19 dezembro 2007

O trabalho do Aprendiz

O Aprendiz, após a sua Iniciação, não tem apenas de se integrar na Loja. Essa integração, se bem que necessária, é apenas instrumental da sua actividade maçónica.

O Aprendiz, logo na sua Iniciação e imediatamente após a mesma, é confrontado com uma panóplia de símbolos variada, complexa e de grande quantidade. Uma das vertentes importantes do método maçónico é o estudo e conhecimento dos símbolos, o esforço da compreensão e apreensão do seu significado.

Aprender a lidar com a linguagem simbólica, a determinar os significados representados pelos inúmeros símbolos com que a Maçonaria trabalha é, sem dúvida, uma vertente importante dos esforços que são pedidos ao Aprendiz. É uma vertente tão mais importante quanto ninguém deve “ensinar” o significado de qualquer símbolo ao Aprendiz. Quando muito, cada um pode informá-lo do significado que ele dá a um determinado símbolo. Mas nunca poderá legitimamente dizer ao Aprendiz que esse é o significado correcto, que esse é o significado que o Aprendiz deve adoptar. O Aprendiz pode adoptar o significado que o seu interlocutor lhe transmitiu ser a sua interpretação, mas apenas se concordar com ele. Se atribuir acriticamente a um símbolo um significado apenas porque alguém lhe disse entendê-lo assim, está a agir preguiçosamente, não está a trilhar bem o seu caminho.

Não quer isto dizer que o Aprendiz não deva, não possa, atribuir a determinado símbolo o mesmo específico significado que outro ou outros lhe atribuem. Aliás, diversos símbolos são generalizadamente vistos da mesma maneira pela generalidade dos maçons. Mas cada um deve meditar sobre o símbolo, procurar entender o que significa, por ele próprio. Pode – não há mal nenhum nisso! – ouvir a opinião de outros, aperceber-se que significado ou significados outros lhe dão. Ao fazê-lo, está a beneficiar do trabalho anteriormente realizado por seus Irmãos e é também para isso que serve a Maçonaria, é também essa a riqueza do método maçónico. Mas deve, é imperioso que o faça, analisar, reflectir sobre o que lhe é dito, verificar se concorda ou discorda, em quê, em que medida e porquê. e então extrair ele próprio a sua conclusão e adoptá-la como a que entende correcta. Pode ser igual à dos seus Irmãos; pode ser semelhante, mas levemente diferente; ou pode ser muito ou completamente diferente. Não importa! Ninguém lhe dirá, ninguém lhe pode legitimamente dizer, que está errado. É a sua interpretação, a que resultou do seu trabalho, da sua análise, é a interpretação correcta para ele. E tanto basta! E se porventura mais tarde, com nova análise, com os mesmos ou outros ou mais elementos, vier a modificar a sua interpretação, tudo bem também! Isso corresponde a evolução do seu pensamento, que ninguém tem o direito ou legitimidade para contestar!

Ainda que beneficiando da sinergia do grupo, da ajuda do grupo, das contribuições do grupo, o trabalho do maçon é sempre individual e solitário! E também, inegavelmente, difícil. É todo um novo alfabeto que, mais do que aprender, o Aprendiz maçon está a criar e a aprender a criar!

Não é, ainda, porém, esse o principal trabalho do Aprendiz maçon. É um trabalho importante, é sobre ele que deverá, a seu tempo, mostrar a sua evolução, mas ainda assim é apenas um trabalho instrumental.

O verdadeiro trabalho do Aprendiz é, afinal, o de se aperfeiçoar a ele próprio. Incessantemente. Incansavelmente. Interminavelmente. Ou melhor, só terminando no exacto momento em que deixa esta dimensão do Universo e passa ao Oriente Eterno. O verdadeiro trabalho do Aprendiz é trabalhar a sua pedra bruta e dar-lhe, pacientemente, diligentemente, a regular forma cúbica que harmoniosamente se integre na grande construção universal projectada pelo Grande Arquitecto do Universo!

A pedra bruta a aparelhar é ele próprio, as asperezas a retirar são as suas muitas imperfeições, os seus defeitos, os seus deméritos, a forma a trabalhar e a tornar regular e harmoniosa é o seu carácter.

Este trabalho nunca está concluído. Por mais lisa que esteja a sua pedra, por mais regular e harmoniosa que esteja a sua forma, nunca está perfeita, pode e deve sempre aprimorá-la, alisá-la ainda um pouco mais, dar-lhe ainda melhor proporção.

Este trabalho é o verdadeiro, o importante, o essencial trabalho do Aprendiz maçon e é-o para toda a sua vida. É, portanto, também o trabalho do Companheiro e do Mestre maçon. Por isso o Mestre maçon que seja realmente digno dessa qualidade só se pode considerar, ainda e sempre, um Aprendiz e continuar, prosseguir, com perseverança, o sempiterno trabalho de se aperfeiçoar, de trabalhar a pedra bruta, que por muito cúbica que esteja, deverá sempre ver como bruta em relação ao que deve estar, ao que ele pode que esteja, ao que deve aspirar que seja, esperando que, chegada a hora, algum préstimo tenha.

O verdadeiro trabalho do Aprendiz é, tão só, o trabalho de ontem, de hoje e de sempre, do maçon, qualquer que seja o seu grau e qualidade: melhorar. melhorar e, depois disso, melhorar ainda! Tudo o resto é apenas instrumental!

Rui Bandeira

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