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11 março 2008

Serei crente?

aqui fiz referência ao excelente blogue Grémio Estrela d'Alva. É um blogue que continuo a visitar regularmente, sempre com com gosto e proveito. Deparei há dias com um notável texto intitulado Serei ateu?, que me inspira o texto de hoje. Não é uma resposta, nem uma manifestação de desacordo - pelo contrário! O meu propósito é tão somente complementar as ideias expressas naquele texto com o meu, de algum modo simétrico, entendimento. Daí, aliás, a escolha do titulo deste meu escrito...

Mas, para bem entender ao que aqui venho, faça o leitor, antes de mais, a fineza de aproveitar o atalho que acima coloquei e ler o dito texto Serei ateu?, da autoria de Carl Sagan. Vale a pena!

Já está? Prossigamos, então!

Ao ler o referenciado texto de Carl Sagan, a minha primeira reacção foi de admiração por ser possível uma tão grande comunhão de pensamento entre duas pessoas que, de alguma forma, estruturaram a sua forma de ver o mundo a partir de pressupostos opostos: noventa e muitos por cento daquilo que Carl Sagan naquele texto escreveu poderia ter sido escrito por mim - se, para tanto, tivesse tido engenho e arte... No entanto, enquanto Carl Sagan se define como ateu (embora colocando na devida perspectiva a sua posição), eu defino-me como crente. E, parafraseando o que Carl Sagan escreveu, também eu julgo adequado colocar um ponto de interrogação à frente da minha afirmação, porquanto também eu, na mesma linha, me considero crente até que alguém me prove racional e definitivamente que não existe um Criador.

Concordo plenamente com o entendimento de Carl Sagan sobre a racionalidade, o método científico, o cepticismo, a invenção de seres sobrenaturais pelo Homem, a inocuidade moral do ateísmo, as religiões, os fundamentalismos e os princípios que nos unem na Augusta Ordem Maçónica, independentemente das suas variantes!

No entanto, com essa tão grande, tão extensa, concordância, definimo-nos simetricamente: ele ateu, eu crente; ambos cum granum salis, o que vale por dizer, salvo melhor opinião e com reserva de mudança de opinião, se sobrevierem elementos que levem ao convencimento da necessidade dessa mudança.

Como é isso possível? Como é possível que tão similar forma de pensar conduza a conclusões diversas e, não diria opostas, mas simétricas? Será que a um se sobrepõe a Fé à Razão, ao contrário do outro? A tentação primária é afirmá-lo. Mas creio que seguir tal tentação seria um erro!

Pelo contrário, julgo ser asado concluir que ambos baseamos a nossa postura não só em postulados racionais, como até no mesmo postulado essencial: pese embora todo o Conhecimento Científico, toda a Especulação Racional, todos os Postulados de todas as Crenças, há duas afirmações opostas que, até agora, são racional e cientificamente indemonstráveis e racional e cientificamente irrefutáveis em absoluto: Deus existe; Deus não existe!

Para cada argumento que se possa aduzir em abono de que Deus existe, existe um argumento com igual força que o refuta; para cada argumento que se apresente demonstrando que Deus não existe, existe um outro, de igual fortaleza que defende essa existência.

Para não alongar muito este texto, apresento uma sumaríssima demonstração desta realidade, a um nível propositadamente primário: à pergunta quem criou o Mundo?, respondem os crentes que foi Deus; mas de imediato surge então a irrespondível pergunta de quem criou Deus?; similarmente, a tese da Ciência contemporânea de que o Universo teve origem num Big Bang é reduzida à sua dimensão de nada realmente explicar se se pergunta o que (ou quem...) criou, originou esse Big Bang, como e de onde surgiu essa tão fenomenal e extraordinária Força que do Nada fez surgir o Tudo. E, sendo postulado da Ciência que tudo o que existe pode ser reproduzido (e nisso se baseia a Ciência Experimental), como se explica que, desde há biliões e biliões de anos, só haja conhecimento de UM Big Bang, quando seria de esperar uma repetição do fenómeno?

E por aí fora se poderia, horas e dias e meses e anos, argumentar, especular, refutar, insistir. Bem o pontua Carl Sagan: não é possível, à luz dos nossos conhecimentos e da nossa razão, nem provar, nem refutar a existência de Deus.

Carl Sagan, legitimamente, acolhe-se ao seu cepticismo científico para concluir (se bem ajuízo): porque não está provado que exista Deus, não creio que exista e portanto classifico-me como ateu; não posso, no entanto, excluir que se possa vir a provar que existe e, se assim vier a suceder, mudarei de posição.

Com igual legitimidade, a minha posição é a de que se não pode provar e se não provou que Deus não exista e a única explicação que encontro para o Universo e para o sentido da Vida é essa existência e portanto classifico-me como crente; não posso, no entanto, excluir que outras prova e explicação possam vir a surgir e, logo, mantenho a minha mente aberta e atenta...

Quando olho, numa noite sem nuvens, o Firmamento e vejo milhares e milhares de pontos de luz, maravilho-me com a grandeza, o rigor, a precisão, do Universo e concluo que só uma Vontade Superior e uma Capacidade inentendível ao nível humano pode ter criado toda aquela incomensurável maravilha e mais a Vida que alberga e mais o Homem e a sua capacidade de abstracção, de ética, de razão... Penso que, se tudo isto fosse tentado explicar como um mero fenómeno natural, então ficava por explicar como e porque foi único, e assim, e de onde veio a força, e a matéria, e...

É exactamente pelo mesmo uso da Razão que sou crente. É por ter o mesmo cepticismo que Carl Sagan que, como ele, acrescento um ponto de interrogação ao meu postulado.

Temos a mesma ética, os mesmos princípios. Olhamos ambos para a mesma cerca - só que cada um do seu lado. O que não é nenhuma tragédia... O que nos diferencia não é a Razão, que ambos partilhamos, nem a Fé, que, penso, ambos admitimos apenas como possível consequência, nunca fundamento. O que nos diferencia, creio, é algo intermédio: a Convicção. A Convicção que se funda na Razão e que, quando a Razão não sabe, não pode, dar resposta, parte dela para ir além dela. A Convicção que parte da Razão para, de braço dado com a Intuição, procurar descortinar para além do ponto de partida e do horizonte que nele é visível.

É por isso que dois homens habituados a ser racionais e cépticos podem, sem desdouro nem problema, ter diferentes convicções. Até ao horizonte, vêem o mesmo e de igual forma; para além do horizonte, cada um interpreta os elementos que tem e intui o que pensa que para lá estará.

Um triplo e fraterno abraço ao Carl Sagan, deste seu leitor que muito admira o que escreve,

Rui Bandeira

12 fevereiro 2008

Do UM


Há dias, numa troca de correspondência electrónica, o meu interlocutor interrogava-se e interrogava-me sobre os eventuais limites ou requisitos mínimos que a Maçonaria Regular colocasse na, para ela indispensável, crença num Ser Supremo. E, indo mais longe, interrogava-se e interrogava-me sobre diversas características ou concepções da Divindade que vira na Wikipédia e se seria admitida uma concepção fluida que considerasse o Universo, ou a Energia, como Deus. No fundo, fazia, de forma mais rebuscada a pergunta que toda a Humanidade faz ao longo dos tempos: Quem ou o que é Deus, qualquer que seja o nome que se lhe dá, Ser Supremo, Criador, Grande Arquitecto do Universo, etc.?

Enviei-lhe a minha resposta. Relendo-a, achei que valeria talvez a pena deixá-la também aqui.

Não há autoridade que fixe "requisitos mínimos" para o Ser Supremo, obviamente. Até porque, a haver, teria que ser mais "suprema" que o "Supremo"... As características do Criador são as que Ele tem e que nós não sabemos quais são. Esse é parte do Mistério da Vida e da Criação...

Todas as características que viu na Wikipédia são elocubrações humanas, cada uma tão válida ou tão errada quanto a anterior.

A concepção do Criador que cada um tem é tão válida como a do parceiro do lado.
Em termos de Maçonaria, no meu entender, o que divide a corrente Regular da Liberal é a aceitação desta de ateus.

E essa diferença torna-se crucial na medida em que dela depende a razão por que se trabalha e se busca o aperfeiçoamento.

Se se é crente, então procura-se seguir o Caminho Ético determinado ou que decorre do Plano e do Objectivo da Criação. Porventura como condição necessária para uma repurificação que permita a reunificação estrutural com o Princípio Criador - o que equivalerá à Vida Eterna, ao Paraíso, enfim, às várias formas de "recompensa" que as várias religiões apresentam.

O Maçon Regular procura aperfeiçoar-se para se transcender, para se aproximar do nível superiormente ético da Divindade. Busca a superação do humano na direcção do divino. E "assim se vai da lei da morte libertando", assim não teme a Morte, etapa da Vida como o Nascimento, o Crescimento, a Maturidade. Assim crê que a Morte não é o Fim e que depois algo há. Porventura não sabe o quê, mas sente, intui, acredita que quanto mais eticamente se tiver purificado e aperfeiçoado, mais bem preparado estará, chegada a altura, para cumprir mais essa outra etapa do Ciclo da Vida e da Criação.

O ateu, porque não crê na Divindade, acredita que a Morte é o Fim e que a Vida não tem outro sentido do que passar por aqui enquanto aqui se está. Então o seu sentido ético só existe na medida em que tem utilidade ao passar e estar por aqui. É um sentido ético utilitário.

Daí o eu entender que a Maçonaria Regular e a Liberal seguem o mesmo Caminho, mas a Maçonaria Regular vai mais além do que a Liberal.

Agora, não tenho eu, nem nenhum maçon, o direito de "determinar" como é a Divindade, quais as suas características, etc. Pela simples razão de que não Sei, só Creio. E não há razão para a minha Crença ser melhor do que a de qualquer outro. Daí que o que importa é que haja Crença, que se acredite na Vida para além da Morte e que se busque o significado da Criação e da Vida, procurando transcendermo-nos das nossas humanas limitações. Um pouco que seja.

A Maçonaria Regular é um espaço aberto a todos os crentes, independentemente da sua crença. A Maçonaria Liberal é um espaço apenas ético. A Maçonaria Regular é isso e algo mais.

Se se acredita que o Universo é Deus, então, como fazemos parte do Universo, nós somos parte de Deus. Resta saber que parte... Trabalhemos então para não ser meros detritos orgânicos da Divindade, radicais livres a esmaecerem a Sua pele e procuremos antes ser moléculas úteis...

Rui Bandeira

18 maio 2007

Ele perguntar-te-á...

Circulam na Rede várias mensagens de conteúdo mais ou menos moral, exortando os leitores a serem melhores, a agirem melhor. A maior parte delas tem um certo tom meio kitsch, com música suave e imagens idílicas. É um estilo que parece ter pegado e que, devo dizer, não aprecio. Mas uma coisa é o estilo, outra é o conteúdo. Este, por vezes, é de molde a, pelo menos, nos fazer parar um pouco e pensar no que é, realmente, importante na vida.

O texto que vou reproduzir traduzido circula na Rede em francês. Designa a Divindade por Deus. Mas o seu ensinamento aproveita por igual a quem não seja cristão: basta substituir a designação de Deus por Javeh, Allah, Grande Arquitecto do Universo, Espírito Criador ou qualquer outra designação que seja confortável para quem lê!

1. Deus não te perguntará a marca do automóvel que conduziste.
Ele perguntar-te-á quantas pessoas transportaste nele.

2. Deus não te perguntará qual era o tamanho da tua casa.
Ele perguntar-te-á quantas pessoas recebeste nela.

3. Deus não te perguntará o que tinhas no teu roupeiro.
Ele perguntar-te-á quantas pessoas ajudaste a vestir.

4. Deus não te perguntará qual foi o teu salário mais elevado.
Ele perguntar-te-á o que deste em troca para o obter.

5. Deus não te perguntará se foste doutor, arquitecto ou engenheiro.
Ele perguntar-te-á se fizeste o teu trabalho o melhor que podias.

6. Deus não te perguntará quantos amigos tiveste.
Ele perguntar-te-á quantos te escolheram para seu amigo.

7. Deus não te perguntará onde tu viveste.
Ele perguntar-te-á como trataste os teus vizinhos.

8. Deus não te perguntará qual a cor da tua pele.
Ele perguntar-te-á pela qualidade dos teus valores.

9. Deus não te perguntará porque demoraste tanto para encontrar o teu Caminho.
Ele perguntar-te-á que fizeste para o encontrar.

10. Deus não te perguntará a quantas pessoas tu divulgaste estes valores.
Ele perguntar-te-á a quem deste o teu exemplo.

Rui Bandeira

27 março 2007

Deus e o Mal

Uma das definições de Maçonaria que ouvi é que a Maçonaria é um sistema de moralidade, velado por alegorias e desvendado por símbolos.

Não é apenas isso, mas também é isso.

O texto que vou seguidamente publicar é uma adaptação minha baseada numa daquelas apresentações de diapositivos que, meio lamechas, circulam pela Rede, envoltas em música suave e com fundos de paisagena aprazíveis. Mas esta, em particular, é mais do que isso, é uma forma de mostrar que Razão e Fé não são incompatíveis. São alegorias como esta que os maçons utilizam para reflectir. A Alegoria vela a moralidade, que é desvendada pelos símbolos. Isto também é Maçonaria.

Deus e o Mal

Um professor universitário desafiou os seus alunos com esta pergunta:

- Deus criou tudo o que existe?

Um aluno respondeu, afoitamente:

- Sim, Ele tudo criou.

- Tem a certeza que Deus criou tudo? - insistiu o professor.

- Sim senhor! - respondeu o jovem.

O professor, então, concluiu:

- Se Deus criou tudo, então Deus criou também o Mal, pois o Mal existe. E, assumindo que nós nos revelamos em nossas obras, então Deus é mau...

O jovem ficou calado em face de tal resposta e o professor gozava mais um triunfo da sua Lógica, que demonstrava mais uma vez que a Fé era um mito.

Então, outro estudante levantou a mão e perguntou:

- Posso fazer uma pergunta, professor?

- Claro que sim! - respondeu este.

Então o segundo jovem perguntou:

- Professor, existe o frio?

- Que pergunta é essa? Claro que sim! Ou, por acaso, nunca sentiu frio?

O jovem respondeu: - Na realidade, professor, o frio não existe! Segundo as leis da Física, o que consideramos frio, na realidade é a ausência de calor. Todo o corpo ou objecto é susceptível de estudo, quando possui ou transmite energia. O calor é que faz com que este corpo tenha ou transmita energia. O zero absoluto é a ausência total e absoluta de calor, todos os corpos ficam inertes, incapazes de reagir, mas o frio não existe realmente. Nós criámos essa definição para descrever o que sentimos quando nos falta o calor.

E o jovem prosseguiu: - Mas permita-me ainda uma outra pergunta. E a escuridão, existe?

O professor, intrigado, respondeu: - Existe, claro que existe.

O aluno retorquiu: Está de novo errado, professor, a escuridão também não existe. A escuridão, na realidade, é apenas a ausência de luz. A luz pode ser estudada, a escuridão, não. Até existe o prisma de Nichols, para decompor a luz branca nas várias cores de que a mesma é composta, com os seus diferentes comprimentos de onda. A escuridão, não. Um simples raio de luz atravessa as trevas e ilumina a superfície onde termina. Como se pode saber quão escuro está um espaço determinado? Com base na quantidade de luz presente nesse espaço, não é assim? Escuridão é, pois, apenas uma definição que o Homem desenvolveu para descrever o que acontece quando não há luz!

Finalmente, o jovem perguntou. - Diga-me então agora , professor, ainda pensa que o Mal existe?

O professor respondeu, ainda insistindo: - Claro que sim, claro que existe, bem vemos os crimes e a violência em todo o Mundo, tudo isso é o Mal!

Retorquiu então o estudante: O Mal não existe, senhor. Pelo menos, não existe por si mesmo. O Mal é simplesmente a ausência de Deus, tal como o frio é a ausência de calor e a escuridão a ausência de luz. O Mal é uma definição que o Homem criou para descrever essa ausência de Deus! Deus não criou o Mal. O Mal não é como a Fé, ou como o Amor, que existem, como existem o calor e a luz. O Mal é o resultado de a Humanidade não ter Deus presente em seus corações. É dessa ausência que surge o Mal, como o frio surge da ausência de calor e a escuridão da falta de luz.

Pela primeira vez, o professor compreendeu que a Razão e a Lógica não são antagónicas da Fé e que aquelas, sabiamente aplicadas, afinal justificam esta.

E assim se provou que Deus não criou o Mal e também que a existência do Bem prova a existência de Deus, como o Calor prova haver energia e a Luz prova existir a cor.

Que o Grande Arquitecto do Universo permaneça em nossos corações!

Rui Bandeira

30 janeiro 2007

Aproveitando a análise

Cá estamos no A-PARTIR-PEDRA, aconchegadinhos e muito quentinhos, naquela pose que apetece, junto à lareira, com um frio de rachar lá fora.
E estamos satisfeitos.
Primeiro porque o José não perdoa e anda em cima dos acontecimentos;
Segundo porque garantidamente nenhum de nós foi optimista ao ponto de prever que “isto” ia ser a sério (mesmo);
Terceiro porque os comentários, que são “pouquérrimos” (esta inventei eu) são, por outro lado, bem simpáticos e incentivadores.
Como o José, também agradeço a todos que têm tido a paciência de nos ler, e ainda mais aos que têm contribuído com comentários, que são sempre, sempre, bem vindos.
Como diria um “pirata” meu amigo, comentem, digam bem, digam mal, p…, mas digam alguma coisa !














O comentário do nosso leitor “Profano” à última intervenção do José, trouxe-me de novo à primeira linha do consciente a relação da Maçonaria com o “mundo profano”, como nós chamamos ao mundo que não aderiu à organização maçónica, mas que não é menos válido por isso.
E esta preocupação tem a ver com a tradição histórica na qual maçon serve para fritar (ou será grelhar ?), de preferência em lume brando e de preferência ainda com casa cheia (isto é, com lotação esgotada).

A minha referência inicial à lareira quentinha deverá ser apreciada num contexto algo diferente… Nada de confusões nem de ideias esquisitas.

Mas de facto os maçons têm sido frequentemente apontados como um grupo de meliantes, tradicionalmente a abater, acusados dos mais variados malefícios.
Roma então é de um encarniçamento histórico que só se explica pela necessidade de acusar outrém das tropelias, reconhecidamente, próprias.
A Maçonaria só foi interessante nos momentos em que foi utilizada em proveito próprio.
Não é caso único como se sabe, mas como é o nosso caso, é dele que falo.
Nas épocas mais recentes (2ª metade do sec. XX), o Estado Novo, aprendiz do fascismo europeu, elegeu como inimigo directo todas as organizações que teimassem em pensar livremente, associando-se intimamente à Igreja de Roma, e perseguindo tudo o que tivesse um cheirinho de liberdade de pensamento.
O isolamento de Portugal dentro da trilogia Deus, Pátria, Família, sob uma directiva de unicidade de pensamento comandada por uma única mente, ainda por cima mal aconselhada, levou ao apagamento forçado de todas as ideias que se afastassem, 1 mm que fosse, da directiva oficial.
Ao longo de 50 anos Portugal viveu debruçado sobre si mesmo, a modos que um “pensador” como o de Rodin, paralisado e só, e fechando o País fechou-se a cultura, fecharam-se as consciências, desapareceu a informação, com todas as consequências que daí resultaram para a vida dos portugueses.
A falta de liberdade de expressão trouxe a pouco e pouco a anemia das ideias e um retraimento do comportamento, primeiro individual, colectivo a seguir, do qual as famílias foram as primeiras vítimas.
Ao medo de falar seguiu-se o isolamento individual, única forma certa de evitar qualquer possível delação, e num ambiente de insegurança generalizada foi o salve-se quem puder.
A liberdade de expressão apenas subsistiu em pequenos agrupamentos, eles próprios fechados sobre si mesmos, vivendo clandestinamente.
Portugal viveu num mundo diferente de todos os restantes povos, nomeadamente os da Europa, não acompanhando a evolução social e cultural que resultou do fim da 2ª grande guerra e da explosão económica que então se verificou, com a necessidade de reconstruir toda uma Europa que ficara arrasada.
O Poder Político, firmemente instalado na polícia secreta e jogando o jogo da guerra nas colónias africanas, utilizou soberanamente a demagogia da salvação da Pátria para vincar o seu ideal absoluto, transformando em inimigo a abater qualquer um que ousasse questionar o caminho que estava a ser seguido, as organizações independentes do poder desapareceram, mesmo que não políticas, foram apontadas como traidoras e tratadas como tal, sendo acusadas de serem origem de todos os males.
Neste ambiente de medo generalizado apenas a Igreja de Roma se movimentou com todo o à vontade, servindo o, e servindo-se do, sistema implantado.
Encontrou campo fértil para recrutar “fieis”, como sempre acontece quando aos povos apenas lhes resta o sobrenatural.
É, pois, neste ambiente que a Maçonaria se vê acusada de ser uma organização secreta, concorrente da Igreja oficial, politicamente perigosa, agrupamento de interesses insondáveis, capazes de todas as patifarias, especialmente as que melhor servissem para exaltar a bondade do regime e maldade dos maçons.

Neste princípio de século XXI continuamos confrontados com os resquícios desta mentalidade abstrusa, criada e generalizada durante os 50 anos de Estado Novo.
É necessário, é urgente, que os objectivos maçónicos sejam divulgados.
Quanto mais não seja para repor a verdade sobre o que é a Maçonaria e quais os seus interesses, assim como é importante que se divulgue a história da Maçonaria, para que a maioria que ainda teme essa coisa esquisita da qual apenas ousa falar em surdina, possa reconhecer que os maçons são pessoas de bem, preocupados com o bem geral, trabalhando para o aperfeiçoamento social e cultural dos povos.
É urgente que todos entendam que a preocupação central do maçon é a solidariedade entre os homens, e a fraternidade entre os povos.
É urgente que todos percebam que o objectivo maçónico é a Paz, criada e implantada com firmeza sobre o conhecimento e aceitação da diversidade das ideias de todos.
Não há bons de um lado e maus do outro, há homens com todas as suas fraquezas, anseios, limitações e heroicidades, uns que acertam mais, outros menos, mas todos credores do mesmo respeito e do acesso aos mesmos direitos.

E este trabalho ninguém fará por nós.

O “A-PARTIR-PEDRA” também apareceu por causa disso.

JPSetúbal