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15 maio 2011

Perceção, verdade e tolerância - I


Como sabemos nós que os nossos sentidos não nos mentem? Como podemos validar se a nossa perceção dos acontecimentos e do mundo é igual à dos outros perante a mesma realidade? Poderemos confiar nas conclusões que decorrem daquilo que os nossos sentidos nos indicam? Em caso de discrepância de interpretação, poderemos saber onde está a verdade? Haverá uma verdade absoluta e objetiva, ou tudo é relativo e subjetivo? E o que é que isto tem que ver com Maçonaria?

O mundo - a realidade que nos é exterior - não pode ser diretamente apercebido pelo nosso cérebro. Este tem que valer-se dos nossos sentidos para se aperceber das características das coisas. Dizem os empiristas que é "ver para crer". Mas será assim? Lá porque eu vejo o céu e digo que é azul, e a pessoa ao meu lado também o vê e diz que é azul, como posso eu saber que a perceção que ela tem da cor é a mesma que a minha? Como sei que ela não vê o céu vermelho, ou verde - e lhe chama "azul" porque aprendeu que aquela cor se chama "azul"? De facto, é algo de muito difícil - para não dizer impossível - de se aferir.

Os nossos sentidos são as janelas que o nosso cérebro tem para o mundo. Através dos sentidos temos a perceção de como o mundo é. Mas será que os nossos sentidos nos dizem a verdade, ou será que nos enganam? Como podemos saber se algo é verdadeiro? Será o céu verdadeiramente azul?

A perceção não pode ser dissociada da interpretação. Não  somo capazes de "ver" apenas, sem interpretar o que vemos, e o que fixamos não é senão a interpretação que fazemos daquilo de que nos apercebemos. Não somos máquinas de filmar; não é assim que funciona o nosso cérebro. Os nossos sentidos não são confiáveis enquanto fonte de verdade. Vejamos um exemplo. Se virmos alguém dizer "ba - ba - ba" e olharmos para a sua boca, um dos sentidos reforça o outro. O nosso cérebro "ouve" o "ba - ba - ba". Mas se, a certa altura, a imagem passar a ser a de uma pessoa que diz "fa - fa - fa", e o som se mantiver? O que acontece?

Sem experimentar, podemos especular que ouviremos "ba - ba - ba" e notaremos que a pessoa está a fazer um movimento de boca que não corresponde ao som que ouvimos. Mas não é isso que acontece. Incrivelmente, passamos a ouvir "fa - fa - fa". E, se fecharmos os olhos, ouvimos "ba - ba - ba". Não acreditam? Vejam aqui.

Imaginemo-nos em tribunal a testemunhar o que ouvimos. "Mas ouviu mesmo o réu dizer fa-fa-fa?", e juraremos, por tudo o que é mais sagrado, que sim, e o nosso testemunho condená-lo-á. Mas onde fica a verdade no meio de tudo isto? Perguntemos a uma centena de pessoas que assistiram ao acontecimento. Todas dirão: "Sim, ele disse fa-fa-fa." Todas, menos uma. Será um mentiroso? Não, apenas um cego, cujo cérebro não foi iludido pela inconsistência entre os dois sentidos. Na sua limitação, apercebeu-se da realidade melhor do que aqueles que julgavam ver a luz.

Paulo M.

Fontes:
http://donn.wordpress.com/2003/10/07/truth/
http://www.youtube.com/watch?v=G-lN8vWm3m0
http://taoism.about.com/b/2009/08/24/truth-perception.htm