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31 agosto 2015

Maçonaria, uma Instituição universal e cosmopolita.

Nos séculos XV e XVI devido à necessidade de se construírem várias construções de cariz  religioso ao longo de toda a Europa, e para mais facilmente circular entre reinos e poderem trabalhar, os operários da construção civil da época filiavam-se em agremiações de tipo sindical para que desse modo lhes fosse possível arranjar trabalho e exigirem alguns direitos e melhores salários. O que deu origem aos termos “pedreiros-livres” e “franco-maçons”, uma vez que eles estavam livres dos pagamentos de certos tributos e de portagens nos reinos onde trabalhavam.

E como o trabalho que os construtores tinham de executar era normalmente demorado, apesar de ser um trabalho nómada, (porque quando finalizavam uma obra seguiam para outras terras, para outros trabalhos), reuniam-se no seio dessas associações ou grémios que eram denominadas por  “guildas de construtores” para poderem conseguir manter a sua coesão e união enquanto grupo de operários especializados e também para que lhes fosse possível transmitir e ensinar os segredos da sua arte a coberto dos olhares indiscretos de quem não pertencia a este ofício. Criando desse modo um tipo de fraternidade entre eles.

Mais tarde, nos finais do século XVI, quando as grandes construções religiosas (catedrais e abadias) se encontravam finalizadas e como não existiam nenhumas grandes obras a serem iniciadas a longo prazo,  e como o número de membros destas guildas começavam a decair, estes grémios de construtores começaram a aceitar como seus membros, elementos de outras profissões dos locais onde se estabeleciam dada a curiosidade que estes tinham em relação ao que se passava e discutia no interior destas associações.

O que consequentemente em virtude dos temas que nessas lojas agora se debatiam, que já não eram somente dedicados à construção de edifícios e porventura também da entrada destes novos membros, designados por “maçons aceites”, veio este movimento a dar origem a uma transformação deste tipo de maçonaria, assumidamente operativa, numa maçonaria de cariz especulativo. Um género de maçonaria que já não trataria das construções físicas, mas que em seu lugar, tratariam de um tipo de construção espiritual. Aproveitando os maçons especulativos, o vasto simbolismo que os construtores detinham e que passaram a tomar como seus. Assumindo que em vez de construírem espaços para glorificar o divino, seriam eles o seu próprio templo a cultuar.

E já no decorrer do século XVII, quando os partidários dos Stuart (casa real) vindos de Inglaterra e fugindo ao seu regime vigente, trouxeram consigo para o continente os seus ideiais maçónicos, aproveitaram a liberdade que lhes era concedida  na França e abriram lojas (especulativas) onde se pudessem reunir e onde pudessem discutir as formas de resistência necessárias para os levar de novo ao poder em Inglaterra.
Sendo que no interior dessas lojas para além de conseguirem manter a sua união enquanto grupo de resistentes e debater que posições deveriam ser tomadas  neste tipo de luta, também conseguiam assim manter aceso o espírito fraternal que tinham entre eles.

Mais tarde, pela entrada nestas lojas de outras personalidades que nada tinham a haver com o espírito de resistência para o qual este tipo de lojas tinha sido criado bem como da criação de outras novas lojas maçónicas em terras francesas formadas por franceses e/ou estrangeiros, a expansão em França estava lançada.

Na restante Europa, a expansão maçónica estava também em marcha, fosse pela transformação das lojas operativas (guildas de construtores) em lojas especulativas, bem como da criação de lojas militares itinerantes ou lojas locais onde a burguesia da época se reuniria para debater as novas ideias que viam a luz do dia  nesses tempos.

- O que se pode constatar é que independentemente da sua denominação (operativos/especulativos), os maçons sempre se reuniram em alguma espécie de agremiação para debater as suas ideias, deixando de fora gente que não considerassem como “bem-vindos” ou que não lhes trouxessem qualquer mais valia para o debate de ideias. -

E já no século XVIII, os maçons impulsionados pelo ideário maçónico e pelo idealismo das Luzes e com o auxílio indireto da expansão colonialista europeia para as “novas terras das Américas”, contribuíram relevantemente para o estabelecimento da Maçonaria nesses locais.

Fosse  nas ilhas caribenhas ou no próprio continente americano, em qualquer porto em que os barcos vindos da “velha Europa” aportassem, traziam consigo maçons que para além das relações comerciais que teriam com os povos nativos, se  viriam a estabelecer de forma permanente nestas terras. E estes maçons apoiados pelo facto de nestes lugares existirem também lojas maçónicas formadas por militares – uma das maiores fontes do expansionismo maçónico no mundo deve-se a este tipo de Lojas que costumam estar associadas a um determinado batalhão ou companhia militares – conseguiram em alguns casos, montar uma estrutura local e que não fosse nómada como é o caso da generalidade das lojas militares maçónicas. Desta forma ficaram estabelecidas as raízes para o crescimento e consolidação da Ordem nas colónias americanas. E não obstante o aumento da imigração europeia para as Américas e com a transformação destas povoações em grandes metrópoles posteriormente, também a Maçonaria teve um crescimento proporcionalmente direto e hoje em dia estimam-se que na totalidade do continente americano existam mais de 5 milhões de maçons.

Para além do colonialismo americano, também o colonialismo africano e asiático pelos povos europeus possibilitou a chegada da Maçonaria a estas partes do mundo e se estabelecer de uma forma mais ou menos gradual face à cultura e sistemas políticos vigentes nesses países.

Atualmente, do norte ao sul do globo terrestre, a Maçonaria encontra-se implantada em quase toda a parte. Sobressaindo assim o carácter universal desta Augusta Ordem. E, independentemente do regime político, desde que seja considerado como democrático, a Maçonaria convive de forma natural com as leis do local onde se encontra estabelecida. Seja em países monárquicos (um bom exemplo que temos é o continente europeu, onde a Monarquia, nos países nórdicos, se encontra consolidada) ou países republicanos (exemplificados pelo continente americano, que na sua totalidade é formado por repúblicas democraticamente eleitas), com governos eleitos designados de direita ou de esquerda, a Maçonaria existe.

Porque apesar da alternância dos poderes políticos, a Maçonaria sempre persistirá. E o fará, porque ela própria não tem doutrina política, a Maçonaria está num patamar acima das discussões partidárias ou de qualquer questão que possa dividir os Homens.
A Ordem Maçónica é uma instituição agregadora de pessoas por isso nunca poderia fomentar a divisão entre elas.

Todavia, a Ordem não impede que os seus membros exerçam no mundo profano os seus deveres e direitos cívicos conforme os princípios que escolham praticar na suas vidas profanas, sejam eles políticos (ou outros) que considerarem que lhes sejam mais favoráveis ou com os quais melhor se identifiquem. E isso pode ser verificado pela prática política de alguns maçons que participam efetivamente no mundo político sem que tenham qualquer diligência maçónica nesse sentido - Agindo somente com a sua convição e o seu pensamento.-
 Nomeadamente se pode dizer o mesmo  no que respeita às suas filiações associativas, tenham elas o cariz que tiverem ou à religião que os maçons decidam (ou não, no caso de Maçonarias Liberais) observar. E isto pode acontecer porque o compromisso que se toma com a Maçonaria é um compromisso de ética e de respeito na observância dos valores morais existentes; logo este compromisso estará acima de qualquer tipo de política ou agremiação. Sendo por isso que me é possível afirmar neste contexto que : “O maçom faz, a Ordem apenas observa…”.

O próprio cosmopolitismo que é inerente à Maçonaria permite tais factos.

A Maçonaria ao deter um carácter universalista e progressista que ultrapassa qualquer fronteira e por se reger por valores de igualdade, fraternidade e de solidariedade entre os seus membros, propiciou que a ação dos seus afiliados no mundo profano seja um reflexo dos seus próprios valores. E como os valores maçónicos são valores que são transversais à sociedade e ao mundo em si, não existe um lugar onde um maçom não possa se encontrar  ou que esteja impossibilitado de  agir…

Logo, ao ter a Maçonaria criado as bases para o diálogo e para o debate de ideias nas suas lojas e tendo posteriormente transferido estas competências também para o espaço público, sendo as lojas maçónicas consideradas como centros formadores de opinião e o espaço público como sendo o local de aplicação das vontades profanas, fomentou na sociedade a ideia que a tolerância aplicada de forma salutar na discussão de ideias, contribuiria para a obtenção de consensos sem que se tivesse de passar por um qualquer conflito para chegar a tal.

Apenas discutindo e debatendo com respeito e elevação é que é possível se criarem as condições válidas para se poder chegar a um determinado consenso que possa ser valorizado como sendo o melhor para ser aplicado ou cumprido pelos intervenientes na discussão. Nem sempre a posição dominante prevalece, mas sim a opinião que fará mais sentido para a generalidade. E isso somente é possível se existir algum sentido de tolerância e respeito pelo próximo e de se ter a capacidade de nos sentirmos como integrantes de algo superior a nós próprios. Copiando a sociedade desta forma, uma praxis maçónica há muito existente.

No entanto quando se fala em Sociedade, Civismo ou inclusive em Política, abordamos conceitos que estão para além de nós, e a melhor forma de se conseguir ou atingir o bem comum, para além de um diálogo franco e tolerante, é reconhecer no outro a sua diferença de opinião como algo que pode fazer evoluir e enaltecer o debate público. Por isso no seio da Maçonaria Regular não se aborda política partidária mas poder-se-á em determinado contexto, abordar a Política como sendo mais um conceito necessário a quem vive em sociedade. Sociedade esta, que já não será apenas o local onde nos encontramos ou em que vivemos, mas o mundo na sua plenitude.

Mas apesar de toda esta evolução civilizacional que nos foi permitido alcançar, a própria Instituição Maçónica dada a sua linguagem simbólica e do seu carácter quase indecifrável aos profanos, conseguiu permanecer quase inalterada desde a sua origem até à atualidade. O que facilita e permite que em qualquer parte do mundo  (mediante a respetiva tradução linguística, se necessária) a qualquer iniciado nos mistérios da Maçonaria poder reconhecer facilmente aquilo que observa ou escuta. Tanto que ao nível da ritualística maçónica, para os maçons que visitem outros países e tenham a honra de serem acolhidos nas lojas maçónicas locais, mesmo que não compreendam a língua nativa, conseguem estar sempre integrados no ritual que se pratique nas lojas maçónicas - pois o conhecem -, e mesmo as mais ligeiras adaptações que possam ter ocorrido fruto do tempo ou de traduções feitas aos rituais originais, esse cumprimento do ritual será sempre perceptível para quem o assiste.

E dado que a forma como hoje em dia o Homem se desloca pelo mundo também evoluiu, e que esta “viagem pelo mundo”, seja em trabalho ou em turismo, pode ser feita de uma forma bastante mais lesta que antigamente, também a nossa visão do mundo foi evoluindo. Já não olhamos para nós como pertencentes a um lugar somente  mas como pertencentes ao mundo na sua globalidade. Apesar das diferentes identidades nacionais se manterem - e ainda bem!- o resto se vai esbatendo. As relações económicas, judiciárias e culturais entre países atualmente  são de tal forma evoluídas na sua interação, que em determinado país poderemos conhecer ou saber o que se passará noutro qualquer, bem como nos é permitido deslocar sem qualquer entrave à circulação. O que é sempre determinante para o modo de vida que atualmente levamos.

E devido ao facto de o maçom ser alguém que se considera livre e que vive e exerce a sua liberdade em qualquer parte, o maçom é um “cidadão do mundo”, isso permitiu-lhe que lutasse também pelos valores em que acredita e que acima de tudo são os valores da Maçonaria. Assim, foi através da sua ação por este mundo fora, que foi possível criar as bases para a implantação e reconhecimento de garantias ao nível dos Direitos Humanos, o direito à escola pública, o direito à saúde pública, a laicização dos estados (no sentido de que nenhuma religião se sobreponha ou seja enaltecida em detrimento das restantes), o ataque ao trabalho infantil e a emancipação da Mulher, entre outras lutas das quais os maçons fizeram e  ainda fazem parte pelo mundo fora.

Assim, em jeito de conclusão, combater as trevas, a tirania e a ignorância, propiciando o progressivo bem-estar da humanidade, são os labores que os maçons assumem para com a sociedade e apenas tal é exequível globalmente porque a Maçonaria é universal e cosmopolita. 

27 julho 2015

Porquê "meu irmão", e não "meu amigo"? (republicação)

Tenho andado a fazer uma "reciclagem" de  alguns dos textos que eu considero oportunos para serem republicados de tempos a tempos para nova leitura ou para uma "leitura em primeira-mão".

Tais textos, por norma, já têm bastante tempo passado desde a sua publicação original, logo deste modo, alguns leitores poderão nunca os ter lido por se encontrarem no "arquivo" do Blogue, e dada a sua contemporaneidade, considero que devem novamente "vir a lume" como é usual se dizer.

Posto isto, o texto de hoje foi escrito pelo Paulo M. e pode ser consultado no seu original aqui .

"Porquê "meu irmão", e não "meu amigo"? 

Os maçons tratam-se, entre si, por "irmão", tratamento que é explicitamente indicado a cada novo maçon após a sua iniciação. Imediatamente após terminada a sessão de Iniciação é normal que todos os presentes cumprimentem o novo Aprendiz com efusivos abraços, rasgados sorrisos e, entre repetidos "meu irmão", "meu querido irmão" e "bem vindo, meu irmão", recebe-se, frequentemente, mais afeto do que aquele que se recebeu na semana anterior.

O que seria um primeiro momento de descontração torna-se, frequentemente, num verdadeiro "tratamento de choque", num momento de alguma estranheza e, quiçá, algum desconforto para o novo Aprendiz. Afinal, não é comum receber-se uns calorosos e sinceros abraços de uns quantos desconhecidos, para mais quando estes nos tratam - e esperam que os tratemos - por irmão... e por tu! Sim, que outro tratamento não há entre maçons, pelo menos em privado - que as conveniências sociais podem ditar, em público, distinto tratamento.

O primeiro momento de estranheza depressa se esvai - e os encontros seguintes encarregam-se de tornar naturalíssimo tal tratamento, a ponto de se estranhar qualquer "escorregadela" que possa suceder, como tratar-se um Irmão na terceira pessoa... Aí, logo o Aprendiz é pronta e fraternalmente corrigido, e logo passa a achar naturalíssimo tratar por tu um médico octogenário, um político no ativo, ou um professor universitário. E de facto assim é: entre irmãos não há distinção de trato.

Não se pense, todavia, que todos se relacionam do mesmo modo. Afinal, não somos abelhas obreiras, e mesmo entre essas há as que alimentam a rainha ou as larvas, as que limpam a colmeia, e as que recolhem o néctar. Do mesmo modo, todos os maçons são diferentes, têm distintos interesses, e não há dois que vivam a maçonaria de forma igual. É natural que um se aproxime mais de outro, mas tenha com um terceiro um relacionamento menos intenso. Não é senão normal que, para determinados assuntos, recorra mais a um irmão, e para outros a outro - e podemos estar a falar de algo tão simples quanto pedir um esclarecimento sobre um ponto mais obscuro da simbologia, ou querer companhia ao almoço num dia em que se precise, apenas, de quem se sente ali à nossa frente, sem que se fale sequer da dor que nos moi a alma.

Mas não serão isto "amigos"? Porquê "irmãos"? Durante bastante tempo essa questão colocou-se-me sem que a soubesse responder. Sim, havia as razões históricas, das irmandades do passado, mas mesmo nessas teria que haver uma razão para tal tratamento. O que leva um punhado de homens a tratarem-se por "irmão" em vez de se assumirem como amigos? Como em tanta outra coisa, só o tempo me permitiu encontrar uma resposta que me satisfizesse. Não é, certamente, a única possível - mas é a que consegui encontrar. 

Quando nascemos, fazêmo-lo no seio de uma família que não temos a prerrogativa de escolher. Ninguém escolhe os seus pais ou irmãos de sangue; ficamos com aqueles que nos calham. O mais natural é que, em cada núcleo familiar, haja regras conducentes à sua própria preservação e à de todos os seus elementos, regras que passam, forçosamente, pela cooperação entre estes. É, igualmente, natural que esse fim utilitário, de pura sobrevivência, seja reforçado por laços afetivos que o suplantam a ponto de que o propósito inicial seja relegado para um plano inferior. É, assim, frequente que, especialmente depois de atingida a idade adulta, criemos laços de verdadeira e genuína amizade com os nossos irmãos de sangue, que complementa e de certo modo ultrapassa, em certa medida, os meros laços de parentesco.

Do mesmo modo, quando se é iniciado numa Loja - e a Iniciação é um "renascimento" simbólico - ganha-se de imediato uma série de Irmãos, como se se tivesse nascido numa família numerosa. Neste registo, os maçons têm, uns para com os outros, deveres de respeito, solidariedade e lealdade, que podem ser equiparados aos deveres que unem os membros de uma célula famíliar. Porém, do mesmo modo que nem todos os irmãos de sangue são os melhores amigos, também na Maçonaria o mesmo sucede. Não é nenhum drama; o contrário é que seria de estranhar. Diria, mesmo, que é desejável e sadio que assim suceda, pois a amizade quer-se espontânea, livre e recíproca. E, tal como sucede entre alguns irmãos de sangue, respeitam-se e cumprem com os deveres que decorrem dos laços que os unem, mas não estabelecem outros laços para além destes. Pode acontecer - e acontece. Mas a verdade é que o mais frequente é que, especialmente dentro de cada Loja, cada maçon encontre, de entre os seus irmãos, grandes amigos - e como são sólidos os laços de amizade que se estabelecem entre irmãos maçons!

Paulo M.  "

18 maio 2015

"Os que ficam pelo caminho" (republicação)


Hoje republico um texto de um dos membros do painel de escritores deste blogue.

O texto em questão é da autoria do Paulo M. e para além de ser um texto que reflete um pouco sobre a caminhada  e a busca pessoal de cada um  pode fazer na Maçonaria. Para além disso suscitou um debate interessante na sua "caixa de comentários".

O texto pode ser lido no seu original aqui.

Agora faço a transcrição do respetivo texto:

""Nem todos os Aprendizes chegam a Companheiros. Nem todos os Companheiros ascendem a Mestres. E seguramente que nem todos os Mestres virão a exercer o ofício de Venerável Mestre. É assim a realidade!" Assim escreveu o Rui Bandeira num texto publicado em 2008, ainda não tinha eu recebido o meu avental branco. Na altura, quando o li, achei estranho o tom, a naturalidade, e o que tomei por critérios de seleção apertadíssimos. Recordo-me de ter pensado algo como "Estes tipos não brincam em serviço... Devem ser bestialmente exigentes, e só escolhem os melhores para progredir... Isto devem ser chumbos de três em pipa..."

Estava tão enganado!

Com o tempo vim a perceber que dificilmente a Loja "chumbava" fosse quem fosse, a não ser nas circunstâncias mais excecionais, mas que, não obstante, o Rui tinha razão: havia muitos que ficavam pelo caminho. Mas se a Loja não chumbava ou impedia a progressão, quem o fazia então? Ora... o próprio, quem mais?! Comecei a perceber que por detrás de cada nome que era chamado no início da sessão pelo Secretário e a que se seguia um silêncio em vez de ser anunciada a presença se encontrava um Irmão que não viera. E que os nomes que eu ouvia repetidamente e a que não associava uma cara eram de Irmãos que, de todo, não apareciam.

Uns - já Mestres - haviam-se desencantado, suponho, com a rotina da vida da Loja, e tinham agora outros entreténs - razão por que não punham os pés numa Sessão fazia tempo. Outros tinham, simplesmente, prioridades - frequentemente profissionais ou familiares - que se impunham sobre a presença em Loja, ou não tinham de todo disponibilidade para integrar a Linha de Sucessão assumindo um Ofício. Uns e outros lá iam aparecendo, uns mais e outros menos frequentemente, mas alguns desapareciam completamente de circulação.

A outros - ainda Companheiros - sucedia perderem o estímulo, ou não aguentarem tanto tempo sem poder falar e sem ser exaltados a Mestre. Ao fim de um tempo, também alguns destes começavam a faltar, a envolver-se pouco, e a certa altura eram, também eles, um desses nomes que se ouve e se associa a uma cara, mas que se tem uma certa nostalgia de não ver há meses...

Por fim, alguns Aprendizes eram iniciados, achavam graça à coisa, mas não tinham vida nem disponibilidade para pertencer a uma Loja que se reúne duas vezes por mês em dias e horas certos. Outros, quiçá mal conduzidos ou defeituosamente escrutinados, acabavam por se aperceber que a Maçonaria não lhes fazia vibrar corda nenhuma, e desapareciam.

Alguns interiorizavam que não queriam mais pertencer à Maçonaria, e pediam para sair. Outros, divididos entre o querer e o não poder, não assumiam a impossibilidade de permanecer, e iam ficando sem ficar. A certa altura, já nem as quotas pagavam, nem asseguravam os "mínimos olímpicos" da assiduidade - nós nem somos esquisitos: uma presença por ano basta-nos - e tinha que se lhes chamar a atenção para que cumprissem com os seus deveres.

E de facto confirmei ser precisamente assim, como o Rui tinha dito: há os que ficam pelo caminho, e os que vão progredindo de degrau em degrau, uns mais depressa e outros mais lentamente. Por vezes, alguns metem-se por becos sem saída e, ou adormecem, ou corrigem o percurso. Mas se é sempre triste vermos um irmão sentar-se na beira do caminho, descalçar as botas e adormecer encostado a uma árvore - pois sabemos que a maioria ficará ali para sempre - já nos enche de orgulho ver um irmão subir mais um degrau, assumir mais uma responsabilidade, receber mais um reconhecimento.

Os caminhos são muitos, e o destino é cada um que o escolhe. Não é, portanto, a Loja que é exigente e o "chumba" - pois para isso teria que ser a Loja a determinar os objetivos, e estes pertencem a cada um. É antes o Maçon que é muito ocupado, desiludido, ou simplesmente complacente, e se retira pelo seu pé. E assim deve ser. É que a Maçonaria não é para todos: é só para aqueles que de facto queiram - e façam por isso."

Autor: Paulo M.  


02 fevereiro 2015

Política e Maçonaria Regular...

(imagem proveniente de Google Images)

O próprio título desta publicação poderá parecer por si só uma possível contradição.

Uma analogia direta entre política e Maçonaria Regular nunca poderá ser feita em concreto porque em Maçonaria Regular não se discute política. E muito simplesmente porque tal não é permitido pelas suas próprias regras, os seus Landmarks, que no seu sexto artigo impede que este tipo de discussão possa ter lugar numa loja maçónica. 

O próprio Rui Bandeira, autor deste blogue, já teve oportunidade de expressar a sua opinião, tanto neste texto bem como na sua respetiva “caixa de comentários” foram debatidas outras perspetivas sobre o assunto…

Mas no que ao tema deste post concerne, a proibição existente em relação à abordagem de temas políticos numa sessão maçónica é apenas em relação à discussão e debate de ideias relativas à política partidária. Porque abordando a política como conceito em si, conceito este como sendo algo que é assumidamente necessário para quem vive na sociedade, a postura da Maçonaria Regular é diferente.

O conceito político, quando abordado no seu sentido lato, é permitido seja em debates meramente filosóficos ou que tratem de temas sociológicos ou antropológicos. Nestes casos,  as ideologias são facilmente postas de parte. Pelo que efetivamente nunca se discute se o pensamento político de “direita” ou de “esquerda”, ou se uma monarquia ou  república serão os melhores sistemas políticos a serem vivenciados pela sociedade.

Salientando também que,  devido ao cumprimento do referido Landmark, não se discute se uma religião é melhor ou pior que outra. Política e Religião em Maçonaria Regular encontram-se no mesmo patamar.

- Alíás atrevo-me a dizer que para a Maçonaria Regular, ambos estes conceitos estão colocados naquelas prateleiras muito altas que é usual se ter em casa, em que sabemos que as coisas lá estão, mas que não as conseguimos alcançar…-

Estas concepções de vida, políticas ou religiosas, a serem discutidas,  apenas o serão em em sentidos latos e meramente filosóficos. Até porque geralmente estes temas, a par da clubite desportiva, são os temas que mais dividem o Homem e fraturam a sociedade, e a Maçonaria quer-se como sendo um centro agregador de pessoas e nunca como sendo o seu foco de divisão.
Assim, relativamente à política partidária, cada maçom seguirá as políticas ou sentir-se-á representado pelo partido político que considerar que será o que melhor o representa ou que aplica e/ou defende as ideias que para si são consideradas como sendo as que maior valência deverão ser seguidas pela sociedade civil. E apenas isso.

Não obstante, é do conhecimento público em geral, que vários maçons são membros ativos de vários partidos políticos, muitos deles mesmo pertencentes a alas muito distantes politicamente e com um ideário político muito diferente e bastante divergente até. 
E isso é lhes possível  porque são livres para o fazer. 

Em nada a Maçonaria os impede de tal. Nem como instituição, nem os próprios maçons entre si, como membros desta Augusta Ordem. Cada um fará o que lhe aprouver quanto ao caminho que preferir percorrer, seja partidário ou não, e respeitará do mesmo modo, o caminho que o seu irmão decidir prosseguir…

Estes últimos parágrafos serão talvez alguns dos quais que mais confusão farão aos profanos e que podem suscitar certas teorias conspiratórias, uma vez que, pode-se sempre supor que, como poderá alguém que não se revê politicamente noutra pessoa, e que por vezes em debates mais acalorados, sejam eles no hemiciclo, sejam eles em qualquer tipo de campanha, em que algumas vezes podem inclusive roçar a falta de respeito, para depois dentro de portas ou na sua intimidade, serem amigos e considerarem-se como Irmãos?!

A própria questão encerra a sua própria resposta.

Não temos nós irmãos, familiares e amigos que têm opiniões contrárias às nossas?

Não levam eles, em alguns casos, vidas muito diferentes da que levamos?

Não têm eles concepções de vida muito distantes daquelas que consideramos como sendo as mais válidas?

Quantas vezes em debates de ideias mais acesos, não nos chateámos e depois tudo ficou resolvido como nada se passasse?

Sim, todos nós na nossa vida, passamos ou alguma vez passámos por esta situação. 

E fraternidade é isso mesmo, é ter bastante respeito pelo próximo, consagrar o direito à diferença de opinião, ser tolerante em relação a diferentes pontos de vista, e ter uma postura coerente no âmbito do debate.

Por isso é que a Maçonaria sobreviverá per si, independentemente do posicionamento político dos seus membros. 
Tudo devido ao sentimento fraternal que estes têm entre si e que os fará colocar de parte qualquer antagonismo que possa ser  motivado, neste caso,  por questões político-partidárias.

E depois no que toca à questão partidária, esta não se coloca à Maçonaria mas sim ao Povo, que como integrante fundamental da sociedade tem o dever de participar nela e contribuir para o seu progresso.

 Assim, cabe ao maçom, sendo ele mais um elemento que faz parte do povo, participar como cidadão e como parte interessada nesta questão.

O compromisso que o maçom assume com a Ordem é um compromisso de ordem moral e ética, e que não envolve sequer, qualquer forma de política neste comprometimento.
Pelo que nada melhor que o seu exemplo e conduta para servir de paradigma aos outros. 

Logo, pelos seus valores, o maçom nunca poderá agir impulsivamente nem de forma irrefletida, porque para além de não ser a forma de correta para alguém agir, e depois porque está em permanência debaixo do jugo da sociedade; assim o maçom que seja ativo políticamente na sociedade em que está inserido, deve observar sempre o cumprimento dos valores maçónicos. 

Porque estes valores em nada colidem com a liberdade de ninguém e muito menos com os direitos de todos.

 E se hoje em dia vivemos como vivemos, uma boa parte resultou de um trabalho imenso e intenso por vezes, que alguns  maçons de outrora tiveram e que propiciaram para que hoje em dia possamos usufruir  das condições que temos e que nos permitem ambicionar por mais e melhor...

19 janeiro 2015

Formalismos na Maçonaria…

(imagem proveniente de Google Images)

Na Maçonaria existe o costume de os seus membros se tratarem por irmãos ou manos, uma vez que a Augusta Ordem Maçónica é uma Irmandade de carácter fraternal.

Mas para além deste hábito, existe outro que costuma fazer alguma confusão aos recém-chegados. É o facto de todos no seu trato habitual se tratarem por “tu”.
Independentemente da idade, do grau ou da qualidade maçónica (cargo que se represente em Loja ou na Obediência), todos, mas mesmo todos, se tratam por “tu”.

Enquanto na vida profana é habitual  as pessoas tratarem-se com alguma deferência, nomeadamente tratarem-se por “você” ou por “senhor” ou até mesmo pelo título académico que detenham, na Maçonaria não existe esse distanciamento pessoal. Quando se aborda um irmão, é por “tu isto…” ou “tu aquilo…” É “tu” e prontos!

Isto por si só, é uma demonstração que aos maçons não interessam os cargos ou as profissões que um irmão desempenhe na sua vida profissional. Em Loja todos sãos iguais entre si. Desde o mais desfavorecido financeiramente ao mais folgado em questões de metais, não existe diferença no trato. Os “metais” devem ficar sempre fora de portas do Templo. 
Esta é outra das virtudes que se podem encontrar na Maçonaria a par da tolerância e do espírito fraternal.

E como entre irmãos não há lugar para deferências ou "salamaleques", é mais salutar e sensato o tratamento por “tu” que por outra coisa qualquer. Desse modo, aos recém-chegados dá-se lhes a confiança necessária para se enturmarem com os mais antigos na casa, e aos mais idosos em idade, consegue-se que mantenham dessa forma, um espírito jovem e reverencial que a todos agrada. Aos mais jovens é que normalmente causa algum desconforto em tratar alguém mais velho em idade por uma forma tão simples de tratamento, mas com o tempo esse pequeno desconforto passa e é normal que depois nem se note a diferença de trato nem a idade do irmão com quem se interage.

Esta forma de tratamento entre pessoas, foi dos hábitos que mais “estranheza” me causaram nos meus tempos de neófito.

É como se costuma dizer: “primeiro estranha-se, depois entranha-se…”

Mas em Maçonaria e em como tudo o que sejam instituições, associações ou grupos onde o Homem se reúna, existe sempre uma hierarquia a respeitar, e como tal, o tratamento com alguém hierarquicamente superior, devido às funções que lhe são acometidas, nunca poderia ser igual à que os outros membros terão entre si. E como afirmei acima, se na Maçonaria os seus obreiros se tratam entre si como irmãos e no trato normal por “tu”, não deixa de ser interessante que quando se trata de alguém com funções diretivas, esse tratamento seja enaltecido.

Apesar de quando um irmão se dirige a um irmão que ocupe um cargo relevante na estrutura maçónica o trate na mesma por “tu”, a diferenciação no tratamento é respeitante ao cargo e função ocupada em si e não à pessoa em concreto. Por isso é que é habitual se ouvir falar em “Venerável Mestre”, “Respeitável Irmão” e “Muito Respeitável Grão-Mestre” entre outros apelidos que se conheçam e que existem, que servem apenas para diferenciar um irmão dos restantes apenas pelas funções que lhe são atribuídas e nada mais.

Em Maçonaria todos os cargos são transitórios, tal como quase tudo na vida, e os maçons têm isso presente, e como tal, não adianta ou não é necessário existir outro tratamento que não seja por “tu”, pois se hoje desempenhamos um cargo, amanhã poderemos estar apenas a ocupar um lugar numa das colunas. E quem hoje se encontra simplesmente numa coluna e sem funções atribuídas, amanhã poderá ser chamado a ocupar alguma função importante na estrutura maçónica. E este tipo de tratamento possibilita uma transição entre colunas ou funções sem qualquer tipo de sobressaltos.

Concluindo, se as designações dos cargos maçónicos ou dos títulos dos graus maçónicos que existem poderem sugerir algumas vezes que o tratamento entre irmãos possa derivar em "pantominices", essa assumpção está bastante errada. O tratamento entre irmãos é sempre feito da forma mais simples que se conhece, utilizando simplesmente o pronome “tu”.
E é assim que se quer que a Maçonaria funcione, de uma forma simples e elementar.


PS: Texto adaptado deste outro, também escrito e publicado por mim.

12 janeiro 2015

Sobre o "Método Maçónico" (II)...

                                                                                                  (imagem proveniente de Google Images)


Um pouco por todas as correntes do pensamento humano, a “dúvida” sempre esteve presente e como tal foi precursora de Conhecimento. Se nos casos dos Racionalistas e Existencialistas, a dúvida foi a “catalisadora” do ato de pensar, nas correntes Positivistas, Cepticistas e Empiristas da Filosofia foi mesmo a base do próprio pensamento. E se “pensar” é a base do Método Maçónico, a “dúvida” é um dos instrumentos pelos quais este método pode ser aplicado. 
Não apenas duvidando por duvidar, ou questionando apenas por questionar. A dúvida ou a questão, terão sempre um motivo, um“porquê?”. 

Aliás, já o maçom e livre-pensador Voltaire (François Marie Arouet de seu nome e que viveu entre 21/11/1694 a 30/05/1778) afirmou que “a dúvida foi transformada num método de conhecimento”. 
E foi de certa forma, aplicando esta premissa, que o Homem foi impulsionado a evoluir. 
Ao se duvidar (de algo), cria-se a vontade ou necessidade de se agir, de procurar, de pensar. Não bastará aquilo que nos é apresentado, mas pretender-se-á mais qualquer coisa, nem que seja para complementar, cimentar ou até negar aquilo que já existe.

O Homem ao longo da história tendo a dúvida e o desconhecido como ponto de partida, levou-o a que inúmeras vezes fosse obrigado a sair da sua “zona de conforto” para obter o conhecimento ou as respostas que ambicionava ter. Ter este tipo de atitude permitiu aos pensadores do período iluminista da nossa história, questionarem os ideais e dogmas da sua época e fomentarem então o livre-pensamento.

Nesses tempos, o Homem sentia-se refém dos dogmas  que lhe eram apresentados e que os mesmos  quando aplicados ortodoxamente lhe cerceavam a sua liberdade pessoal. E na sequência de um período renascentista, em que floresceram novas ideias que tornavam o Homem no centro de tudo (a figura do “Homem de Vitrúvio” de Leonardo da Vinci é um bom exemplo disso) e também no seguimento de um período inquisitorial que deixou várias baixas nas mentalidades que se consideravam mais avant-garde ou fora do status quo contemporâneo, houve quem sentisse que o mundo necessitava de mudar, e mudar para algo de diferente daquilo que existia.

Já não bastava ao Homem olhar para cima, para Deus, e crer que tudo ocorreria mediante intervenção divina, mas que esse olhar deveria se virar para dentro, para o seu interior
O Homem sentiu que deveria ser ele a base de tudo, a “origem”, o “ponto no meio do círculo”, e essa sensação, essa necessidade de mudar,  criou novas formas de pensamento, novas formas de olhar as coisas, algumas das quais muito diferentes das que existiam nesses tempos, nomeadamente no que toca a direitos e garantias do Ser Humano. 

Hoje em dia, temos a certeza que após os “ventos iluministas” que passaram e que criaram algumas “tempestades” por esse mundo fora, a sociedade como se conhecia mudou e evoluiu bastante e para melhor. Hoje o Homem pode fazer quase tudo aquilo que anteriormente lhe estava vetado, quer fosse por lei quer fosse pelo modus vivendi da época. 
O Homem atualmente é detentor de vários direitos e garantias no que toca à sua liberdade pessoal. Na generalidade dos países (falo assim, porque em pleno século XXI a liberdade ainda é limitada em alguns locais) o Homem pode falar abertamente e expor as suas ideias, pode reunir para debater e também lhe é possível se manifestar pelo que considere válido e que seja mais útil à sociedade em que está inserido. E isso tudo apenas foi possível porque existiu gente que pensasse, que questionasse e principalmente que duvidasse. E no meio dessa gente, encontravam-se os maçons.

E os maçons ao absorverem os ideais renascentistas e posteriormente os ideais iluministas, sentiram também que a “dúvida” poderia ser o ponto de partida para que pudessem evoluir também. Uma vez que se o homem era o “centro” de tudo, o que existiria para lá do seu “corpo”, das suas “fronteiras”, seria de certa maneira,   desconhecido ou por descobrir. E foi nesse momento, em que os maçons passaram a especular (duvidar/questionar), que se criaram as condições para serem constituidas as “fundações” da Maçonaria atual, designada por Maçonaria Especulativa.

Desse modo, os maçons deixaram de construir fisicamente para passarem a construir filosoficamente tendo como utensílios principais do seu trabalho o seu pensamento, os seus novos ideais, o debate de ideias, partindo das suas dúvidas e ansiando por mais conhecimento. E isso foi concretizado, porque gradualmente através da incorporação dos pensamentos racionalistas e positivistas na doutrina maçónica, foi possível alcançar aquilo que atualmente ainda é dado a vivenciar nas lojas maçónicas. Refletindo, analisando e debatendo nas sua lojas maçónicas, os maçons de antanho propiciaram - e de que maneira!- o progresso da sociedade de então, não obstante ainda o continuarem a fazer nos dias de hoje.

Tanto que o facto de os maçons estarem entre aqueles que decidiram “pensar” e  que não ficaram retidos a dogmas ou ao receio da possibilidade de poderem perder a sua vida por usufruírem desse direito natural (pensar por si), tornou-os personas non gratas para algumas instituições que existem ainda atualmente, sejam elas corporativistas, religiosas ou políticas. Pensar diferente ou criar um ambiente propício ao livre-pensamento e ao debate de ideias ainda hoje causa alguns “amargos de boca” aos maçons. O livre-pensar tem essas consequências. Uma vez que os defensores de totalitarismos e de ditaduras sejam elas de que tipo forem ou até mesmo os apologistas da anarquia em si, nunca poderão “ver com bons olhos” uma fraternidade constituida por quem assume que pensa e que principalmente duvida daquilo que lhe é apresentado de qualquer forma, sem justificação prévia e sem que tenha interesse para a generalidade dos povos.

Por isso é que nada é pior para o ser humano do que ter uma “atitude de carneiro”, uma atitude seguidista, de agir apenas somente porque sim ou porque os outros assim o fazem, sem se analisar os “porquês?” e os “comos?” deste mundo, assumindo desta forma as consequências de uma atitude que uma grande parte das vezes pouco lhe será a mais favorável ou a que melhor o servirá.
- Não pensar acarreta sempre custos - . 

E por mais “doloroso” ou difícil que esse processo possa aparentar ou por maior prejuízo que se possa assacar ao modo de pensar, será sempre mais relevante para a humanidade o Homem usar a sua “cabecinha” e pensar por si do que deixar que outrem o faça por ele. 
E mesmo que se pense de forma diferente da generalidade, tal não será importante porque por vezes na diferença e/ou valorizando esta diferença, está o caminho para o conhecimento. 
- Quantas vezes não estivemos certos de algo e depois acabámos por constatar que aquilo que era diferente ou que divergia do nosso raciocínio era na realidade o que estaria correto?!-

 Assim, é possível considerar-se na prática, que o método maçónico é um método de questionamento que apesar de poder ser usado de um modo muito amplo na Maçonaria, se for aplicado de uma forma mais estrita, será sempre no sentido de uma auto-análise e busca interior que o maçom fará per si e que o levará através de uma senda espiritual que lhe proporcionará em última instância uma redescoberta de si mesmo.

Questionando(-se), debatendo, aprendendo, compreendendo, modificando(-se) e partilhando o que se sabe; em suma, aplicando o método maçónico, será para os maçons mais uma forma de poderem trabalhar no seu auto-aperfeiçoamento. E mesmo que não o consigam executar na sua plenitude, pois pode sempre supor-se tal como utópico, quem viver desta forma sentir-se-á sempre realizado e grato pelas conquistas que vier a alcançar ao longo da sua vida, pois as mesmas foram conseguidas com o seu esforço, com o seu sacrifício, com a sua dedicação, mas que principalmente foram obtidas com ou através do seu “pensamento”! 

05 janeiro 2015

Sobre o "Método Maçónico"...

                                                                                                     (imagem proveniente de Google Images)

Muito se fala e especula sobre o que é e o que será o tão propalado “método maçónico”.
Ele não é mais que um método de busca, estudo e aprendizagem que auxilia o maçom ao longo da sua vida.
Tal como outros métodos de estudo ou de vida, ele não é melhor nem pior, mas é o que o maçom utiliza.

O maçom através da sua busca incessante de informação/conhecimento, a procura da dita “Luz”, o leva a questionar os motivos, as razões, os porquês….
“O que é?”, “O que será?”,“O porquê?” e “Para que serve?” são para os maçons, tal como para os profanos, a base do caminho de suplantação das suas dúvidas, sejam elas mundanas ou mais elevadas
Ele nunca se irá prender a sofismas e dogmas irrisíveis ou inclusive a cepticismos vãos que o levarão a um caminho de busca sem fim ou qualquer retorno palpável. 
Ele mesmo, através do seu empenho e trabalho, combate os dogmas instalados sem que tenham razão aparente para existirem. Ele debate, questiona, aprende, e principalmente procura as razões para tal… Nunca se ficando com “é assim porque tem de ser…”. Tal afirmação e suas semelhantes não lhe servem como respostas para as suas dúvidas. Ele quer mais… E por isso procura! E faz!

Tal como as três afirmações bíblicas, muito usadas por várias correntes esotéricas (a Maçonaria é uma delas) “ Bate e ela se abrirá… Procura e acharás… Pede e receberás…”, é através dessa busca e desejo de conhecimento que o maçom até ao fim dos seus dias será impelido a trabalhar e estudar de forma empenhada, nunca ficando contente ou satisfeito com o que vai obtendo. Ele quer mais e procura/faz por isso! E é essa atitude de não resignação, de “nunca baixar os braços”, que é fundamental para o método maçónico.

“Se tens dúvidas, trabalha para as combater”… Este podia ser um mote de incentivo ao maçom, tal como tantos outros que existem e que guiam ou incentivam o maçom ao longo da sua vida.
-Por isso, sempre que alguém ouvir falar de um eventual método maçónico, saberá à partida que se trata de um método de trabalho e não algo de conspirativo como algumas mentes mais “conspurcadas” ou menores como eu as considero, tentam fazer acreditar.-

O maçom ao longo da sua caminhada, tem uma atitude pró-ativa. Isto é, ele não é uma pessoa de se encolher, de ficar de braços cruzados sem nada fazer. Ele estuda, trabalha, debate, ensina. Nunca se ficando pelo que obtém nem o tomando como garantido. 
Tudo na vida é transitório, uma espécie de devir. E como tal, apenas tendo atitudes que visem obter evolução pessoal, progressão cultural, entre outras…, é que o maçom se poderá afirmar entre os demais.

 Hoje em dia já não basta ao maçom ser reconhecido pelos seus irmãos como tal, ele deve ser reconhecido pelos outros como tal. Um Homem Livre e de Bons Costumes!
E para se ser um Homem Livre e de Bons Costumes, ao maçom não lhe servirá apenas ser alguém com uma moralidade acima da média, ou que apenas pratique a caridade e a solidariedade com o próximo. 
É através do conjunto destas e de outras qualidades, que o maçom desenvolve o seu método pessoal de vida. O Método Maçónico é também isso. Uma forma de viver
E é também partilhando essa forma de estar com os demais, que ele aprende, se cultiva e se informa. Tudo o que ele adquirir no percurso dessa caminhada, não será apenas dele, será também de quem o rodeia. Pois apesar de o maçom trabalhar a sua pedra bruta, ele não o faz de forma solitária. Ao seu lado estarão sempre os seus irmãos, que lhe servirão de amparo e o conduzirão no rumo certo, e que ele por sua vez, também ensinará e amparará quando assim tiver de o fazer.

Por isso, não só na sua Loja Maçónica, no seu Templo, deve o maçom trabalhar tanto para ele bem como para os demais, mas acima de tudo, deve ele no mundo profano manter essa conduta. Pois os ganhos adquiridos, os tão profanos “lucros” serão para a comunidade, porque o Maçom não busca distinções no que faz. Faz e assim continua a fazer… Para o bem comum!
E quanto mais rápido ele interiorizar essa ideia na sua mente, mais facilmente progredirá como pessoa, o tal “aperfeiçoamento moral”, tão caro à filosofia maçónica.

E se o Homem não deseja progredir, anda cá na Terra a fazer o quê, realmente?
A ver os dias a passar?!
E porque não tornar esses dias mais agradáveis para a generalidade?

Essa é também uma das obrigações do maçons; e para tal, como pode alguém contribuir para um mundo melhor, se não partir de si, a vontade de se tornar em algo melhor…
O método maçónico serve para isso, exclusivamente!

PS: Este texto foi escrito e publicado originalmente por mim aqui em duas partes, mas dada a sua relevância e contemporaneidade, decidi que deveria ser republicado novamente e neste espaço em particular.