal, e mais feliz ainda se um dia me puder aperceber que também para Vocês ele significou algo de bom e de bem.

Foi uma colecção de emoções, desde a apresentação formal do "regresso" do Estandarte/Guião da Loja (infelizmente o nosso original está nas mãos de alguém de que apenas sei o nome da mãezinha respectiva, sendo este um exemplar novo) até ao leilão final do dia, cujo resultado foi bem superior às expectativas e cujo destino será o Cajil e a Cerciama.

Aos nosso Irmãos da R:.L:.Rigor, que vieram de Bragança de propósito para estar connosco, agradeço os 800 Km feitos, a Alegria da presença, a ajuda à Beleza da sessão que nos proporcionaram, a Força que nos trouxeram.
A R:.L:.Mestre Affonso Domingues e a R:.L:. Rigor são Irmãs desde sempre e Irmãs-Gémeas desde ontem.
A Maçonaria ficou mais forte e as nossas obrigações aumentaram.
Quanto ao nosso ágape festivo do Solstício de Inverno... tudo está bem quando acaba daquela maneira.
Nem quero saber se os pratos servidos estavam bem ou mal, se a pingota bebida era rasca ou de luxo.
Tivemos connosco alguns dos mais históricos da Loja, mesmo alguns dos que mais longe fisicamente têm estado mas que reafirmaram de novo que uma vez da "Affonso Domingues", para sempre com a "Affonso Domingues".
Bem hajam meus Irmãos.
JPSetúbal

07 dezembro 2007

Semear a Beleza

Um homem trabalhava numa fábrica que ficava a cinquenta minutos de autocarro da sua casa.

Na paragem a seguir à sua, entrava todos os dias uma senhora idosa, que se sentava sempre junto à janela do autocarro. Abria a mala, tirava um pacotinho e passava toda a viagem atirando algo pela janela. A cena repetia-se todos os dias.

Um dia, curioso, o homem perguntou-lhe o que atirava ela pela janela.

- Atiro sementes. - Respondeu ela.

- Sementes? Sementes de quê?

- De flores. É que eu olho para fora e a berma da estrada é tão vazia... Gostaria de poder viajar vendo flores coloridas ao longo de todo o caminho. Como seria bonito!

- Mas as sementes caem no asfalto, são esmagadas pelos pneus dos carros, comidas pelos pássaros. A senhora acha mesmo que vai germinar alguma semente na berma da estrada?

- Acho, meu filho! Mesmo que muitas se percam, algumas acabarão por cair na terra e, com o tempo, vão dar flor.

- Mesmo assim, vai demorar muito... E precisam de água...

- Eu faço a minha parte! A chuva ajudará. Se alguém deixa cair sementes, as flores hão-de surgir!

E a senhora idosa virou-se para a janela e recomeçou a sua tarefa. O homem, quando desceu na paragem junto ao seu emprego, pensava que a velha senhora já estava senil.

Mas, algum tempo depois, o homem, viajando no autocarro, ao olhar para fora, viu flores na berma da estrada! Muitas flores! A berma da estrada era uma paisagem colorida, perfumada, linda! Lembrou-se então da velha senhora, que não via já há algum tempo. Perguntou por ela ao motorista do autocarro, que conhecia todos os passageiros habituais.

- A velhinha das sementes? Morreu há quase um mês...

O homem voltou para o seu lugar e continuou a olhar a paisagem linda. E pensou:

- Quem diria? As flores nasceram mesmo! Mas de que adiantou o trabalho dela? Morreu sem ver esta Beleza toda!

Nesse momento, ouviu uma criança a rir. No banco da frente, uma menina apontava pela janela, entusiasmada:

- Olha, pai, que lindo! Tantas flores à beira da estrada! Como se chamam estas flores?

Então, o homem compreendeu o que a velha senhora tinha feito! Mesmo não estando já ali para ver, ela fez a sua parte, deixou a sua marca, a Beleza, para a contemplação e a felicidade das pessoas!

No dia seguinte, o homem entrou no autocarro, sentou-se junto à janela, tirou um pacotinho de sementes do bolso e fez toda a viagem atirando-as pela janela... E assim deu continuidade ao que a velha senhora fizera, semeando o amor, a amizade, o entusiasmo e a alegria!

O futuro depende das nossas acções no presente. Se semearmos boas sementes, os frutos das plantas que nascerão serão igualmente bons. Semeemos as nossas sementes!

(adaptação minha de um texto, sem indicação de autor, recebido por correio electrónico)

Rui Bandeira

06 dezembro 2007

Tempo

O que há de mais valioso no Mundo não é dinheiro. nem jóias ou diamantes. Muito menos ouro, dourado ou negro. Nem sequer as crianças - como muitas vezes dizemos. O que há de mais valioso no Mundo é o Tempo. Não se pode comprar nem vender, não se pode guardar nem acumular. Tem-se o que se tem e é esse que se pode e deve administrar o melhor possível.

O que há de mais democrático no Mundo não é o voto. Nem as eleições. Muito menos a separação de poderes. Nem sequer a limitação de mandatos. O que há de mais democrático no Mundo é o Tempo. O dia tem vinte e quatro horas, a hora tem sessenta minutos, o minuto tem sessenta segundos, quer para o multimilionário mais rico do planeta, quer para o mais miserável pária sem abrigo do mais pobre recanto deste Mundo. O rico, por mais que o deseje, não consegue que o seu dia tenha trinta horas, nem a sua hora oitenta minutos, nem o seu minuto cem segundos. O pária miserável pode não ter nada de nada, mas tem exactamente as mesmas horas no seu dia que o multimilionário, os mesmos minutos na sua hora, os mesmos segundos no seu minuto.

O que há de mais implacável no Mundo não é o Mal. Muito menos o Déspota. Nem sequer o Terrorista. O que há de mais implacável no Mundo é o Tempo. Chega, passa e vai, insensivelmente, sempre ao mesmo exacto ritmo.

O que muda é a nossa percepção do Tempo. Se estivermos confortavelmente sentados vendo um belo pôr-do-sol, ouvindo uma música do nosso agrado, bebendo uma bebida da nossa preferência, sendo acariciados pela mulher que amamos, enquanto cheiramos o seu agradável perfume, esse Tempo, por muito longo que seja, parecer-nos-á sempre breve, seguramente muito mais breve do que nos pareceria a exacta mesma quantidade de tempo em que estivéssemos a ser agredidos por um energúmeno feio e malcheiroso, que nos berrava impropérios, sentindo na boca o sabor de alguma porcaria que ele ali nos enfiara...

Cada um dispõe em cada dia do mesmo tempo que todos os demais, exactamente 86.400 segundos em cada dia, nem mais um, nem menos um. Cada um tem a responsabilidade de usar esse Tempo da melhor forma possível, distribuindo-o profícua e harmonicamente entre o cumprimento dos seus deveres, o convívio com aqueles de quem gosta, o descanso, o lazer, o alimento do seu corpo e a nutrição do seu espírito, a busca e o encontro, a reflexão e a acção. Todos temos exactamente a mesma riqueza para gastar em cada dia. Se a aproveitamos ou desperdiçamos, é connosco e seremos nós que sentiremos as consequências, boas ou más, do nosso aproveitamento ou do nosso desperdício. O que não gastarmos, o que não usarmos, não podemos guardar. Está perdido e nunca mais será recuperado...

O Tempo é uma dimensão diferente das outras. O comprimento, a largura, a altura são dimensões em relação às quais nos sentimos exteriores. E medimos o comprimento da mesa, a largura do quadro, a altura do armário. Somos exteriores a essa medida. Mesmo em relação às nossas medidas... Mas a dimensão do Tempo é diferente. Nós todos estamos DENTRO do Tempo. Por isso o não vemos. Por isso o Tempo Presente é tão fugaz que, mal o apercebemos, já é Tempo Passado. Comprimento, largura e altura são dimensões terrenas. O Tempo é dimensão divina. Por isso podemos mudar o comprimento, alterar a largura, modificar a altura do que quisermos, mas não podemos mudar, nem num centésimo de segundo, o Tempo que é. Podemos aproveitá-lo melhor, fazendo mais em menos Tempo. Não podemos mudá-lo. Podemos apenas usar em cada dia a exacta quantidade de Tempo que o Criador determinou que todos e cada um de nós dispuséssemos em cada dia.

O Tempo não pode ser comprado, nem vendido (pode-se comprar ou vender uma ocupação do tempo, o que é diferente), mas pode ser usado, aproveitado, individualmente ou em conjunto. O mesmo Tempo, aproveitado ou usado em conjunto por vários ou por muitos, multiplica-se automaticamente, potenciando a capacidade do grupo que o aproveita em conjunto. No entanto, sendo globalmente mais rentável o Tempo aproveitado em conjunto, o Tempo individual de cada um continua a ser pessoal, só seu, com um significado preciso e definido para esse preciso indivíduo. O Tempo que um músico despende a dar um concerto numa sala de espectáculos é rentabilizado pelas centenas ou milhares de pessoas que desfrutam desse espectáculo. O Tempo de um multiplica-se por muitos. Mas um concerto para mil equivale a mil concertos individuais. O músico é o mesmo. A música é individualmente, quiçá diferentemente, apreendida por cada um dos mil ouvintes. O Tempo de cada um continua a ser pessoal e único. E o mesmo se passa se, em vez de ser um a criar e mil a beneficiar, forem mil e um a criarem para esses mil e um e incontáveis milhares ou milhões mais beneficiarem.

Quando os maçons se reúnem, e repetem o ritual, tratam dos assuntos da ordem do dia, estudam, ensinam ou aprendem símbolos e seus significados, moralidades e seus motivos, condutas e suas consequências, aproveitam em conjunto o Tempo, potenciando o seu valor, cada um beneficiando individualmente, ao seu modo, do uso desse Tempo.

Os maçons aprenderam uma coisa singela: que o Tempo de cada um é potenciado pelo seu uso em conjunto, afectando e aproveitando a cada um da forma que convém a cada qual. Tempo de Estudo, Tempo de Paz, Tempo de Debate, Tempo de Repouso, sobretudo Tempo de Confiança nos seus Irmãos e Tempo de Harmonia com eles. Todos estes Tempos, e mais, valem infinitamente mais em conjunto, revertendo esse valor para cada um dos indivíduos. Por isso os maçons reservam uma parte do seu Tempo para o aproveitar em conjunto com seus Irmãos.

Assim aprendem e praticam entre si e podem e devem praticar no exterior, na sua vida de todos os dias, perante os seus parceiros de vida, de negócios, de viagem, de tudo, que a Cooperação é mais eficaz que a Competição, que a Harmonia é mais gratificante que a Cizânia, que a melhoria de Um ajuda Todos a melhorar e que a melhoria de Todos se reflecte na melhoria de cada Um. E podem e devem viver e aproveitar o seu Tempo na sua vida de todos os dias, perante todos aqueles que os rodeiam, pela mesma forma que vivem e aproveitam o seu Tempo entre seus Irmãos. E o seu exemplo frutificará onde houver condições para que frutifique, em quem estiver apto para tal. E assim o Mundo melhorará mais um pouco. E de pouco em pouco se fará muito. Em pouco Tempo, em muito Tempo, no Tempo que for...

Rui Bandeira

05 dezembro 2007

Mário Máximo: Poeta, Homem de "Culturas" e Administrador da Odivelcultur

Meus Queridos Amigos, Leitores, Co-Blogueiros e demais bichos em vias de... propagação, esta passagem é assim como que ... uma rapidinha, só para Vos pôr a par de uma obra nova de um Amigão, poeta da Nossa Terra !

Isto t'á mau e vai uma crise enorme com o tempo (embora tenhamos à disposição todo o tempo que existe !).
Sorte a Vossa que não têm que me aturar.
Agora aqui vai o que me traz.

Quinta-Feira, dia 6 de Dezembro de 2007, pelas 18.30, na Livraria Barata da Av. de Roma: lançamento do livro DIÁRIO DE UMA ILHA DISTANTE, da autoria.de Mário Máximo, poeta, homem de "culturas" e Administrador da Malaposta.A jornalista MARIA AUGUSTA SILVA fará a apresentação.

"... Diário de uma Ilha Distante é a história de um imponderável amor. Um amor que merece as estações, todas as estações, que lhe dão forma. Aliás, um amor não é mais do que a sua história. Se não houver história não há amor digno desse nome. Pela primeira vez, na minha obra, um livro de poemas é a história de um amor. Ou será a história da metáfora (da metafísica poética) de um amor ? Talvez seja apenas um amor simbólico.
... Com este Diário de uma Ilha Distante criei mais um arquétipo dentro de mim. Através da poesia posso percorrer todos os caminhos e chegar atodos os jugares. Mesmo aos lgares onde só existe o poder da metáfora !"
Mário Maximo (excerto da Nota do Autor)


CONVITE

A Editora SeteCaminhos tem o prazer de convidar V.Exa.
para a apresentação do livro
Diário de Uma Ilha Distante
de Mário Máximo.
A sessão terá lugar no dia 6 de Dezembro de 2007 pelas 18h 30m,
na Livraria Barata na Av. de Roma, nº 11-A em Lisboa.
A apresentação do livro fica a cargo da jornalista e escritora
Maria Augusta Silva.

Contamos com a sua presença.


Mário Máximo nasceu em 19 Setembro de 1956, na cidade de Lisboa. A sua vida repartiu-se por Olival Basto (até aos sete anos), Lisboa (até aos trinta e cinco) e Odivelas, onde reside há mais de uma década. Desde bastante cedo ligado às questões da literatura e da criatividade literária, deram os jornais a conhecer muitos dos seus poemas, mas também o conto e a crónica. O guionismo para televisão tem sido outra das suas ocupações. Em 1986 publicou o primeiro livro: um livro de poemas. Desde então, sucederam-se mais cinco livros de poemas e um romance. Em 1999 o Instituto das Bibliotecas e do Livro atribuiu-lhe a Bolsa de Criação Literária, pelo projecto de poesia Oração Pagã.


JPSetúbal

04 dezembro 2007

Moto contínuo

(...) oh Rui, não tem defeitos com mais necessidade de empenho e melhoramento do que a escrita?! (...)

(Simple Aureole, em comentário ao texto Reflexão.)

O maçon busca o seu aperfeiçoamento em todos os aspectos da sua vida e do seu comportamento. O seu trabalho, nesse sentido, deve ocorrer em todos os momentos, em relação a todas as actividades, relativamente a todas as suas características.

O que se faz em cada momento deve procurar-se fazer sempre bem feito, cada vez mais bem feito. A necessidade de análise do que foi feito para ver onde e como se pode fazer melhor não deve ocorrer em espírito de crítica ao passado, às opções tomadas, às acções realizadas. Deve, antes, processar-se como meio e rampa de lançamento para melhorar o que se está fazendo e o que se irá fazer.

Por isso, o maçon acaba por tender a ser um optimista. Porque não se abate com os erros passados, antes os usa como alavancas para as melhorias futuras. Se fizer bem o seu trabalho, só pode melhorar...

Nunca é só num campo, num aspecto, que o homem precisa de se aperfeiçoar. É em todos, é em tudo. Porque o homem é uma integralidade complexa, cujo comportamento, cuja acção, decorrem de mil detalhes.

Assim, à interrogação do Simple Aureole, a única resposta admissível é, sem hesitação, que sim. Mas impõe-se acrescentar que, no momento em que me dedico à escrita, é a escrita que procuro melhorar. Naquele momento, é a prioridade absoluta porque esse é o momento que é, isso é o que se faz e o que se faz deve fazer-se sempre com total dedicação, se se quiser fazer bem feito.

Quando outras coisas se fazem, outras coisas devem beneficiar da dedicação absoluta, outras coisas são objecto da procura da melhoria, do anseio da aproximação da perfeição.

Só assim o homem se pode desenvolver equilibradamente - dando o melhor de si em relação a tudo e procurando que esse melhor se aproxime cada vez mais da excelência.

E não se pense que esta postura é impossível de manter, por cansativa. Quando o homem descansa, também então deve procurar fazê-lo cada vez melhor, obter o repouso que lhe carregue as baterias para novo ciclo de trabalho. Quando se diverte, deve procurar divertir-se plenamente - ou então, não estará, pura e simplesmente, a divertir-se.

A tudo isto, em vez de aperfeiçoamento, podia muito bem chamar-se, simplesmente, viver.

Porque, bem vistas as coisas, viver é muito mais do que simplesmente existir, assistir á sucessão dos dias e das noites. Viver é crescer. Por fora, primeiro, por dentro, sempre. Viver é descobrir e praticar e aproveitar o sentido da Vida. Viver é tentar. Viver é errar e remediar o erro. Viver é melhorar.

É da natureza humana procurar ir sempre mais além. Quem disso desiste, ou está doente, ou se resignou a simplesmente vegetar, cedeu à sua animalidade e sufocou o seu espírito. Esse já não almoça, limita-se a comer a sua ração... Esse já não regressa a casa, limita-se a abrigar-se. Esse já não vive, limita-se a aguardar pela morte.

É por isso que, mesmo tendo muitas mais coisas, muitas mais características, para aperfeiçoar, também não prescindo de procurar aperfeiçoar a minha escrita - se o consigo, ou não, essa já é outra história... Entre a busca do aperfeiçoamento e o sucesso nessa demanda há muito caminho a percorrer...

E esse percurso é muito mais fácil quando nos ajudam a pensar, a questionar, a analisar, como sucedeu com o comentário do Simple Aureole. O meu muito obrigado!

Rui Bandeira

03 dezembro 2007

Perfeição e perfeccionismo

(...) perfeição é virtude, mas perfeccionismo é defeito!


(Simple Aureole, em comentário ao texto Reflexão.)


A primeira reacção a esta máxima é de concordância. Mas não nos fiquemos pelas primeiras impressões.

Todo o maçon sabe que a perfeição é apanágio apenas da Divindade, do Criador, que cada religião denomina do modo que entende e que os maçons, respeitadores de todas as religiões, chamam de Grande Arquitecto do Universo. A bem dizer, não são apenas os maçons que sabem que a perfeição é apanágio unicamente do Criador. Todos os crentes, maçons ou não, o sabem.

Assim sendo, perfeição é virtude, mas virtude que se reconhece humanamente inatingível. É um arquétipo, um modelo, que deve servir para nos indicar a direcção dos nossos esforços, o que sabemos objectivo inatingível, mas de que nos devemos procurar aproximar tanto quanto humanamente for possível.

O perfeccionismo não é mais do que o desejo, a atitude, a procura, da perfeição. Ou seja, a busca, necessariamente infrutífera, do inatingível.

Nesse sentido, não podemos dizer que perfeccionismo é defeito. Não se deve considerar defeito a busca da perfeição, ainda que se saiba que é uma tarefa que, mesmo com a melhor execução possível, está sempre votada ao fracasso. No entanto, que gloriosos fracassos a Humanidade obteve! Deleitamo-nos com os fracassos da obtenção da perfeição que Leonardo da Vinci conseguiu com a sua Gioconda e que Michelangelo atingiu com a sua escultura de David. E poderia gastar centenas de linhas com imensos outro exemplos...

O perfeccionismo de Michelangelo quando, de um único bloco de pedra, extraiu a figura de David não pode ser considerado defeito!

No entanto, a impressão corrente é, efectivamente, que a máxima acima transcrita está correcta. Tal, em meu entender, deve-se ao facto de se ter negligenciado que toda a máxima tende a ser uma simplificação e que é inevitável que as simplificações acabem por dar uma ideia errada da realidade.

Penso que agora se impõe o uso de um ou dois adjectivos. Não é o perfeccionismo que é defeito, é o perfeccionismo estéril que é defeito. E o perfeccionismo paralisante.

É defeito o perfeccionismo estéril quando se busca melhorar algo que está já tão bem que a percepção humana já não conseguirá detectar a diferença obtida com a melhoria. Seria um perfeccionismo estéril se Stradivarius procurasse fabricar os seus violinos tão bem feitos que o som que um excelente executante deles tiraria não soaria apenas límpido e belo aos ouvidos humanos, mas também nas frequências de som que o ouvido humano não pode atingir. Talvez um mecanismo de captação de som demonstre claramente que na frequência de 100 Khz ocorre distorção. Mas, como o ouvido humano apenas capta som entre 20 Hz e 20 Khz, que diferença faz? Para o humano, aqueles violinos têm um som que nos parece perfeito. Mesmo que nós, intelectualmente, saibamos que não é, para quê continuar a buscar a perfeição para além da capacidade do nosso ouvido? Esse perfeccionismo é estéril, nada se ganha com ele. Esse é defeito!

Também há um tempo de criar e um tempo de terminar e mostrar. Se um pintor continuamente busca aperfeiçoar a sua pintura e se pretender só a expor quando for perfeita, nunca a exporá. Nunca a dará por concluída, porque sempre descortinará um leve, levíssimo, quase imperceptível, defeito num pequeno traço, numa pequena aplicação de cor. Esse perfeccionismo é paralisante, porque nunca permite que alguém dê por concluída a sua tarefa, que se descortine que a melhoria que seria possível obter é já tão ínfima que não merece o esforço de a obter. Esse perfeccionismo paralisante é defeito!

Mas o perfeccionismo saudável, a simples e honesta busca da perfeição, sabendo-se que esta é inatingível, mas que cada um dela se deve aproximar tanto quanto conseguir, com utilidade e no tempo asado, esse perfeccionismo nunca é defeito. É a virtude possível, em contraponto com a Virtude impossível a nós, humanos, a Perfeição.

O óptimo é inimigo do bom. Todos o sabemos. Mas isso não quer dizer que nos contentemos com o bom, que não busquemos o melhor, no caminho para o óptimo. Ponto é que não queiramos atingir o inatingível. Se o quisermos, o preço costuma ser que não se consegue o óptimo, nem o melhor, nem o bom e possivelmente nem o sofrível...

Reconhecer a nossa limitação humana em atingir a perfeição divina, mas esforçar-se por se aproximar desta quanto for humanamente possível, viável e adequado - esse deve ser um lema de vida do maçon.

Rui Bandeira

30 novembro 2007

Reflexão

Sexta-feira. Seis horas da tarde. Começo a escrever o quinto texto da semana.

A cabeça fervilha de ideias boas e originais. Infelizmente, as originais não são boas e as boas não são originais...

Entre a qualidade e a novidade, opto pela qualidade. É melhor publicar uma ideia boa de outro do que uma má ideia minha...

Li no blogue The Burning Taper uma citação de Jean-Baptiste Poquelin, mais conhecido por Voltaire, que me parece a afirmação de uma boa ideia: Conhecemos melhor uma pessoa através das suas perguntas do que através das suas respostas.

Pensando bem, é verdade. A resposta que alguém me dá pode ser trabalhada, dirigida para causar uma determinada impressão. Mas, normalmente, se se conseguir saber aquilo sobre que alguém se interroga, logra-se ter uma mais precisa noção das suas preocupações, dos seus interesses, dos seus receios, das suas prioridades. Enfim, do que a pessoa é.

Nesse sentido, aparentemente não deixo entrever nada do que eu sou neste blogue. O que escrevo - é a noção que tenho - é afirmativo, opinativo, descritivo. Tenho o objectivo, a pretensão e a prosápia de divulgar um pouco do que é a Maçonaria, o seu objectivo, o seu método, os seus meios, os seus símbolos. Afirmo, descrevo, interpreto. Não (me) questiono.

Logo, não importa o que escrevo. Não interessam os dados que divulgo no meu perfil, nem sequer a imagem da minha fotografia. Nem pelo meu perfil, nem pelo que escrevo permito que me conheçam. Porque não faço perguntas que não sejam meramente retóricas.

Reflicto. É bom, isso! O objectivo deste blogue não é que me conheçam. Quem me conhece, conhece-me! Quem não me conhece, se me quer conhecer, conheça-me! O objectivo deste blogue é mostrar um pouco do que é a maçonaria, do que são, como pensam, os maçons. Eu incluído. Tão só!

Duvido! Releio alguns textos que escrevi. Distraio-me. Mais do que confirmar ou infirmar a minha impressão, verifico que a minha escrita, na busca da beleza, afinal é simplesmente rebuscada, complicada, rococó. Mais do que apresentar as ideias, de as ilustrar, de as sublinhar, embrulho-as (e, logo, escondo-as) em frases grandes, complexas, cheias de vírgulas, parêntesis e travessões - como esta! Mas esta não conta. Foi escrita assim de propósito para ilustrar o que quero dizer!

Reflicto. A beleza não está no enfeite. Nem no complexo. Ou no acrescento. Muito menos no rococó. A verdadeira beleza está na simplicidade. E essa é que é difícil de atingir. Portanto, essa é que tem valor. Tenho a mania que escrevo bem. Leio-me e verifico que não. Venho escrevendo rebuscado. Não bem. A forma deve servir para realçar a ideia. Não para a esconder em folhos e voltas de frases arrebicadas . Vou procurar corrigir-me. Usar menos vírgulas, parêntesis e travessões e mais pontos finais. Este texto já procura ser assim. Menos rebuscado. Menos pretensamente elegante. Mais claro. Mais sóbrio. Mais perceptível.

Releio o que escrevi neste texto até agora. Parece-me que o objectivo está a ser cumprido. Suspeito que bem de mais! Agora vejo pontos finais em abundância e dificilmente lobrigo vírgulas, parêntesis e travessões. Do oito para o oitenta! Ou talvez do oitenta para o oito. A profusão de adjectivos também se mostra ausente. Hesito. Agora esta escrita lembra-me a de António Lobo Antunes ou a de José Cardoso Pires. Rio-me. Censuro-me da ideia. Não há padeiro que consiga fabricar a quantidade de pão que eu preciso de comer para eu poder chegar perto dos calcanhares de Lobo Antunes ou de Cardoso Pires... É melhor mudar de assunto e ir reflectir para outras paragens.

O que importa são as ideias que se transmitem. Não como se transmitem, a seco ou embrulhadas em enfeites. Será! Mas se o enfeite for demasiado, o leitor desiste de procurar a ideia e, sobretudo, de reflectir nela! Se a ideia for apresentada demasiado secamente, o leitor faz uma careta e vai procurar algo mais agradável. Nem sequer presta atenção à ideia e, portanto, não reflecte nela! O segredo está no equilíbrio. Escrever "bonito" sem substância é estéril. Debitar ideias como gráficos do Orçamento Geral do Estado é inútil: ninguém que não seja já especialista do assunto lê!

Equilíbrio, pois. Apresentar ideias realçando as ideias, não os arrebiques. Mas apresentando-as bonitas! Um pouco de perfume realça-as; um frasco de perfume despejado sobre elas afasta-nos, de mão no nariz! Um pouco de maquilhagem dá-lhes graça e atrai-nos. Aplicar a drogaria toda no seu frontispício fá-las parecer damas da noite, disponíveis para aluguer...
E as minhas ideias podem ser boas ou más, bonitas ou feias, mas são honestas! Que ninguém disso duvide, que a ninguém isso admito!

Pensa quem lê que este texto não tem nada a ver com Maçonaria. Errado! O maçon busca aperfeiçoar-se. Para o fazer, tem de se questionar e questionar o que faz. Ser crítico de si próprio. Não renegar o que é nem o que fez, mas analisar o que foi e o que agiu, para que possa procurar ser melhor e fazer melhor.

Insiste quem lê que então este texto não tem nada a ver com a citação de Voltaire. Faça o leitor o favor de ir lá atrás relê-la. Nem sequer tem uma pergunta. Errado outra vez. Este texto está cheio de perguntas. Faça o favor de as procurar. De ler o texto em todos os seus sentidos e nos seus vários níveis. Em Maçonaria, o conhecimento nunca está à vista. Está sempre encoberto. É preciso procurá-lo. Raspar a superfície da aparência. Espreitar para dentro do seu conteúdo. As perguntas é aí que estão. E, atrás delas, estou eu!

São seis e meia da tarde de sexta-feira e estou a acabar de escrever este texto. Errado novamente! Este texto foi todo pensado, foi todo feito, de manhã. Entre as seis e as seis e meia da tarde, só lhe meti as palavras dentro!

Rui Bandeira