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24 agosto 2015

Maçonaria em Loja (republicação)

O texto de hoje saiu da pena do J. Paiva Setúbal na época em que teve os "destinos" da Respeitável Loja Mestre Affonso Domingues nº5 nas suas mãos. Ou seja, foi escrito e publicado durante o seu Veneralato, que decorreu durante os anos profanos de 2007 e 2008.

Trago-Vos este texto porque considero que ele faz uma reflexão bastante certeira sobre o que  a Loja espera dos seus obreiros. A contemporaneidade deste texto é inegável, e por isso mesmo, decidi partilhá-lo com aqueles que possivelmente não terão tido acesso a ele, por se encontrar nos "confins" do blogue, mas também àqueles a quem tal nunca poderá passar despercebido, sendo que nunca é tarde demais para salientar esta reflexão que foi efetuada na altura por quem a escreveu e que a decidiu partilhar com os leitores nessa época, cabendo agora a mim, ter a mesma deferência para com os atuais leitores...

Apesar de o texto poder ser consultado aqui, deixo-Vos para vossa leitura agora o respetivo texto.

"Maçonaria em Loja

A organização da Maçonaria Regular tem uma base de sustentação, a Loja.

E a Loja tem como base os Obreiros que a compõem.
Quero eu acentuar com este começo de texto que os Obreiros, ao nível das Lojas, são os alicerces sobre os quais toda a estrutura se levanta.

Bom…, mas sendo os Obreiros homens, seres humanos com pernas, braços e o resto, como todos os outros, interessa discorrer um pouco sobre o relacionamento entre os componentes desta estrutura que assume uma tão grande responsabilidade.
Quando alguém é proposto para iniciação na Maçonaria, necessariamente a nível de loja, é-lhe feito um inquérito e sobre isso já se escreveu aqui neste blog o suficiente para justificar que não gaste agora mais espaço com o porquê e o como do inquérito.
Mas interessa notar que sendo o inquérito, ele também, feito por homens, é evidentemente um exercício de conclusões falíveis, e pode acontecer que seja proposto para iniciação alguém que realmente não esteja em condições de admissão na Maçonaria.
Em boa verdade as exigências são absolutamente humanas, isto é, na prática apenas se exige que o candidato seja um Homem, assim com maiúscula, o que neste caso se resume no nosso dizer, “livres e de bons costumes” e queira verdadeiramente pertencer a esta estrutura.
Apenas isso.
Ainda assim pode acontecer um erro de apreciação, por parte de quem faz a inquirição ou da parte do profano que se apresenta a candidato, e quando isso acontece todos perdem.
É uma óbvia desilusão para todos, desencantamento para o candidato que só tarde percebe que afinal a Maçonaria não responde às suas interrogações e aos Irmãos que com ele contactaram porque, à alegria de receber mais um membro na Família se segue a tristeza de verificar que afinal todos estavam enganados.

O relacionamento entre obreiros da Loja constitui o betão que garante a força da estrutura, de forma a que o “prédio” resista aos temporais que de tempos a tempos acontecem, tal qual na Natureza, e do qual a história da nossa Loja Mestre Affonso Domingues, também já contada aqui, pode bem servir de exemplo.
Este relacionamento tem por base duas variáveis, a saber, os procedimentos rituais (o “Ritual” como conjunto de regras formais que regulam a vida em Loja) e a Amizade entre os Irmãos membros daquela comunidade.
É no Ritual e na Amizade entre os Irmãos que assenta tudo o resto.
Se alguma destas variáveis falha, falha a Maçonaria !

Relativamente ao Iniciado muito pouco se sabe, habitualmente.
A Loja sabe que é conhecido do padrinho que o propõe e esse, sendo necessariamente um Mestre Maçom, merece a confiança dos restantes membros da Loja.
Depois, durante o inquérito, algo mais se fica sabendo, mas são conversas curtas, 1 hora ou 2, o tempo de um almoço ou algo assim, o que é manifestamente pouco tempo para conhecer alguém com pormenor.
Quando o Profano se apresenta para iniciação raramente a generalidade da Loja conhece detalhes da sua vida profana, nomeadamente a profissão, onde trabalha, o que faz, qual o grau de formação e por aí fora.
De facto não é isto que consta por aí, mas é isto o que acontece na verdade !
O que se pede a todos os Maçons quando em Loja é que deixem “os metais à porta do Templo”, e este pedido/exigência é frequentemente mal entendido por muitos, interpretando os “metais” como sendo a bolsa com os valores que eventualmente contenham (aquilo com que se compram os melões…).
Ora os “metais” que devem de ficar à porta do Templo são muito mais subjectivos do que isso.
Esses metais devem ser entendidos como os valores aos quais a profanidade dá importância grande, mas que em vivência Maçónica não só são dispensáveis como totalmente desajustados aos valores que a Maçonaria cultiva.
São a arrogância, a vaidade e a ambição.
Esses são os metais que, de todo devem ficar à porta, para que lá dentro reine verdadeiramente, e naturalmente, a igualdade e a fraternidade objectivos finais do nosso trabalho.
Sem isso surgirão as disputas por interesses particulares, a arrogância da saliência, a ambição por lugares de destaque.

Recordo palavras do nosso companheiro de blog Templuum Petrus, “quem se humilha será exaltado, mas quem se exalta será humilhado”.

Pois saibamos verdadeiramente, convictamente, deixar à porta do Templo os nossos metais, principalmente aqueles, porque eles são o fruto da grande maioria (totalidade ?) dos desencontros entre Maçons, tal como afinal são a razão de todas as guerras.
Cultivemos e levemos connosco a capacidade de compreender as diferenças.
Porque afinal, ser amigo do que gostamos ou do que nos é igual é fácil.
O que pode ser desafio interessante é a amizade com a diferença.
E para isso a abertura de espírito e a capacidade de aceitação é uma exigência."

J.P. Setúbal


18 novembro 2008

Mau-gosto

O texto de hoje não tem nada a ver com Maçonaria. Ou, se calhar, bem vistas as coisas, até tem. Pelo menos com a forma como os princípios maçónicos nos levam a ver e ajuizar as situações.

Li ontem na revista Visão (sai à quinta-feira, mas com esta coisa de trabalhar, escrever no blogue e não ser um completo estranho para a família só consigo ler aos bocadinhos e cada exemplar dá-me para uma semana...) um artigo sobre os reveses e infortúnios que recentemente Paulo Teixeira Pinto tem tido na sua vida privada. Já de si, não é um assunto que me pareça que deva ser objeto do interesse de um órgão de informação de referência. Que os tablóides metam o nariz na vida privada das figuras públicas, já estamos infelizmente habituados. Que a imprensa considerada séria vá pelos mesmos caminhos é um acrescido motivo de desagrado. Mas, enfim, ser figura pública tem destes inconvenientes. E Paulo Teixeira Pinto é, incontestavelmente, uma figura pública em Portugal. Foi Secretário de Estado, foi Presidente da Comissão Executiva do maior banco privado português, esteve envolvido na luta pelo controlo da gestão desse banco, enfim, colocou-se sob as luzes dos projetores da opinião pública (ou da publicada, o que não é bem a mesma coisa...). Por outro lado, ele próprio deu informações sobre opções da sua vida, que, de algum modo, contribuíram para moldar a imagem que dele o público tem.

Entre essas informações que ele próprio deu ou permitiu que fossem tornadas públicas e confirmou, estão os factos de, durante um apreciável número de anos, ter sido um membro supranumerário da Opus Dei e de ter, recentemente, cessado essa ligação.

O artigo da Visão aponta uma sucessão de factos ocorrida depois da saída de Paulo Teixeira Pinto da Opus Dei que parece justificar o título do artigo, O homem a quem tudo acontece: saiu da presidência do maior banco privado português, sofre de uma doença neurológica degenerativa que obviamente lhe é penosa, divorciou-se há pouco tempo, terminando um casamento de 25 anos e, para cúmulo, muito recentemente morreu subitamente o seu filho primogénito, jovem de 22 anos. Realmente uma sucessão de eventos e infortúnios que não podem deixar de fazer mossa ao mais pintado...

Ao desagradável de sofrer essa sucessão de infortúnios, soma-se a exposição dos mesmos (à exceção da sua saída do banco, tudo situações estritamente da sua vida privada) ao comentário público. Já de si é mau.

Agora o que francamente me chocou, me indignou, foi uma específica passagem do artigo em que a jornalista dá conta de uma frase sobre ele proferida por um alegado seu amigo, segundo o juízo da jornalista sem encerrar qualquer ironia: "O ano de 2008 é o seu annus horribilis. Não sei se o Altíssimo quer castigá-lo por ter saído da Opus Dei."

Francamente! Que mau-gosto! Com amigos destes, Paulo Teixeira Pinto não precisa de inimigos! Bem sei que o disparate não paga imposto, mas disparates com a insensibilidade deste, sobretudo, fazem-me desejar que passe a pagar!

Paulo Teixeira Pinto (que não conheço, note-se) é, manifestamente, um crente, um homem para quem a sua religião é importante. Só assim se compreende a sua ligação à Opus Dei. E, aliás, a sua saída dessa organização não é por ele justificada com perda de fé, pelo contrário, apenas por ter chegado á conclusão de que não deveria viver essa sua fé com os constrangimentos e regras impostos por essa organização. Um suposto amigo dizer a uma jornalista que admite que Deus esteja a castigá-lo pela sua decisão de abandonar a Opus Dei é de uma insensibilidade completa, indigna da pretensa amizade!

E claro que é um disparate do tamanho de um comboio! Não apenas por presumir que o Criador não tem mais do que fazer do que criar infortúnios na vida de um homem que decidiu abandonar uma organização humana. Mas também pela conceção do Criador que espelha, que é tudo menos lisongeira, variando entre o dono de escravos que decide infernizar a vida do servo que abandonou o lado da fazenda que devia amanhar, o titereiro que move as marionetas a seu bel-prazer, o ente vingativo que pune com mil penas quem lhe caiu em desgraça...

Disparate, disparate, disparate! Esta conceção do Altíssimo como Divindade a temer já era!

Ou talvez se tratasse da passagem de uma subliminar mensagem: quem deixar a Obra verá a sua vida a andar para trás. Ou talvez fosse a subliminar identificação da Obra com Deus. Ou talvez não fosse apenas uma frase infeliz e mal pensada e, pelo contrário, tenha sido pensada e querida, para ter efeitos exemplares... Se assim foi, passa da categoria do mau-gosto para a do nojo, puro e simples.

Paulo Teixeira Pinto tem de beber o cálice amargo dos infortúnios que a roda da vida lhe reservou para esta fase da sua vida. E que hão de passar, quando a roda rodar. Não precisa ainda por cima de ser objeto de pseudo-boutades, meros soundbites, deste género. Que só revelam intolerância.

Não me interpretem mal. Não estou a criticar a Opus Dei. Aliás, eu não alinho na pretensa rivalidade entre esta organização e a Maçonaria, que acho que não tem qualquer razão de ser. Cada instituição no seu campo e não me incomodes a mim, que eu não te incomodo a ti. Apenas entendo que cada um é livre de procurar o seu caminho onde se sentir melhor. E de sair de onde entrou, se assim o entender. Não é proibido. Não é... pecado! E não merece que um qualquer, ainda por cima dizendo-se amigo, profira enormidades deste jaez.

Procuro cultivar a tolerância. Mas confesso que o meu nível de tolerância para o disparate grosseiro e o mau-gosto é muito baixo. Porque distingo muito bem entre a tolerância, que deve ser praticada, e a indiferença, que é a antecâmara da insensibilidade.

Pronto! Já desabafei!

Rui Bandeira

01 outubro 2007

Maçonaria em Loja

A organização da Maçonaria Regular tem uma base de sustentação, a Loja.
E a Loja tem como base os Obreiros que a compõem.
Quero eu acentuar com este começo de texto que os Obreiros, ao nível das Lojas, são os alicerces sobre os quais toda a estrutura se levanta.

Bom…, mas sendo os Obreiros homens, seres humanos com pernas, braços e o resto, como todos os outros, interessa discorrer um pouco sobre o relacionamento entre os componentes desta estrutura que assume uma tão grande responsabilidade.
Quando alguém é proposto para iniciação na Maçonaria, necessariamente a nível de loja, é-lhe feito um inquérito e sobre isso já se escreveu aqui neste blog o suficiente para justificar que não gaste agora mais espaço com o porquê e o como do inquérito.
Mas interessa notar que sendo o inquérito, ele também, feito por homens, é evidentemente um exercício de conclusões falíveis, e pode acontecer que seja proposto para iniciação alguém que realmente não esteja em condições de admissão na Maçonaria.
Em boa verdade as exigências são absolutamente humanas, isto é, na prática apenas se exige que o candidato seja um Homem, assim com maiúscula, o que neste caso se resume no nosso dizer, “livres e de bons costumes” e queira verdadeiramente pertencer a esta estrutura.
Apenas isso.
Ainda assim pode acontecer um erro de apreciação, por parte de quem faz a inquirição ou da parte do profano que se apresenta a candidato, e quando isso acontece todos perdem.
É uma óbvia desilusão para todos, desencantamento para o candidato que só tarde percebe que afinal a Maçonaria não responde às suas interrogações e aos Irmãos que com ele contactaram porque, à alegria de receber mais um membro na Família se segue a tristeza de verificar que afinal todos estavam enganados.

O relacionamento entre obreiros da Loja constitui o betão que garante a força da estrutura, de forma a que o “prédio” resista aos temporais que de tempos a tempos acontecem, tal qual na Natureza, e do qual a história da nossa Loja Mestre Affonso Domingues, também já contada aqui, pode bem servir de exemplo.
Este relacionamento tem por base duas variáveis, a saber, os procedimentos rituais (o “Ritual” como conjunto de regras formais que regulam a vida em Loja) e a Amizade entre os Irmãos membros daquela comunidade.
É no Ritual e na Amizade entre os Irmãos que assenta tudo o resto.
Se alguma destas variáveis falha, falha a Maçonaria !

Relativamente ao Iniciado muito pouco se sabe, habitualmente.
A Loja sabe que é conhecido do padrinho que o propõe e esse, sendo necessariamente um Mestre Maçom, merece a confiança dos restantes membros da Loja.
Depois, durante o inquérito, algo mais se fica sabendo, mas são conversas curtas, 1 hora ou 2, o tempo de um almoço ou algo assim, o que é manifestamente pouco tempo para conhecer alguém com pormenor.
Quando o Profano se apresenta para iniciação raramente a generalidade da Loja conhece detalhes da sua vida profana, nomeadamente a profissão, onde trabalha, o que faz, qual o grau de formação e por aí fora.
De facto não é isto que consta por aí, mas é isto o que acontece na verdade !
O que se pede a todos os Maçons quando em Loja é que deixem “os metais à porta do Templo”, e este pedido/exigência é frequentemente mal entendido por muitos, interpretando os “metais” como sendo a bolsa com os valores que eventualmente contenham (aquilo com que se compram os melões…).
Ora os “metais” que devem de ficar à porta do Templo são muito mais subjectivos do que isso.
Esses metais devem ser entendidos como os valores aos quais a profanidade dá importância grande, mas que em vivência Maçónica não só são dispensáveis como totalmente desajustados aos valores que a Maçonaria cultiva.
São a arrogância, a vaidade e a ambição.
Esses são os metais que, de todo devem ficar à porta, para que lá dentro reine verdadeiramente, e naturalmente, a igualdade e a fraternidade objectivos finais do nosso trabalho.
Sem isso surgirão as disputas por interesses particulares, a arrogância da saliência, a ambição por lugares de destaque.

Recordo palavras do nosso companheiro de blog Templuum Petrus, “quem se humilha será exaltado, mas quem se exalta será humilhado”.

Pois saibamos verdadeiramente, convictamente, deixar à porta do Templo os nossos metais, principalmente aqueles, porque eles são o fruto da grande maioria (totalidade ?) dos desencontros entre Maçons, tal como afinal são a razão de todas as guerras.
Cultivemos e levemos connosco a capacidade de compreender as diferenças.
Porque afinal, ser amigo do que gostamos ou do que nos é igual é fácil.
O que pode ser desafio interessante é a amizade com a diferença.
E para isso a abertura de espírito e a capacidade de aceitação é uma exigência.
J.P. Setúbal