08 setembro 2008

A propósito de anedotas e de sementes


O nosso “novato” A.Jorge aproveitou a 6ª feira, entrada do fim de semana, para propor uma reflexão sobre uma anedota, tirando no final (e muito bem) uma conclusão moral.
Acontece que recebi uma “estorinha” (não é uma anedota), com evidente relação com a conclusão moral tirada pelo A.Jorge no seu post.
Bom, a relação tem a ver o encaminhamento que é, ou pode ser, dado às sementes...
Transcrevo pois a estorinha que uma amiga fez o favor de me enviar hoje (6ª feira, dia 5).

Conta assim:

Uma chinesa velha tinha dois grandes vasos, cada um suspenso na extremidade de uma vara que ela carregava nas costas.
Um dos vasos era rachado e o outro era perfeito. Todos os dias ela ia ao rio buscar água, e ao fim da longa caminhada do rio até casa o vaso perfeito chegava sempre cheio de água, enquanto o rachado chegava meio vazio.
Durante muito tempo a coisa foi andando assim, com a senhora chegando a casa somente com um vaso cheio e outro meio de água.
Naturalmente o vaso perfeito tinha muito orgulho do seu próprio resultado - e o pobre vaso rachado tinha vergonha do seu defeito, de conseguir fazer só a metade daquilo que deveria fazer.
Ao fim de dois anos, reflectindo sobre a sua própria amarga derrota de ser 'rachado', durante o caminho para o rio o vaso rachado disse à velha :
"Tenho vergonha de mim mesmo, porque esta rachadura que tenho faz-me perder metade da água durante o caminho até casa..."
A velhinha sorriu :
"Reparaste que lindas flores há no teu lado do caminho, somente no teu lado do caminho ? Eu sempre soube do teu defeito e portanto plantei sementes de flores na beira da estrada do teu lado. E todos os dias, enquanto voltávamos do rio, tu regava-las. Foi assim que durante dois anos pude apanhar belas flores para enfeitar a mesa e alegrar o meu jantar. Se tu não fosses como és, eu não teria tido aquelas maravilhas na minha casa !"

Cada um de nós tem o seu defeito próprio : mas é o defeito que cada um de nós tem, que faz com que a nossa convivência seja interessante e gratificante.
É preciso aceitar cada um pelo que é ... e descobrir o que há de bom nele !
Portanto, meu "defeituoso" amigo/a, desejo que tenhas um bom dia e que te lembres de regar as flores do teu lado do caminho ! Já agora, envia este e-mail a algum (ou a todos) os teus amigos "defeituosos".
Sem esquecer que é "defeituoso" também quem to mandou ! ...

Este foi o texto completo da mensagem que me chegou.

(Não o alterei de propósito para agora poder escrever o seguinte:
Recuso definitivamente todas as mensagens que apelam à auto-divulgação, seja porque nos próximos 3 dias a Cláudia Schiffer me vai cair “amantissimamente” nos braços, seja porque durante o próximo mês ganharei o “euro-milhões” pelo menos 5 vezes.
Este apelo continuado de propagação de mensagens tem com resultado único o entupimento das vias de comunicação dos acessos à rede, estudados e preparados para uma utilização racional, que ficam completamente entupidos com a utilização desregrada que estas correntes provocam.
Para quem está longe da matéria pode comparar ao efeito que as grandes e inesperadas chuvadas têm nos sistemas de escoamento das águas públicas.
O sistema existente, que funciona muito bem durante 99% do ano, é incapaz de engolir a massa de água caída inesperadamente e em quantidade muito superior ao habitual, dando origem a cheias e às consequências nefastas que todos conhecemos.
É isso o que se passa também na rede de comunicação de dados internacional, resultando depois queixas de que os sistemas são lentos, têm erros ou, pura e simplesmente, não funcionam.

Este parágrafo de facto não tem relação com o que pretendo deixar-Vos.
Constitui apenas um pequeno desabafo pelo que… voltemos ao assunto.)

Este conto pequeníssimo termina com uma conclusão:
- Nada é completamente mau !
Pronto, já sei que virão argumentar que a inversa também é verdadeira.
Claro que é, mas cada um vê a metade da garrafa com os olhos que tem ou que quer ter.
Os otimistas de uma forma e os pessimistas da forma contrária.
Para este caso tanto me faz que a vejam meio cheia ou meia vazia.
Em qualquer dos casos o que me interessa é que sejamos capazes de perceber o que há de bom em cada momento, eventualmente esquecendo o resto que é mau, e percebendo o que é bom aproveitá-lo, para si próprio e para incentivar os que lhe estiverem próximos de modo a que num esforço de conjunto se não desperdice nada de bom e não se aproveite nada de mau.
E bem sabemos como muitas vezes deitamos fora o vaso rachado, como se dele nada houvesse para aproveitar.
Há um “Amigão do peito” que acha muita graça quando lhe digo que “até um relógio parado tem razão 2 vezes ao dia” (!).
O que quero afirmar com esse princípio (que não inventei, antes apanhei-o no ar, algures) é exactamente o mesmo: -Nada é completamente mau !
E assim vamos descobrindo formas de utilizar os recursos disponíveis. Mesmo sendo escassos é provável que, com jeito, se consigam resultados surpreendentes utilizando-os de forma adequado.
A este respeito ainda cá voltarei com um aspecto importante deste aproveitamento possível.
Agora, e para terminar, apontarei apenas dois princípios.
1 – Repito, até um relógio parado tem razão 2 vezes ao dia ou, por outra imagem, até um vazo rachado pode ser muito útil. Só temos que olhar o relógio na hora adequada ou utilizar o vazo para a função que ainda pode cumprir.
2 – E agora pegando no conceito moral concluído pelo A.Jorge no final do seu post, o que acontecerá se “comermos” as sementes em vez de as utilizar para lançar à terra, onde com a ajuda de um qualquer vazo rachado germinarão em belas plantas novas, embelezando o mundo e dando continuidade à vida, tal qual foi devidamente arquitetado em tempo útil ?

Pois é, se comermos as sementes e/ou deitarmos fora o vazo rachado o mundo ficará mais triste e a vida perderá alguns dos seus argumentos.
Também tal como na estória, os velhos são capazes de perceber facilmente que é assim.
JPSetúbal

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