Mostrar mensagens com a etiqueta alegoria. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta alegoria. Mostrar todas as mensagens

31 outubro 2008

Pontuação

Hoje trago-vos duas variantes do tema "diferentes pontos de vista". O primeiro reconheço-o como ajustado. Sendo advogado, há muitos anos que estou habituado a que, nos pleitos judiciais existam, pelo menos, três verdades - e, infelizmente mais vezes do que seria desejável, quatro. O segundo é um trocadilho com alguma piada e que serve para bem ilustrar a moral tirada. Obtive ambos através de uma mensagem de correio eletrónico recebida do Brasil.

Um professor de Direito dizia o seguinte:

Todos os processos têm quatro verdades.

1 - A verdade do seu cliente, que você irá defender.

2 - A verdade da outra parte, que o outro advogado irá defender.

3 - A verdade do juiz, que a terá com base no que os advogados conseguiram convencê-lo, e perpetuará (sentença).

4 - A verdade verdadeira, o que realmente aconteceu de facto !!!!!!!

Resultado:

A verdade está em acreditar naquilo que julgamos ser verdade, e cada indivíduo tem a sua, com base no seu caráter, educação e meio no qual vive. Pontue a sua vida!

E agora a segunda historieta:

Um homem rico estava muito mal, agonizando. Pediu papel e caneta. Escreveu assim:

'Deixo os meus bens à minha irmã não a meu sobrinho jamais será paga a conta do padeiro nada dou aos pobres.'

Morreu antes de fazer a pontuação. A quem deixou a fortuna?

Eram quatro concorrentes.

1) O sobrinho fez a seguinte pontuação:

Deixo os meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho. Jamais será paga a conta do padeiro. Nada dou aos pobres.

2) A irmã chegou em seguida. Pontuou assim o escrito:

Deixo os meus bens à minha irmã. Não a meu sobrinho. Jamais será paga a conta do padeiro. Nada dou aos pobres.

3) O padeiro pediu cópia do original. Puxou a brasa para a sardinha dele:

Deixo os meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga a conta do padeiro. Nada dou aos pobres.

4) Aí, chegaram os descamisados da cidade. Um deles, sabido, fez esta interpretação:

Deixo os meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga a conta do padeiro? Nada! Dou aos pobres.

Moral da história:

Assim é a vida. Pode ser interpretada e vivida de diversas maneiras. Nós é que colocamos os pontos. E isso faz toda a diferença. Pontue
corretamente sua vida, para não dar margem a erros de interpretação.


Quantos mal-entendidos proporcionamos por termos descurado pontuar devidamente as nossas ideias? E, no entanto, somos nós que somos responsáveis por deixar claro o que pensamos! Se os outros interpretarem mal o que dissemos, o erro foi nosso, não deles. Cabe-nos a nós garantir que as nossas intenções são bem percebidas.

Quando chegamos a um novo local, quando nos integramos num novo grupo, devemos ter em consideração a forma como esse grupo comunica entre si, o significado que atribui a expressões e comportamentos. Nem sempre é o mesmo a que estamos habituados. Nem sempre é fácil discernir. E somos nós que temos de nos adaptar ao ambiente, não é este que se adapta a nós...

Por isso, assisada é a postura da Maçonaria quando exige que os novos que entram na Loja e na Obediência sigam um período alargado de silêncio. Para que observem, além do mais, a forma e os códigos de comunicação praticados pelo grupo. para que tenham tempo de os identificar e saibam utilizá-los. Para que, quando falarem, não haja erros (ou haja o mínimo possível de erros) na interpretação do que se quis dizer e do que se pensa e é.

É certo que só em reunião formal vigora esta regra do silêncio. Mas avisado andará o neófito se também fora de reunião se resguardar, se ouvir mais do que falar, se corresponder mais do que sugerir. Terá tempo de se adaptar e não correrá o risco de ser mal interpretado, de a sua postura ou as suas ações serem tidas pelo que não são. A ânsia de se mostrar útil é compreensível, mas pode ser mal interpretada, como desejo de se destacar, de reconhecimento. E isso pode conduzir a mal-entendidos que dificultem o pretendido: uma boa integração. Afinal de contas, dar tempo ao tempo é essencial para que o recém-chegado conheça o grupo, mas também para que o grupo conheça o recém-chegado. E atrás de tempo, tempo vem...

Por outro lado, quando já estamos num grupo e acolhemos um novo elemento, devemos redobrar a nossa tolerância e evitar primeiros juízos, baseados em impressões que podem ser enganadoras. Os códigos de conduta a que estamos habituados ainda não foram apreendidos pelo recém-chegado. A vontade deste de se integrar bem e depressa pode dar-nos falsa impressão de gosto por protagonismo, afinal inexistente. Somos nós , os que acolhemos, quem tem de evitar juízos precipitados. e, no fundo, os responsáveis pela harmoniosa integração do recém-chegado. Se essa falhar, não foi ele quem falhou, fomos nós!

Portanto, pontuemos sempre a nossa vida, as nossas ações e as nossas palavras para não sermos mal interpretados. E tenhamos cautela na apreciação das palavras e ações dos outros, particularmente daqueles que ainda não conhecemos bem, para evitar interpretá-las mal e cometer injustiças.

Rui Bandeira

24 outubro 2008

As nove respostas do sábio

Recebi há tempos uma mensagem de correio eletrónico com uma apresentação dedicada ao filósofo grego Tales de Mileto e à sua sabedoria. Não sei se a situação descrita existiu ou se se trata de uma situação imaginada e que a sabedoria atribuída a Tales de Mileto é afinal devida a desconhecido autor da história... Seja como for, seja real ou putativa a sabedoria atribuída a Tales, não deixa de ser sabedoria. E bem avisado anda aquele que lhe der atenção! Como de costume, o texto abaixo publicado foi editado por mim, tendo-lhe sido introduzidas alterações que tive por adequadas.

Tales de Mileto foi um filósofo grego, fundador da Escola Jónica, considerado como um dos 7 sábios da Grécia Antiga.

Matemático, astrónomo e um grande pensador, Tales de Mileto viajou para o Egito, onde realizou estudos e entrou em contato com os mistérios da religião egípcia. Ali realizou uma façanha incrível, para a época: o seu talento matemático era tão pouco comum, que conseguiu estabelecer com precisão a altura das pirâmides, apenas medindo a sombra que projetavam. Terá sido o primeiro a dar una explicação lógica,para a ocorrência dos eclipses. Aliás, é-lhe atribuída a previsão de um eclipse do Sol, no ano de 585 A.C.. Foi o primeiro a sustentar que a Lua brilhava pelo reflexo do Sol e determinou o número exato de dias de um ano. Destacou-se principalmente pelos seus trabalhos em filosofia e matemática. Nesta última ciência, são-lhe atribuídas as primeiras demonstrações de teoremas geométricos, mediante o raciocínio lógico. Foi por estes trabalhos que foi considerado o pai da Geometria.

Para provar que o seu conhecimento tinha utilidade prática, afirmou que num determinado ano, a colheita de azeitonas seria excecional e arrendou a maioria das refinarias de azeite de Mileto. Com esta manobra ganhou uma boa quantia, somente com o propósito de fazer calar os que diziam que a filosofia era um capricho dos ociosos.

Eis então a história.

Um sofista aproximou-se de Tales de Mileto e tentou confundi-lo com as perguntas mais difíceis de que foi capaz. Mas o sábio de Mileto estava a altura da prova, porque respondeu a todas as perguntas sem a menor vacilação, e com a maior exatidão.

1 – O que é mais antigo?

R.– DEUS, porque sempre existiu.

2 – O que é mais belo?

R.– O UNIVERSO, porque é a obra de Deus.

3 – Qual é a maior de todas as coisas?

R.– O ESPAÇO, porque contém tudo do Criador.

4 – O que é mais constante?

R.– A ESPERANÇA, porque permanece no homem, mesmo depois de ter perdido tudo.

5 – Qual é a melhor de todas as coisas?

R.– A VIRTUDE, porque sem ela não existiria nada de bom.

6 – Qual é a coisa mais rápida de todas?

R.– O PENSAMENTO, porque em menos de um minuto, nos permite voar até aos confins do Universo.

7 – Qual é a mais forte de todas as coisas?

R.– A NECESSIDADE, porque é com ela que o homem enfrenta todos os perigos da vida.

8 – O que é o mais fácil de tudo?

R.– Dar CONSELHOS.

Quando chegou a nona pergunta, este sábio deu uma resposta quiçá não entendida por seu mundano interlocutor. A pergunta foi esta:

9 – O que é o mais difícil ?

E o Sábio de Mileto replicou:

Conhecer-se a si mesmo.

Qualquer destas resposta é tão válida e tão sábia hoje como no tempo de Tales de Mileto. E, mesmo sendo a tarefa mais difícil, bem avisado anda aquele que procura, antes e acima de tudo, conhecer-se a si mesmo...

Rui Bandeira

17 outubro 2008

A ajuda

Dizem que uma imagem vale por mil palavras.

E um encadeado de imagens e de sons num filme, por quantas palavras vale?

Hoje não vos trago um texto como base de reflexão. Hoje trago-vos um filme.

A situação é a seguinte:

Uma menina de 13 anos ganhou um prémio e foi cantar o hino nacional dos Estados Unidos nu jogo da NBA, liga de basquetebol profissional daquele país. Vinte mil pessoas no pavilhão, ela afinadinha. Então o braço tremeu, ela engasga-se e esquece-se da letra...Una branca !!!


Treze anos. Sozinha, ali no meio... O público, estupefacto, ameaça uma vaia. De repente, Mo Cheeks, técnico dos Portland Trail Blazers, aparece ao seu lado e começa a cantar, incentivando-a a ela e ao público. E a menina recupera e reganha confiança e acaba de cantar o hino, com força e vigor. E o público, que esteve a ponto de vaiar, acompanhou e aplaudiu. Bonita cena! Mas só porque alguém soube intervir acertadamente na hora adequada! Só porque alguém foi solidário e agiu, em vez de ficar apenas a ver!


Note-se: só o técnico é que tomou a iniciativa de ajudar, enquanto os demais só observavam estupefactos...

Ele demonstrou o que é ser verdadeiramente líder. Mostrou como uma atitude de liderança e solidariedade, no momento exato, pode fazer a diferença para ajudar um ser humano e mudar a história do jogo da vida.

E, assim, para mim mostrou que também sabe intervir quando necessário para ajudar os seus jogadores a mudar o rumo de um jogo. Se eu fosse dirigente de um clube de basquetebol, este era o técnico que eu procuraria contratar para a minha equipa. Não basta saber de técnicas e de táticas. Saber ser líder, saber ser solidário, saber atuar na hora certa, no momento exato, são as qualidades que muitas vezes fazem a diferença.

Espero que os Portland Trail Blazers tenham ganho este jogo! Ganharam, pelo menos, mais um adepto!

E nós? Estamos no mundo para ajudar ou para vaiar? Para assistir passiva e placidamente à queda dos outros, ou para intervir e ajudar quem precisa de ajuda, no momento em que ela é necessária?

Pensem nisso enquanto veem o filme!



Rui Bandeira

10 outubro 2008

O estropiado

Quem costuma visitar este blogue já se apercebeu que, em muitas sextas-feiras, aqui publico pequenas histórias que são pretextos ou pontos de partida para alguma reflexão. São historietas que seleciono de entre as muitas coisas que recebo por correio eletrónico, normalmente de autoria desconhecida e que eu reescrevo à minha maneira. A de hoje é um pouco diferente. Porventura a primeira reação que provocará em quem a ler será de alguma perturbação. Mas convido à leitura da história e depois se verá que caminhos de reflexão ela nos abre.

Esta é a história de um soldado que, finalmente voltava para casa, depois de ter lutado na guerra. Os pais, em sua casa, receberam dele um telefonema:


- Mãe, pai, vou voltar para casa, mas antes quero pedir-lhes um favor. Tenho um amigo que eu gostaria de levar comigo.


- Claro. Nós adoraríamos conhecê-lo também! - responderam os pais.


O filho, porém, continuou:


- Há algo que precisam de saber antes. O meu amigo foi terrivelmente ferido em combate. Pisou uma mina e perdeu um braço e uma perna. O pior é que ele não tem nenhum outro sítio para onde ir.


- Credo!!! Que tragédia, filho! Talvez possamos ajudá-lo a encontrar algum sítio para viver!


- Não, mãe, eu quero que ele possa viver connosco na nossa casa!


- Filho, não vês o que nos estás a pedir? Não tens a noção da gravidade do problema? - interrompeu o pai.


A mãe, concordando com o marido, reforçou:


- Alguém com tantas dificuldades seria um fardo para nós. Temos as nossas próprias vidas e não queremos que uma situação dessas interfira no nosso modo de viver. Acho que deves voltar para casa e esquecer esse rapaz. Ele encontrará uma maneira de viver por si mesmo!


Nesse momento, o filho desligou abruptamente o telefone e nunca mais os pais ouviram uma palavra dele.


Alguns dias depois, os pais receberam um telefonema da polícia, informando que o filho tinha morrido de uma queda de um prédio. A polícia acreditava em suicídio.

Os pais, angustiados, deslocaram-se à cidade onde o filho se encontrava e foram conduzidos à morgue para identificar o corpo. Reconheceram o seu filho e, para o seu terror e espanto, descobriram algo que desconheciam:

“O FILHO DELES TINHA APENAS UM BRAÇO E UMA PERNA!”


Este é o tipo de situação que não é fácil de analisar nem evidente tirar lição. Os pais amavam o seu filho. Não tinham qualquer ligação com o desconhecido amigo que ele mencionava. Recebê-lo-iam de bom grado... se ele fosse "normal". Mas a perspetiva de ter indefinidamente a viver com eles um estropiado não lhes era agradável. Se fosse o filho quem estivesse nessa situação, não hesitariam em acolhê-lo e prestar-lhe todo o auxílio e assistência que necessitasse e de que fossem capazes. Mas não estavam dispostos a perturbar a sua vida por causa de um estranho e da sua infelicidade. Ele haveria de resolver o problema. Ou o Estado... Ou alguém...


Podemos, em bom rigor, criticar a reação dos pais? Podemos atirar a primeira pedra? Porventura não teríamos nós idêntica reação? Não damos nós absoluta prioridade à nossa família e só na medida em que esta não seja afetada estamos dispostos a auxiliar outrem?


Por seu turno, o filho, estropiado, temendo ser um fardo insuportável para os seus pais, quis testar a reação que teriam perante a perspetiva de verem a sua vida altamente perturbada com a presença de alguém tão incapacitado e a necessidade de o auxiliar. E a confirmação da sua suspeita de que o fardo que ele iria constituir seria demasiado penoso para os seus pais levou-o ao desespero.


Agiram mal os pais? Mas não agiríamos nós também assim? Não diferenciaríamos o nosso filho de um estranho? Não estaríamos nós dispostos a fazer sacrifícios pelo nosso filho que não faríamos por um estranho?


Agiu mal o filho? Mas não agiu ele por amor a seus pais, querendo certificar-se de que não seria um insustentável sacrifício para eles lidar com um filho estropiado?


Em bom rigor, há que reconhecê-lo, quer uns, quer o outro agiram de forma natural. No entanto, o resultado foi trágico!


A lição a extrair - digo eu! - é que não basta agir de forma natural, socialmente aceite. Pessoas de bem devem elevar os padrões de exigência perante as suas próprias escolhas e ações. Porque as escolhas naturais, as que a maior parte das pessoas faria, por vezes não chegam. Se pretendemos ter um elevado sentido ético, temos de entender que a equivalente responsabilidade pelas nossas escolhas também aumenta. Não basta ser normal. Devemos procurar ser melhores do que o normal. Porque só assim podemos tornar a normalidade melhor!


Os pais agiram de uma forma que achamos normal. Mas não agiram bem. É natural que o seu amor pelo filho se sobreponha à indiferença perante um estranho. Mas... deveriam ter indiferença perante um estranho? Em especial, AQUELE putativo estranho? É claro que não podemos, ninguém pode, resolver todos os problemas de todos em todo o mundo! É claro que nos toca mais quem nos está mais próximo e nos preocupamos menos com quem desconhecemos. Mas o facto de ser manifestamente importante para o filho acolher o putativo amigo estropiado deveria alertá-los, sacudir-lhes a indiferença, predispô-los a analisar a melhor forma de ajudar quem era importante para o filho, sem prejudicar a sua família. Na história, era o filho o estropiado. Mas podia ser um amigo que tivesse assim ficado ao salvar o filho... E então haveria uma dívida de gratidão a a pagar...


O erro dos pais foi não prestar atenção ao filho, não dar importância ao que o filho sentia e pretendia, sem se questionarem sobre a razão que estaria subjacente a essa pretensão. O filho não era louco. Alguma razão deveria existir para que ele pretendesse impor um tão pesado fardo à sua família. Recusar liminarmente a possibilidade, sem sequer questionar o porquê, a motivação, foi a receita para o desastre. Os pais amavam o filho, mas não o respeitaram o suficiente para analisar COM ELE os seus motivos e o seu propósito. Se o tivessem feito, se tivessem tido o respeito suficiente pela individualidade do filho, não teriam rejeitado liminarmente a sua pretensão, mostrar-se-iam dispostos a receber, ainda que porventura numa base provisória, o putativo estropiado que tão importante era para o filho e procurariam descortinar as razões que estavam por trás do seu pedido. Se assim tivessem procedido, teriam podido VER essas razões e teriam evitado a tragédia!


Eis portanto uma importante lição que podemos tirar desta história: não basta amar os nossos filhos: temos que também os RESPEITAR. Respeitar o suficiente para não rejeitarmos liminarmente as suas escolhas, as suas pretensões, sem sequer curar de saber os motivos que subjazem a essas escolhas, a esses pedidos. Ter presente esta lição e efetivamente praticá-la pode porventura evitar uma tragédia ou simples consequências desagradáveis, em relação aos que mais amamos.


E uma segunda lição, mais genérica, será: não basta ser bom; há que ser melhor!


A Maçonaria alerta-nos constantemente para isso!


Rui Bandeira

03 outubro 2008

Valor


Trago-vos hoje mais uma história recebida por correio eletrónico, cuja autoria desconheço, como habitualmente escrita à minha maneira. Em época de dificuldade, de temor, de confusão, de insegurança, como a que vai sendo a presente, é importante que cada um de nós renove a confiança em si próprio e nas suas capacidades. Se é certo que o ambiente, a conjuntura, nos afetam, não é menos verdade que cada um de nós também afeta o ambiente e a conjuntura. A soma de muitos pessimismos e desânimos só pode dar desastre. O resultado da adição de muitas confianças, propósitos de trabalho e fé nas respetivas capacidades, pelo contrário, mais tarde ou mais cedo redundará em progresso e superação das dificuldades.

Um conferencista famoso começou um conferência, numa sala com 200 pessoas, exibindo na mão direita uma nota de cem euros. Perguntou:

- Qual de vós quer esta nota?

Na assistência, todos ergueram a mão.


Então o conferencista disse:


- Tenciono dar esta nota a um de vós esta noite, mas, primeiro, deixem-me fazer isto...


Então, ele amarrotou totalmente a nota.

Seguidamente, perguntou outra vez:


- Quem ainda quer esta nota?


Todos os assistentes ergueram de novo a mão.
O conferencista continuou:

- E se eu fizer isto...


Deixou cair a nota no chão e começou a pisá-la e esfregá-la.
Depois, pegou na nota, agora já imunda, além de amarrotada, e perguntou:

- E agora? Quem ainda vai querer esta nota de cem euros?

Todos voltaram a erguer as mãos.
Então, o conferencista voltou-se para a plateia e explicou o seguinte:

- Não importa o que eu tenha feito ao dinheiro. Vocês continuaram a querer esta nota, porque ela não perde o valor. Esta situação também acontece connosco... Muitas vezes, em nossas vidas, somos amarrotados, pisados e ficamos sentindo-nos sem importância. Mas não importa! Jamais perderemos o nosso valor. Sujos ou limpos, amarrotados ou inteiros, magros ou gordos, altos ou baixos, nada disso importa ! Nada disso altera a importância que temos! O valor das nossas vidas não é o que aparentamos ser, mas o que fizemos e sabemos!


Não importa a crise, não importa que nos atormentemos com os baixos, esquecidos dos altos que já vivemos. O nosso valor é intrínseco. Só temos que confiar nele e fazer o melhor que formos capazes o que temos que fazer. E o valor que efetivamente temos é reconhecido por quem dele beneficiou. Cada um de nós não será famoso no mundo, mas seguramente é lembrado e recordado por todos aqueles a quem tocou.

Leitor, agora faça este teste:

Quem são as dez pessoas mais ricas do mundo? (Tirando o tio Bill e talvez mais um ou dois, não é capaz de se lembrar, pois não?)

Quem foram as cinco últimas vencedoras dos concurso Miss Universo? (Pois é... Nem do nome de uma se consegue lembrar... E, no entanto, quando viu as fotografias de cada uma delas seguramente as achou memoráveis...)

Nomeie os dez últimos vencedores de qualquer um dos Prémios Nobel, à sua escolha. (Eu facilitei... Até deixei escolher o que mais lhe conviesse... Mas nem assim lá foi, pois não?)

Nomeie os dez últimos vencedores do Óscar de melhor ator ou melhor atriz. (Mesmo os mais cinéfilos, aposto que não conseguiram...).

Pois é... Bem vistas as coisas, ninguém se lembra verdadeira e duradouramente dos melhores de ontem. Os aplausos terminam! Os troféus ficam cheios de pó! Os vencedores são esquecidos!

Agora, caro leitor, faça o seguinte:

Recorde três professores que ajudaram na sua verdadeira formação. (Fácil, não é?)

Nomeie três amigos que já o ajudaram nos momentos difíceis. (Ridiculamente simples, não é?)

Pense em algumas pessoas que o fizeram sentir alguém especial. (Também é fácil - e agradável - lembrá-lo, pois não é?)

Nomeie cinco pessoas com quem passe o seu tempo. (A dificuldade é só nomear cinco...)

As pessoas que marcam a nossa vida não são as que têm as melhores credenciais, mais dinheiro ou os melhores prémios... São aquelas que se preocupam connosco, que cuidam de nós, aquelas que, de algum modo, estão ao nosso lado. Essas, por muito simples ou modestas que sejam, têm o seu valor. E, para nós, se bem pensarmos, valem mais do que os famosos e aclamados vencedores.

Que cada um preze o seu valor. Que dê o seu melhor. Gordo, magro, alto baixo, novo, velho, o valor que cada um tem é seu e ninguém lho tira. Haverá sempre alguém que o reconhece, porque o viu, porque dele beneficiou. Cada um de nós aspira a ver reconhecido o seu valor. Pois bem, é simples: use-o o melhor que puder em benefício de tantos quantos puder. Se assim fizer, mais reconhecerão esse valor. E o próprio dele não deve duvidar!

Crise? Qual crise? Só existem as crises que nós nos convencemos que existem... Façam o favor de aproveitar o vosso valor, de contribuir para a felicidade comum e... já agora... façam o favor de ser felizes!

Rui Bandeira

19 setembro 2008

O vento canta!


Esta historieta - que, como habitualmente, recebi por correio eletrónico e de que desconheço quem seja o autor - parece-me particularmente adequada para os dias que vão correndo. Anda tudo ansioso, preocupado, pessimista, ai que até um grande banco americano abriu falência, ui que o petróleo ora baixa, ora sobe outra vez, mas a gasolina e o gasóleo não baixam coisa que se veja (e, se baixarem, ei, cuidado com os gastos de combustível, olhem a poluição e o aquecimento global...). Enfim, por todo o lado, parece que toda a gente só vê perigos e não descortina possibilidades de mudanças positivas. Não é seguramente boa ideia ser um irrazoável otimista; mas também não se ganha nada em ser um embrutecido pessimista, esquecido que as crises servem para nos adaptarmos, abandonar o que está mal ou é ineficiente e passar a adotar o que melhor global e individualmente nos convém. Vamos então à história, que é pequena no tamanho, mas espero que grande na lição.

Certa vez uma fábrica de calçado desenvolveu um projeto de exportação de sapatos para a Índia. Enviou, então, dois dos seus melhores consultores a pontos diferentes desse país para realizarem as primeiras
observações do potencial daquele futuro mercado.

Depois de alguns dias de pesquisa, um dos consultores enviou o seguinte fax para a direção da fábrica:

"Cancelem o projeto de exportação de sapatos para a Índia. Aqui ninguém usa sapatos."


Sem saber desse fax, o segundo consultor enviou o seu com os seguintes dizeres:

Tripliquem o projeto da exportação de sapatos para a Índia.
Aqui ninguém usa sapatos... ainda."


MORAL DA HISTÓRIA:

A mesma situação era um tremendo obstáculo para um dos consultores e uma fantástica oportunidade para o outro. Da mesma forma, tudo na vida pode ser visto com enfoques e maneiras diferentes. A sabedoria popular traduz essa situação na seguinte frase:

OS TRISTES ACHAM QUE O VENTO GEME; OS ALEGRES ACHAM QUE O VENTO CANTA.


O mundo é como um espelho que devolve a cada pessoa o reflexo de seus próprios pensamentos.
A maneira como cada um encara a vida faz TODA a diferença.

Crise? Qual crise? Um mundo em fase de mudança, é o que é! Basta-nos estar atentos, navegar aproveitando o vento (e, quando preciso, saber também bolinar...) para chegarmos a bom porto, um pouco melhor do que aquele de onde partimos!

Rui Bandeira

12 setembro 2008

A verdade da alegoria


Sob o marcador genérico de "alegoria", tenho publicado algumas historietas que me enviam, geralmente de autor desconhecido, com que procuro ilustrar princípios de ordem moral. Todas as pequenas histórias que publiquei tive-as na conta disso mesmo, de histórias, ficções criadas com o propósito de ilustrar preceitos morais. Mas o José Ruah, que tem por hábito investigar a verdade e a mentira do que lê na Net, descobriu algo muito interessante: uma das historietas que publiquei não é, afinal, ficção! A situação nela contada ocorreu na realidade! Não exatamente como contada, de forma que embelezou a realidade ocorrida (quem conta um conto acrescenta um ponto... e este conto foi muito contado...), mas ocorreu! Ainda por cima, trata-se de uma das histórias de que mais gostei, com que procurei ilustrar uma das virtudes que mais aprecio, a gratidão, e que intitulei O copo de leite.

Essa informação foi obtida aqui, de onde traduzo algumas passagens:

Trata-se de uma história muito apreciada e muito divulgada. No seu cerne, é uma história verdadeira , mas tem sido tão fortemente exagerada que agora é apenas uma caricatura de si própria, tendo sido distorcida de inúmeras maneiras, para melhor contar a história de um médico que não aceitou o pagamento de honorários pelos seus serviços, de uma jovem que uma vez lhe deu um copo de leite.
O Dr. Howard Kelly (1858-1943) foi um médico distinto, que foi um dos quatro médicos fundadores da John Hopkins, a primeira universidade de investigação médica nos Estados Unidos, e indiscutivelmente um dos melhores hospitais do Mundo. Em 1895, criou nela o Departamento de Ginecologia e Obstetrícia. Ao longo de sua carreira, contribuiu para o avanço das ciências da ginecologia e da cirurgia, quer como professor, quer como médico.

De acordo com a biografia escrita por Audrey Davis, a história da fatura paga na totalidade pelo copo de leite é verdadeira: no decorrer de um passeio a pé pelos campos do Norte da Pensilvânia, Kelly parou numa pequena casa para pedir um copo de água. Uma jovem respondeu ao seu pedido e, em vez de água, trouxe-lhe um copo de leite fresco. Depois de uma curta e amigável conversa, ele prosseguiu o seu caminho. Alguns anos mais tarde, a mesma jovem e ele reencontraram-se por causa de uma operação a que ela foi submetida e em que ele a operou. Pouco antes de ela partir para casa, a sua fatura foi-lhe entregue, estando nela escrito: "Totalmente pago com um copo de leite."


No entanto, deve notar-se que, embora a história seja verdadeira, tem sido grandemente embelezada para torná-la mais tocante.
Kelly nunca foi um estudante pobre que resolveu mendigar uma refeição na próxima casa. Descendia de uma família relativamente rica e não teve que trabalhar para estudar e muito menos vender mercadorias porta a porta. Para além de a família lhe custear os estudos e o seu sustento, o jovem estudante recebia da sua família uma mesada de 5 dólares - uma quantia apreciável para a época. No seu 21.º aniversário, o futuro médico recebeu cheques de 100 dólares, dados pelo seu pai e por várias tias, o que seriam consideradas somas astronómicas naqueles dias (1879).
O futuro Dr. Kelly gostava de passear pelos campos agrícolas e matas da Pensilvânia. Tinha um gosto especial por efetuar grandes caminhadas. No dia referido na história do copo de leite, ele era apenas um caminhante sedento, que pediu um copo de água numa fazenda por onde passou.

A biografia de Kelly não contém nenhuma menção ao facto de a jovem do copo de leite estar criticamente doente ou de ter sido enviada para Baltimore por ser vítima de uma doença rara.
Com efeito, nada se diz do seu caso, que indicasse que era incomum, ou que sua vida estava de alguma forma em perigo. Com exceção para o facto de o Dr. Kelly ter escrito na fatura que a mesma estava paga com o copo de leite, o seu caso não teve nada de especial.

No que diz respeito à sua anulação da fatura,
Kelly cobrava honorários muito elevados pelo seu trabalho, mas fazia-o apenas relativamente a pacientes que podiam pagar, prestando gratuitamente cuidados médicos aos menos afortunados. Numa estimativa conservadora, em 75% dos seus casos, não recebeu pagamento pelos seus serviços. Além disso, durante anos, pagou o salário de uma enfermeira para visitar e prestar cuidados aos seus pacientes, que de outra forma não poderiam suportar os custos dos tratamentos, fornecendo-lhes, assim, tanto serviços médicos, como de enfermagem, sem encargos.


Portanto, em suma:

  • Howard Kelly não era um jovem estudante arruinado que vendia mercadorias porta a porta, na prossecução do seu sonho de um dia se tornar um médico e, por isso, não foi resgatado da fome por um fortuito copo de leite. Foi um caminhante sedento, que pediu água numa fazenda e, em vez dela, foi-lhe dado leite.
  • A jovem que lhe deu o leite mais tarde veio a ser sua doente, mas provavelmente não porque estava morrendo ou porque o seu estado era incomum.
  • O Dr. Kelly escreveu que a fatura estava paga, mas procedia de igual modo com três em cada quatro pacientes tratados por si.
Embelezada, a história é bonita. Mesmo despida dos pontos acrescentados ao conto, continua a sê-lo, talvez não tão incisivamente como exemplo de gratidão, mas seguramente como exemplo de um homem bom que, tendo o privilégio de uma vida confortável, procurou auxiliar os menos afortunados do que ele. A verdade da alegoria é, pelo menos, tão edificante como a lição que se pretendeu ilustrar com o que se pensava ser só ficção, sem suporte na verdade.

Rui Bandeira

25 julho 2008

O copo está meio cheio!

Hoje é dia habitualmente dedicado a uma alegoria e assim vou classificar este texto. Mas, ao contrário do que habitualmente faço, não vou aqui deixar uma qualquer história que sirva de pretexto para tirar uma lição. Hoje, vou-me servir de uma mensagem de correio electrónico que recebi há uns meses do JPSetúbal e que acho que contém directamente algumas chamadas de atenção particularmente oportunas para os tempos que vamos vivendo.

Anda tudo macambúzio, todos com perspectivas negras, é a crise dos combustíveis, a dos alimentos, tudo aumenta menos os nossos rendimentos, onde é que vamos parar, enfim, um desatino de preocupações, pessimismos, estados depressivos, típicos de quando os tempos vão difíceis. A crise também a mim me bate forte e feio. Mas aprendi que nada se ganha em nos deixarmos abater. Há que cerrar os dentes e seguir em frente. Melhores dias virão.

O problema quando o clima de pessimismo se instala é que parece que se instala uma espécie de epidemia que leva todos a só repararem no que vai mal, no que está difícil, e impele a olvidar os aspectos positivos de muitas coisas, até de algumas que consideramos más ou desagradáveis. É velha a imagem de o copo que o pessimista vê meio vazio ser aquele que o optimista vê meio cheio. Mas continua a ser acurada e, mesmo que porventura o optimista não saia mais depressa da crise, pelo menos vive-a melhor do que o pessimista...

Aprendamos, pois, a não ver só o lado mau das coisas, a descortinar também os seus aspectos favoráveis ou agradáveis, que muitas vezes nos passam despercebidos. Atentem então nestas frases, certeiras, que recolhi da tal mensagem de correio electrónico, e cujo autor desconheço:


O filho que muitas vezes não limpa o quarto e que está sempre a ver televisão SIGNIFICA QUE

ESTÁ EM CASA!


A desordem que temos de limpar depois de uma festa SIGNIFICA QUE

ESTIVEMOS RODEADOS DE FAMILIARES E AMIGOS!


As roupas que estão apertadas SIGNIFICAM QUE

TENHO MAIS DO QUE O SUFICIENTE PARA COMER!


O trabalho que tenho em limpar a casa SIGNIFICA QUE

TENHO UMA CASA!


As queixas que ouvimos acerca do Governo SIGNIFICAM QUE

TEMOS LIBERDADE DE EXPRESSÃO!


Não encontrar lugar para estacionar SIGNIFICA QUE

TENHO CARRO!



Os gritos das crianças SIGNIFICAM QUE

POSSO OUVIR!


O cansaço no fim do dia SIGNIFICA QUE

POSSO TRABALHAR!


O irritante despertador que me acorda todas as manhãs SIGNIFICA QUE

ESTOU VIVO!


Pensem nisto. E lembrem-se que o pessimismo não cria nada, não inventa nada, não avança nada. Reconheçamos que os tempos vão maus, mas tenhamos a certeza que vamos conseguir viver tempos melhores. E, sobretudo, não desanimemos e trabalhemos para isso!

Rui Bandeira

18 julho 2008

Como consertar o Mundo

Hoje é sexta-feira e, como vai sendo hábito, dia de alegoria no blogue.

Os tempos vão difíceis, as crises sucedem-se, parece que o Mundo está cada vez pior e não se vê solução à vista. O discurso pessimista instala-se. Isso é o pior que pode acontecer! As dificuldades superam-se com força e determinação e, para as ter, é necessário crer que é possível tal superação. Diz o Povo que Depois da tempestade vem a bonança, mensagem de esperança que devemos ter sempre presente nas ocasiões difíceis. É por isso que escolhi para hoje este texto, de autoria que desconheço, que recebi por correio electrónico e que nos ensina

Como consertar o Mundo

Um cientista, muito preocupado com os problemas do mundo, passava dias em seu laboratório, tentando encontrar meios de melhorá-los. Certo dia, seu filho de 7 anos invadiu o seu santuário, decidido a ajudá-lo.

O cientista, nervoso pela interrupção, tentou fazer o filho brincar em outro lugar. Vendo que seria impossível removê-lo, procurou algo que pudesse distrair a criança. De repente deparou-se com o mapa do mundo.


Estava ali o que procurava. Recortou o mapa em vários pedaços e, junto com um rolo de fita adesiva, entregou ao filho dizendo: - Você gosta de quebra-cabeça? Então vou lhe dar o mundo para consertar. Aqui está ele todo quebrado. Veja se consegue consertá-lo bem direitinho! Mas faça tudo sozinho!


Pelos seus cálculos, a criança levaria dias para recompor o mapa. Passados alguns minutos, ouviu o filho chamando-o calmamente. A princípio, o pai não deu crédito às palavras do filho. Seria impossível na sua idade conseguir recompor um mapa que jamais havia visto.

Relutante, o cientista levantou os olhos de suas anotações, certo de que veria um trabalho digno de uma criança. Para sua surpresa, o mapa estava completo. Todos os pedaços haviam sido colocados nos devidos lugares. Como seria possível? Como o menino havia sido capaz?

– Você não sabia como era o mundo, meu filho, como conseguiu?


- Pai, eu não sabia como era o mundo, mas quando você tirou o papel do jornal para recortar, eu vi que do outro lado havia a figura de um homem.
Quando você me deu o mundo para consertar, eu tentei, mas não consegui. Foi aí que me lembrei do homem, virei os recortes e comecei a consertar o homem que eu sabia como era... Quando consegui consertar o homem, virei a folha e vi que havia consertado o mundo!!!


Às vezes, nada como o olhar de uma criança para descobrir a simples solução, que está frente aos nossos olhos mas que, quantas vezes, não vemos, enredados nas complicações que a envolvem e nos desorientam! É bem verdade! Para consertar o Mundo, basta consertar o Homem!

É isto que a Maçonaria procura fazer e que os maçons tentam, paulatinamente, conseguir. Consertar o Homem, unidade por unidade, um a um! O processo é lento, mas seguro. E, à medida que se for avançando, será mais rápido, pois, como a mancha de azeite, espalhar-se-á. Basta ter a força, a determinação, a persistência de prosseguir. Um dia o Mundo há-de ficar consertado!

Rui Bandeira

11 julho 2008

O copo de leite

O texto de hoje, como venho fazendo às sextas-feiras, é um texto que seleccionei para publicação, com o objectivo de que sirva de ponto de partida para alguma meditação, em ordem a algo aprendermos. Este texto, de autor que desconheço, chegou-me já em português, mas tenho-o como tradução de um texto original em inglês, tendo em atenção o nome de um dos intervenientes, que também mantenho. Também como uso fazer, o texto é editado, adaptado e comentado por mim

Um dia, um rapaz pobre que vendia mercadorias de porta em porta para pagar seus estudos, viu que só lhe restava uma simples moeda de dez cêntimos e tinha fome. Decidiu que pediria comida na próxima casa. Porém, os seus nervos traíram-no quando uma encantadora mulher jovem lhe abriu a porta. Em vez de comida, pediu um copo de água. Ela reparou que jovem estava esfomeado e assim deu-lhe um grande copo de leite. Ele bebeu devagar e depois perguntou à mulher:

-Quanto lhe devo?

-Não me deves nada - respondeu ela. E continuou:

- A minha mãe sempre nos ensinou a nunca aceitar pagamento por uma oferta de boa vontade.

Ele concluiu:

-Pois agradeço de todo coração.

Quando Howard Kelly, assim se chamava o rapaz, saiu daquela casa, não só se sentiu mais forte fisicamente, mas também a sua fé em Deus e nos homens ficou mais forte. Ele, que já estava resignado a render-se e deixar tudo, prosseguiu firmemente seus esforços e acabou por endireitar a sua vida e atingir os seus objectivos.

Anos depois, essa jovem mulher ficou gravemente doente. Os médicos da localidade onde vivia estavam confusos. Por mais que fizessem e tentassem, a doente não melhorava e cada dia piorava um pouco, rumo ao que parecia uma prematura, mas inevitável, morte.

Finalmente enviaram-na para a capital, onde chamaram um especialista, dos poucos no Mundo que sabia tratar essa rara enfermidade. Chamaram o Dr.Howard Kelly!

Quando escutou o nome da povoação de onde ela viera, uma estranha luz encheu os olhos do Dr. Kelly. Imediatamente, vestido com a sua bata de médico, foi ver a paciente. Reconheceu imediatamente aquela mulher. Determinou-se a fazer o melhor para salvar aquela vida. Passou a dedicar atenção especial àquela paciente. Depois de uma demorada luta pela vida da enferma, ganhou a batalha.

O internamento fora demorado. Os tratamentos caros. O Dr. Kelly pediu à administração do hospital que lhe enviasse a factura total dos gastos, para a conferir e aprovar. Conferiu-a e depois escreveu algo e mandou entregá-la no quarto da paciente.

A mulher abriu a medo o envelope que continha a factura. Sabia que levaria o resto da sua vida para pagar todos os gastos. Mas, quando finalmente abriu a factura, algo lhe chamou a atenção. Nela estava escrito o seguinte:

Totalmente pago há muitos anos com um copo de leite.

ass.: Dr.Howard Kelly.


A pequena história de hoje é sobre a gratidão, mas não só. Pensemos também que um acto de solidariedade que fazemos hoje, algo de pequena monta, que provavelmente esqueceremos rapidamente, pode fazer toda a diferença para quem dele beneficia. E - quem sabe! - pode, no futuro fazer toda a diferença para nós próprios, quando chegar a altura em que sejamos nós a precisar de ajuda... Ser solidário, fazer o bem sem olhar a quem, como diz o Povo, tem um efeito multiplicador. Quanto mais um de nós for solidário, mais influenciará outros da sua comunidade a sê-lo. E cada um que assim se comporte influenciará mais e mais pessoas. Um pequeno gesto nosso não é apenas um pequeno gesto que fazemos. É um elo na imensa cadeia de pequenos gestos solidários, que assim cresce e se fortalece e faz um Mundo melhor. E um dia nós, ou os nossos filhos, porventura beneficiaremos de que o Mundo esteja melhor.

Nenhum gesto solidário é pequeno. Todos são grandes, imensos e indispensáveis. Para o Mundo ser melhor, só é preciso que cada um faça a sua parte!

Rui Bandeira

04 julho 2008

Os três conselhos

Como venho fazendo à sexta-feira, deixo aqui mais uma historieta, de autor que desconheço, que circula no correio electrónico. Já a recebi várias vezes, pelo que presumo que seja conhecida da maior parte dos leitores. O que não é razão para deixar de a publicar aqui. Estas historietas de entrada de fim de semana destinam-se a ser pontos de partida para reflexão. O que importa é que a reflexão aconteça e cada um tire alguma lição dela e proveito da mesma, para sua melhoria pessoal, conhecesse ou não a história.

Um casal de jovens recém-casados era muito pobre e vivia de favores numa quinta do interior. Um dia, cansado de tanta pobreza e falta de perspectivas, o marido disse para a sua amada esposa:


- Querida, vou emigrar, vou viajar para bem longe, encontrar um emprego e trabalhar até ter condições para voltar e dar-te uma vida mais digna e confortável. Não sei quanto tempo vou ficar longe, só peço uma coisa, que me esperes e enquanto eu estiver fora, sejas FIEL a mim, pois eu serei fiel a ti.


Assim sendo, o jovem saiu. Andou muitos dias a pé, até que encontrou um lavrador que precisava de alguém que o ajudasse na sua propriedade.


O jovem chegou e ofereceu-se para trabalhar, tendo sido aceite. Pediu para fazer um pacto com o patrão, o que também foi aceite. O pacto foi o seguinte:


- Deixe-me trabalhar pelo tempo que eu quiser e quando eu achar que devo ir, o senhor dispensa-me das minhas obrigações
. EU NÃO QUERO RECEBER O MEU SALÁRIO. Peço que o senhor o aplique em depósitos que rendam alguma coisa até ao dia em que eu for embora. No dia em que eu sair, o senhor dá-me o dinheiro e eu sigo o meu caminho.

Tudo ficou combinado. Aquele jovem trabalhou DURANTE VINTE ANOS, sem férias e sem descanso. Depois de vinte anos chegou para o patrão e disse:


- Patrão, quero o meu dinheiro, pois vou voltar para a minha casa.
O patrão então respondeu-lhe:

- Tudo bem, afinal fizemos um pacto e vou cumpri-lo, só que antes quero fazer-te uma proposta. Eu dou-te o teu dinheiro e vais-te embora, ou DOU-TE TRÊS CONSELHOS e não te dou o dinheiro e vais-te embora. Se eu te der o dinheiro , não te dou os conselhos, se eu te der os conselhos, não te dou o dinheiro. Vai para o seu quarto, pensa e depois dá-me a resposta".

Ele pensou durante dois dias. Trabalhara duramente pelo dinheiro. Mas, ao longo daquele tempo, aprendera que o patrão era um homem prudente e, justo e sábio, que não lhe iria propor nada que o prejudicasse. Decidiu-se, procurou o patrão e disse-lhe:

- QUERO OS TRÊS CONSELHOS.


O patrão novamente frisou:


- Se te der os conselhos, não te dou o dinheiro.


E o empregado respondeu:


- Quero os conselhos.


O patrão então deu-lhe os conselhos:


1. NUNCA TOMES ATALHOS NA TUA VIDA. Caminhos mais curtos e desconhecidos podem custar a tua vida.


2. NUNCA SEJAS CURIOSO PARA AQUILO QUE É MAU, pois a curiosidade para o mal pode ser mortal.


3. NUNCA TOMES DECISÕES EM MOMENTOS DE ÓDIO OU DE DOR, pois podes arrepender-te e ser tarde demais.

Depois de dar os conselhos, o patrão disse ao seu já ex-empregado:

- AQUI TENS TRÊS PÃES. Estes dois são para comeres durante a viagem e este terceiro é para comeres com a tua esposa quando chegares a casa.


O homem então, seguiu seu caminho de volta, depois de vinte anos longe de casa e da esposa que ele tanto amava.


Depois do primeiro dia de viagem, encontrou um outro viajante, que o cumprimentou e lhe perguntou:


- Para onde vai?


Ele respondeu:


- Vou para um lugar muito distante que fica a mais de vinte dias de caminhada por essa estrada.


E disse-lhe o nome da sua terra. O viajante disse-lhe então:


- Homem, este caminho é muito longo, eu conheço um atalho e você chega em poucos dias.


E indicou-lho.

O homem, contente, começou a seguir pelo atalho, quando se lembrou do primeiro conselho. Então voltou e seguiu o caminho normal.

Dias depois, soube que o atalho levava a uma emboscada. Quem o seguisse, em determinado ponto era assaltado, roubado e morto.


Depois de alguns dias de viagem, cansado ao extremo, achou pensão à beira da estrada, onde podia hospedar-se.


Pagou a diária e, depois de tomar um banho, deitou-se para dormir.

De madrugada, acordou assustado com um grito estarrecedor. Levantou-se de um salto só e dirigiu-se à porta para ir até o local do grito.Quando ia abrir a porta, lembrou-se do segundo conselho. Voltou, deitou- se e dormiu.

Ao amanhecer, depois de tomar o pequeno almoço, o dono da hospedaria perguntou-lhe se ele não tinha ouvido um grito e ele disse que tinha ouvido.

- E não ficou curioso?

Ele disse que não.

Então o dono da hospedaria respondeu-lhe:

- VOCÊ É O PRIMEIRO HÓSPEDE A SAIR DAQUI VIVO, pois meu filho tem crises de loucura, grita durante a noite e quando o hóspede sai, mata-o e enterra-o no quintal.

O homem prosseguiu na sua longa jornada, ansioso por chegar a casa. Depois de muitos dias e noites de caminhada,

Já ao entardecer, viu entre as árvores o fumo que saía da chaminé da sua casinha, andou e logo viu entre os arbustos a silhueta de sua esposa. Estava anoitecendo, mas ele pôde ver que ela não estava só. Andou mais um pouco e viu que ela tinha JUNTO A SI um homem a quem carinhosamente acariciava os cabelos. Quando viu aquela cena, o seu coração encheu-se de ódio e amargura e decidiu-se a correr de encontro aos dois e a matá-los sem dó nem piedade.

Respirou fundo e preparou-se para seguir o seu impulso, quando se lembrou do terceiro conselho.

Então parou, reflectiu e decidiu dormir aquela noite ali mesmo e no dia seguinte tomar uma decisão. Ao amanhecer, já com a cabeça fria, disse para si mesmo:

- NÃO VOU MATAR A MINHA MULHER NEM O SEU AMANTE. Vou voltar para o meu patrão e pedir que ele me aceite de volta. Só que antes, quero dizer à minha mulher que eu cumpri a minha palavra e sempre LHE FUI FIEL.

Dirigiu-se à porta da casa e bateu. Quando a mulher abriu a porta e o reconheceu, atirou-se-lhe ao pescoço e abraçou-o afectuosamente. Ele tentou afastá-la, mas não conseguiu. Então, com as lágrimas nos olhos, disse-lhe:

- Eu fui-te fiel e tu traíste-me...

Ela, espantada, respondeu-lhe:

- Como? Eu nunca te trai, esperei durante estes vinte anos.

Ele então perguntou-lhe:

- E aquele homem que estavas acariciando ontem ao entardecer?

Ela disse-lhe então:

- AQUELE HOMEM É NOSSO FILHO. Quando te foste embora, descobri que estava grávida. Hoje ele está com vinte anos de idade.

Então o marido entrou, conheceu, abraçou o filho e contou-lhes toda a sua história, enquanto a esposa preparava o pequeno almoço.

Sentaram-se para comer juntos o último pão que o patrão do homem lhe tinha dado. O regressado partiu o pão e, ao abri-lo, encontrou todo o seu dinheiro, o pagamento por seus vinte anos de dedicação.

A historieta é longa, rebuscada e nem sempre totalmente lógica. De que viveu a mulher e o filho que lhe nasceu, ao longo daqueles vinte anos, se já com o seu marido a vida era tão difícil? Porque o viajante ensina um atalho que é tão perigoso (a não ser que fizesse parte do bando de assaltantes)? Porque o dono da hospedaria não procurou tratamento para o seu louco e perigoso filho e continuava aceitando hóspedes, sabendo que iriam ser mortos? E afinal o justo e sábio patrão mentiu... Deu ao seu empregado os três conselhos e o dinheiro... Mas o que importa é que os três conselhos, esses, são válidos e devem ser por nós lembrados. Porventura nos serão úteis também a nós.

Diz o povo que quem vai por atalhos mete-se em trabalhos. Pode-se pensar que o atalho "queima etapas" e faz-nos chegar mais rápido. Nem sempre isso é verdade. E, por outro lado, alguma razão haverá para o caminho seguir a via que segue e não a do atalho...

Muitas vezes somos curiosos, queremos saber de coisas que não nos dizem respeito e que nada de bom nos acrescentará...

Outras vezes, agimos por impulso, dominados pela ira, e fatalmente nos arrependemos depois...

Lembremo-nos, pois, sempre destes três conselhos. Talvez um dia nos felicitemos por o ter feito...

Rui Bandeira

27 junho 2008

O anúncio


O poeta brasileiro Olavo Bilac, que viveu entre 1865 e 1918, foi membro fundador da Academia Brasileira de letras. Tal como Pessoa escreveu que a minha Pátria é a língua portuguesa, Olavo Bilac, que foi proclamado no seu tempo o Príncipe dos Poetas Brasileiros, afirmou: A Pátria não é a raça, não é o meio, não é o conjunto dos aparelhos econômicos e políticos: é o idioma criado ou herdado pelo povo.

Autor anónimo atribuiu Olavo Bilac participação na situação que constitui a historieta que hoje serve de pretexto para alguma meditação:

O dono de um pequeno comércio, amigo do grande poeta Olavo Bilac, abordou-o na rua:


- Sr. Bilac, vou vender a minha quinta, que o senhor tão bem conhece. Será que o senhor poderia redigir o anúncio para o jornal?

Olavo Bilac pegou num papel e escreveu:

" Vende-se encantadora propriedade, onde cantam os pássaros ao amanhecer no extenso arvoredo, cortada por cristalinas e marejantes águas de um ribeirão. A casa banhada pelo sol nascente, oferece a sombra tranquila das tardes, na varanda".

Meses depois, topa o poeta com o homem e pergunta-lhe se já tinha vendido a quinta.

- Nem penso mais nisso -disse o homem- quando li o anúncio é que percebi a maravilha que tinha!


Às vezes, não descobrimos as coisas boas que temos connosco e vamos atrás de miragens e falsos tesouros. Valorizemos o que temos, as pessoas que estão ao nosso lado, os nossos amigos, o nosso emprego ou o nosso modo de ganhar a vida
, os conhecimentos que adquirimos, a saúde de que dispomos enquanto dela dispomos, o sorriso dos nossos filhos ou simplesmente das crianças com que privamos. Querer sempre mais ou sempre diferente é meio caminho andado - senão mesmo o caminho completo... - para andarmos perpetuamente insatisfeitos. Não quer isto dizer que se não deva ter objectivos, que devamos renunciar a prossegui-los e a lutar por eles. Ter objectivos, anseios, faz parte da vida e é positivo. Mas a valorização do que se tem, do que se conseguiu é algo que não devemos negligenciar. Além do mais, porque é também uma forma de darmos o devido valor ao trabalho que fizemos e ao esforço que desenvolvemos, ao longo de todo o nosso passado, para termos aquilo que temos, os amigos com que privamos, as boas coisas da vida que atingimos.

Façam o favor de ser felizes!

____________________________

Segunda-feira estarei de novo ausente, na defesa do meu brigantino inocente, pelo que não publicarei.

Rui Bandeira

20 junho 2008

A ajuda


Hoje, deixo aqui mais uma historieta simples. Inspira-se num texto, de autor anónimo, que circula pela Rede. Mas o texto é totalmente escrito por mim.

O homem, chamemos-lhe Adão, quase não viu a senhora, já idosa, dentro do carro parado junto ao passeio. Chovia fortemente. Adão reparou que o carro tinha um pneu furado. Percebeu que a senhora não conseguia resolver o simples problema de mudar o pneu. A idade avançada da senhora, o seu aspecto frágil, impediam que a senhora dispusesse da força e agilidade necessárias para efectuar as acções necessárias para tal. E a chuva forte e fria não ajudava...

Adão aproximou-se e disse à senhora:

- Não se preocupe, senhora, eu vou ajudá-la. Deixe-se ficar dentro do carro, que eu mudo a roda num instante.

E assim fez. A senhora, agradecida, quis pagar-lhe o serviço. Mas Adão não tinha prestado ajuda pelo dinheiro. Disse então à senhora:

- Se quer realmente pagar este pequeno serviço, na próxima vez que encontrar alguém que precise de ajuda, ajude-a, na medida em que possa fazê-lo, e lembre-se de mim.

A senhora, aliviada, pôde seguir viagem. Parou não muito longe dali, num café, para se recompor da aflição que sentira, por se ver incapaz de resolver um problema tão corriqueiro.

Foi atendida por uma empregada simpática e atenciosa, mas que se via que fazia o seu serviço com alguma dificuldade, pois estava em avançado estado de gravidez, quase em tempo de dar à luz.

A senhora idosa comentou à jovem empregada que, naquela fase já tão avançada de gravidez, ela já não deveria estar a trabalhar. Era-lhe certamente muito penoso e, além disso, era tempo de se preparar para a ocasião, sempre difícil, em que traria ao mundo uma nova vida.

Mas a jovem empregada respondeu-lhe que, embora efectivamente lhe fosse muito difícil estar a trabalhar no seu estado, não podia deixar de o fazer. O seu marido estava desempregado e, embora procurasse todos os dias emprego, não conseguia obtê-lo, e só ela conseguia ganhar algum dinheiro para o sustento de ambos. Aliás, se o marido não conseguisse muito brevemente emprego, não sabia como iria ser, com mais uma boca a sustentar... Mas alguma coisa havia de se arranjar. A vida não era fácil, mas não era lamentando-se que a tornava melhor. E prosseguiu na sua labuta, atendendo outros clientes.

Após alguns minutos de repouso, a senhora idosa pediu a conta. A jovem e muito grávida empregada deixou-lhe na mesa um pratinho com um papel onde constava o montante da despesa da senhora e logo, pesada mas ao mesmo tempo de uma forma estranhamente leve, se afastou, na sua atarefada lida.

A senhora idosa lembrou-se então do homem que há pouco a ajudara e do que lhe dissera. Aquela jovem precisava de ajuda e, manifestamente, merecia ser ajudada. Deixou então no pratinho o par de euros em que importara a sua despesa, acompanhados de uma muito generosa gorjeta: a nota de maior valor que tinha consigo, cem euros. A gorjeta era cinquenta vezes superior ao pagamento. Mas assim correspondia ao pedido do homem que a ajudara, sem nada querer em troca. Deixou ainda um bilhete, para que não houvesse dúvidas:

"Minha jovem, desejo que tenha uma boa hora. Vejo que está necessitada. Este dinheiro certamente será uma ajuda. Hoje fui ajudada por alguém e é a minha vez de ajudar. Se quiser corresponder, da próxima vez que vir alguém que precise de ajuda, dê-a, dentro daquilo que possa.

Naquela noite, quando a jovem chegou a casa, findo mais um duplo turno de trabalho, o seu marido já dormia. Deitou-se, fatigada, mas satisfeita. Pensou no seu dia, cansativo, mas em que recebera uma inesperada gratificação. Pensou no que a senhora tinha deixado escrito no bilhete. Agradecida e aliviada, pensou que aquele dinheiro lhe permitia resolver o problema que mais a preocupava. Podia enfim comprar roupas para o bebé que estava quase a chegar, sem precisar de retirar dinheiro do seu salário para isso! Aquela gratificação fora uma bênção!

Prestes a cair no sono, chegou-se para junto de seu adormecido marido e sussurrou-lhe:

- Tudo se vai arranjando. Amo-te... Adão!

Nem sempre as coisas correm como nesta singela história. Nem sempre o bem que fazemos nos é retribuído. Mas, afinal, não é a expectativa de retribuição que deve nortear os nossos actos altruístas. Senão, não seria, altruístas. Seriam... egoístas! Mas se cumprirmos o nosso dever de procurar tornar o Mundo um pouco melhor e incentivarmos os demais a agirem de forma semelhante, o Mundo torna-se efectivamente um pouco melhor. E nós, mais cedo ou mais tarde, também disso beneficiamos! E, além do mais, postura e a disposição de ajuda desinteressada, dá-nos satisfação e ajuda-nos a ser mais felizes. E é isso que todos queremos!

_________________________

Segunda-feira próxima estou de novo ausente, por motivos profissionais. Consequentemente, não publicarei nada nesse dia.

Rui Bandeira

06 junho 2008

SER e TER

O episódio de Diógenes e Alexandre é conhecido. Relembremo-lo.

Diógenes, filósofo grego que chegou a ser professor de Alexandre da Macedónia, questionando os costumes do seu tempo e a necessidade da posse de bens materiais, a certa altura começou a levar uma vida totalmente desprendida, ao ponto de morar dentro de um barril e ter como seu único bem pessoal uma vasilha com água. Mesmo essa, acabou por a deitar fora, depois de se aperceber que lhe bastava juntar as duas mãos e recolher a água de qualquer nascente ou curso de água, para a beber ou se lavar.

Quando Alexandre invadiu a Grécia, fez questão de visitar o seu antigo professor. Encontrou-o sentado ao sol, entregue aos seus pensamentos. Disse-lhe:


- Diógenes, como sabe conquistei a Grécia, que agora faz parte do meu Império. Como foi meu professor e sempre o admirei, quero recompensá-lo. Que deseja?

Diógenes manteve o silêncio, meditando. Alexandre e todos os que o acompanhavam aguardavam, expectantes e curiosos, a resposta que o filósofo daria, o pedido que faria.

Então Diógenes respondeu ao poderoso Alexandre:

A única coisa que neste momento me faz falta, aquilo que te peço, Alexandre, é que saias da frente do Sol, pois a tua sombra impede que os seus raios me aqueçam!


Alexandre, magnífico Imperador, grande conquistador, líder de numeroso e forte exército era, na época, o homem que praticamente tudo tinha, quase tudo podia. Era o homem mais rico, mais poderoso, mais temido, que de mais podia pôr e dispor naquele tempo e naquelas paragens. Tinha.

Diógenes nada tinha de seu, excepto o barril onde se acolhia e o que a Natureza lhe proporcionava. Mas era sabedor e respeitado e vivia sereno e feliz. Não pelo que tinha. Pelo que era.

A frugalidade de Diógenes era exagerada. Mas correspondia às suas necessidades. E ele nada mais queria do que isso.
Para ele, o importante era o que ele era, não o que ele tinha. Para ele, os outros - todos, até o rico e poderoso Alexandre - valiam pelo que efectivamente eram, não pelo que tinham. No momento em que respondeu a Alexandre, para ele, Diógenes, o Imperador era apenas alguém que lhe tapava o Sol. Nada mais, pese embora toda a sua riqueza e todo o seu poder.

Nos dias de hoje, quantas vezes nós, embrenhados no afã de nossas vidas ocupadas, não discernimos, nem sequer nisso pensamos, se o que já temos não será suficiente para a nossa vida. E continuamos preocupados em TER. Ter isto, comprar aquilo, obter aqueloutro bem.

E, se não tivermos cuidado, o tempo passa e, um dia, damo-nos conta de que nos esfalfámos a trabalhar, nos esgotámos de esforço, para ter uma coisa e logo outra e seguidamente uma outra, numa infindável sucessão, e, entretanto, nos esquecemos do essencial, do que realmente é importante: de viver e de sermos felizes!

E, se bem virmos, para sermos felizes, não precisamos de tanto TER. Podemos e devemos dar-nos conta que o mais importante na vida é SER. Ser, simplesmente ser, objectivo tão simples e, se calhar por isso, tão esquecido, mas que tantas vezes nem sequer é difícil de atingir, de realizar.

Deixemos de buscar TER. Preocupemo-nos em SER. Ser feliz. Ser amado. Ser... gente!

Quem o fizer, não demorará muito a perceber que, afinal, quando se É é-se muito mais feliz do que quando apenas se TEM.

E, no entanto, muitas vezes o TER, tem-se logo, enquanto porventura se leva uma vida inteira para se conseguir SER. Mas, enquanto que o que temos pode ser perdido súbita e inesperadamente - um acidente, uma catástrofe, um azar, uma má decisão, tudo isso e muito mais pode levar-nos o que temos -, o que somos nunca se acaba nem se perde!

O SER, uma vez conseguido, é perene. O TER é passageiro - e, mesmo que dure muito, não nos traz necessariamente felicidade.

Tentemos, pois, SER e preocupar-nos menos com o TER. Se calhar, assim descobrimos que o caminho para se ser feliz é muito mais curto e acessível do que julgávamos!

Rui Bandeira