02 novembro 2007

Reincidência... reincidente



Tive 2 dias muito complicados em termos de ocupação de tempo e tive que desleixar a atenção ao nosso “A-Partir-Pedra”.
Agora que recuperei o “estado do blog” li o comentário do nosso Amigo e atento Simple Aureole.
Bem, meu caro, obviamente que Lhe devo uma explicação.
Tentarei, pois…

1- Não fiz, ou pelo menos não quis fazer, qualquer comparação entre coisas que, para mim, são incomparáveis, como sejam “um Pai”, ou candidato a tal, e os monstros que referi no post.
Trata-se, meu caro Simple, de uma ilação que não tem qualquer correspondência com a minha cabeça e se o que escrevi o levou àquela conclusão, então peço-lhe desculpa pela falta de capacidade na expressão das ideias.

2- Não faço qualquer confusão entre controlo da natalidade, solidariedade e truques para obtenção de apoios sociais.

3- Os Pais têm, entre outros, o direito inalienável de decidir sobre ter ou não ter filhos, quantos e quando, competindo aos políticos de serviço a decisão sobre os apoios à natalidade que, do ponto de vista exclusivamente político, deve ser orientada no sentido de incentivar ou não o aumento da natalidade de acordo com critérios de manutenção do nível etário da população e suas consequências na economia do país.

4- Não aceito a intromissão de quaisquer normas, de carácter religioso, político, ou outro, que não sejam dependentes da vontade dos principais e mais directos interessados, que são os Pais. E estes saberão que procedimentos adoptar de acordo com as suas próprias escolhas e essas sim, poderão ser de carácter religioso ou outro qualquer.

5- Os Pais deverão saber quais as obrigações para com os seus descendentes, de carácter educativo, económico, social,… e decidir ter ou não filhos de acordo com a sua capacidade de cumprir aquelas obrigações. De resto penso ter percebido que são essas as preocupações que atrapalham o “pai preocupado” a que se refere.

6- Quanto à solidariedade também não me parece que se possa concluir, do que eu escrevi, qualquer confusão com os apoios sociais aos mais “desfavorecidos”.

7- Não, não tem nada a ver uma coisa com a outra. O que eu refiro tem a ver apenas com atitudes pessoais e não com o que quer que seja de institucional. Ser solidário tem de ser uma atitude interior em cada um de nós. Não se inventa, não se compra e não se impõe, ou se é ou não se é ! E é a esse sentimento que recorro quando insisto em que o bem estar da humanidade não é conseguido pela diminuição da natalidade, muito menos ainda se imposta justamente com esse objectivo.

8- Os apoios sociais institucionais poderão ser entendidos, também, como uma atitude solidária, mas apenas dentro do conceito do Estado Social que é tão só uma das variantes de organização social das nações. A Solidariedade a que recorro é pessoal e, existindo, não está dependente da organização do Estado. E não vejo nenhuma possibilidade de ser confundida com qualquer “direito à asneira”. Ela tomará o seu lugar com o acordo do Estado, ou sem ele. Não é o subsídio de sobrevivência (rendimento mínimo ou outra denominação qualquer) que alguns recebem e que outros dizem que não deve existir, talvez por causa do direito à asneira. Mas não é a dessa solidariedade que falo.

9- Meu Caro Simple, pelo menos uma coisa importante temos em comum. É a ideia de que o grande responsável pelos problemas com o “verde” é o homem. Pois o grande e único ! Que outro responsável poderia haver ? E é o homem porque no seu incomensurável egoísmo partiu do princípio que é dono e senhor do universo, usando-o sem critério, sem regras e sem limites, explorando sem controlo tudo o que há a explorar, desequilibrando o sistema natural e provocando as rupturas cujas consequências estão à vista e que todos estamos a sofrer.

10- E, desculpe a insistência, não é com a diminuição pura e simples dos nascimento nem com o fim da solidariedade (nem que seja apenas a institucional), que o Homem recupera as condições equilibradas do meio-ambiente.

11- É assim que penso.

12- Quando à discussão política a que se refere no “P.S.” (não confundir com Paiva Setúbal…) também só posso falar pelo que vai na minha cabeça. A discussão dos assuntos da humanidade, a procura de soluções para as dificuldades que se nos deparam, tanto pode ser feita por políticos, como por técnicos, como… por Amigos.
JPSetúbal

4 comentários:

Paulo M. disse...

Caro JPSetúbal:

Se a Terra fosse acabar, e lhe dessem a escolher entre dois planetas iguaizinhos à Terra, um com seis mil milhões de habitantes e outro apenas com sessenta milhões, não acredito que escolhesse o primeiro. Pudesse eu, e legaria aos meus filhos um mundo menos "cheio" do que o que temos - evidentemente, desde que isso não tivesse decorrido da violação dos direitos de ninguém.

A elevada natalidade está quase sempre associada à pobreza. Assim, o incentivo à natalidade em famílias pobres causa aumento da pobreza; por isso o critico, mais aos políticos de serviço que o promovem; são um verdadeiro acto de "apagar a fogueira com gasolina". Mas porque têm esses pais tantos filhos? Por duas razões: por um lado, não têm meios para evitá-los; por outro, havendo elevadas taxas de mortalidade infantil, preferem ter muitos, não se dê o caso de terem poucos e morrerem todos... Ah, esquecia o terceiro: "preservativo é pecado!" Onde está o exercício voluntário e consciente da liberdade por estes pais? Não está.

Ora, a "diminuição da natalidade" que eu defendo decorre da escolha voluntária e consciente dos pais, e não de imposição externa como sucede na China com a "política do filho único", ou do encurralar pelas circunstâncias, como nos caso de pobreza referidos. Providencie-se cuidados de saúde, educação e alimentação a estas crianças, promova-se o controlo da natalidade, e o ciclo de pobreza quebra-se. Aumente-se o nível de vida, e a natalidade desce sozinha - pelo somatório da opção dos pais. Mesmo sem disposições estatais nesse sentido, tem-se visto que os países mais favorecidos vêem cair as taxas de natalidade. Missão cumprida, diria eu.

Claro que é necessária solidariedade para servir de "motor de arranque" a esta situação. Não preconizo o fim da solidariedade; apenas o fim do abuso da mesma.

Em suma: diz que "pelo menos uma coisa importante temos em comum"; parece-me que temos muito mais do que isso, pois concordo na essência com tudo o que escreveu desta vez. E vivam os mal-entendidos, que nos proporcionam fantásticos debates para os dissipar!

Quanto ao facto de estas discussões poderem ser feitas por Amigos... sinto-me honrado. E tem razão uma vez mais: só Amigos podem discutir assim, e discordar sem se ofender. Mais: continuar Amigos mesmo que, no fim, acabassem por não concordar!

Um grande abraço,

Simple Aureole

J.Paiva Setúbal disse...

Ora bem, resta-me uma coisa.
Pois pelos vistos estamos de acordo com quase tudo. só falta um bocadinho... assim !
Aí vai um abraço grande, e o obrigado pela colaboração paciente, atenta e constante com que enriquece este blog.

Paulo M. disse...

Ora essa, quem agradece sou eu! Sabe lá as teias de aranhas que se andavam a criar aqui entre as minhas orelhas antes de descobrir este blog...

Quanto ao "bocadinho assim", temos duas hipóteses: ou fica como está, ou um dia destes discutimo-lo em cima de um prato de sopa, que com o estômago confortado chega-se mais depressa a consensos!

Depois desta diatribe, deixemos o Rui Bandeira trabalhar e apresentar-nos os seus textos sobre o ambiente; estou curioso para ver o que dali sai.

Um forte abraço,
Simple Aureole

J.Paiva Setúbal disse...

Meu Caro, vamos à sopinha...
Quanto aos consensos... não são obrigatórios ! Cada um pode e deve ter as suas próprias ideias e defendê-las. Obrigatório mesmo é respeitar as do parceiro !
Abração e o melhor é não deixarmos arrefecer a sopinha !