13 junho 2012

Regras Gerais dos Maçons de 1723 - VII

É uma boa prática que todo novo Irmão, aquando da sua Iniciação, presenteie a Loja, isto é, todos os Irmãos presentes, e faça uma oferenda para socorro dos indigentes e Irmãos em desgraça, de acordo com o que o novo Irmão ache apropriado, mas superior e acima do mínimo que esteja estabelecido pelo Regulamento interno da Loja; tal oferenda deve ser entregue ao Mestre, Vigilante, ou Tesoureiro, para ser entregue a uma instituição, se os membros acharem apropriado escolher alguma. O candidato deve jurar solenemente que se submeterá à Constituição, Deveres e Regulamentos e todos os costumes que lhe forem comunicados, em hora e lugar convenientes.

Conforme logo no início do texto desta sétima regra se acentua, a contribuição nela referida não é obrigatória - apenas considerada uma "boa prática".

Na Maçonaria Regular dos tempos atuais, o novel maçom não é estimulado ou aconselhado a fazer uma doação particular, muito menos em valor superior ao valor mínimo constante de Regulamento, desde logo porque inexiste fixação de qualquer valor mínimo para "oferendas" - nem tal faz sentido: o que constitui obrigação não pode logicamente ser considerado oferta; e concomitantemente, o que voluntariamente se dá não constitui obrigação...

O recém-iniciado é informado que, tal como os demais, quando circular na reunião aquilo a que os maçons chamam o Tronco da Viúva, deverá no respetivo recipiente (em regra, um saco) depositar, discretamente, aquilo que entender e de que possa dispor, sem colocar em risco o cumprimento das suas obrigações civis e familiares, nem, obviamente, a satisfação das suas necessidades e as dos seus. Aliás, se necessitar retirar, em vez de colocar, tal é-lhe lícito e essa decisão, tal como a referente ao montante que em cada dia resolva colocar, depende exclusivamente do seu critério, sem ter de prestar contas ou pedir autorização a ninguém. Felizmente, o que seria certamente uma dolorosa decisão é extremamente rara... Menos rara - embora pouco frequente - é a situação em que um dos obreiros presentes numa sessão maçónica declara reclamar o produto recolhido pelo Tronco da Viúva, normalmente indicando para que auxílio concreto destina esse produto. Quando tal sucede, embora ritualmente a reclamação se faça só após a circulação do Tronco da Viúva, é habitual que seja anunciada essa intenção antes dessa circulação, para que os presentes saibam que o produto da recolha que se vai efetuar se destina a auxiliar alguém ou algo em concreto e possam, se assim o entenderem, adequar o montante do seu donativo em conformidade.

O Tronco da Viúva é administrado pelo Hospitaleiro da Loja, segundo as orientações desta e do seu Venerável Mestre.

O candidato à Iniciação, imediatamente antes do início desta deve, por outro lado, satisfazer o pagamento de uma joia de iniciação (na Loja Mestre Affonso Domingues, montante referido aqui), para custeio das despesas administrativas e com o material que lhe será entregue. O montante da joia - tal como o da quota, mensal ou anual, varia de Loja para Loja e de Obediência para Obediência. Cada Loja é soberana.

Quanto à frase final da regra, referente ao juramento solene que o candidato deve efetuar, importa esclarecer que - e disso é informado o candidato antes da sua realização - a Constituição, os Deveres, Regulamentos e costumes cuja observância se jura cumprir em nada contendem com as leis em vigor nem com os costumes e moral sociais. Os maçons integram-se na sociedade e, pela sua melhoria e pelo seu exemplo, procuram contribuir para a melhoria desta, mas atuam sempre no respeito da Legalidade vigente, pois para um maçom regular ser livre e de bons costumes implica ser um bom cidadão, cumpridor dos seus deveres e das normas em vigor.

Fonte:
 
Constituição de Anderson, 1723, Introdução, Comentário e Notas de Cipriano de Oliveira, Edições Cosmos, 2011, página 137.

Rui Bandeira

12 comentários:

Streetwarrior disse...

Boas Caro Rui.

Provavelmente (isto sou eu a pensar ) a aprovação da candidatura dá-se muito antes de se chegar ao conhecimento desses valores, (joias,cotas etc ).
Se porventura o candidato reunir as condições morais e eticas para ser aceite mas quando chegar á parte financeira, reconheça que não pode avançar....o que acontece?

Outra questão.
As cotas são iguais para todos os Graus?

Nuno

Rui Bandeira disse...

@ Streetwarrior:

Nuno,

Antes de apresentar a candidatura, o interessado é informado dos custos inerentes à sua integração na Maçonaria. É um dos elementos indispensáveis para a formação da sua decisão de se candidatar, pois deve avaliar se as suas possibilidades financeiras lhe permitem assumir e cumprir esse compromisso, sem sacrificar a sua família e o cumprimento das suas obrigações civis. Portanto, não se coloca a hipótese que suscitou.

A quota mensal é igual para todos, independentemente do seu grau. Por isso é também designada por "capitação", uma vez que é o pagamento devido por cada cabeça...

Abraço.

Streetwarrior disse...

@Rui

Hoje consigo compreender ( 1/10 ) do que trata a maçonaria, já não tenho a visão conspiratória que tinha, nem com respeito á maçonaria nem ás religiões mas há uma coisa que não consigo perdoar.

Eu sei que Hesiod, Hermes e muitos outros filosofos previram que todo este conhecimento, esta ciência hermética do " tanto acima como abaixo " iria passar por um periodo negro e obescuro , onde os loucos seriam venerados e os grandes pensadores dados como lunáticos mas não consigo perceber o porquê.
O porquê de continuarem a praticar toda esta ciência, escarrapachada na nossa cara, quer seja na contrução de catederais, na descoberta da Fisica, quer seja através dos livros religiosos que ensinam o mesmo, contando histórias da carochinha que visam a obtenção do Dizimo ao invés de ensinarem a comunhão do ser com o Cosmos.
Tudo o que está representado acima, nas Estrelas, é tal e qual como funciona o nosso corpo humano.
Chego até a colocar a hipotese se não, após morrermos materialmente,não circulamos pelas estrelas, como outras formas de ser.
Porquê?
Ajude-me a compreender isto!
Porquê todas estas " escolas herméticas " se tornaram egoistas e reservaram o poder do saber só para elas e isto não se aplica só á maçonaria, aplica-se a religiões também, pois todas ela praticam o mesmo de forma alegorica diferente.
O que se passou para que este saber tivesse que ser escondido?
Quando começou toda esta obescuridade ?

Nuno

Rui Bandeira disse...

Streetwarrior:

Nuno,

Não confunda hermetismo ou ocultismo ou qualquer outro "ismo" do género com Maçonaria!

A origem da Maçonaria não tem nada a ver com isso! A Maçonaria descende de corpos de construtores em pedra, que preservavam e transmitiam os "segredos do ofício", designadamente os princípios da geometria e sua aplicação prática à arte da construção (que só agora temos por simples e divulgados: antes eram praticamente desconhecidos, alvo de uma elite de intelectuais e... o conhecimento prático transmitido pelos construtores uns aos outros.

A transição da Maçonaria Operativa em Especulativa ocorre no século XVIII e é muito influenciada pelos princípios do Iluminismo, pelo racionalismo, pela emergência do conhecimento científico e do movimento enciclopedista, tudo isto representado na Royal Society.

No século XIX, ocorre o que eu chamo a deriva romântica da Maçonariaque, em função do princípio da tolerância, deixa misturar no seu seio toda uma plêiade de ocultistas, martinistas teosofistas e outros esotérico-birutas (alguns deles muito prolíficos em termos de escrita), que, sobretudo em termos de imagem exterior, "colonizaram a Maçonaria.

Mas a Maçonaria não é nem tem nada a ver com ocultismos, martinismos, teosofosmos e correlativos. Houve e porventura há maçons que perfilham essas ideias e que têm todo o ditreito de as perfilhar, e partilhar, não cabendo aos demais maçons o direito de crotocar esas ideias.

As suas dúvidas sobre hermetismo e ocultismo devem, pois, ser colocadas a um hermético ou a um ocultista.

A praia da Maçonaria é outra e muito mais simples: o aperfeiçoamento individual através de um método próprio, o estudo e reflexão da simbologia e dos símbolos.

Abraço.

Streetwarrior disse...

@Rui B.

Eu percebo perfeitamente o que me está a dizer, aliás, já mo tinha referido.
Eu no meu comentário, não estava a catalogar a maçonaria, juntando-a no mesmo rol de Ocultistas,teosofos etc.

Passo a transcrever a pagina da Wiki correspondente a Hermetismo.

"" O hermetismo consiste, de forma sincrética, no estudo e prática da evolução e expansão da consciência humana até à Consciência divina, penetrando assim nos mais profundos mistérios da Criação, o que ficou conhecido como iniciação, iluminação ou senda no Oriente. "

Portanto, há aqui paralelos...e não estou a falar de Hocus Pokos e magias birutas nem satanismos e blas blas.

Quando diz ;
" A praia da Maçonaria é outra e muito mais simples: o aperfeiçoamento individual através de um método próprio, o estudo e reflexão da simbologia e dos símbolos."

Ora, estes simbolos, são as alegorias que mencionei que descrevem e obrigam a reflectir, aludindo para uma "antiga Ciencia " práticada antigamente por todo o mundo.
Uns de uma forma, outros de outra, o fim...é identico.
È a partilha de um conhecimento que revela que tanto o Macro-Cosmo (Universo ) como o Micro-Cosmo, a terra e o nosso corpo, agem debaixo dos mesmos principios.
Isto para mim, nãda tem de Biruta..ate faz muito sentido e cada vez mais.

Não percebo é porque razão este conhecimento entrou num obescurantismo de tal forma negativo, quando pudia ser ( e é na minha opinião )a chave para que a humanidade se entenda melhor.

A minha pergunta ( se me souber responder )é, aonde é que começou todo este Ocultar, este esconder, esta senda, no sentido de manipular as sociedades, promovendo contos de fábulas acerca de reis Magos e bebés nascidos de virgens que nunca acassalaram, escondendo estes saberes.
Um dos grandes culpados, sabemos quem é...e dura há 2012 anos.
Porque razão, a escola Pitagórica não é promovida abertamente, visto ser uma das chaves para a compreensão sobre quem nós somos como matéria fisica.

Nuno

Rui Bandeira disse...

@ Streetwarrior:

Nuno,

1) A definição de hermetismo ultrapassa o âmbito da minha escrita - Maçonaris - e sobre ela não me pronuncio... salvo a chamada de atenção para a expressão, que correntemente uso, de "esotérico-biruta...

2) Com todo o respeito, acho que sai fora de pé quando escreve que "estes símbolos são as alegorias que mencionei". Não são. Os símbolos trabalhados pelos maçons são muito mais prosaicos (e talvez mais profundos) como: ompasso, esquadro, corda de 81 nós, pedra bruta, pedra cúbica, romã, colunas, colunetas, luz,norte, sul, ocidente, oriente, meio-dia, meia-noite, três, viagem, etc., etc, etc, etc., - só para mencionar ALGUNS dos símbolos estudados no 1.º grau, o grau de Aprendiz...

Não têm nada a ver com a pretensa "antiga ciência"!

Aliás, ciência é ciência, especulação é especulação. Nunca confundamos uma com outra, sob pena de sairmos do esotérico e entrarmos no birutismo...

Quanto aos paralelismos entre o macro-cosmo e o micro-cosmo, já nadaremos nas mesmas águas, desde que assentemos que estamos no domínio da especulação, da filosofia, do raciocínio, da crença - não na propriedade da Ciência...

3) Porque é que estas questões entraram no domínio do obscurantismo? Na minha opinião, por alguns terem pretendido dar foros de verdade científica ao que é apenas especulação (ainda?) não cientificamente demonstrada e por outros (os os mesmos...) terem levado as suas imaginações demasiado longe, com a agravante de terem coberto as falhas lógicas dos seus raciocínios com o manto de pretensos conhecimentos "secretos", "desconhecidos", "ocultos".

Razão é razão; crença é crença. Devemos manter a lucidez para distinguir entre aquilo que a Razão nos confirma e aquilo que a Crença nos entusiasma. Só assim somos dignos de ser verdadeiramente Homens de Razão abertos à investigação do que ainda não sabemos e das hipóteses que colocamos. Há uma diferença entre sermos abertos à descoberta do que (ainda) não se sabe e procuramos especular e ajudar a descobrir e sermos acéfalos seguidores de qualquer atrativa teoria... Especular não é sinónimo de crer irracionalmente, isto é, sem Razão e contra a Razão...

A resposta à questão que coloca no seun último parágrafo já lha dei: no século XIX, em pleno Romantismo, pulularam teorias e ocultismos, apaixonantes, mas nada mais do que isso...

Quanto à sua referência à Escolas Pitagórica não podia estar mais de acordo (aliás, chamo a sua atenção para a série de textos de divulgação e explicação que publiquei neste blogue e estão agrupados no marcador "Filosofia Pitagórica"). Mas o Conhecimento (ou a Especulação do Conhecimento) tem a divulgação que tem. Ainda é tempo, ainda não está encerrado, o capítulo da Ciência Experimental. Tempo haverá em que, globalmente, se estudará para além dela e se investigará o que o inevitável decurso dos séculos fez perder da Filosofia Pitagórica.

Streetwarrior disse...

@ Rui Bandeira
Não concordo totalente com com o seu comentario mas,tal como aprendi por cá, podemos concordar,discordando.

Relativamente aos simbolos, não me referia áqueles próprios que todas as instituições têm, tal como o compasso, que provavelmente terá paralelos com algo equivalente alegóricamente simbolizado.
Mas, concordaremos que tal como me ensinou relativamente á piramide ou ao triangulo, representa o mesmo paramuitas instituições...o simbolo do Sagrado.

A ciencia hermética a que me referia, com a qual o Rui diz ser especulação e não ciência, não posso concordar.
Pois, a Astronomia para mim é uma ciência e muitas das escolas filosóficas, usam-na num sentido Hermético, transmutando os Astros, o Sol e as estrelas ( no fundo tudo no Cosmos ) para os tais simbolos e alegorias que eu referia.

Em relação aos ensinamentos Pitagóricos, tem toda a razão, nada está encerrado....mas, é urgente voltar a deseminar estes saberes e não tenho a minha duvida que muitas guerras religiosas acabarão.
No entanto, parece-me que existe interesse em manter este conhecimento longe dos olhares e continuar guerras e disputas religiosas,pois há muito dinheiro investido nesta ilusão material a que chamamos, viver.
É a este nivel que digo haver obescurantismo propositado.

Abraço
Nuno

Streetwarrior disse...

Caro @Rui
Gostava de o presentear com este video.

http://www.youtube.com/watch?v=X2Xa5jFFzto

Terá sido estas as razões da adoração que os Egipcios tinham pelo Duat !
A luz vem a caminho..e graças ao Grande Arquitecto, chegará a todos e para todos.
A minha mente fervilha e a alegria não me cabe no coração.

Rui Bandeira disse...

@ Streetwarrior:

Nuno,

Esta troca de comentários mostra como uma troca de ideias serena permite o entendimento da posição do outro e o delimitar de discordâncias, revelando que as posições mútuas estão, normalmente, bem mais próximas do que o início da conversa aparenta.

Quanto à sua referência aos símbolos, após a sua explicitação, nada a objetar.

Quanto ao Hermetismo, o nosso desacordo é que eu não o considero ciência, mas especulação. Para mim, ciência é a ciência experimental moderna e não gosto de dar esse nome a outras realidades. Mas o hermetismo é um caminho tão válido como qualquer outr (a Maçonaria, o ascetismo, etc.) para se procurar atingir a Luz. cada um explorará o caminho que mais lhe convém e com que mais se identifica. Aí também nenhumas objeções coloco.

Ensinamentos pitagóricos: estamos ambos de acordo, mas também estamos ambos num "wishful thinking"...

Vídeo: deve ter-se enganado no link, pois o que colocou é um tutorial (Programa Para Gravar A Tela De Seu Pc - Para Fazer Video Aulas E Tutoriais).

Abraço.

Streetwarrior disse...

@Rui
Não podia estar mais de acordo com o que disse.

No entanto, deixe-me só apontar-lhe que também a ciencia experimental é feita de especulação na busca da conclusão final.
As ciencias modernas parecem-me muito desfassadas do objectivo primordial...em que os médicos destroem a saude, professores destroem o saber, Juizes destroem a lei e governos destroem as sociedades...prefiro procurar os saberes antigos, pois esses são intemporais.

Com relação ao video, cá vai...
Atenção...isto é muito á frente LOl

http://www.youtube.com/watch?v=58ijKg5T3rI&feature=relmfu

Fico á espera de um comentário a este video @Rui...é que é muito áfrente, de doidos mesmo.
Ás tantas...é verdade!

Rui Bandeira disse...

@ Streetwarrior:

Nuno,

Vi o vídeo. tenho alguma dificuldade em comentá-lo. Em termos racionais, vejo afirmações temerárias, saltos lógicos, inclusão dos definidos nas definições, relacionamento de coisas que não são necessariamente relacionáveis.

Mas em termos de crença, o autor do vídeo parece-me acreditar realmente no que expõe. E não questiono ou critico a crença alheia.

Portanto, digo-lhe apenas:esta não é a minha praia... Aliás, não me interessa particularmente de onde vimos, ainda uqe porventura a Humanidade tenha vinso da nebulosa de Oríon. Interesa-me muito mais para onde vamos e como cada um de nós deve evoluir...

Streetwarrior disse...

@Rui

Eu parto também do persoposto que o autor, acredita naquilo que quer, tal como quando olhamos para as nuvens, vemos as imagens que queremos ver.
Creio que isso tem uma designação que agora não me recordo!

No entanto, acho curioso o @rui dizer que não lhe interessa de onde vem...mas sim, para onde vai!
LOL
A viagem já tá paga não é!Pode vir o revisor á vontade... agora se o transporte lá chega ou não, isso é outra história.

Ok..mas especulando!
Os Egipcios reverenciavam O Duat...ora se tudo na vida é um ciclo, já pode ver para onde esta viagem nos leva...de volta para o Duat!
Lol
Abraço
Nuno