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22 agosto 2016

A Santificação do Homem (republicação)

O texto de hoje, ou a sua republicação, foi escrito pelo José Ruah em 2009 e onde aborda o Judaísmo, a sua religião, e reproduz uma comunicação que apresentou  no colóquio " Turres Veteras X - a Historia do Sagrado e do Profano".
O texto original pode ser consultado aqui.

Uma pequena menção do autor:  "O Texto foi escrito para ser lido e por isso perdoarão alguma incorrecção. As citações são extraidas do Livro " Torá" editado recentemente pela editora Sefer do Brasil e consequentemente estão escritas em português do lado de lá."

"A Santificação do Homem

Quando me foi lançado este desafio, de vir aqui falar sobre o Sagrado e o Profano do ponto de vista do judaísmo, aceitei sem saber bem o que iria dizer sobre o tema.

É importante lembrar que não sou Rabino nem estudioso de matérias religiosas pelo que corro o sério risco de vos apresentar algo que fique muito aquém das expectativas, mas é a minha visão do assunto.

O judaísmo enquanto religião e forma de vida visa sempre a santificação do homem numa perspectiva de o tornar mais próximo de Deus.

A religião judaica prescreve mandamentos e regras que se integralmente cumpridas representarão o respeito máximo por Deus e pela sua Santidade, e que não cumpridas farão do homem um profano que ao contrario do seu irmão cumpridor, no dia do julgamento poderá ser considerado como indigno de se manter vivo.

Todavia o homem está sempre a tempo de se arrepender e retornar ao caminho da santidade com isso glorificar Deus. Este arrependimento, que pode surgir a qualquer altura, está muito associado com o dia do Kipur. Dia de penitencia e arrependimento e também o dia em que cada judeu se apresenta perante Deus e lhe apresenta contas do que fez, esperando que o seu nome seja inscrito por Deus no Livro da Vida e que o seu arrependimento seja aceite.

Neste sentido e de forma a realçar a importância do percurso do homem, de cada homem, no sentido a elevação espiritual decidi ir buscar exactamente os trechos da Torá que explicam e regulamentam o dia de Kipur e de lá extrair o que me pareceu fundamental para ilustrar a perspectiva judaica sobre o sagrado e o profano, do ponto de vista do homem.

Uma breve explicação prévia, a Torá é composta por 5 livros (Bereshit – Génesis, Shemot – Êxodo, Vaycrá -Levitico, Bamidbar – Números e Devarim – Deutronomio) e constitui a lei fundamental do judaísmo, a lei dada por Deus a Moisés no deserto. Nestes livros poderemos encontrar desde a criação do Mundo aos preceitos alimentares e regulamentos familiares. Estes livros são lidos em capítulos semanais de maneira a que num período de um ano todos os livros tenham sido integralmente lidos e se recomece.

Estes são os livros de base do que se convencionou chamar de Bíblia.

Para ilustrar o tema de hoje escolhi algumas passagens e respectivos comentários, que penso poderão ajudar a explicar o que o judaísmo pensa e preconiza. Estas passagens estão incluídas no capítulo que regula o Dia de Kipur.


“... E tomarás os dois cabritos e os farás ficar diante do Eterno à porta da tenda da reunião. E lançará Aarão sobre os dois cabritos, sortes, uma para o Eterno e outra para Azazel. E aproximará Aarão o cabrito sobre o qual caiu a sorte para o Eterno e o oferecerá como oferta de pecado. E o cabrito sobre o qual caiu a sorte para Azazel colocar-se-á vivo diante do Eterno, para expiar por meio dele, para envia-lo para Azazel no deserto.


E colocará Aarão suas duas mãos sobre a cabeça do cabrito vivo, e manifestará sobre ele todas as iniquidades dos filhos de Israel, todos os seu delitos e todos os seus pecados, e os porá sobre a cabeça do cabrito e o enviará, por mão de um homem designado para isso para o deserto. E levará o cabrito todas as iniquidades à terra desabitada e deixará o cabrito ir pelo deserto… “

Vaikrá (Levitico) 16: 7 a 10 e 21 a 22

Sobre este trecho da Torá o Rabino Mendel Diesendruck, que na década de 50 do sec. XX foi Rabino em Lisboa escreve o seguinte:


“ Sortes: os nossos exegetas interpretam esta cerimónia de sortear os cabritos como indicação simbólica para os dois diferentes elementos humanos e a sua maneira distinta de encarar os problemas da vida. Um encarna com o seu estilo de viver e pela pureza das suas acções e pensamentos aquela máxima gravada em muitas sinagogas com letras douradas por cima da Arca Sagrada, Shiviti Hashem Lenegdi Tamid (Tenho o Eterno sempre à minha presença), ou seja tudo o que eu faço e pretendo fazer é orientado e guiado por uma única motivação: Viver sempre dentro das prescrições da Torá, amar a Deus, o meu povo e a humanidade inteira; e para concretizar este meu ideal sublime não receio qualquer sacrifício.

Este elemento humano que representa pela nobreza do seu carácter a perfeição da criação Divina é o símbolo de “ para o Eterno” .

Mas existe também um elemento radicalmente oposto. É aquele ser humano cuja vida é claramente profana, cujos interesses nesta vida são de um materialismo vil, uma abjecção grosseira; o tipo de ser humano cujo maior ideal é o seu próprio ego, para o qual o meio ambiente não existe, porque ele é incapaz de dar algo de si.

Este tipo de homem vive na auto ilusão de ser um elemento útil à sociedade mas quem for capaz de deitar um olho para dentro da sua alma vazia e pobre, verificará facilmente que ele, coitadinho, não é mais que um bode isolado num deserto. Pois nós todos sabemos muito bem que existem não apenas desertos geográficos, mas também – e o que é mais lamentável – desertos espirituais, intelectuais, assim como existem climas que não dependem somente das condições atmosféricas, mas sim do calor das nossas almas e dos sentimentos de nossos corações. Este segundo elemento também não se importa em fazer toda a espécie de sacrifícios para alcançar o seu fim, mas é o fim próprio que distingue estes dois carácteres.

Enquanto para o primeiro o alvo é “ para o Eterno “ , a meta do segundo é orientada “ para Azazel “.
A cerimónia de sortear os bodes, oficiada no dia mais sagrado e pelo homem mais sagrado (o sumo-sacerdote) é talvez a mais bela e mais significativa demonstração de que o acaso pode ser um factor decisivo quando se trata de carneiros inocentes, mas nunca em relação ao homem responsável pelos seus actos. “

Mais à frente pode ler-se na Torá:

“… E falou o Eterno a Moisés dizendo: “ Fala a toda a congregação dos filhos de Israel, e lhes dirás: Santos sereis, pois santo sou EU o Eterno vosso Deus….” …”
Vaikrá (Levitico) 19: 1 e 2


A este propósito o Rabino Mendel Diesendruck escreveu o seguinte:

“Santos Sereis: Segundo Rashi (comentador mais importante da Torá) isto significa – “ afastai-vos de toda a espécie de imoralidade e da transgressão” – “

O Rabino Diesendruck retoma escrevendo:

“ O Judaísmo não conhece nenhum outro “santo” além de Deus. Em que consiste então a substancialidade de Deus? No “ser diferente”, no “ser fora” de toda a natureza e por isso na liberdade. A opinião que Deus Sive Natura é uma flagrante negação da doutrina básica do judaísmo. Fora da natureza é o reino da liberdade. “Santo” significa livre no grau mais transcendental. O homem nunca é fora da natureza; para o ser o humano só pode prevalecer sempre a “aspiração à santidade “, aspiração cujo objectivo é livrar suas acções de tudo o que é terrestre, material, fútil, mesquinho e profano, uma aspiração a que os seus sentimentos e desejos sejam determinados o máximo possível pela sua consciência divino-espiritual…”

O comentário é concluído com a seguinte afirmação:

“ Ser criado à imagem de Deus não é um facto consumado, mas sim uma elevada missão, uma potencialidade em constante desenvolvimento. “

Na mesma edição da Torá que utilizei e a propósito da mesma passagem os editores juntam o seguinte comentário:

“ Santos sereis: O homem não precisa de executar nenhum acto fora do comum ou feito extraordinário para ser santo. Em todas as esferas da vida o “fazer” e o “não fazer” de cada indivíduo é que o tornam santo. A singularidade do povo de Israel está no facto de que a vida e a santidade não são dois domínios separados. Quem deseja ser santo não precisa de se afastar da natureza, da vida, retirar-se da sociedade para ir viver no deserto, fechar-se asceticamente dentro de muros ou ir viver isolado para a floresta. Todos nós podemos ser “ um reino de sacerdotes e um povo santo” (Êxodo 19:6), e isso não se dará pelo afastamento ou renúncia da vida, mas sim através da santificação da vida, de acordo com o conselho: “ Reconhece-O em todos os teus caminhos” (Provérbios 3:6).”

Como podemos perceber destes comentários e do que atrás foi dito, no judaísmo é dado um especial enfoque ao homem como o decisor da santidade.

O Judaísmo preconiza valores e preceitos que permitem, se seguidos, ao homem tornar-se mais puro e mais santo, pois aproximam-no de Deus.

O homem tem a capacidade de progredir no caminho da sacralização por acção do seu livre arbítrio e vontade, cumprindo os mandamentos e preceitos e assim aproximando-se do seu Criador, à imagem do qual foi feito.

Este tema é no fundo uma das bases da sacralização pois podemos interpretar que o ter sido feito à imagem e semelhança quer dizer que lhe foi concedido raciocínio e poder de decisão.

Consequentemente o homem, ao contrário dos animais que agem por instinto, pode separar o bem do mal e pode escolher ser mais “santo” fazendo sobressair a centelha Divina que lhe foi incutida, ou por outro lado decidir uma vida mais profana.

É todavia importante perceber e diferenciar esta santificação do homem na religião judaica, da santificação / beatificação na religião Cristã. No judaísmo a Santificação é interior e exclusiva de quem segue o caminho dos mandamentos e será apenas reconhecida por Deus. Não existirá em caso algum a veneração de um homem por parte de outros homens.

Concluo com uma incerteza e uma certeza. A incerteza de vos ter trazido algo de utilidade, a certeza de ter aprendido com este trabalho e desta forma ter progredido um ínfimo passo no meu melhoramento.

Todavia se porventura a minha incerteza se tornar certeza então tenho que agradecer-vos pela oportunidade que me deram de dar mais um pequeno passo, neste caminho que todos deveremos levar no sentido da santidade.

Apenas com o trabalho interior de cada um independentemente da religião que seguimos poderemos de forma afirmativa progredir. A nossa progressão individual terá seguramente como consequência a progressão dos nossos semelhantes em direcção a um futuro que esperamos melhor.


José Ruah"

17 março 2009

O último grau

Quando entrei na sala da Loja, privado de visão, ouvi a mais bela música que alguma vez ouvi. Não era uma música com que eu estivesse familiarizado, nem com o que a produzia, nenhum instrumento que eu pudesse identificar. Mas era, oh, tão pacífica, trespassava a minha alma e criava uma noção de harmonia e de acordo total.

Eu era energia arrastada ou conduzida em pensamento em torno da Loja por esta música, seguindo o que parecia um rumo ao acaso, mas, após oito repetições, fui capaz de discernir que havia quatro repetições de duas manobras, uma sendo um círculo e outra um triângulo . A repetição de manobras foi necessária, como mais tarde me foi explicado, para criar a imagem de um símbolo tridimensional para este grau. E este símbolo era um dos existentes na Câmara do Meio onde recebi este grau. O Esquadro e o Compasso continuavam a adornar o exterior do edifício da Loja, mas dentro deste edifício existia uma Câmara do Meio, onde Pirâmide e Globos eram os símbolos utilizados.

Pude mais tarde ver com o que se parecia este símbolo. Era uma pirâmide na qual estavam três Globos alinhados verticalmente, desde a ponta até a base. No Globo superior, havia uma pequena pirâmide apontando para baixo. O Globo do fundo tinha uma pirâmide apontando para cima e o Globo do meio tinha uma estrela de seis pontas tridimensional. O significado deste símbolo era que o espírito do Criador, Redentor e Protetor estava infundido no círculo da vida, o infindável ciclo de nascimento, morte, renascimento, a morte de novo, e novamente e de novo, até à eternidade. Também transportava o sentido da unidade, já que estamos todos juntos como um, unidos como seres que possuem todos uma partícula do Criador. O símbolo não estava preso a nada, antes surgia perante os olhos de quem estivesse em qualquer ponto da Câmara do Meio, sob a forma de um holograma.

Não houve nem apresentação de qualquer ferramenta, nem um juramento neste grau. Foi-me explicado que, na minha condição presente de ausente de tempo e de lugar, mas em todo o tempo e todo o lugar, as sanções, juramentos e promessas eram supérfluos.

Fui conduzido para o Sul, para o Oeste e, em seguida, para o Norte da Loja, onde, ainda com a minha energia diminuída e apenas capaz de ouvir, eu teria, no entanto, a visão necessária para ver um filme em holograma totalmente privado, visível apenas para mim. No Sul, recebi uma revisão de toda a minha vida. Foi-me mostrada num holograma retratando pessoas, lugares, eventos, acontecimentos e ocorrências, numa rápida e contínua sequência, terminando no momento da minha morte física.

No Ocidente, vi, como anteriormente num filme em holograma, todas as vezes que eu tinha inspirado outros e quando eu tinha sido gentil, compassivo, amoroso e humilde. Muitas vezes fiquei dominado pela emoção, pois o que me foi apresentado era tão vívido como o que eu sentira quando tinha ocorrido no passado e estava acontecendo novamente bem à minha frente. Existe um real significado para a palavra reviver.

Depois, no Norte revivi o lado negro de mim próprio, todas as vezes que eu tinha agido com um arrogante ego inchado, para afastar e ferir os outros, todas as minhas fraquezas, os meus pecados e as vezes que eu tinha desiludido os outros. Mais uma vez, foi invadido pelas lágrimas, ao pensar que eu tinha agido de tal forma. E é por isso que estes hologramas eram totalmente privados e só passíveis de serem vistos por mim, pois aqueles reunidos em torno de mim, não estavam ali para julgar, mas para apoiar. E eu sentia o calor do seu amor e carinho fraternais.

Tal como ocorrera nos meus graus terrenos, fui conduzido, sempre através do pensamento, para fora da Câmara do Meio, para a antecâmara, onde fui preparado para voltar a entrar, para a segunda parte do grau, a palestra.

O meu condutor, Hiram Abiff, restaurou-me a plena energia e, em seguida, falou-me. "Os teus graus terrenos ensinaram-te os méritos da tolerância e da ausência de preconceito", disse ele. "Mostraram-te a forma de desfrutar da paz, harmonia e convivência entre as pessoas de diferentes raças, religiões, culturas, orientações políticas e condições económicas. Agora vamos levar-te ainda mais longe nesse conceito, na palestra do último Grau. "

Fui readmitido na Câmara do Meio e conduzido para junto do Oriente. A imagem da Pirâmide e Globos estava sempre presente diante de mim, num holograma. Acolhendo-me no Oriente, estava uma mulher negra, de meia idade, talvez. O seu sentimento de amor fraterno e afeto era como um calor brilhante, que penetrava o meu espírito. Procedeu à palestra, lentamente e com significado.

"A lição do último grau é que a separação que flagela muitos na sua peregrinação terrena, aquela divisão pela qual cada um vê os outros como diferentes, menos dignos ou sem valor, e que o separa dos demais, é realmente uma separação de Deus. Sim, na realidade, existem diferenças reais na Terra. Cada homem e cada mulher na Terra é realmente feito de forma um pouco diferente e respondem de maneiras diferentes. Existem diferentes raças, culturas, credos e conceitos do Criador. Mas atribuir um valor sinistro a essas diferenças é usá-las para dividir, em vez de reunir e, em seguida, para ostracizar, assim criando uma separação. Levada ao extremo, esta separação progride da desconfiança para a suspeita, conduzindo ao desprezo e ao ódio, e, em última análise, ao extermínio ou limpeza étnica. Esta desunião é fruto do livre arbítrio da humanidade e não reflecte as intenções do Criador. Esta divisão, desunião e separação constituem a verdadeira historia de Adão e Eva e da queda do Homem. Porque é na desunião e separação humanas que reside a separação do Todo-Poderoso."

"Reviste na tua Iniciação na Loja Celestial tudo que fizeste na tua vida humana na Terra. Reviveste as alturas em que permitiste que os teus medos dos outros e das suas diferenças te separaram deles. E reviveste as alturas em que não teres ligado a essas diferenças te pôs em harmonia com os demais."

"Diz-se que a humanidade foi criada à imagem de Deus. Mas eu digo-te que cada homem é uma parte de Deus e possui uma pequena partícula do Altíssimo dentro dele. Que a partícula cresça e se torne uma parte cada vez maior de um ser humano, depende das escolhas que cada um faz na sua viagem pela vida. O objectivo dessa viagem é alimentar e nutrir a sua alma numa missão terrena, para a qual Deus lhe deu as ferramentas para a realizar. Ao fazê-lo, possibilita-se que o Todo Poderoso Criador, o Mestre do Céu e da Terra, se experimente a si próprio. Viver a "vida piedosa" é a capacidade de subir acima do que procura dividir e criar o caos."

"É agora tempo, meu irmão, de tu te empenhares na crença de que todos somos UM. Não há OUTROS. Quando alguém se afasta ou repudia quem vê como outro, apenas se separa de si mesmo e de onde veio e para quem um dia vai voltar. Quando alguém fere ou prejudica quem vê como outro, só fere ou prejudica a si próprio."

"A Pirâmide e Globos são o símbolo deste grau, meu irmão. Ensina que toda a vida, os seus altos e baixos, as suas alegrias e tristezas, os seus amores e medos, é uma experiência santa e sagrada. Possibilita que visualizes o conceito de que a vida é sem fim e continua a mover-se, começando onde terminou e terminando onde começou. Vai e volta, em redor e sobre e sempre "na unidade do Espírito Santo." SOMOS TODOS UM. Não há nenhuma parte de nós que esteja separada ou fora da Pirâmide e Globos. Somos todos pedaços do mesmo bolo. Deus está em nós e nós estamos em Deus. SOMOS TODOS UM! Agora, vai em paz e harmonia e alegra-te com este conhecimento."

Texto da autoria do Irmão Frederic L. Miliken, originalmente publicado no excelente sítio maçónico Freemason Information, colocado em BEE HIVE, e, com a devida autorização do seu autor, traduzido e aqui publicado por

Rui Bandeira

16 março 2009

Tive um sonho

Tive um sonho há não muito tempo. E nesse sonho eu tinha passado para a Loja Celestial e encontrava-me mesmo junto ao Portão das Pérolas. Não era S. Pedro quem me aguardava, mas antes um Peregrino de bordão e lanterna, vestido com um manto ou túnica larga, com o capuz puxado por cima da cabeça. Estava tão dobrado que mal se viam os seus olhos ou o movimento dos seus lábios.

"Eis um Viajante", disse ele com uma voz rouca.

"Sim, sou e acho que fiz uma longa viagem", retorqui.

"Podes prová-lo?", perguntou o Peregrino.

"Tenho a certeza que posso provar, sem margem para dúvidas de ninguém, que sou um Mestre Maçon", respondi.

"Está bem. Segue-me."

"Para onde vamos?"

“Para a Loja Celestial.”

"A Loja Celestial no além, que bom".

"Não, só Loja Celestial; no além já nós estamos."

Para iniciarmos o caminho, tentei dar um passo largo, mas permaneci no mesmo sítio. O Peregrino disse: "Aqui, o caminho faz-se em pensamento. Basta que te visualizes a seguir-me."

Assim fazendo, movimentei-me sem qualquer esforço, como se estivesse sobre uma passadeira rolante no aeroporto.

Chegámos ao nosso destino num abrir e fechar de olhos. Diante de nós, estavam o que parecia serem nuvens vermelhas, azuis e púrpura, nas quais brilhavam, num azul marinho iridiscente, quais salpicos brilhantes, o Esquadro e o Compasso. "É este o aspeto das luzes de néon no Paraíso?", pensei.

"É lindo", disse eu, "mas onde está a letra G?"

"Aqui não usamos a letra Gi", respondeu o Peregrino. "O que a letra G simboliza está presente no Oriente. Não é preciso o símbolo do Criador quando o Criador está presente. O Eu Sou Quem Sou é Quem Ele É."

"Ena! Bill Clinton ganharia o dia com esta frase", pensei.

Quando nos aproximávamos, uma voz estentória inquiriu, "Quem vem lá?"

"Um Viajante que atravessou o Portão das Pérolas," respondeu o Peregrino.

"Ele tem passe?" Perguntou a voz forte.

"Não tem. Respondo eu por ele."

"Ele aguardará até que o Todo-Poderoso seja informado da sua presença e a Sua resposta seja recebida."

Dentro de pouco tempo, uma mulher com um vestido cor de lavanda onde brilhavam lantejoulas brancas em forma de estrelas, surgiu de entre a massa de nuvens e disse, "Entra pela porta externa para a antecâmara".

Lancei um olhar inquiridor ao Peregrino.

Lendo os meus pensamentos, ele rapidamente respondeu, "Aqui nós aplicamos integralmente a lição do Nível."

As nuvens dissiparam-se e eu interroguei-me se seria Moisés quem estava do outro lado da porta. Enquanto atrás de nós as nuvens se fechavam novamente, entrámos na antecâmara. Um homem aguardava-me e, antes que eu pudesse falar, disse-me, "Não, eu não sou Moisés, sou Hiram Abiff, e sou o Mestre de Cerimónias que te vai conduzir ao longo do teu próximo grau."

"Tenho outro grau para receber?", perguntei timidamente.

"Sim, meu irmão, mas primeiro temos de proceder a alguns preliminares, transmitir algumas informações, e então estarás prepararado."

O Irmão Abiff solicitou e recebeu todos os passos, sinais, palavras e toques dos graus terrenos através do pensamento. Seguidamente, disse, "devo perguntar-te se vais prosseguir de tua livre vontade e acordo."

“Tenho escolha? “, perguntei.

"Oh sim, podemos mandar-te de volta."

"Mandar-me de volta, PARA ONDE?"

"Para onde vieste. Mas haverá uma condição."

"E qual é ela?"

"Não vais voltar a ser quem eras lá. Vais começar tudo de novo, como outra pessoa."

"Então, quem vou eu ser?"

"Não está predeterminado, mas, como se diz na Terra, é uma lotaria. Podes voltar como uma nova pessoa na China, ou na Índia, ou na Alemanha, ou em Cuba, ou no Uganda ou em qualquer lugar."

"E o que é que eu vou fazer lá?"

"Aquilo que escolheres fazer. Bem vês, com o livre arbítrio tens sempre uma escolha. Más escolhas, no entanto, geralmente geram maus resultados."

"Acho que gostaria de continuar aqui."

"Muito bem, então assim será."

Fiz uma boa escolha?"

"Não me compete a mim dizê-lo. O lixo de um homem é o tesouro de outro, como diz o ditado. Como provavelmente terás notado, o teu corpo, bem como o nosso, é apenas uma ilusão. A melhor descrição do que és, neste momento, é pura energia. Como tal, em vez de seres desnudado ou vendado, será diminuída a tua energia, de modo que poderás ouvir, mas não ver ".

"É este então o 34 º grau?"

” "Não", respondeu o Irmão Abiff. "Este é o último grau. Agora, segue quem te guia e não temas nenhum perigo."


Texto da autoria do Irmão Frederic L. Milliken,
originalmente publicado no excelente sítio maçónico Freemason Information, colocado em BEE HIVE, e, com a devida autorização do seu autor, traduzido e aqui publicado por

Rui Bandeira

01 junho 2007

A Santificação do Homem

O post de hoje, para desanuviar, é sobre um tema um pouco diferente da maçonaria , ou talvez não.

Reproduzo aqui uma comunicação que apresentei há umas semanas atrás no coloquio:
" Turres Veteras X - a Historia do Sagrado e do Profano"

O Texto foi escrito para ser lido e por isso perdoarão alguma incorrecção. As citações são extridas do Livro " Torá" editado recentemente pela editora Sefer do Brasil e consequentemente estão escritas em português do lado de lá.


A Santificação do Homem


Quando me foi lançado este desafio, de vir aqui falar sobre o Sagrado e o Profano do ponto de vista do judaísmo, aceitei sem saber bem o que iria dizer sobre o tema.

É importante lembrar que não sou Rabino nem estudioso de matérias religiosas pelo que corro o sério risco de vos apresentar algo que fique muito aquém das expectativas, mas é a minha visão do assunto.

O judaísmo enquanto religião e forma de vida visa sempre a santificação do homem numa perspectiva de o tornar mais próximo de Deus.

A religião judaica prescreve mandamentos e regras que se integralmente cumpridas representarão o respeito máximo por Deus e pela sua Santidade, e que não cumpridas farão do homem um profano que ao contrario do seu irmão cumpridor, no dia do julgamento poderá ser considerado como indigno de se manter vivo.

Todavia o homem está sempre a tempo de se arrepender e retornar ao caminho da santidade com isso glorificar Deus. Este arrependimento, que pode surgir a qualquer altura, está muito associado com o dia do Kipur. Dia de penitencia e arrependimento e também o dia em que cada judeu se apresenta perante Deus e lhe apresenta contas do que fez, esperando que o seu nome seja inscrito por Deus no Livro da Vida e que o seu arrependimento seja aceite.

Neste sentido e de forma a realçar a importância do percurso do homem, de cada homem, no sentido a elevação espiritual decidi ir buscar exactamente os trechos da Torá que explicam e regulamentam o dia de Kipur e de lá extrair o que me pareceu fundamental para ilustrar a perspectiva judaica sobre o sagrado e o profano, do ponto de vista do homem.

Uma breve explicação prévia, a Torá é composta por 5 livros (Bereshit – Génesis, Shemot – Êxodo, Vaycrá -Levitico, Bamidbar – Números e Devarim – Deutronomio) e constitui a lei fundamental do judaísmo, a lei dada por Deus a Moisés no deserto. Nestes livros poderemos encontrar desde a criação do Mundo aos preceitos alimentares e regulamentos familiares. Estes livros são lidos em capítulos semanais de maneira a que num período de um ano todos os livros tenham sido integralmente lidos e se recomece.

Estes são os livros de base do que se convencionou chamar de Bíblia.

Para ilustrar o tema de hoje escolhi algumas passagens e respectivos comentários, que penso poderão ajudar a explicar o que o judaísmo pensa e preconiza. Estas passagens estão incluídas no capítulo que regula o Dia de Kipur.


“... E tomarás os dois cabritos e os farás ficar diante do Eterno à porta da tenda da reunião. E lançará Aarão sobre os dois cabritos, sortes, uma para o Eterno e outra para Azazel. E aproximará Aarão o cabrito sobre o qual caiu a sorte para o Eterno e o oferecerá como oferta de pecado. E o cabrito sobre o qual caiu a sorte para Azazel colocar-se-á vivo diante do Eterno, para expiar por meio dele, para envia-lo para Azazel no deserto.


E colocará Aarão suas duas mãos sobre a cabeça do cabrito vivo, e manifestará sobre ele todas as iniquidades dos filhos de Israel, todos os seu delitos e todos os seus pecados, e os porá sobre a cabeça do cabrito e o enviará, por mão de um homem designado para isso para o deserto. E levará o cabrito todas as iniquidades à terra desabitada e deixará o cabrito ir pelo deserto… “

Vaikrá (Levitico) 16: 7 a 10 e 21 a 22

Sobre este trecho da Torá o Rabino Mendel Diesendruck, que na década de 50 do sec. XX foi Rabino em Lisboa escreve o seguinte:


“ Sortes: os nossos exegetas interpretam esta cerimónia de sortear os cabritos como indicação simbólica para os dois diferentes elementos humanos e a sua maneira distinta de encarar os problemas da vida. Um encarna com o seu estilo de viver e pela pureza das suas acções e pensamentos aquela máxima gravada em muitas sinagogas com letras douradas por cima da Arca Sagrada, Shiviti Hashem Lenegdi Tamid (Tenho o Eterno sempre à minha presença), ou seja tudo o que eu faço e pretendo fazer é orientado e guiado por uma única motivação: Viver sempre dentro das prescrições da Torá, amar a Deus, o meu povo e a humanidade inteira; e para concretizar este meu ideal sublime não receio qualquer sacrifício.

Este elemento humano que representa pela nobreza do seu carácter a perfeição da criação Divina é o símbolo de “ para o Eterno” .

Mas existe também um elemento radicalmente oposto. É aquele ser humano cuja vida é claramente profana, cujos interesses nesta vida são de um materialismo vil, uma abjecção grosseira; o tipo de ser humano cujo maior ideal é o seu próprio ego, para o qual o meio ambiente não existe, porque ele é incapaz de dar algo de si.

Este tipo de homem vive na auto ilusão de ser um elemento útil à sociedade mas quem for capaz de deitar um olho para dentro da sua alma vazia e pobre, verificará facilmente que ele, coitadinho, não é mais que um bode isolado num deserto. Pois nós todos sabemos muito bem que existem não apenas desertos geográficos, mas também – e o que é mais lamentável – desertos espirituais, intelectuais, assim como existem climas que não dependem somente das condições atmosféricas, mas sim do calor das nossas almas e dos sentimentos de nossos corações. Este segundo elemento também não se importa em fazer toda a espécie de sacrifícios para alcançar o seu fim, mas é o fim próprio que distingue estes dois carácteres.

Enquanto para o primeiro o alvo é “ para o Eterno “ , a meta do segundo é orientada “ para Azazel “.
A cerimónia de sortear os bodes, oficiada no dia mais sagrado e pelo homem mais sagrado (o sumo-sacerdote) é talvez a mais bela e mais significativa demonstração de que o acaso pode ser um factor decisivo quando se trata de carneiros inocentes, mas nunca em relação ao homem responsável pelos seus actos. “

Mais à frente pode ler-se na Torá:

“… E falou o Eterno a Moisés dizendo: “ Fala a toda a congregação dos filhos de Israel, e lhes dirás: Santos sereis, pois santo sou EU o Eterno vosso Deus….” …”
Vaikrá (Levitico) 19: 1 e 2


A este propósito o Rabino Mendel Diesendruck escreveu o seguinte:

“Santos Sereis: Segundo Rashi (comentador mais importante da Torá) isto significa – “ afastai-vos de toda a espécie de imoralidade e da transgressão” – “

O Rabino Diesendruck retoma escrevendo:

“ O Judaísmo não conhece nenhum outro “santo” além de Deus. Em que consiste então a substancialidade de Deus? No “ser diferente”, no “ser fora” de toda a natureza e por isso na liberdade. A opinião que Deus Sive Natura é uma flagrante negação da doutrina básica do judaísmo. Fora da natureza é o reino da liberdade. “Santo” significa livre no grau mais transcendental. O homem nunca é fora da natureza; para o ser o humano só pode prevalecer sempre a “aspiração à santidade “, aspiração cujo objectivo é livrar suas acções de tudo o que é terrestre, material, fútil, mesquinho e profano, uma aspiração a que os seus sentimentos e desejos sejam determinados o máximo possível pela sua consciência divino-espiritual…”

O comentário é concluído com a seguinte afirmação:

“ Ser criado à imagem de Deus não é um facto consumado, mas sim uma elevada missão, uma potencialidade em constante desenvolvimento. “

Na mesma edição da Torá que utilizei e a propósito da mesma passagem os editores juntam o seguinte comentário:

“ Santos sereis: O homem não precisa de executar nenhum acto fora do comum ou feito extraordinário para ser santo. Em todas as esferas da vida o “fazer” e o “não fazer” de cada indivíduo é que o tornam santo. A singularidade do povo de Israel está no facto de que a vida e a santidade não são dois domínios separados. Quem deseja ser santo não precisa de se afastar da natureza, da vida, retirar-se da sociedade para ir viver no deserto, fechar-se asceticamente dentro de muros ou ir viver isolado para a floresta. Todos nós podemos ser “ um reino de sacerdotes e um povo santo” (Êxodo 19:6), e isso não se dará pelo afastamento ou renúncia da vida, mas sim através da santificação da vida, de acordo com o conselho: “ Reconhece-O em todos os teus caminhos” (Provérbios 3:6).”

Como podemos perceber destes comentários e do que atrás foi dito, no judaísmo é dado um especial enfoque ao homem como o decisor da santidade.

O Judaísmo preconiza valores e preceitos que permitem, se seguidos, ao homem tornar-se mais puro e mais santo, pois aproximam-no de Deus.

O homem tem a capacidade de progredir no caminho da sacralização por acção do seu livre arbítrio e vontade, cumprindo os mandamentos e preceitos e assim aproximando-se do seu Criador, à imagem do qual foi feito.

Este tema é no fundo uma das bases da sacralização pois podemos interpretar que o ter sido feito à imagem e semelhança quer dizer que lhe foi concedido raciocínio e poder de decisão.

Consequentemente o homem, ao contrário dos animais que agem por instinto, pode separar o bem do mal e pode escolher ser mais “santo” fazendo sobressair a centelha Divina que lhe foi incutida, ou por outro lado decidir uma vida mais profana.

É todavia importante perceber e diferenciar esta santificação do homem na religião judaica, da santificação / beatificação na religião Cristã. No judaísmo a Santificação é interior e exclusiva de quem segue o caminho dos mandamentos e será apenas reconhecida por Deus. Não existirá em caso algum a veneração de um homem por parte de outros homens.

Concluo com uma incerteza e uma certeza. A incerteza de vos ter trazido algo de utilidade, a certeza de ter aprendido com este trabalho e desta forma ter progredido um ínfimo passo no meu melhoramento.

Todavia se porventura a minha incerteza se tornar certeza então tenho que agradecer-vos pela oportunidade que me deram de dar mais um pequeno passo, neste caminho que todos deveremos levar no sentido da santidade.

Apenas com o trabalho interior de cada um independentemente da religião que seguimos poderemos de forma afirmativa progredir. A nossa progressão individual terá seguramente como consequência a progressão dos nossos semelhantes em direcção a um futuro que esperamos melhor.


José Ruah