30 julho 2014

Assentando ideias...


Em comentário ao texto "Limpeza da Loja", um leitor afirmou, designadamente:

"A administração de uma qualquer empresa, ou associação, profana não diria melhor. Devemos ter cuidado com o que escrevemos em relação a II que trazemos para cá. (...)".

É-me evidente o tom crítico, em relação ao texto, do comentador - e isso não me afeta em nada ou me causa qualquer desagrado. As ideias publicadas ficam expostas ao debate e à crítica e é pelo confronto entre as nossas ideias e as críticas que lhes sejam opostas que evoluímos no nosso pensamento. Aliás, acho que, pese embora a aparente falta de fundamentação da afirmação, a mesma suscita alguma reflexão.

Se bem entendo o que o comentador quis dizer, entende ele - e eu concordo em absoluto! - que a conduta em Maçonaria deve ser algo mais e algo melhor do que a normalidade da conduta no meio que os maçons designam de "profano". Neste ponto, não creio que haja razões de discordância. Assentemos, assim , no princípio de que é exigível que a conduta ética de um maçom e em ambiente maçom deve ser mais exigente, mais escrupulosa, mais cuidada do que a média da Sociedade. O maçom só pode constituir exemplo para a Sociedade se se comportar melhor do que normalmente nesta sucede.

No entanto, uma vez que o comentador manifestamente que expressa um tom crítico em relação ao que é exposto no texto, terei que concluir que as ações por mim descritas não merecem o seu acordo. Recorde-se então, muito sumariamente, o que propugnei que periodicamente deve ser feito numa Loja maçónica: verificação da assiduidade e do cumprimento das obrigações pecuniárias dos obreiros, determinação das causas de eventuais faltas de assiduidade e ou de cumprimento das ditas obrigações e medidas corretivas a tomar.

Em relação à assiduidade, defendi que a degradação da mesma pode decorrer de várias causas, indicando exemplos e respetivas medidas aconselháveis: ausência no estrangeiro (aguardar pelo regresso; se prolongada, encarar a hipótese de transferência; em qualquer caso, é determinante a vontade do interessado); indisponibilidade por afazeres do obreiro (aguardar a ultrapassagem do problema; encarar a possibilidade de quite e adormecimento, se a impossibilidade for previsivelmente prolongada, sendo também, obviamente, essencial a vontade do interessado, pois o quite não pode ser imposto, só sendo emitido a pedido); problemas de saúde (aguardar pela sua ultrapassagem e providenciar o auxílio e assistência pertinentes e possíveis); problemas de relacionamento (intervenção para superação dos mesmos ou para corrigir as deficiências de integração); desinteresse (saída da Loja, seja mediante quite, seja mediante exclusão).

De todas estas situações, não creio que o comentador critique as intervenções propostas em relação a nenhum caso, exceto porventura a exclusão por desinteresse - única medida unilateralmente tomada pela Loja que redunda no afastamento do obreiro. Mas, se for esse o caso, não posso senão discordar do entendimento crítico: se alguém se desinteressa ao ponto de se afastar e de nem sequer ter interesse em formalizar um pedido de saída (salvaguardando a hipótese de regresso se e quando porventura tal lhe interesse), não deve a Loja exclui-lo? Deve, então, fazer o quê? Manter indefinidamente uma ligação apenas ilusória, apenas um nome num papel, apenas uma contínua ausência? Em nome de quê? Em nome de uma pretensa tolerância (ao desinteresse, ao incumprimento dos compromissos)? Em nome de um putativo princípio de que em Maçonaria não há sanções nem medidas de exclusão? Parece-me evidente que, verificado o desinteresse, verificada até a falta de consideração em responder ou ou em formalizar de jure o que de facto já se evidencia, se impõe acabar com uma ligação que é já apenas ficcionada e permitir que o oblívio apague o que foi um manifesto erro de parte a parte... 

Quanto ao incumprimento das obrigações pecuniárias, apresentei também vários exemplos de situações e de soluções propostas: dificuldades económicas em diferentes graus (plano de pagamentos; regularização da situação com recurso ao Tronco da Viúva, com reembolso se e quando regressar melhor fortuna; quite pedido pelo obreiro, com pagamento da dívida pelo Tronco da Viúva, também com reembolso se e quando regressar melhor fortuna; desinteresse e falta de vontade de cumprir (exclusão). Também não creio que, de todas as alternativas, a crítica surja senão em relação à última. Mas deve a Loja permitir que quem não cumpre, podendo fazê-lo, as suas obrigações pecuniárias, possa indefinidamente fazê-lo, sem reação ou sanção? E, ainda por cima, tendo a Loja de pagar a capitação (utilizando a parte que lhe cabe dos pagamentos dos cumpridores)? É isso justo para os que cumprem? Note-se que não está em causa a exclusão por dificuldades económicas: esses casos têm outras medidas e solidariedade da Loja. Apenas se defende a exclusão dos que PODEM pagar em tempo, mas não pagam porque NÃO QUEREM, desrespeitando todos os demais, os cumpridores e, em especial, aqueles que até fazem algum esforço para cumprir as suas obrigações...

Convém assentar bem as ideias! Ser maçom é procurar comportar-se melhor do que a normalidade, mas não é permitir que os incumpridores, os desleixados, os desinteressados usem e abusem de uma pretensa e inexistente obrigação de tolerância. A Tolerância que deve ser apanágio dos maçons não é a permissividade em relação aos infratores, aos desrespeitadores dos demais, aos incumpridores dos seus compromissos, aos faltosos à sua palavra. Isso não é Tolerância - é estupidez! Tolerância é a aceitação das diferenças e das divergências. Não é a aceitação complacente de condutas prevaricadoras (nesse sentido, ver o texto "Os limites da Tolerância").

Insisto: é tempo de assentar bem as ideias! Tal como cumprir as nossas obrigações, sancionar o incumprimento doloso das obrigações livremente assumidas é um dever maçónico. É errado apodar de "profanidade" o cumprimento desse dever! A ética maçónica é uma postura de exigência - tolerante, mas exigente! -, nunca uma mandriona complacência com os incumpridores e os incumprimentos, quando dolosos. Maçonaria não tem nada a ver com "nacional-porreirismo" ou "deixa andar" ou cumplicidade benevolente com as violações dos deveres livremente assumidos. Ou então não seria um método de aperfeiçoamento, antes de degradação!

Rui Bandeira 

29 julho 2014

Um Maçon e a sua religiosidade!


Pode um Maçon ser um Homem crente?
Pode um Maçon ser um Homem praticante de uma fé/crença?

Perguntas que muitos fazem, respostas que poucos as conseguem entender, pois por isso mesmo hoje decidi apresentar-vos a visão de um Maçon, face à sua vivência enquanto Maçon e enquanto Muçulmano.

O que diferencia um Maçon Muçulmano de ou outro qualquer Maçon, seja ele Cristão, Judeu, Deísta, Budista e ou apenas crentes no Grande Arquiteto Do Universo.

Deixo-vos a minha opinião suportada por uma vivencia de um momento muito especial no que respeita à pratica Religiosa e a Observância Maçónica daqueles que são os princípios da Maçonaria, falo da Liberdade, da Igualdade, do Direito ao Livre Arbítrio, dos Bons Costumes e da Tolerância e Respeito.

O mês de Ramadão de 1435/2014.

- Um mês de Ramadão terminado!
- O dia de Eid al-Fitr comemorado!

E agora, agora vamos a mais um balanço:

Um mês de reflexão, de observação interior e de avaliação dos limites, limites esses que nem sempre julgamos poderem ser atingidos.

Um mês de auto disciplina física e intelectual, um mês onde acima de tudo a mente esteve, tanto quanto possível, apenas fixada no bem, na família, nos amigos, na partilha, no fazer o bem e deixar de lado todas as intenções e pretensões pessoais, ou seja um mês de trabalho individual para melhorar a minha postura, ação e atitude face ao colectivo e à sociedade.

Pois bem, do ponto de vista pessoal e é isso que interessa, pois cada um deve começar o trabalho por si mesmo e nunca pelos outros, digo-vos que o meu Ramadão foi completado a 100%.

No que respeita à convicção de fé/crença essa sai reforçada, olhando à mesma como um processo de evolução e aperfeiçoamento pessoal, no entanto esclareço que neste tema de fé/crença, cada um tem o direito em optar pelo processo/caminho que bem entender, desde que essa seja a sua vontade e opção feita de forma livre e consciente.

Esta minha escolha é mais um processo, adicionado a outros, com o qual me sinto bem e através do qual tenho vindo a reforçar as minhas convicções, enquanto Homem Livre e de Bons Costumes (assim espero ser reconhecido) o qual me tem ajudado a percorrer esta minha caminhada.

O que me torna diferente dos outros, findo o Ramadão?

Bem na verdade NADA!

Exactamente “NADA”, não consigo encontrar nada que me diferencie de todos os Meus Irmãos Maçons, sejam eles Cristãos, Judeus, Deístas, Budistas e ou apenas crentes no Grande Arquiteto Do Universo.

Em nada e em caso algum tenho o direito, ou posso sentir-me diferente, seja para melhor e ou para pior, apenas porque escolhi este ou aquele caminho, reconheço hoje, tal como sempre fiz, todos os Meus Irmãos de igual forma, sem qualquer diferença originada por qualquer Credo, Estatuto Social, Convicção Ideológica, Clubismo Desportivo e ou Opção Filosófica.

Depois desta caminhada chego à conclusão que na minha fé/crença, bem como todos os rituais e práticas executadas, em nada me tornam diferente e têm apenas os seguintes objetivos:

1 Tornar o Homem mais Humilde e menos Egocêntrico, pois a prática de nos dirigirmos ao Grande Arquiteto Do Universo, tem como principal objectivo tornar-nos mais Humildes aquando lidamos com todas as formas de vida, por Ele criadas.

2 Tornar o Homem totalmente consciente de que esta Caminhada (Vida) é apenas uma etapa de aprendizagem e que por isso mesmo devemos de olhar muito mais para o que está ao nosso lado e não apenas para o reflexo da nossa própria imagem no Espelho, pois quando a Luz se extingue também o nosso reflexo nos abandona e ai só quem está ao nosso lado e DEUS/YHVH/ALLAH, nos pode dar a mão.

3 Tornar o Homem mais consciente daquilo que são as necessidades de todos aqueles que jejuam permanentemente para lá do Ramadão, os quais jejuam infelizmente porque não tem meios para se poder alimentar, vestir e ou ter uma habitação condigna.

4 Tornar o Homem mais “Homem” e menos “Entidade Divina”, POIS neste período todos são elevados à mesma condição, O Rico, O Pobre, O Doutor, O Ignorante, O Inteligente, O sem Curso Superior, O Sacerdote, O Crente, O Homem e A Mulher, todos, mas mesmo todos, são iguais, todos passam pela mesma privação independentemente daquilo que são perante, ou aparentam ser, independentemente dos Rótulos e Medalhas com que se apresentam, ou se possam vir a apresentar no seu dia-a-dia Profano e ou Sagrado.

Por isso findo este processo apenas quero deixar um registo de desejo:

Que O Grande Arquiteto Do Universo nos proteja a todos das Trevas que vamos encontrando ao Longo desta nossa Caminhada (Vida), que a Luz do Sol, direta e ou na Lua refletida, nos Ilumine até que a Meia Noite do nosso Dia chegue e que lá no Oriente Eterno, onde todos nos voltemos a Reconhecer e a Reencontrar, sejamos o reflexo daquilo que aqui fizemos, pois lá seremos apenas mais uma Luz, junto de todas as outras, sem qualquer distinção, diferença e ou diferenciação.

Disse!

Alexandre T.

23 julho 2014

Limpeza da Loja


Em todas as casas periodicamente há necessidade de se fazer uma grande limpeza.  É certo que no dia a dia se procura manter a casa apresentável, que a rotina semanal nos habitua a dedicar algum tempo a limpeza mais metódica. Mas, em regra anualmente ou bianualmente, há necessidade de se fazer uma limpeza geral e completa, tudo arejar, verificar o estado das coisas, limpar os cantos mais escondidos e inacessíveis, enfim fazer uma limpeza a fundo que reponha o espaço nas melhores condições de higiene e de condições de nele se viver.

Similarmente, também numa Loja maçónica existe a necessidade de periodicamente se fazer uma limpeza no respetivo quadro de obreiros.

Quem entra para a Maçonaria fá-lo normalmente com a melhor das intenções e com o propósito de participar. Mas, seja porque se esperava algo diverso, porque se não logrou a desejável integração ou porque as condições de vida são o que são em cada momento e, por vezes, impossibilitam a execução das melhores das intenções, alguns acabam por se desinteressar, por não comparecer, por se afastar.

Tal como, mesmo não sendo a mais agradável das tarefas, não podemos deixar de, em nossas casas, efetuar periódicas limpezas, também na Loja maçónica, mesmo sem termos qualquer gosto nisso, não se pode prescindir da tarefa de verificar o que se passa com os obreiros do Quadro e fazer as mudanças que se mostrem pertinentes, efetuar os arranjos necessários, providenciar a reciclagem do que afinal não se coaduna com o resto do conjunto.

Esse trabalho, que eufemisticamente apelidamos de "administrativo", vai sendo permanentemente controlado e assegurado pelo Secretário e pelo Tesoureiro, quando necessário com a intervenção do Orador ou do Hospitaleiro (a tarefa do "dia a dia"), pontualmente atalhando algum caso mais evidente com providência imediata e casuisticamente decidida (a "rotina semanal") e periodicamente metódica e expressamente realizado (a "limpeza a fundo").

Quando é tempo de efetuar a revisão geral das situações, dois parâmetros iniciais são verificados em relação a todos os obreiros do Quadro: a assiduidade e o cumprimento das suas obrigações pecuniárias para com a Loja. Considera-se haver normalidade com a verificação da assiduidade ao menos no nível mínimo definido pela Loja e o cumprimento, ao menos sem atraso significativo, das obrigações pecuniárias. Entende-se haver motivo para preocupação e verificação da necessidade de intervenção quando, num dos parâmetros, o nível mínimo, regulamentarmente fixado, não é cumprido. Fazem-se soar os sinais de alarme quando esses níveis mínimos de cumprimento são incumpridos em relação aos dois parâmetros.

Várias situações podem ocorrer, aconselhando diversos graus e tipos de intervenção. 

Quando se verifica que, embora mantendo o nível mínimo de cumprimento das obrigações pecuniárias, ocorre uma degradação da assiduidade, impõe-se a determinação da causa do que está a acontecer. Se o obreiro está deslocado no estrangeiro ou longe do local de funcionamento da Loja, não será uma situação preocupante, havendo apenas que determinar se se perspetiva que essa situação se mantenha por pouco ou por muito tempo e se será mais aconselhável providenciar uma transferência de Loja ou simplesmente aguardar que o impedimento cesse. Neste tipo de casos, é normalmente determinante a expressão da vontade do interessado.

Pode também verificar-se que a ausência decorre de anormal acumulação de trabalho ou afazeres do faltoso. Também nesta situação importa verificar se a circunstância é temporária ou se se perspetiva com foros de permanência. Se for meramente temporária, de expectável curta duração, pode-se perfeitamente aguardar que a situação melhore, mantendo contactos à distância ou informais. Mas se as causas do impedimento tendem a manter-se por tempo significativo, será oportuno considerar a pertinência da solicitação e emissão de atestado de quite, com adormecimento do obreiro até superação da situação, retomando este a sua atividade quando de novo estiverem reunidas as condições para o fazer.

Mas pode também ocorrer que a ausência decorra de problemas de saúde do obreiro ou de seus próximos. Aí e então o que importa, em primeiro lugar, é verificar, em conjunto com o Irmão, de que forma é possível e útil que a Loja dê uma ajuda na superação da situação ou minimização das suas consequências. É hora de entrar em cena o Hospitaleiro da Loja.

Pode também suceder que o afastamento decorra  ou de desinteligência com outro ou outros obreiros da Loja ou de dificuldade de integração do obreiro no grupo. Nessas situações, há que procurar as soluções para sanar a situação. Cabe, em primeira linha, ao Orador "passar a trolha" sobre o problema que tenha surgido, alisando as divergências e limpando os mal-entendidos, de forma a que a harmonia se restabeleça. Quanto a eventuais problemas de integração detetados, deve, sem demora, deles dar-se conhecimento aos padrinhos do obreiro que os sofre (normalmente é um elemento recentemente admitido na Loja) e a toda a Loja, para que o que estava a correr mal passe a correr bem. A integração de um obreiro na Loja é uma tarefa que se desenrola em ambos os sentidos. Ambos, o obreiro e a Loja, identificado que seja o problema, têm de cooperar para o resolver.

Finalmente, pode suceder que a ausência derive apenas de desinteresse do obreiro. É o que familiarmente designamos por "erro de casting"... Nessa situação, e porque a integração numa Loja maçónica é um ato estritamente voluntário, se se conclui que a Loja ou a Maçonaria não corresponde às expectativas do obreiro, razão geradora do seu desinteresse, só há uma forma de resolver a questão: a saída do obreiro de algo de que se desinteressou. Essa saída pode ser feita de duas maneiras: com honra e consideração mútuas, através do pedido de atestado de quite; ou, não havendo a consideração de pedir formalmente a desvinculação, mediante uma decisão de exclusão por parte da Loja.

Pode, por outro lado, suceder a verificação de falta de cumprimento das obrigações pecuniárias, designadamente falta ou atraso sensível no pagamento de quotas, por parte de obreiro que até cumpre os critérios de assiduidade. É uma situação que assume alguma gravidade para a Loja. Por um lado, porque esta tem de pagar à Grande Loja uma (importante) percentagem da quota mensal dos seus obreiros, independentemente da regularização desses pagamentos por eles - o que implica que os pagamentos das percentagens das quotas em atraso tem de ser satisfeito mediante o recurso aos fundos próprios da Loja, que são obviamente finitos. A não resolução atempada do problema cedo ou tarde conduziria a Loja à bancarrota. Por outro, porque, pura e simplesmente não é justo para os que pagam que se permita, sem medidas, que, podendo fazê-lo, outros assim não procedam.

A falta de cumprimento das obrigações pecuniárias normalmente resulta de uma de duas situações: dificuldades económica do obreiro ou  desinteresse.

No caso de dificuldade económica do obreiro, dependendo da situação concreta, do grau de gravidade, da duração previsível da situação, opta-se por várias e diferentes medidas: estabelecimento de plano de pagamentos do atrasado, durante um período mais ou menos prolongado, até recuperação da situação, sendo que, estabelecido um plano de pagamentos, durante e mediante o seu cumprimento o obreiro é considerado em dia perante a Loja; assunção pela Loja da responsabilidade pecuniária do obreiro, mediante empréstimo sem prazo e sem juros, pelo Tronco da Viúva, do montante que for preciso, pelo tempo necessário, até que a sua situação económica melhore - quando estiver em condições para tal, o obreiro diligenciará o reembolso do Tronco da Viúva, como é apanágio dos homens livres e de bons costumes; nos casos mais graves e previsivelmente de indisponibilidade prolongada, pode o obreiro pretender pedir o seu atestado de quite (o que pressupõe que esteja quite) - nesses casos, o Tronco da Viúva assume, a título de empréstimo sem prazo e sem juros, o pagamento do que está em atraso, para que o obreiro possa receber o seu quite, e, se e quando puder pagar, pagará, se e quando puder e quiser regressar, regressará.

Só nos casos em que o incumprimento das obrigações pecuniárias ocorra por desinteresse ou falta de vontade de o fazer é que a Loja decide a exclusão do obreiro, de forma a deixar de ser responsável pelo pagamento à Grande Loja da capitação a ele referente.

Por muito bem que funcionem o Secretário o Tesoureiro, o Orador e o Hospitaleiro, é conveniente que, desejavelmente uma vez por ano, no mínimo de dois em dois anos, esta tarefa de verificação geral e resolução proativa dos problemas detetados seja feita. Só assim se tratam situações que deveriam já ter sido tratadas e que, por erro, negligência ou simples inércia estão por tratar, com risco de agravamento. Só assim, por iniciativa organizada da Loja, se obtém, por vezes, a noção de que um Irmão atravessa dificuldades e não revela tal facto aos seus Irmãos, seja por que razão seja. Só assim a Loja logra obter uma imagem global do que se passa com os seus obreiros, do que está a Loja a fazer para auxiliar os que necessitam de auxílio e do que tem de modificar ou diligenciar para bem cumprir o dever de Solidariedade que une todos os maçons.

Tal como nas nossas casas, a limpeza semestral ou anual não implica só deitar coisas fora, mas também detetar o que precisa de ser reparado e providenciar pela reparação e efetuar as mudanças que sejam convenientes, também a limpeza da Loja não se limita à exclusão daqueles que é necessário excluir. Muito mais há a fazer, para além disso: reparar o que houver a reparar, providenciar o que houver a providenciar, auxiliar o que se houver de auxiliar pela forma que se puder fazê-lo.

Tal como nas nossas casas, efetuar periodicamente a limpeza da Loja é imprescindível para o bom funcionamento desta e fortalece os laços entre todos.

Rui Bandeira 

16 julho 2014

Compromisso


Porque a Maçonaria é um contínuo exercício de dar e receber entre cada maçom e os seus Irmãos, cada um aperfeiçoando-se através do que obtém do contributo do trabalho dos demais, a condição do sucesso nessa pretendida melhoria de todos pode resumir-se numa palavra: COMPROMISSO.

COMPROMISSO em relação à assiduidade de cada um (pois quem não está, não participa). COMPROMISSO em relação ao cumprimento dos deveres de cada um, designadamente quanto ao pagamento das respetivas quotas (pois a manutenção da estrutura tem custos, que necessariamente têm de ser equitativamente suportados por todos os que a integram). COMPROMISSO em relação ao trabalho, ao estudo individual, em relação à partilha dos resultados do seu esforço.

Uma Loja maçónica potencia, acrescenta, valoriza, através de todo o grupo, a valia individual de cada um. É um fermento que auxilia no crescimento da massa que cada um amassa. Mas o fermento de nada serve se não houver farinha para amassar ou se ninguém se dispuser a executar ou a cooperar na tarefa de fazer a massa...

Uma Loja maçónica vale a soma do valor de cada um dos seus obreiros, acrescentada da mais-valia resultante das sinergias, complementaridades e eficiências geradas pela cooperação no grupo. Mas de nada serve o valor que potencialmente algum elemento possa dar ao grupo. Só importa o que efetivamente dê, transmita, acrescente.

Uma Loja de eminentes pessoas que se juntem apenas dar conta das respetivas eminências mas se não deem ao trabalho de produzir, fazer, compartilhar, pode ser uma eminente Loja - mas está na iminência de ser um completo e absoluto fracasso!

Por seu turno, uma Loja que agrega homens comuns, sem particular engenho, sem especial importância, sem extraordinária inteligência, se estes dedicada e persistentemente trabalharem, partilharem, propuserem projetos, debaterem e executarem alguns, fará sucessivamente pequenas coisas, modestos empreendimentos, pequenas obras - mas o conjunto do que fará terá cada vez mais significado. Cada um sentir-se-á satisfeito com cada pequena conquista e propenso a continuar a ajudar, a colaborar, a propor, a fazer.O esforço de cada um, devidamente coordenado, propicia resultados coletivos visíveis. Essa Loja pode ser de formiguinhas - mas será uma Loja bem mais satisfatória do que a "eminente" Loja de homens eminentes que nada façam além de observarem as suas mútuas "eminências"...

O COMPROMISSO tem de ser persistente, constante. De pouco vale hoje o que se fez de bom há anos atrás. Será uma história bonita, mas é já passado. Serve como exemplo, como inspiração, mas não substitui o trabalho de hoje para lograr a realização de amanhã.

O maçom que se queixa de que a sua Loja nada faz, que as sessões "são sempre a mesma coisa", se só faz essa constatação e nada mais faz para superar aquilo de que se queixa, esse é precisamente um dos culpados da situação que acusa. É estulto queixar-se que "a Loja não tem projeto". O que há a fazer é tomar a iniciativa de fazer, ele próprio, algo que considere valha a pena ser feito - por pequeno, por modesto que seja. E, pelo exemplo e persuasão, levar outros da Loja a também tomarem a iniciativa de fazer pequenas coisas. Ao fim de algum tempo, três, cinco, dez, vinte pequenas coisas feitas já constituem algo que se veja, algo que merece alguma satisfação pelo dever cumprido...

Ou então, em vez de se aguardar, expectante mas indolentemente, que a Loja imagine, descubra, prepare, debata, organize e execute o fantástico, importantíssimo e relevantíssimo projeto que gravará a letras de ouro o nome da Loja nos anais da História Maçónica e quiçá mereça uma nota de rodapé nos manuais do ensino elementar das futuras gerações, talvez seja melhor conceber um pequeno projeto, dar vida a uma ideia cuja forma final ainda nem sequer se saberá qual vai ser, combinar com dois ou três dos seus Irmãos e começarem a executar. Não é necessário que toda a Loja formalmente adote o projeto (mas convirá que não se trate de iniciativa que mereça a discordância da Loja...). Dois ou três começam. Dois ou três ou quatro dão os primeiros passos de algo que é feito em nome da Loja, enquanto elementos da Loja. Se efetivamente a ideia tiver pernas para andar, mais cedo do que mais tarde os demais ajudarão, incentivarão, participarão. E, quando nos damos conta, o projeto é já mesmo o projeto da Loja - não dos dois, três ou quatro que o iniciaram -  e terá condições para ser prosseguido enquanto houver Loja...

Na Loja Mestre Affonso Domingues nunca nos preocupámos em fazer grandes organizações. Tudo o que na nossa Loja se foi fazendo começou da mesma maneira: dois ou três ou quatro conversam e avançam, os outros vão dar uma ajuda e, sem disso nos darmos conta, o que se faz é já de todos, é já da Loja. Foi assim que começaram as ações de doação de sangue - e há mais de dez anos que periodicamente ajudamos neste campo. Por vezes com poucas doações, outras vezes com mais gente a associar-se. Mas faz-se! Quem começou já não está na Loja há muito tempo. Os mais novos nem sequer ouviram falar dele. Mas a semente que lançou germinou e, mais de dez anos passados, uns anos mais, outros anos menos, os frutos continuam. É um contributo modesto, quase apenas umas gotas no oceano das necessidades, sabemo-lo. Mas persistirmos em dar esse contributo modesto e esperamos continuar a fazê-lo por muitos mais anos. É do conjunto de todos os modestos contributos que se satisfazem as necessidades de sangue no País.

Este blogue começou por ideia de um, concretização de outro e imediata adesão de um terceiro. Os três autores iniciais não criaram o "seu" blogue. Criaram um "blogue escrito por maçons da Loja Mestre Affonso Domingues". Oito anos passados, outros se juntaram, mais de 1.300 textos estão à disposição de quem os quiser ler. E espero que continue mesmo quando já nenhum dos mentores iniciais nele escrever...

O sítio da Loja  foi criado por iniciativa de um, com a ajuda de outro, foi remodelado e mantido por um terceiro, que conta agora com a ajuda de um quarto e os contributos de todos os obreiros da Loja. Contém já um enorme acervo de textos postos à disposição de qualquer pessoa.

A Loja não gastou um minuto sequer a discutir se criava um sítio na Internet ou se mantinha um blogue. Uns avançaram, outros ajudaram, todos contribuem quando é preciso ou têm disponibilidade. Mas a obra está feita e está à vista de todos. E não é obra do Manuel, do António ou do Joaquim. É obra dos obreiros da Loja Mestre Affonso Domingues. 

Os obreiros da Loja Mestre Affonso Domingues têm um COMPROMISSO com a Loja. É estarem presentes. É tudo livre e lealmente debaterem, sem o mínimo problema, tolerando as posições divergentes, cada um concordando ou discordando quando assim o entender, e todos sermos um grupo unido e solidário. É cada um sentir-se à vontade para arrancar com um projeto, executar uma ideia, pedindo e obtendo, ou obtendo mesmo sem pedir, o apoio e a colaboração de outros obreiros - se valer a pena e for necessário, de toda a Loja.

O COMPROMISSO dos maçons da Loja Mestre Affonso Domingues não é de fazer a mais importante e merecedora de elogios obra que o espírito humano possa conceber, O seu COMPROMISSO é ajudar o seu Irmão a levar a cabo a sua ideia, é avançar com a execução das nossas ideias, sabendo que algum ou alguns dos nossos Irmãos estará ou estarão presentes com a sua ajuda.

O nosso COMPROMISSO na Loja Mestre Affonso Domingues é ir fazendo, em cada momento, o que for preciso para ajudar. Assim fazemos. Às vezes mais, às vezes menos, às vezes muito, às vezes pouco, às vezes bem, às vezes nem tanto assim. Mas, bem vistas as coisas, sempre algo se faz!

Rui Bandeira

09 julho 2014

Dar e receber


Ingressar na maçonaria, juntar-se a uma Loja maçónica não é um ato destinado à obtenção de quaisquer vantagens materiais ou sociais. O ingresso na Maçonaria, a permanência numa Loja maçónica traz benefícios de ordem espiritual, moral, de aperfeiçoamento pessoal, de preenchimento do sentido da vida e plenitude na vivência do tempo que a cada um cabe neste plano da existência.

Dito de outro modo: o ingresso na maçonaria não se destina à obtenção de vantagens materiais ou sociais, prossegue o objetivo de nos ajudar a ser melhores e mais felizes

A vivência numa Loja maçónica é um contínuo e inesgotável ciclo de troca, de dar e receber. Cada um dá à Loja o que tem de útil para lhe dar e dela recebe aquilo de que ela dispõe, o que recebeu de todos, para fruição e aperfeiçoamento de cada um.

É dando a nossa quota-parte que criamos as condições para recebermos o nosso quinhão. Desengane-se quem porventura julga que o que interessa é "entrar" e depois basta aguardar que aquilo que esperamos e o que nos é inesperado nos caia nos braços! A Maçonaria tem uma curiosa caraterística: tudo proporciona, mas nada dá. 

Trocando por miúdos: a Maçonaria proporciona um meio, um ambiente, um método, uma cultura, um grupo, tudo disponível para que cada um de nós utilize em prol do seu aperfeiçoamento, do seu crescimento, da sua evolução. Mas faz só isso - e muito é! Cabe a cada um fazer pela sua vida e mergulhar no meio, viver o ambiente, utilizar o método, apreender a cultura, inserir-se no grupo, e com isso lograr melhorar, desenvolver-se, crescer, viver melhor, em suma, ser melhor.

O trabalho, o esforço, a vontade, são sempre individuais. O auxílio, a orientação, a envolvência, esses sim, advêm da Instituição, da Loja, do grupo.

Assim, a entrada na Maçonaria, a iniciação numa Loja, não é mais do que um prelúdio, um momento - marcante, sem dúvida! -, uma condição necessária, mas não suficiente para que o objetivo do desejado aperfeiçoamento seja obtido. Esse ato marca apenas o começo do trabalho, o início da caminhada, o plano de partida. O maçom, a partir dessa base, primeiro amparado pelos seus Irmãos, que decidiram acolhê-lo no seu grupo, depois guiado e orientado por eles, finalmente por si só, fará depois o trabalho que entender, seguirá o caminho que escolher, chegará ao plano a que conseguir chegar. Nada, a não ser condições e conselho, lhe é dado. Tudo o que cada um obtém resulta do seu esforço, do seu trabalho.

A maçonaria e a vivência em Loja têm ainda uma outra interessante caraterística: é dando que se recebe e quanto mais se dá, mais se obtém.

Porque sempre que o maçom dá um pouco do seu esforço, efetua uma investigação, organiza algo, executa uma tarefa, ajuda um Irmão, está a aprender algo, a aprimorar-se nalgum aspeto. Finda qualquer tarefa, ultimado qualquer projeto, não é só o que se fez que ficou feito; quem o fez também ficou melhor, seja porque aprendeu, seja porque exercitou, seja pelo que relacionou ou relacionará e lhe permitirá ir mais adiante, ou aprofundar algo mais, em si, no que sabe ou no que investiga ou busca.

O resultado do trabalho de um maçom é por ele disponibilizado ao grupo, à Loja, e todos com isso beneficiam, ao menos conhecimento ou uma nova visão ou conceção do que já conhecem. Mas o maior beneficiário é quem fez o trabalho, que no final dele será sempre, um pouquinho que seja, melhor, mais ilustrado, mais conhecedor, mais preparado, mais capaz, do que estava antes de iniciar a tarefa.

Quem frequente uma Loja apenas para ver o que acontece, o que lá se passa, o que é dito e apresentado, muito pouco rendimento tira do seu tempo. Quem participa, colabora, auxilia, sugere, pensa, toma a iniciativa de propor ou de fazer, esse, sim, ao fim de cada ano sente que é diferente, melhor, mais capaz, do que era no ano anterior. E entende que, prosseguindo nessa linha, certamente é, no momento, pior do que será no ano seguinte.

O maçom ativo aprende que dar, trabalhar, fazer, tomar a iniciativa, ajudar, cooperar, são tudo atos do mais inteligente dos egoísmos, pois tudo, bem vistas as coisas, redunda no seu próprio benefício.

Claro que isto não é compreendido por quem vive (ou sobrevive) apenas para o dinheiro, os bens materiais, a passageira consideração social. Por isso a Maçonaria não é para todos. Mas isso não é nenhum segredo...

Rui Bandeira 

07 julho 2014

Entre o que uns pensam e outros dizem, de eu ser Maçon!


Entre o que de mim dizem,
Entre o que de mim pensam,
Entre os me julgam sem saberem bem e sobre o quê,
Entre os que de mim não gostam,
Entre os que das minhas dificuldades se glorificam, está a verdadeira razão da minha existência:

AQUELES a quem eu AMO e que me retribuem de forma igual!

Entre aqueles que acham que o melhor era o meu silêncio,
Entre aqueles que em todas as minhas ações só vem o que não conseguem fazer,
Entre aqueles que se preocupam mais com o que faço e com o pouco que tenho, do que com aquilo que deviam de fazer para poder ter mais ou o mesmo, está a verdadeira razão da minha persistência:

AQUELES que mesmo sem que eu tenha de pedir, me dão força para seguir em frente e continuar a caminhar, os Meus Queridos Irmãos.

Entre aqueles que em todos os meus actos só vêm interesses ocultos,
Entre aqueles que buscam permanentemente nos meus actos o reflexo negro e sujo das suas mentes pobres,
Entre aqueles que apenas se focam em desdizer e contrariar, por contrariar, o que de boa-fé partilho,
Entre aqueles que da inveja fazem seu alimento, está a verdadeira razão da minha caminhada e persistência:

AQUELES que trilham o mesmo carreiro e que se sentem e se Reconhecem com IGUAIS entre IGUAIS!

Alexandre T.

03 julho 2014

O Volume da Lei Sagrada

Nota de Abertura: Neste Blog de vez em quando convidamos um Maçon de outra Loja ou de outro Oriente ou País a publicar textos de sua autoria, tal como acontece com o que agora aqui se publica e que vai devidamente assinado.






21º Landmark da lista de Albert Gallatin Mackey- é indispensável a existência, no Altar, de um Livro da Lei, o Livro que, conforme a crença, se supõe conter a Verdade revelada pelo Grande Arquitecto do Universo. Não cuidando a Maçonaria de intervir nas peculiaridades de fé religiosa dos seus membros, esses Livros podem variar de acordo com os credos. Exige, por isso, este landmark, que um "Livro da Lei" seja parte indispensável dos utensílios da Loja.

Como se infere do landmark citado, não há um livro da lei recomendado ou que tenha preponderância sobre os outros. Porque para o maçon do R\E\A\A\, que é o nosso, nenhuma religião é melhor que outra ou mais digna de respeito que outra. Todas são dignas de respeito, todas são de igual importância. Porque para um homem se tornar maçon no R\E\A\A\ apenas lhe é perguntado se é crente. Qual a sua confissão religiosa, se professando alguma, não é assunto nosso. Ao R\E\A\A\ basta que o homem seja crente e entenda o conceito do G\A\D\U\. O que isso significa no coração de cada um de nós, não interessa nem é para aqui chamado. Nós aqui abordamos todas as questões, sejam elas de que índole for, quando nos encontramos na linha em que todos somos irmãos, sitio esse onde podemos abordar todos os assuntos sem colocar em perigo a harmonia entre os II\. Essa linha existe, um dia chegarão lá todos os que aqui estão se trabalharem para isso e tem um nome, chama-se Nível, e é a Jóia que identifica o I\1º V\. E é o emblema da Igualdade. O Nível maçónico é formado por um Esquadro de hastes iguais, de cujo ângulo desce uma Perpendicular. O Nível simboliza a Igualdade, base do Direito Natural e a Perpendicular significa que o maçom deve e precisa possuir uma rectidão de julgamento que nenhuma afeição – de interesse ou de família – deve impedir. O que pode distinguir os maçons e conduzi-los ao seu lugar na comunidade é o mérito e também as virtudes e o talento. O Nível lembra ao maçom que todas as coisas devem ser consideradas com serenidade igual e que o seu simbolismo tem como corolário noções de Medida, Imparcialidade, Tolerância e Igualdade, bem como o correto emprego dos conhecimentos.
Partindo desta premissa, não há assunto que não possa ser discutido entre nós, pois será sempre uma discussão leal e iluminada.
Assim, concluo que nenhum maçon do R\E\A\A\ se pode ofender com um símbolo religioso, pois entende que todas as opções de crença são legítimas e são escolhas pessoais, que a ninguém dizem respeito. Nós trabalhamos A\G\D\G\A\D\U\ e chega. Esse é o nome que lhe damos e não outro, apesar de existirem sempre tentativas de forças estranhas de introduzir na nossa Augusta Ordem formas de colocar em perigo a Harmonia entre os maçons, minando a Ordem e a sua Força progressista e humanista. Tenho até para mim que a Maçonaria existe hoje muito mais influenciada pelo Renascimento, a descoberta do Mundo e do Homem do século XVI em diante e o Humanismo deísta do século XVIII,  do que às confederações de pedreiros-livres medievais. O nosso ideal é a Verdade, sendo a sua indagação um Dever para todos os maçons.
O R\E\A\A\ respeita todas as religiões, todos os símbolos religiosos, sem nunca se identificar ou se opor a qualquer uma delas, ou mesmo a qualquer governo ou escola filosófica, mantendo sempre como base dos seus ensinamentos a Liberdade de Pensamento, a indagação da Verdade e a busca, constante e pacifica, de uma vida melhor.
A introspecção espiritual potenciada pelo ritual não conduz num determinado sentido religioso, dá espaço a que todos, independentemente do seu credo, confessional ou não, se sintam integrados nesta comunhão espiritual em que a Verdade e a Fraternidade são o cimento que une todas as pedras que fazem parte deste Templo que é a R\L\ Alengarbe.
Disse.

José Eduardo Sousa, V\M\ da R\L\ Alengarbe, a Or\ de Albufeira

6014 A\L\



02 julho 2014

Eleição de Grão-Mestre 2014/2016: Balanço


Encerrado que está o processo de eleição do Grão-Mestre da GLLP/GLRP para o período que decorre entre os equinócios de outono de 2014 e 2016, é tempo de um breve balanço.

A primeira nota a reter é que a disputa eleitoral decorreu com grande elevação. Os candidatos fizeram jus à sua condição de maçons. Expuseram as suas ideias, divulgaram-nas, defenderam-nas pela positiva e com respeito pelo opositor. Todos nos congratulamos com isso - mas não é nada demais: afinal ambos limitaram-se a ser maçons e a ter a postura que se espera de maçons.

A segunda nota que julgo asada é que o cumprimento do dever de imparcialidade por parte dos Grande Oficiais em funções não implica agir como se não houvesse eleição, não implica não falar do assunto, não implica a necessidade de ficar mudo e quedo perante uma realidade e um processo que são evidências. Aqueles que cumprem os ofícios de administração da Grande Loja e genericamente todos os Grandes Oficiais têm o dever de imparcialidade, de não usar os seus ofícios em favor ou detrimento de qualquer dos candidatos. Mas o cumprimento desse dever pode e deve ser executado assegurando-se também o esclarecimento de quem tem o direito de voto e a divulgação das candidaturas e respetivas posições.

Foi precisamente isso que se procurou fazer neste blogue. Aqui se divulgaram ambas as candidaturas, os currículos de ambos os candidatos, os respetivos manifestos, e se tomou a iniciativa de entrevistar ambos, tendo o cuidado de a ambos colocar rigorosamente as mesmas questões. Não se apelou ao voto especificamente em qualquer dos candidatos. Crê-se que ficou demonstrado que é possível proceder à divulgação de informação eleitoral com o respeito pela imparcialidade.

A terceira nota é que este processo eleitoral veio mostrar que a Maçonaria está a saber adaptar-se aos tempos atuais. Na sociedade atual, a circulação da informação é um facto. Não é mais possível deixar de ter isso em conta. Mesmo aqueles que pontuam a natureza iniciática da Maçonaria e do processo maçónico entenderam isso. Ambas as candidaturas - e bem - divulgaram as suas posições publicamente, em sítios na Internet de acesso livre. Qualquer interessado, maçom ou não maçom, pôde aceder a essa informação. Aqueles que continuam a bater na estafada tecla do secretismo da Maçonaria continuarão certamente a fazê-lo, mas cada vez com menos credibilidade...  

Finalmente, é grato verificar que, numa instituição madura, a existência de períodos eleitorais, sendo uma necessidade, é encarada e vivida com naturalidade. Eleição implica escolha, o que implica exposição de posições diferentes entre quem se submete ao juízo dos seus pares. Efetuada a escolha, termina o processo e a vida institucional e pessoal de todos os intervenientes prossegue normal e pacificamente. Assim sucedeu na GLLP/GLRP. 

Rui Bandeira