27 abril 2015

25 de Abril... uma singela reflexão


Comemora-se hoje mais um feriado referente ao 25 de Abril. 

Como todos bem sabemos, este feriado celebra o fim da ditadura do Estado Novo, época durante a qual as liberdades e direitos da maioria do povo se encontravam cerceados.

O 25 de Abril, ou a revolução efetuada nesse dia e mais tarde conhecida com o sugestivo epíteto de “revolução dos cravos”, independentemente de muitos concordarem ou não com os seus fins programáticos, numa coisa todos terão de concordar, trouxe alguma da liberdade de expressão que antes não existiria. 

Liberdade de expressão esta que me permite neste momento estar a debitar estas singelas linhas,” liberdade de expressão” que me autoriza a que eu o possa assim fazer apenas por me apetecer tal.

Para além disso, consignou o “direito à livre reunião entre pessoas”, direito esse eu que orgulhosamente usufruo na sua plenitude. Permitindo-me estar com quem eu quero quando o assim desejo ou posso.

Trouxe também o “direito à livre circulação”, que a todos dará muito jeito. Qualquer pessoa pode circular por onde quiser e principalmente às horas que desejar.

Com estes não tão singelos direitos outorgados pela “revolução dos cravos”, que não são tão simples assim como poderão aparentar pela forma de como os descrevi, é permitido  que a Maçonaria possa subsistir -  e perseverar, digo eu! – nos dias que correm.

Se tal “revolução” não tivesse acontecido, nem maçons nem o povo na sua generalidade poderiam vivenciar tais direitos, mas saberiam pelo menos dar-lhe o valor que os mesmos teriam, porque simplesmente não os poderiam experienciar. E como quase tudo na vida, normalmente só damos valor a algo quando tal é inalcançável ou que se o tenha perdido. Singularidades da vida, é o que me apraz dizer...

Hoje em dia e passados já mais de quatro décadas desta revolução começa a por-se em questão esta dita revolução, seja pelo espaço temporal a que aconteceu seja porque uma grande parte da população já ter nascido depois desta insurreição e não ter “sentido na pele” o estado retrógrado em que se vivia então, no sentido de que estas ditas “liberdades” serão mesmo liberdades ou garantias básicas para a evolução da sociedade ou meramente algo que se pode prescindir em detrimento de outra coisa qualquer e a qualquer custo também...

O povo ou os seus “mandatários”, libertaram-se de um sistema anti-democrático para se submeterem a um jugo financeiro atual, tal a dependência que temos dos sistemas bancários e instituições económico-financeiras. Poderes estes não controlados pela “força do voto”. - O que se pode tornar perigoso a curto e médio prazo para as "liberdades" da generalidade -.

Naturalmente que nos primeiros tempos em “liberdade” muitas coisas erradas aconteceram fruto da inebriação coletiva do recente fim da ditadura. Aconteceram coisas positivas outras nem tanto, mas foram essas coisas que nos trouxeram até aqui e que nos desenvolveram a nossa identidade atual.

O que somos atualmente?

Passámos de uma sociedade em que a grande parte dos seus cidadãos viveria com salários pequenos e condições de trabalho limitadas para uma sociedade contemporânea consumista e excessivamente materialista e capitalista.

Quantos de nós, principalmente os da minha geração (que nasceram entre 1975 e 1990) souberam dar valor ou reconhecer algum mérito à liberdade que temos e que usufruímos?!

Alguns com certeza. Outros falarão de liberdade apenas como um neologismo criado pelos tempos vigentes, pois nunca – felizmente!- sentiram ou partilharam dos sentimentos que os seus pais ou avós partilhavam.

E falei da minha geração porquê?

Porque neste momento também já não são somente filhos de uma revolução, mas sim pais e alguns até mesmo avós, e caberá a esta geração transmitir estes valores e ideais de Liberdade às gerações atuais. 
Primeiro porque as faixas etárias estão muito próximas, depois porque falam uma “linguagem” muito semelhante, e finalmente numa boa parte dos casos, serão os ídolos destas gerações, logo gente que é escutada e observada no seu quotidiano. Logo mais facilmente sob escrutínio das gerações atuais.

É que apesar de a Liberdade ser um conceito demasiado amplo, o mesmo não pode ser vago. Quando se fala em liberdade, convém explicitar depois qual liberdade a que nos referimos, uma vez que a nossa liberdade termina quando começa a do nosso semelhante, e se duas “liberdades” colidirem entre si, obviamente que não haverá qualquer liberdade; existirá sim, a liberdade de um prevalecendo sobre a do próximo, e isso em última instância não é sequer Liberdade mas outra coisa qualquer…indigna de lhe ser outorgado esse nome.

Hoje, 25 de Abril de 2015, num ano de eleições legislativas, num ano em que a maioria dos cidadãos portugueses terá na sua mão o seu destino e o destino dos próximos anos, convirá que todos façam a sua reflexão, que meçam os prós e os contras, que metam na “balança” as suas ideias, os seus desígnios, e se preparem para o “grande dia”. 
Já não falta tanto tempo assim…

É que se alguma liberdade esta revolução nos trouxe foi a liberdade de decisão e de opção pela agremiação política que melhor poderá nos representar a nós próprios bem como decidir o destino das nossas vidas e dos nossos concidadãos.

Agora o que importará  é que todos exerçamos esse direito, essa regalia que nos foi concedida, porque depois e porque vivemos num sistema democrático, teremos de nos submeter à decisão do coletivo do eleitorado.

Por ora, que saibamos viver em liberdade e que saibamos partilhar essa liberdade com o nosso semelhante.

25 de Abril, Sempre!!!



PS: Este texto foi escrito este sábado, dia 25 de Abril, e apenas publicado hoje por opção editorial minha.

20 abril 2015

Relacionamento “inter-frates”

O texto que hoje publico é motivado por um agradável convívio entre pessoas que observam os mesmos princípios e costumes de vida em que tive o prazer de participar e para o qual fui amavelmente convidado. Aliás, pelas presenças neste encontro quase que me apraz dizer que se tratou de um “almoço de família”…

Fica assim desta forma aqui explicitado publicamente o meu agradecimento a quem organizou tal refeição.

Posto isto, vou "aflorar" um pouco acerca do relacionamento maçónico entre irmãos.

Noutra ocasião – noutro texto – já tive  a oportunidade de abordar o relacionamento entre maçons e suas famílias particulares, por isso venho agora focar-me noutro ponto deste mesmo tipo de relacionamento.
Os maçons consideram-se irmãos entre si, logo dessa forma, como partes integrantes de uma “grande família”, que também é assumidamente universal.

É habitual após a realização das reuniões/sessões maçónicas existir uma refeição – ágape – entre quem esteve presente durante a realização dessas reuniões/sessões onde habitualmente se convive e se tratam assuntos que nada (em geral) tenham a haver com os assuntos tratados em maçonaria. Os irmãos conversam, debatem, abordam temas variados sem ter a preocupação ou a obrigação de cumprir com os preceitos que são obrigados a respeitar no interior da sua Respeitável Loja.

Também é habitual que membros de uma mesma Obediência visitem outras Respeitáveis Lojas filiadas nessa mesma Obediência e assim conhecerem outros irmãos e poderem conviver com eles, mas principalmente também conhecer os trabalhos realizados por essas Respeitáveis Lojas, algo que é fulcral para a aprendizagem e caminhada maçónica que o maçom se propõe a fazer.

Quanto a visitas a outras Obediências, o mesmo já dependerá do reconhecimento que exista entre elas. Estando vetada a visita de membros de Respeitáveis Lojas que não sejam reconhecidas pela sua Obediência de origem,  e o mesmo reciprocamente. Sendo que se tal proibição não for observada, esse comportamento poderá ser passível disciplinarmente mediante o regulamento que exista em vigor na Obediência em questão.

Mas apesar do que afirmei nos dois parágrafos anteriores, isso somente se aplica de forma ritualista. Uma vez que nada proíbe ou impede o convívio entre pessoas fora do “mundo da Maçonaria”. Fora das Respeitáveis Lojas é habitual irmãos da mesma Obediência ou de Obediências “diferentes” se cruzarem e manterem relações de amizade ou cordiais entre si.

Algo que eu considero que seja até “saudável” que aconteça, porque muitos até são colegas académicos ou de trabalho, vizinhos e/ou até mesmo familiares na sua vida profana, e como tal não haveria outra forma de ser. Teriam sempre de se relacionar entre si. - Não há volta a dar -.
Assim e como o Homem é um “animal social” logo faria todo o sentido que pessoas que vivem mediante determinados princípios se relacionassem entre si no “mundo profano”. 
Não será nada de estranho nem é algo que possa ser considerado como anormal ou bizarro sequer!

Aliás é mesmo habitual serem organizados “eventos brancos” – eventos abertos a profanos – onde os intervenientes são membros das mais variadas organizações maçónicas que existem bem como outras pessoas que nada têm a haver com a Maçonaria na sua generalidade e que se calhar também nunca terão alguma ligação a ela. 
Numa larga maioria das vezes, quem frequenta este tipo de eventos é gente que apenas gosta do tema "Maçonaria" e que o estuda, investiga, mas que depois não se interessa por dar o respetivo "passo".

Normalmente este tipo de eventos são debates, tertúlias ou simpósios onde habitualmente a Maçonaria é o tema principal, mas onde pode qualquer outro tema ser abordado ou designado como foco ou temática a ser abordada. 

Na prática o que é de interesse é o salutar debate e trocas de ideias pelas partes presentes nesses encontros, para além do convívio e o relacionamento fraternal que possa decorrer entre maçons, demonstrando dessa maneira que na realidade “existe algo mais que nos aproxima do que aquilo que nos separa ”.

Estes convívios que por vezes ocorrem, permitem também a existência de um diálogo aberto e franco sem quaisquer preconceitos que possam existir entre pessoas com origens diferentes.

- É através do debate de diferentes pontos de vista e de determinados conceitos que possam ser divergentes, que a evolução na e da Maçonaria pode ser concretizada bem como o progresso da sociedade em geral -.

No entanto, não é obrigatório que tal aconteça a curto trecho nem a médio prazo sequer, ou se alguma vez tal sucederá.

O que importa reter é que os princípios que todos dizem subscrever se tornem os pontos fulcrais da forma de viver de cada um, seja na sua vida profana, seja na sua vida maçónica.  

E se caminharem todos lado a lado, tanto melhor… a Sociedade só terá a ganhar.

13 abril 2015

Introdução a uma merecida exceção



(O texto que se segue foi proferido em sessão da Loja Mestre Affonso Domingues. Creio que fala por si. Quanto à identidade do homenageado, nós, os seus Irmãos, conhecemo-la - e isso basta, para ele e para nós...)


Muito Respeitável Vice Grão-Mestre,
Respeitáveis Grande Oficiais,
Venerável Mestre da Respeitável Loja Lusitânia,
Venerável Mestre,
Meus Irmãos, em todos os vossos graus e qualidades,

A Loja Mestre Affonso Domingues vai fazer algo que nunca fez em vinte e cinco anos, algo que, precisamente para conferir valor e significado ao que vai ocorrer, tenciona que, nos próximos vinte e cinco anos, em muito raras e escolhidas ocasiões, se é que em alguma, volte a fazer: homenagear um dos nossos!

Fazemo-lo pela primeira vez em vinte e cinco anos, e tencionamos muito parcamente voltar a fazê-lo nos próximos vinte e cinco anos, não porque tenhamos algum problema em relação a homenagens, mas simplesmente porque na cultura, na matriz, da nossa Loja está profundamente impresso que aqui cada um de nós está para procurar ser melhor, para buscar fazer melhor, com o auxílio dos seus Irmãos e auxiliando os seus Irmãos a igualmente todos os dias melhorarem mais um pouco. Nesta Loja, desde sempre que os mais antigos instilam nos mais novos a noção de que o simplesmente bom não chega, sendo corrente, mesmo até rotineiro, que trabalhos dos nossos obreiros sejam áspera e por vezes impiedosamente criticados... porque são apenas bons! 

Nesta Loja, o mínimo que exigimos de nós próprios é ser melhores, porque, no nosso padrão, o Ótimo não é nunca o objetivo final, é apenas um necessário degrau para se atingir a Excelência, aquele patamar em que por vezes - ainda que sempre fora do alcance da nossa mão, por mais que estiquemos o braço - se consegue vislumbrar a humanamente inatingível Perfeição. 

Porque esta é a nossa cultura, a nossa matriz, não somos muito dados a homenagens aos nossos, porque aqui ser melhor do que bom é um simples cumprimento do dever, sem direito a especial menção, ser ótimo é um ponto de passagem que confere apenas direito a um breve e discreto louvor, atingir a Excelência é o objetivo.

No entanto, hoje, aqui e agora a Loja entendeu ser imperativo da justiça prestar fraterna homenagem a um dos nossos, porque lhe reconhece a Excelência. Excelência enquanto cidadão, homem de família, profissional e maçom. Aquele que hoje gostosamente vamos homenagear é um maçom que é muitíssimo mais que um homem bom,  muito mais do que um homem que se tornou melhor – afinal de contas, não fazendo mais do que a sua obrigação ao estar entre nós - é bem mais do que um ótimo homem e maçom.  Aquele que hoje vamos homenagear pertence ao muito restrito número daqueles que se impõe que reconheçamos como um Excelente homem e Excelente maçom, alguém que faz com que cada um de nós pense, de si para consigo, que “quando eu for grande gostava de ser como ele”.

Todos nós, os que aqui estamos reunidos, buscamos entender o sentido da vida e procuramos que a nossa vida tenha significado. Sobre o sentido da vida, cada um saberá a que conclusões chegou. Sobre o significado da vida do Irmão que hoje está no centro das nossas atenções, a homenagem que agora se inicia pretende precisamente assegurar-lhe que a sua vida, o seu caráter, a sua postura, a sua fraternidade, a sua disponibilidade, representaram e representam um profundo significado para todos e cada um de nós, que é apenas justo hoje demonstrar-lhe.

Quis – e bem – toda a Loja envolver-se neste reconhecimento ao nosso Irmão. Assim, seguidamente serão apresentadas três pranchas dedicadas a ele, à sua figura, à sua ação, ao que ele representa para todos nós, uma apresentada em representação da Coluna dos Aprendizes, uma outra em nome da Coluna dos Companheiros, a terceira pronunciada por mandato dos demais Mestres da Loja. Seguir-se-á ainda uma pequena e despretensiosa surpresa que esperamos agrade ao nosso Irmão e, naturalmente, no que toca à Loja, a voz de quem toda a Loja representa, a do Venerável Mestre. 

Muito Respeitável Vice Grão-Mestre,
Respeitáveis Grande Oficiais,
Venerável Mestre da Respeitável Loja Lusitânia
Venerável Mestre,
Meus Irmão, em todos os vossos graus e qualidades,

É com um enorme sentido de privilégio e de honra que declaro aberta a merecida homenagem ao nosso muito prezado Irmão ...

Rui Bandeira

06 abril 2015

"Páscoas"...


Depois de findo este tempo de “passagem” pela Páscoa, não importando tanto qual, se a Pessach, a Páscoa Cristã ou inclusive a “Páscoa” pagã, o que me importa reter é a reflexão que nos pode ser proporcionada pela vivência desta dita quadra festiva.

Tanto judeus como cristãos e pagãos celebraram por estes dias, algo que nas suas praxis  religiosas convida à partilha.

 Nos povos judaicos e cristãos é hábito as famílias se juntarem à mesa e repartir o pão – a “comida”- numa ceia que para cada um destes povos tem um significado especial. 

Os judeus partilhando o pão ázimo é lhes relembrado não só o tempo de exílio pelo deserto do Sinai após a sua “fuga” do Egipto, mas principalmente e também,  a passagem do anjo que “condenou” os primogénitos egípcios, após a “maldição divina”.

Por sua vez, os povos que baseiam a sua religião no Cristianismo, habitualmente na quinta-feira de Endoenças (mais vulgarmente conhecida por quinta-feira santa), também costumam partilhar uma refeição que tem origem na Eucarístia Crística, quando Jesus, o Cristo, partilhou a sua última refeição com os seus apóstolos.

- Até mesmo na Maçonaria em determinado grau, nesta mesma data, é usual existir uma refeição eucarística baseada nesta mesma “refeição”  e também na ceia mitraica, o que torna esta refeição em algo de especial e muito diferente do usual ágape fraternal que se costuma efetuar após as reuniões maçónicas-.

Já da celebração feita pelos povos ditos pagãos encontramos nos dias de hoje algumas reminiscências de outras épocas em que se celebrava a Ostara. Festividade esta, em que para além de se celebrar o Equinócio da Primavera, se festejava também a fertilidade e o "renascimento" da natureza. E desses cultos pagãos, encontramos não a partilha  de pão, mas sim de ovos. 
Hoje em dia é costume em quase todos os “países ocidentalizados” serem ofertados ovos, mas principalmente serem oferecidos ovos de chocolate, estes últimos mais ao gosto das crianças.

-No nosso país, é também habitual  nesta altura do ano se oferecer o conhecido " folar pascal", uma espécie de bolo que contém no seu interior ovos cozidos-.

No fundo e de forma transversal a estas religiões, encontramos nesta quadra uma ideia generalizada de partilha, da dádiva de algo.

O que poderia se supor que existisse apenas na celebração do Natal cristão ou nas festividades do Dia dos Reis (festas de tradição cristã), tornando essa quadra festiva  um pouco mais comercial do que deveria o ser, viemos encontrar um paralelismo interessante entre estas religiões no que toca à partilha de alguma coisa nesta época em que vivemos.

Neste caso em concreto e  que no fundo motivou a escrita deste texto, existe a partilha de algo substancial ao ser humano, algo que é a base da sua vida, a Alimentação.

Queiramos nós todos também nas nossas vidas, nas nossas práticas, sejam elas religiosas ou de cariz mais profano, partilhar também algo de  importante ou que seja considerado como tal, com quem mais o necessite, tendo sempre em mente que a vida não é apenas "vida" em determinadas épocas ou quadras festivas, mas que o é durante o decorrer de todo o ano. Não esperemos nós pelas "Páscoas" da nossa vida para fazer e partilhar o Bem...

Esta foi a reflexão que esta Páscoa me deixou e que muito abertamente partilhei com todos Vocês…