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15 janeiro 2018

Oração para qualquer crente de qualquer crença


A Maçonaria sempre foi, é e sempre será (ou não se seria) um espaço de Tolerância.  Desde logo religiosa. Qualquer crente de qualquer crença tem nela lugar, em estrita igualdaďe com os demais crentes de quaisquer outras crenças. 

Algo que quem está de fora tem dificuldade em entender é como se processa então o relacionamento entre crentes das mais diversas crenças em matéria de espiritualidade, atentas as naturais diferenças que inevitavelmente haverá. O conceito de Grande Arquiteto do Universo como designação comum para o deus que cada um venera não chega para esclarecer a dúvida. Mesmo utilizando uma designação comum para o conceito divino de cada um, como conseguem os maçons coletivamente e em conjunto dirigir-se ao que inevitavelmente é diversamente concebido entre eles e por cada um deles?

Mais uma vez, a resposta está no estabelecimento do máximo denominador comum entre eles, utilizando invocações para todos aceitáveis. Mas afirmar isto é fácil. Demonstrá-lo para quem está de fora é mais difícil...

Proponho-me aqui ilustrar como isso é possível,  transcrevendo uma oração que nem sequer faz parte de qualquer ritual maçónico e, que eu saiba, não é maçonicamente utilizada, mas que ilustra, a meu ver, na perfeição como é possível invocar, orar, dialogar, com o deus de cada um, independentemente das diferentes crenças individuais.

Aproveito para, de caminho, elevar o nível do blogue e ilustrar também a diferença entre o que arrazoa um mero escrevinhador como eu e o que cria um verdadeiro escritor! Ora aprecie o leitor a superlativa beleza desta oração (no final revelarei quem a escreveu):

Senhor, que és o céu e a terra, e que és a vida e a morte! O sol és tu e a lua és tu e o vento és tu! Tu és os nossos corpos e as nossas almas e o nosso amor és tu também. Onde nada está tu habitas e onde tudo está é o teu templo. Dá-me vida para te servir e alma para te amar. Dá-me vista para te ver sempre no céu e na terra, ouvidos para te ouvir no vento e no mar, e mãos para trabalhar em teu nome.

Torna-me puro como a água e alto como o céu. Que não haja lama nas estradas dos meus pensamentos nem folhas mortas nas lagoas dos meus propósitos. Faz com que eu saiba amar os outros como irmãos e servir-te como a um pai. Sê digno de ti em mim.

Bendito seja o teu nome de Céu e de Terra, e de Corpo e Alma, e de Vida e Morte! Louve-te a minha boca e as minhas mãos te louvem!

Minha vida seja digna da tua presença. Meu corpo seja digno da Terra tua carne. Minha alma possa aparecer diante de ti como um filho que volta ao lar.

Torna-me grande como o Sol, para que eu te possa adorar em mim; e torna-me puro como a lua, para que eu te possa rezar em mim; e torna-me claro como o dia, para que eu te possa ver sempre em mim e rezar-te e adorar-te.

Senhor, protege-me e ampara-me. Dá-me que eu me sinta teu.

Senhor, livra-me de mim. Unge-me da tua divina (*).

Que o meu pomar dê frutos saborosos a Ti e a minha vinha dê vinho.

Quando me movo, és tu que te moves; quando falo, és tu que me és falando. Quando dou um passo, avanças tu. Se paro, estacas de mim.

(*) Deixado em branco pelo autor. Este humilde escrevinhador propõe que a palavra que o autor deixou por escrever seja Luz.


Leitor, releia e deixe a beleza deste texto impregnar a sua sensibilidade! E verifique como esta oração pode ser dita por um cristão,  um judeu, um muçulmano ou um crente de qualquer outra crença!

Este texto foi escrito em 1912 por um génio de seu nome Fernando Pessoa.

Está publicado no livro Prosa íntima e de autoconhecimento, edição de Richard Zenith, Assírio & Alvim, 2017.  

Rui Bandeira

06 fevereiro 2017

O sentido da vida


Todo o ser humano, mais tarde ou mais cedo, mais ou menos frequentemente, se interroga sobre o sentido da vida. As religiões resultam, em última análise, dessa primordial interrogação, procurando cada uma delas dar resposta à mesma. 

Confrontado com a crença religiosa que a sua cultura lhe disponibiliza, o indivíduo tem, basicamente, uma de três reações. Ou aceita essa doutrina, ou a rejeita ou aceita elementos, ainda que modificando-os, dessa tradição, mas busca ir mais além e mais fundo.

Se o indivíduo aceita a doutrina da crença religiosa que a sua cultura lhe disponibiliza, o seu problema está resolvido: o sentido da sua vida contém-se nos princípios dessa doutrina, cumpre, ou procura cumprir, os preceitos dessa religião e busca a Salvação ou a Evolução que a doutrina da sua religião preconiza. Sabe qual é o seu lugar e a sua função no mundo e na vida. Não precisa de se questionar mais.

Se o indivíduo rejeita a crença religiosa que a sua cultura lhe disponibiliza, das duas, uma: ou fá-lo porque se identifica com outra doutrina religiosa, a que se converte, ou, pura e simplesmente não crê. Na primeira hipótese, o seu problema de responder à interrogação primordial sobre o sentido da vida fica resolvido, em termos semelhantes à situação anterior. 

Se a rejeição da crença religiosa ocorre porque, pura e simplesmente, não crê, o seu problema fica também resolvido, mas com outra resposta: não existe qualquer sentido na vida, a vida, como o Universo, resulta de uma combinação de fatores físicos e químicos, tudo se resume ao mundo material, onde se nasce, vive-se o melhor que se pode e um belo dia morre-se e nada de nada resta, para além do que se enterra ou é cremado, para dar lugar a outros que, sucessivamente, nascerão, viverão e morrerão, sem que deles nada reste também, para além do que se enterra ou é cremado, até que um dia uma qualquer combinação de fatores físicos e químicos a tudo ponha fim - do começo ao final nada faz sentido, tudo sucede, sucedeu e sucederá por acaso, por mecânica combinação de uma miríade de fatores físicos e químicos.

Se o indivíduo, confrontado com a crença religiosa da sua cultura, aceita, ainda que modificando-os, elementos dessa tradição, mas busca ir mais além e mais fundo, esse é o que mais longa e persistentemente se debate com a interrogação sobre o sentido da vida. A resposta institucional não o satisfaz, a opção no ateísmo materialista também não. Esse rejeita que tudo sucedeu por acaso, por mera consequência de fatores físicos e químicos e que a vida não tenha sentido. Esse considera que existe, sim, um sentido na vida, ainda que ele o desconheça, mas entende que existe um Propósito, um Objetivo, na existência do Universo e, principalmente, da Vida. O que materialmente vê e sente é apenas uma parte do quadro da Vida. Acredita que outros planos de existência ocorrem, que a passagem por este plano material tem um propósito, simplesmente não se satisfaz plenamente com as respostas dadas pela religião da sua cultura - nem com as respostas dadas pelas demais religiões.

Esse, ou se conforma com o desconhecimento e vive segundo os preceitos da sociedade em que se insere, ainda que porventura os não aceitando plenamente, ou busca, por si, com a sua Razão, resposta ou caminhos para resposta suscetível de o satisfazer. É crente, mas não se identifica com nenhuma religião em concreto. É crente porque a sua Razão o conduz a que o seja, mas, por isso mesmo, procura as respostas por si mesmo. É o que se denomina de deísta.

Há ainda os que - talvez a maioria - vão evoluindo ao longo da sua vida, em resultado do seu crescimento, das suas experiências, dos seus encontros e desencontros com pessoas, ideias e ideais. O mesmo indivíduo pode, ao longo da sua vida, passar por mais do que um - no limite, até por todos - dos estádios acima referidos.

Cada um é como cada qual. A pergunta - qual o sentido da vida? - é a mesma, impõe-se a todos, mas cada um dá-lhe a resposta que entende ou que pode dar e, se muda os termos dessa resposta, uma ou várias vezes, é porque a sua natureza o impele a assim fazer.

Muitos, a maioria, interrogam-se sobre o sentido da vida na solidão do diálogo consigo próprio ou podem apenas obter as respostas institucionalizadas da sua tradição religiosa. Outros confrontam a sua interrogação com as similares interrogações de outrem, e daí resultam apostasias, conversões, mas também lutas, por vezes ferozes, ou indiferenças perante as diferenças.

Há uns quantos, porém, que têm a possibilidade de colocar essa interrogação em conjunto com outros, sem confrontos, com aceitação das respostas de cada um, com partilha de pontos de vista e de experiências, pondo todos em comum o que cada um tem, de forma a que cada um retire do todo posto em comum o que necessite para ir mais além e mais fundo, na sua busca pessoal de resposta à interrogação primordial que o venha a satisfazer.

Esses são os maçons!

Rui Bandeira 

08 fevereiro 2016

Contradição fundamental


A Maçonaria regular só admite no seu seio crentes. Deixa, porém, ao critério de cada um a crença concreta que cada um professa, nada lhe importando a forma como cada um vive a sua crença. as obrigações que respeita (ou infringe...), a forma como se organiza (ou não) a estrutura que porventura enquadre a prática da religião professada, nem sequer a designação que cada um atribui à divindade que concebe e em que crê. Por isso, adotou uma forma de se referir à Divindade por cada um venerada, que é independente da designação utilizada em qualquer religião e que pretende seja reconhecida por cada crente como referindo-se à Divindade da crença que professa: Grande Arquiteto do Universo.

Assim, para a Maçonaria, um maçom pode perfeitamente, sem problemas ou reservas, ser católico, batista, anabatista, mórmon, pentecostal, evangélico, luterano, calvinista, testemunha de Jeová, muçulmano, judeu, hindu, ou o que quer que seja. A sua crença é do seu foro íntimo e é com ela que se junta aos demais maçons para que, em auxílio mútuo, cada um se aperfeiçoe pessoal, ética, moral e espiritualmente.

No sentido inverso, no entanto, as coisas não se processam de forma tão simples e clara. 

No âmbito da religião católica, é conhecido que repetidas vezes vários Papas emitiram documentos de condenação da Maçonaria, tendo mesmo, durante largo tempo, o Código de Direito Canónico punido com a excomunhão o católico que a ela aderisse. Hoje, não é já assim, mas o último documento proveniente da Cúria Romana continua a não ser particularmente simpático para a Maçonaria: 

Permanece portanto imutável o parecer negativo da Igreja a respeito das associações maçónicas, pois os seus princípios foram sempre considerados inconciliáveis com a doutrina da Igreja e por isso permanece proibida a inscrição nelas.  Os fiéis que pertencem às associações maçónicas estão em estado de pecado grave e não podem aproximar-se da Sagrada Comunhão.

(excerto da Declaração sobre a Maçonaria de 26 de novembro de 1983 do então Prefeito da Congregação Para a Doutrina da Fé, Cardeal Ratzinger).

No âmbito da religião islâmica, também se conhecem posições de responsáveis nada lisonjeiras para a Maçonaria:

Dado que a Maçonaria se envolve em atividades perigosas e é um grande perigo, com objetivos perversos, o Sínodo Jurisdicional determina que a Maçonaria é uma organização perigosa e destrutiva. Todo o muçulmano, que se filiar nela, conhecendo a verdade dos seus objetivos, é um infiel ao Islão.

(excerto final do parecer de 15 de julho de 1978 do Colégio Islâmico Jurisdicional).

No campo das crenças cristãs resultantes da Reforma, também não é difícil encontrar posições contrárias à maçonaria:

A COMISSÃO FAZ A SEGUINTE PROPOSTA:
1) - QUE SEJA REAFIRMADA A POSIÇÃO DA ASSOCIAÇÃO CONTRÁRIA A MAÇONARIA E OUTRAS SOCIEDADES SECRETAS;
(...)
4) - QUE A AIBRB FAÇA UM APELO COM BASE NO AMOR CRISTÃO, AOS CRENTES FILIADOS À MAÇONARIA, PARA QUE, POR AMOR A CRISTO E AO TRABALHO DE DEUS QUE NOS FOI CONFIADO, AFASTEM-SE DE TAL SOCIEDADE.

(excertos de proposta aprovada na 12.ª Assembleia da Associação das Igrejas Batistas Regulares do Brasil).

Não é de estranhar que existam posições antimaçónicas em vários setores ou hierarquias - normalmente os mais integristas, ortodoxos ou fundamentalistas - de várias confissões religiosas, se tivermos em atenção a contradição fundamental entre a Maçonaria e as religiões.

Cada religião, e particularmente nas religiões monoteístas, considera que o seu caminho, a sua doutrina, a observância dos seus preceitos é que conduz à Salvação. Portanto todos os que se posicionam no exterior do seu caminho, da sua doutrina, dos seus preceitos, estão destinados à Perdição.  

Já para a Maçonaria, a questão não se põe nestes termos. Cada um é livre de seguir o seu caminho, de professar a sua religião, de seguir os preceitos dela e todos são considerados iguais e aptos para serem bons e se tornarem melhores. A Maçonaria (o maçom) não concebe que o mesmo Criador, chame-se-Lhe Deus, Allah, Jeovah, Krishna, Manitu, ou o que se Lhe chamar, conceba, admita, queira, que os que O veneram por um nome sejam salvos e os que O conhecem por outro se percam, que os que seguem preceitos de uma Tradição religiosa recebam eterna recompensa e os que tiveram a desdita de nascer e viver num ambiente com diversa Tradição religiosa eternamente sejam punidos. 

Para a Maçonaria, o que importa é o comportamento, a postura ética, o reconhecimento do Transcendente e do Divino, não o cumprimento específico de normas, de práticas, de posturas, quantas vezes decorrentes de diversos ambientes, de diferentes culturas, de separações feitas pelos homens daquilo que o Criador fez igual.

Para a Maçonaria não há caminhos certos nem errados. O caminho de cada um é o certo para ele, se estiver de boa-fé e for perseverante nos seus propósitos.

A contradição fundamental entre a Maçonaria e as diferentes hierarquias religiosas está na Tolerância, que é inerente à Maçonaria e que os integristas, os ortodoxos e os fundamentalistas não aceitam. Tão simples como isto!

Rui Bandeira

19 outubro 2015

“Valerá a pena ser Maçom no século XXI ?”


Aqui há alguns tempos atrás o Paulo M. elaborou através da sua pena dois textos em formato de “mini-seriado” que me motivaram a reflexão que partilho convosco hoje e cuja questão central figurava na seguinte pergunta “No século XXI fará sentido ser-se Maçom?” e que é uma questão bastante pertinente para todos os Maçons, independentemente do seu Grau ou Qualidade, ou seja, independentemente do grau que detenham na sua caminhada maçónica e do cargo que ocupem nas estruturas maçónicas (Respeitáveis Lojas ou na Obediência Maçónica em si).

Esta pergunta que serve de tema para o texto de hoje é uma reflexão e questionamento que faço a mim próprio diariamente.

Será que valerá a pena nos dias de hoje, que em pleno século XXI, num tempo tão avançado tecnologicamente, mediaticamente etc etc etc… continuar a existir uma instituição como a Maçonaria e mesmo assim existir quem queira fazer parte integrante dela, nomeadamente eu inclusive?!

Será que existe qualquer mais valia para a Sociedade existirem pessoas que integrem Ordens de cariz iniciático e fraternal como a Maçonaria?

Com que interesse essas pessoas, nos tempos que correm, ambicionam entrar numa Obediência Maçónica?

Estas questões com que me deparo no meu dia-a-dia encerram elas próprias as suas respostas, a meu ver.

Poderá aparentar alguma estranheza responder a uma única questão (tema central) com outras três dúvidas/questões. Mas de facto elas fazem todo e qualquer sentido!

À primeira questão que se me apresenta, posso afirmar que sim!

Faz todo o sentido existir uma Ordem como a Maçonaria, uma vez que a Maçonaria é uma Ordem iniciática e ritualística, universal e fraterna, filosófica e progressista, firmada no livre-pensamento e na tolerância entre as pessoas, tendo por objectivo o desenvolvimento espiritual do homem com vista à construção de uma sociedade mais livre, justa e igualitária. Ordem esta que se preocupa em formar os seus membros para além de lhes propiciar as “ferramentas filosóficas e inteletuais” de forma a que possam potenciar as suas melhores qualidades pessoais, polindo o seu comportamento, de maneira a evitar a prática de atitudes desviantes ou  consideradas como erráticas ou indignas pela sociedade vigente.

Com esta última afirmação, posso eu responder também à minha segunda dúvida.

Não obstante o desenvolvimento intelectual e tecnológico da sociedade atual, a Maçonaria terá sempre lugar no tempo e na história, ou não fosse ela também uma instituição secular. As instituições vivem de pessoas e da sua comunhão e contato entre si, partilhando o que se sabe, aprendendo e obtendo conhecimentos que não se detinham, por forma a formar-se uma cadeia de partilha que se funcionando em pleno poderá fomentar o progresso da Sociedade no geral e das pessoas no singular. E existe algo que nem a própria tecnologia nem o mediatismo e consumismo atual poderá fazer.
Esse “algo” apenas poderá ser encontrado na vivência e prática espiritual de cada um de nós. E poderá ser aí que residirá a importância da existência de instituições que se interessem por esse “lado”.

A espiritualidade de cada um depende da sua cultura, educação e da sua experiência de vida. Uma prática espiritual pessoal dependerá sempre do que se ambiciona e se pretende da vida e do que já se obteve até então. E a maioria das vezes o problema será no que já se obteve ou não, e o que se fazer para se obter tal. Alguns sentem que necessitam de muito para viver, outros nem tanto assim… O que poderá levar a comportamentos e práticas incorretas na procura e obtenção daquilo que se poderá considerar como aquilo que fará falta para completar ou complementar a sua vida.

Se na sua vivência mundana, alguém denotar em si mesmo uma atitude ou comportamento errado, se decidir retornar ao “caminho certo”, com certeza tal será benéfico para todos; mas para o próprio será o reconhecimento das suas falhas e um sinal de humildade em querer mudar para “melhor”. Para os restantes, que o acompanham na sua vida, será a demonstração de um altruísmo e nobreza que o ajudarão, por certo, no futuro, a ter uma prática social que será digna de alguém que se considera livre, mas principalmente de bons costumes. E isso será reconhecido por quem o tiver que o fazer!

Saber o que está correto, certo ou errado e escolher sabiamente o caminho a seguir não está ao alcance de todos, e é gente assim que, por norma, interessa à Maçonaria. Gente que não é perfeita no sentido estrito da palavra, mas que procura aperfeiçoar-se a si mesmo, através do trabalho, do estudo, do relacionamento fraternal com os restantes membros, mas fundamentalmente através de um processo de auto-conhecimento, ou seja, do “conhecer-se a si próprio”. Isto tudo (é) feito através de uma via espiritual.

No entanto, a observação da boa conduta e boas práticas de maçons reconhecidos na sociedade poderá também a suscitar a vontade de profanos a entrar na Maçonaria, uma vez que tal poderá despontar o interesse destes em elevarem também a sua conduta e forma de estar na vida pela simples observação da ação da Maçonaria e dos seus membros na sociedade de que fazem parte integral.

Todavia, certamente que quem deseja fazer bem, “praticar o Bem”, não necessita de ser maçom para o fazer. Tal depende exclusivamente da vontade de cada um! Mas sendo maçom, tal não é excepção, mas sim uma das regras que o deverão nortear nas suas práticas e condutas sociais.

A Maçonaria não é um clube social, benemerente ou filantrópico em exclusivo.  - Não é apenas isso e é muito mais!-

Se alguém desejar entrar na Maçonaria para socializar, exercer a sua caridade ou filantropia, aumentar a sua lista de contatos pessoais e/ou fazer amigos, para isso já existem outras instituições para tal. Instituições que cuidam em exclusivo desses assuntos. Quem vier ou desejar entrar para a Maçonaria para isso somente, irá perder o seu tempo e fará perder tempo à Ordem e aos seus membros.

A Maçonaria apesar de ter estas preocupações – que tem!- tem também outras que estão para além do que é mensurável e visível. E tal encontrar-se-à na componente espiritual e iniciática que a Ordem encerra em si e que propicia aos seus filiados. E isto apenas estará ao alcance daqueles que compreenderem a Ordem, percebam os seus fins e desígnios. Ou não fosse por isso também que a formação é gradual e exponencial, para que o conhecimento seja obtido integralmente, mas passo a passo…

Concluindo, ao efetuar o somatório de toda estas reflexões que fiz, chego à conclusão que sim, vale a pena ser Maçom no século XXI e possivelmente também nos séculos vindouros...

15 setembro 2014

Ser reconhecido Maçom...


(imagem retirada de Google Images)

Para alguém ser considerado maçom, primeiramente terá de ser reconhecido por outro como tal. Depois terá de passar por uma conjunto de processos após os quais será aceite ( ou não) por uma Respeitável Loja e a sua consequente Iniciação.

Mas não é tão fácil como o parágrafo anterior se apresenta, mas também não será tão difícil como se poderá supor.
Nas Maçonarias tipicamente anglo-saxónicas é usual a célebre afirmação “2B1ASK1” ou seja “ To Be One, ask One” ( Para ser Um, Pergunte a Um; numa tradução literal), o que permitirá mais facilmente atrair mais gente a esta Augusta Ordem.
Mas por norma, qualquer Obediência (Potência Maçónica) tem um domicílio físico, isto é, uma porta onde se poderá bater no caso de que algum potencial candidato que se interesse ou identifique com os princípios e causas maçónicas se puderá dirigir caso não tenha nenhum conhecido que seja maçom na sua lista de contatos ou esfera de influência. Ou também, o que sucede bastantes vezes, não tenha sido reconhecido ainda por algum outro maçom.

Mas que “reconhecimento” é esse que acabei de falar?!
Nada mais nada menos que tal como os maçons afirmam, que se reconheça em alguém que seja uma pessoa “livre e de bons costumes”, com um comportamento probo e honesto; que seja alguém considerado com bom “pai de família” e um bom colega de trabalho pelos seus pares; que esteja inserido na sociedade onde viva e que tenha vontade em aprender e partilhar o que sabe com outrem; bem como ter também a vontade em auxiliar o seu semelhante.

Todavia, e aqui algo que poderá criar confusão na mente de algumas pessoas, o candidato terá de ser alguém com defeitos, ou seja, alguém que identifique e reconheça os seus defeitos pessoais e tenha a vontade e ambição de mudar o seu comportamento para melhor - “vencer os seus vícios e paixões”… - evoluindo como pessoa e ser humano que é, através de uma via espiritual e iniciática que neste caso preciso é a Maçonaria.

Em geral, na minha opinião, não é a simples pertença na Maçonaria que tornará “homens bons” em “homens melhores”, antes pelo contrário, serão os homens que poderão tornar a instituição maçónica em algo melhor; pois as suas atitudes estarão sob o escrutíno da Sociedade. Os maçons são os seus próprios “juízes e carrascos”, o resto é conversa…

A Maçonaria através das suas “ferramentas filosóficas e espirituais” é que pode auxiliar na evolução pessoal de cada um em direção a um aperfeiçoamento moral e comportamental. Por isso é que é hábito em maçonaria se afirmar que “ a Ordem não procura homens perfeitos”, pois esses já trilharam o seu caminho… 
À Maçonaria interessa sim, quem deseja mudar, mas mudar para melhor…
Somente atuando assim, é que alguém pode um dia esperar ser reconhecido como maçom. Mas não lhe bastará apenas ter sido reconhecido, há que continuar nesta senda de perfeição, caso contrário, as palavras, as atitudes, os comportamentos serão vãos e apenas tudo culminará numa perda de tempo para ambas as partes, tanto para a Respeitável Loja e Obediência que o acolha, quanto para o próprio, que será passível de perder um reconhecimento que por regra não é atribuído a qualquer um!
Tanto que por isso, sempre após uma possível “identificação maçónica” num profano ou após a submissão de um pedido de candidatura de adesão a uma Respeitável Loja, é desencadeado um conjunto de diligências, nomeadamente um processo de inquirição, para que se possa averiguar qual a conduta do suposto candidato a iniciar. Seja através de conversas com o próprio ou com seus familiares e/ou amigos, para que se possa aferir quais as reais intenções de quem deseja que “a porta lhe seja aberta”… 

É que fortuitamente e como em qualquer instituição ou associação onde entre o bicho-homem, também por vezes a Maçonaria tem alguns erros de casting que acabam por manchar a reputação dos demais maçons e influenciar negativamente a opinião profana sobre a Maçonaria e os seus membros. E geralmente são estes casos que vêm a público, pois o bem que a Maçonaria faz, apenas fica resguardado para ela…
E, mesmo depois de ter terminado o processo de inquirição respeitante a um candidato, o mesmo ainda terá de ser sufragado pela Respeitável Loja que o irá cooptar no futuro. E somente após essa decisão da loja, será ou não iniciado.

Por isto tudo, é que afirmei no início que não seria difícil entrar na Maçonaria, mas que por sua vez também, não será tão fácil assim como se poderia supor.


Finalizando e em jeito de conclusão, tenho para mim que antes de se entrar na Maçonaria e se obter qualquer tipo de reconhecimento, já a Maçonaria “entrou dentro de nós”…

16 maio 2012

Pode um católico ser maçom?

Há tempos, no jornal Público, Ricardo Sá Fernandes, meu colega de profissão e membro do GOL (Grande Oriente Lusitano), publicou um pequeno texto em que se assumia como católico e maçom, defendendo que ambas as qualidades são plenamente compatíveis. Respondeu o padre Gonçalo Portocarrera de Almada, sustentando a posição inversa. Recentemente, um senhor de nome João Mendia afirmou também a incompatibilidade das duas condições.

Decido intervir na polémica. Antes do mais, e como convém, eis a minha declaração de interesses: sou maçom regular, isto é, integro a orientação maçónica original, que só admite no seu seio crentes, qualquer que seja a crença religiosa de cada um. Em termos de convicção religiosa, não me defino como católico, antes como deísta, crente no Criador sem necessidade da intermediação das religiões organizadas, na minha opinião cada uma delas se afadigando a moldar o Criador às suas respetivas conceções particulares. Nesta polémica de se um católico pode ser maçom, parto, pois, de uma posição neutral.

Maçom que sou, mais do que criticar as opiniões expressas pelos que se pronunciaram sobre a questão (opiniões que, concorde ou discorde delas, me cumpre respeitar),  vou-me limitar a expor a minha opinião e as razões dela.
 
Advogado que sou, tenho a deformação profissional de analisar os conflitos, as divergências de opinião, recorrendo ao que está escrito nos livros da lei. E, nesta matéria de religião e espiritualidade, nada me parece melhor do que recorrer ao Volume da Lei Sagrada que é aceite por todas as partes, católicos, maçons e católicos maçons: a Bíblia.
Confiramos então os Dez Mandamentos que Deus transmitiu a Moisés,constantes do Livro do Êxodo, 20, 2-17 (e também em Deuteronómio, 5, 6-21):    

2 Eu sou o SENHOR teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão.
3 Não terás outros deuses diante de mim.
4 Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra.
5 Não te encurvarás a elas nem as servirás; porque eu, o SENHOR teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam.
6 E faço misericórdia a milhares dos que me amam e aos que guardam os meus mandamentos.
7 Não tomarás o nome do SENHOR teu Deus em vão; porque o SENHOR não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão.
8 Lembra-te do dia do sábado, para o santificar.
9 Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra.
10 Mas o sétimo dia é o sábado do SENHOR teu Deus; não farás nenhuma obra, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o teu estrangeiro, que está dentro das tuas portas.
11 Porque em seis dias fez o SENHOR os céus e a terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou; portanto abençoou o SENHOR o dia do sábado, e o santificou.
12 Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o SENHOR teu Deus te dá.
13 Não matarás.
14 Não adulterarás.
15 Não furtarás.
16 Não dirás falso testemunho contra o teu próximo.
17 Não cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu próximo.

 Neste texto nada objetivamente se encontra que permita concluir que ser maçom infringe qualquer dos mandamentos divinos. Cuidadoso que sou com os pormenores, esclareço que o Grande Arquiteto do Universo invocado pelos maçons mais não é do que a designação particular que estes dão ao Criador, evitando assim ter de utilizar uma denominação utilizada por uma religião e não por outra, não sendo um qualquer "outro deus".

Mas prossigamos até ao Novo Testamento e aportemos a Mateus,22, 34-40:

34os fariseus ouviram dizer que Jesus tinha feito calar os saduceus. Então eles se reuniram em grupo, 35e um deles perguntou a Jesus, para experimentá-lo: 36"Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?"
  
37Jesus respondeu: "Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento!’ 38Esse é o maior e o primeiro mandamento. 39O segundo é semelhante a esse: 'Amarás ao teu próximo como a ti mesmo'. 40Toda a Lei e os profetas dependem desses dois mandamentos". 

Também aqui, obviamente, nada é infringido com a filiação maçónica. Para um católico que não seja um primário antimaçom, parece-me estar qualquer dúvida desfeita: nem os dez Mandamentos do Antigo Testamento, nem os dois mandamentos invocados por Jesus Cristo impedem que um crente, designadamente um católico, possa ser maçom.

Mas houve condenações e proibições papais. Houve! Porém, por grande que seja a importância dos Papas - e só posso aceitar que, para os católicos, o seja -, o certo é que todos foram, e o atual é, apenas homens. Entre as determinações divinas e as humanas eu, simples crente deísta, atribuo primazia às divinas... Confesso que me faz alguma confusão que haja quem, reclamando-se da pureza do catolicismo, roce a blasfémia de sobrepor as determinações humanas às divinas...

Lição a tirar desta polémica? O fundamentalismo religioso é tão irrazoável e tão perigoso sendo cristão, católico ou de outra orientação espiritual, como islâmico.  Que ninguém disto se esqueça!

Rui Bandeira

18 agosto 2010

Religião e espiritualidade


Raramente publico aqui no blogue textos que não são escritos por mim. Mas toda a regra tem exceções, quando as exceções o justificam. É o caso do texto que abaixo segue. Recebi-o através do Grupo Maçônico Orvalho do Hermon. Não confirmei a factualidade. mas a confiança em meus Irmãos do Grupo leva-me a não duvidar da mesma. E o texto do pastor Ed René Kivitz é de primeira água - e merece ser divulgao, lido e, sobretudo meditado.

Primeiro o enquadramento factual, tal como o recebi na mensagem do Grupo Maçônico Orvalho do Hermon:

No dia 1°/Abr/2010, o elenco do Santos, atual campeão paulista de futebol, foi a uma instituição que abriga trinta e quatro pessoas. O objetivo era distribuir ovos de Páscoa para crianças e adolescentes, a maioria com paralisia cerebral.
Ocorreu que boa parte dos atletas não saiu do ônibus que os levou.
Entre estes, Robinho (26a), Neymar (18a), Ganso (21a), Fábio Costa (32a), Durval (29a), Léo (24a), Marquinhos (28a) e André (19a), todos ídolos super-aguardados.
O motivo teria sido religioso, a instituição é espírita, o Lar Espírita Mensageiros da Luz, de Santos-SP, cujo lema é Assistência à Paralisia Cerebral
Visivelmente constrangido, o técnico Dorival Jr. tentou convencer o grupo a participar da ação de caridade. Posteriormente, o Santos informou que os jogadores não entraram no local simplesmente porque não quiseram.
Dentro da instituição, os outros jogadores participaram da doação dos 600 ovos, entre eles, Felipe (22a), Edu Dracena (29a), Arouca (23a), Pará (24a) e Wesley (22a), que conversaram e brincaram com as crianças.
Eis que o escritor, conferencista e Pastor (com P maiúsculo) ED RENÉ KIVITZ, da Igreja Batista de Água Branca (São Paulo), fez uma análise profunda sobre o ocorrido e escreveu o texto abaixo que tenho o prazer de compartilhar.

No Brasil, futebol é religião, por Ed Rene Kivitz

Os meninos da Vila pisaram na bola. Mas prefiro sair em sua defesa.Eles não erraram sozinhos. Fizeram a cabeça deles. O mundo religioso é mestre em fazer a cabeça dos outros. Por isso, cada vez mais me convenço que o Cristianismo implica a superação da religião, e cada vez mais me dedico a pensar nas categorias da espiritualidade, em detrimento das categorias da religião.
A religião está baseada nos ritos, dogmas e credos, tabus e códigos morais de cada tradição de fé. A espiritualidade está fundamentada nos conteúdos universais de todas e cada uma das tradições de fé.
Quando você começa a discutir quem vai para céu e quem vai para o inferno; ou se Deus é a favor ou contra à prática do homossexualismo; ou mesmo se você tem que subir uma escada de joelhos ou dar o dízimo na igreja para alcançar o favor de Deus, você está discutindo religião. Quando você começa a discutir se o correto é a reencarnação ou a ressurreição, a teoria de Darwin ou a narrativa do Gênesis, e se o livro certo é a Bíblia ou o Corão, você está discutindo religião. Quando você fica perguntando se a instituição social é espírita kardecista, evangélica, ou católica, você está discutindo religião.
O problema é que toda vez que você discute religião você afasta as pessoas umas das outras, promove o sectarismo e a intolerância. A religião coloca de um lado os adoradores de Allá, de outro os adoradores de Yahweh, e de outro os adoradores de Jesus. Isso sem falar nos adoradores de Shiva, de Krishna e devotos do Buda, e por aí vai. E cada grupo de adoradores deseja a extinção dos outros, ou pela conversão à sua religião, o que faz com que os outros deixem de existir enquanto outros e se tornem iguais a nós, ou pelo extermínio através do assassinato em nome de Deus, ou melhor, em nome de um deus, com d minúsculo, isto é, um ídolo que pretende se passar por Deus.
Mas, quando você concentra sua atenção e ação, sua práxis, em valores como reconciliação, perdão, misericórdia, compaixão, solidariedade, amor e caridade, você está no horizonte da espiritualidade, comum a todas as tradições religiosas. E quando você está com o coração cheio de espiritualidade, e não de religião, você promove a justiça e a paz.Os valores espirituais agregam pessoas, aproxima os diferentes, faz com que os discordantes no mundo das crenças se deem as mãos no mundo da busca de superação do sofrimento humano, que a todos nós humilha e iguala, independentemente de raça, gênero, e inclusive religião.
Em síntese, quando você vive no mundo da religião, você fica no ônibus. Quando você vive no mundo da espiritualidade que a sua religião ensina ou pelo menos deveria ensinar, você desce do ônibus e dá um ovo de
páscoa para uma criança que sofre a tragédia e miséria de uma paralisia mental.

Ed René Kivitz, cristão, pastor evangélico, e santista desde pequenininho.


Não sei se o Pastor Ed René Kivitz é ou não maçom. Nem sequer sei se ele aprecia os maçons. Sei que concordo em todas as frases, em todas as palavras, em todas as letras, com o que o Pastor escreveu.

Isto é o que a Maçonaria ensina. Isto é o que os maçons devem e procuram aprender. Que seja ensinado por quem, porventura, não é maçom, não interessa nada. Porque as boas lições são para serem aprendidas, venham de onde vierem. Hoje tenho muita honra em bradar que aprendi com este texto e em aqui o publicar para que outros possam também com ele aprender.
Rui Bandeira, maçom, advogado e benfiquista desde pequenininho.