22 janeiro 2008

A prancha de Aprendiz

Para o Aprendiz que se entrosou no grupo e que vem fazendo o seu trabalho, com assiduidade e diligência, chega sempre um momento em que um Mestre – por regra o 2.º Vigilante, mas pode ser qualquer Mestre -, no meio de uma descontraída conversa, a propósito ou aparentemente a despropósito, lança, como quem não quer a coisa, a pergunta: - Então, já escolheste o tema da tua Prancha?

Este é o primeiro sinal que é dado ao Aprendiz que os Mestres da Loja entendem que o seu trabalho está a ser frutífero e que se aproxima a hora de novo avanço. O tempo da integração e da adaptação decorreu e está próximo de terminar, o tempo de progredir está-se a aproximar. Não quer isto dizer que a progressão, o avanço esteja já aí ao virar da esquina. Não é incomum, pelo menos na Loja Mestre Affonso Domingues, que, entre o momento em que o Aprendiz é incentivado a começar a elaboração da sua prancha e aquele em que deixará de ser Aprendiz medeiem uns bons seis meses, ou mesmo mais. É que, entre o primeiro incentivo ao Aprendiz à elaboração por este de uma prancha e a conclusão por este da dita, vai seguramente decorrer algum tempo. E depois há que agendar a sua apresentação em Loja. E, decorrida esta, haverá que aguardar pela ocasião propícia para a Passagem do Aprendiz à fase seguinte do seu percurso maçónico. E já neste espaço deixei consignado (por várias vezes) que pressa e maçonaria não ligam bem...

A elaboração pelo Aprendiz de uma Prancha é essencial para possibilitar o seu avanço de grau. A Prancha do Aprendiz é como que o relatório do seu trabalho, o registo da sua mudança, a exposição da sua evolução, patenteados perante a Loja. Não é um exame – o Aprendiz não tem que provar a sua proficiência em Simbolismo, Aperfeiçoamento e Artes e Ofícios Correlativos... Aliás, tudo o que o Aprendiz tem de provar, tem de o fazer a si próprio, apenas e tão só, e a mais ninguém. Se ele quiser lograr alguém, só ele será enganado, mais ninguém...

A Prancha do Aprendiz é, antes do mais e para além de tudo o mais, apenas mais um trabalho que este deverá executar. Com a diferença que este se destina, não apenas ao interior de si próprio, mas também a ser apresentado, escrutinado, apreciado em Loja.

O essencial interesse da Prancha de Aprendiz é a sua feitura. Mais uma vez, o que interessa é o percurso, não a meta. Também aqui o essencial é o trabalho que o Aprendiz realiza e não propriamente o seu resultado final. Há Pranchas de Aprendiz belas e vulgares. Enciclopédicas e triviais. Extensas e breves. Profundas e superficiais. Enfeitadas e toscas. Literatas e simples. Imaginativas e insossas. Há de tudo. Não importa. O que importa é o investimento pessoal que o Aprendiz fez na sua elaboração e, com ele, o que aprendeu, o que sistematizou, a aresta que limou.

Apresentada que esteja a prancha, ela é sempre, na Loja Mestre Affonso Domingues, objecto de apreciação e comentário dos Mestres presentes. Normalmente, todos os Mestres, ou quase, se pronunciam. E todos os que o fazem, qualquer que seja o nível da prancha, do mais esplendoroso e credor de admiração, ao mais simples, nos seus comentários lobrigam algo de positivo, algo de bom, e algo de negativo, algo susceptível de melhoria. Pode o trabalho ser objecto dos mais entusiásticos encómios – mas não deixará de ver apontado um, insignificante que seja, aspecto em que se declara que podia ser ainda melhor. Pode o trabalho sofrer as mais ferozes críticas – mas não deixará de se realçar, por minúsculo que seja, o aspecto merecedor de uma referência elogiosa. Porque todo o trabalho dedicadamente feito merece encómios e nenhum trabalho humano é perfeito. Porque foi feito e apresentado por um dos nossos. E os nossos têm de nós sempre o elogio misturado com a censura, para que nunca sucumbam à tentação de subir às alturas que causaram a queda de Ícaro; e os nossos merecem de nós sempre a crítica lúcida, verdadeira e leal, mas sempre temperada com o incentivo do nosso reconhecimento do que de bom é feito e da sua capacidade de fazer melhor.

Normalmente, as três últimas intervenções são, respectivamente, do 2.º Vigilante (o Mestre responsável pela Coluna dos Aprendizes) – que termina a sua intervenção declarando que entende que o Aprendiz está pronto para avançar para o grau seguinte -, do 1.º Vigilante (o Mestre responsável pela Coluna dos Companheiros) – que termina a sua intervenção manifestando a sua disponibilidade para receber o Aprendiz que apresentou a Prancha na sua Coluna – e do Venerável Mestre – que sintetiza tudo o que foi dito, anunciando que oportunamente se procederá ao aumento de salário (isto é, à passagem de grau) do autor da prancha.

Assim se declara o reconhecimento da Loja da evolução que o Aprendiz teve desde que foi iniciado. Assim funciona e trabalha a Loja Mestre Affonso Domingues. E não nos temos dado mal com o sistema...

Rui Bandeira

21 janeiro 2008

MAÇONARIA E AMBIENTE- Conclusão: Fazer diferença

Apelar às boas práticas de poupança e protecção do ambiente há muito quem faça. Ele é o grupo que trata das espécies ameaçadas, ele é a associação que denuncia as duzentas e cinquenta e sete mil e quinhentas maneiras de poluir a água, o ar, o solo e as mentalidades, ele é a organização que pugna pelos parques naturais...

Para chamar a atenção sobre a causa da protecção do ambiente existem muitas e variadas associações, organizações, comissões. Uns mais fundamentalistas, outros mais pragmáticos. Uns pugnando pelas energias renováveis, entre as quais a energia hídrica, outros lutando contra a construção de barragens produtoras de energia hídrica, em nome da preservação da Natureza mais natural, verde mais verde não há...

A conservação do ambiente está na moda! O aquecimento global parece que está aí e agora todos acordaram, despertados pelo toque do despertador da urgência do aqui-del-rei que o efeito de estufa vai estragar isto tudo, somos todos uns inconscientes que estamos a dar cabo dos futuros dos nossos netos e dos netos deles e o pior de tudo é que até mesmo o nosso futuro parece que não é brilhante...

A protecção do ambiente já está, mesmo, a servir de pretexto para grandes novos negócios, que a seu tempo irão substituir o declínio dos velhos negócios poluidores do ambiente. O ambiente, sua protecção e conservação é hoje pretexto para tudo e mais alguma coisa, disto e do seu contrário, daquilo e das perspectivas que aqueloutro abre. Reconhecê-lo não é minimizar o tema, é simplesmente ser realista.

No entanto, o certo é que, com ou sem fundamentalismos, com ou sem exageros, com ou sem negócios, com ou sem modas, é efectivamente necessário proteger o ambiente, propiciar a manutenção da maior diversidade biológica possível, procurando evitar a extinção de espécies, tentar não agravar e, se possível, diminuir o efeito de estufa, trabalhar para não agravar e, de preferência, diminuir a poluição aérea, aquática, dos solos e, sobretudo, das mentes. Não por causa do lince da serra da Malcata ou do tigre siberiano, mas por causa de um bicho muito mais problemático: o Homem! Não por causa da defesa da floresta pela floresta, mas pelo que ela representa para a manutenção possível do nosso modo de vida e da Civilização Humana. Não porque a Natureza é bonita e a Terra é um Planeta Azul, mas porque a Natureza é o nosso meio natural de sobrevivência e a Terra o nosso único porto de abrigo em todo o Universo - pelo menos por enquanto e por muito mais tempo, tanto quanto podemos prever.

A protecção e conservação do ambiente é, pois, mais do que a moda ou o negócio, uma necessidade.

Muitos - cada vez mais - vão disso estando conscientes e, por isso, muitas associações, fundações, comissões, organizações, grupos, comités, enfim, todo este mundo e mais um par de botas, tudo e todos, estão despertos e actuantes (ou, pelo menos, falantes...) sobre o tema.

Estando o tema na ordem do dia, havendo tantos e tão variados contributos sobre ele, que mais-valia neste campo pode afinal trazer a Maçonaria?

O que procurei demonstrar foi que, no meu entender, o contributo que a Maçonaria pode utilmente dar não é engrossar o caudal dos voluntarismos, das actuações avulsas ou organizadas, dos activismos. Esse caudal é já importante e importa, aliás, que não se transforme, por causa dos fundamentalismos militantes que aqui e ali nele flutuam, em torrente destruidora de tudo e de todos, em homenagem a um bacoco bucolismo.

O contributo que a Maçonaria pode dar é procurar identificar os grandes temas enformadores dos principais problemas ambientais, procurar para eles chamar a atenção, propiciar a investigação das soluções possíveis para a sua resolução.

Na minha muitíssimo modesta opinião, os três reais campos em que se impõe que a Humanidade trabalhe e encontre as soluções para a doença de que as alterações ambientais são apenas sintomas são a Demografia, a Energia e a Economia. Sem resolvermos o problema demográfico, sem resolvermos a dificuldade de suprir as necessidades energéticas da nossa civilização sem delapidarmos os recursos naturais, sem cumprirmos o verdadeiro objectivo da economia, que é o de suprir as necessidades de todos, podemos fazer todas as campanhas que quisermos, ter todos os voluntarismos de que formos capazes, mas não resolvemos o problema do Equilíbrio Ambiental.

Em meu entender, o papel da Maçonaria, neste como noutros planos, é o de deixar campo livre e aberto a quem olha, analisa, vê, cuida, protege e acarinha as árvores, dedicando-se antes a olhar para a floresta e a cuidar da sua preservação global.

Que os muitos outros que se preocupam com o ambiente cuidem dos detalhes, das minudências, das urgências, que também se impõe sejam cuidados. A Maçonaria deve congregar à identificação, estudo e resolução dos problemas que estão a montante da questão do ambiente e que, por isso, são a verdadeira causa da existência de um problema de Equilíbrio Ambiental

Assim se ganhará o Futuro. O Futuro que começa já amanhã!

Rui Bandeira

19 janeiro 2008

Millôr01

Neste Sábado que já é Domingo deu-me para pôr uma pitada de loucura no blog.

Já deixei aqui algumas indicações de que sou um fã do Millôr Fernandes e tenho coleccionado alguma documentação onde o "Velho" Millôr bota os seus conceitos e "definições definitivas".
Ora bem, aos fins de semana virei ao blog trazer-Vos um cheirinho deste humor implacável, meio louco (como o humor deve ser), meio filosófico, meio anarca, meio justiceiro, assim mesmo com quatro meios !

Arranjem-se como quiserem com a matemática.
Para os "velhos" que acompanharam as publicações revisteiras nos idos dos 50 e 60 do século passado recordar-se-ão de "O Cruzeiro" (existiu de 1928 a 1975), revista brasileira que teve grande divulgação, e onde durante muitos anos Millôr Fernandes manteve uma colaboração que era a página onde eu ia assim que abria a revista, juntamente com o "Amigo da Onça", criação de outro grande humorista e cartonista brasileiro, Péricles de Maranhão.
Se me der na gana algum dia trarei também o "Amigo da Onça", mas por agora será o Millôr.
Aqui fica o primeiro da série.
.
DEFENDAMOS A ROSCA !
Com razão ficou indignada
quando, na confeitaria,
lhe deram rosca quadrada.
Ah, num mundo de vasta tecnologia
está bem que tirem o peso ao homem
substituam a função da clorofila
e descubram a antimatéria,
- onde ? –
na própria matéria.
.
Mas madame tem razão
de se mostrar indignada
se lhe dão rosca quadrada.
Não se respeita nada ?
Vão endireitar o gancho ?
Rectificar o anzol ?
Fazer âncoras em bola ?
Bolas pentagonais ?
Bananas, tão bacanas,
serão corrigidas em fôrmas especiais
sem atenção à sua específica condição bananoplástica
que é a tortuosidade ?
.
Em que mundo pisamos
que não podemos confiar mais
nem mesmo
na estabilidade emocional da padaria ?
.
Em que mundo estamos
se o padeiro já não acredita mais
que uma rosca é redonda, is round, é rotunda ?
.
Devemos reagir, salvar a rosca a todo o custo.
Se deixamos que a façam quadrada logo a farão estrelada,
hexagonal, triangular,
indefinida, informal, concreta,
até tachista.
Negarão Proust com as suas Madeleines bizantinas.
E a busca
será feita em esquinas.
.
Fixemos definitavamente:
UMA ROSCA É REDONDA.
Abaixo os exegetas dos paralelogramas culinários
e os fãs das tangentes fermentadas com perpendiculares.
Morte aos que apregoam doces sinusoidais,
pastéis secantes, bombons piramidais.
Se não os detivermos nessa paranóia geométrica
Dentro em breve nem lembraremos mais
os limites da rosca:
Forma, côr, tostagem, liquefacção,maciez e doçura.
E, perdida a rosca,logo teremos, na cozinha,
feijões quadrangulares,
porcos octogonais
e galinhas multiplanas
misturadas a ovos... nunca ovais !
.
Mas esse pesadelo dietético
poderá ser detido facilmente
se todas as donas de casa reagirem
trazendo sempre,
na boca e na memória,
esta imagem tosca, mas obrigatória:
“Uma rosca é uma rosca,
é uma rosca,
é uma rosca... !!!”.
.
MILLÔR FERNANDES – Cruzeiro, 24/11/1962
(Repetido do post de 15/06/2006).
.
Definições definitivas do Millôr:
.
E comerás o pão com o suor do teu rosto, condenou o Senhor.
Mas Adão e Eva, assim que puderam, começaram a comer o pão com o suor do padeiro.

Se o reino dos Céus é dos pobres de espírito, então meu Deus, já estamos no Paraíso.

Está bem que Israel é a terra prometida.
Mas por que Deus não prometeu logo os Estados Unidos ?

Nosso nível ético anda tão baixo que qualquer conversa política já vem protegida em envelope plástico de corrupção.

Estava jantando com três amigos jovens, bem sucedidos e simpáticos, os três acompanhados pelas suas belas mulheres, quando subitamente comecei a passar mal.
A princípio pensei que fosse indigestão.
Logo depois percebi que era inveja.

Quando você casa com a amante, bem…, o adultério não valeu a pena.

Se a gente vivesse de trás para a frente, hi!, a juventude ia ser ainda mais sacana!

Erudito é um sujeito que põe os ii nos nossos pingos.

Apesar das aparências os morangos e o chantilly não nascem na mesma árvore.

Sem níquel na algibeira
Vivo minha vida financeira
Só quero que alguma autoridade
Me responda com sinceridade:
Eu sou patriota
Ou sou só idiota ?

A esta altura da vida estou pensando seriamente em pedir ao Grande Editor uma segunda edição de mim mesmo, revista e aumentada.
E, claro, também com uma encadernação melhor, em pele de “Xuxa” marroquim.
(“Xuxa” é uma apresentadora/modelo da TV brasileira)

Vocês aí que sempre economizaram tanto para os dias piores, podem começar a gastar; os dias piores já chegaram.

Os dez mandamentos nunca impediram nada.
Mas deram cada ideia !

Há ânsia em todas as fisionomias, embora os que tentam ajudar procurem fingir tranquilidade diante da violência do acontecimento.
O Pai treme, a Mãe grita de dor, enquanto o garoto, todo sujo de sangue e fezes, chorando desesperadamente, tenta, angustiado, respirar.
O médico lhe dá algumas palmadas fortes.
Agora me digam: isso é lá jeito de começar a vida ?

Os homens são moralmente piores do que as mulheres.
Há homens que nem assistem ao nascimento dos filhos.
Não conheço uma mulher que tivesse esse deplorável comportamento.
.
JPSetúbal

18 janeiro 2008

O saldo


Ontem, as circunstâncias impediram-me de publicar aqui no blogue. Parti de madrugada para o Algarve, para um julgamento, que durou até ao final da tarde, só cheguei a Lisboa noite dentro e tive de ir de imediato para uma reunião com clientes que se prolongou até de madrugada. Enfim, um dia totalmente preenchido. E, a propósito de dia bem preenchido, eis mais um texto inspirado numa mensagem de correio electrónico que recebi, cuja origem desconheço e que eu adaptei.

Imagine que havia um Banco que todas as manhãs adicionava à sua conta 86.400 euros.

Esse estranho Banco, porém, não transfere o saldo de um dia para o outro: todas as noites apaga da conta o saldo que não foi gasto.

Que faria? Calculo que retiraria todos os dias a quantidade de dinheiro que não tinha gasto, não?

Pois bem, esse Banco existe mesmo: é o TEMPO!

Todas as manhãs, esse Banco adiciona à conta pessoal de cada um 86.400 segundos.

Todas as noites, esse Banco retira da conta de cada um, e dá como perdida, qualquer quantidade desse saldo que não foi transformada em algo de proveitoso.

Esse Banco não transfere saldos de um dia para o outro. Não permite acumulações.

Todos os dias abre a cada um uma nova conta. Todas as noites elimina o saldo do dia que findou.

Quem não utilizar o seu saldo diário, fica a perder: não tem uma segunda hipótese de utilizar o que sobra.

Não existe reforço do saldo diário. Cada um deve viver o presente com o saldo de hoje!

Cada um deve utilizar o seu tempo da melhor forma possível. O que não utilizar, ou utilizar mal, está perdido ou gasto para sempre.

Para se entender o valor de um ano, pergunte-se a um estudante que reprovou e tem de repetir o ano escolar...

Para se entender o valor de um mês, pergunte-se a uma mãe que olha para o seu bebé prematuro...

Para se entender o valor de uma semana, pergunte-se ao editor de um semanário...

Para se entender o valor de uma hora, pergunte-se ao enamorado que espera pela sua amada...

Para se entender o valor de um minuto, pergunte-se ao viajante que perdeu o comboio...

Para se entender o valor de um segundo, pergunte-se a uma pessoa que esteve à beira de ter um acidente...

E, para se entender o valor de um milésimo de segundo, pergunte-se ao atleta que recebeu a medalha de prata dos 100 metros planos dos últimos Jogos Olímpicos...!

Devemos dar valor a todos os momentos que vivemos. O tempo não espera por ninguém.

Eu aproveitei algum do meu saldo de hoje a escrever e publicar este texto.

Espero que achem que aproveitei bem o saldo que usei e que dêem por bem empregue o saldo que gastaram a lê-lo!

Rui Bandeira

16 janeiro 2008

Medula Ossea

Este tema tem sido recorrente aqui no Blog.

Li no Expresso desta semana que o Numero de dadores inscritos já é de quase 110 000. Em finais de 2006 estava pelos 60 000.

O mesmo artigo informava que POrtugal "forneceu" medula para varios países, e que recebeu também do Estrangeiro.

O numero de pessoas que receberam transplantes de medula de dador anónimo em POrtugal também aumentou .

Creio que este é um motivo para ficar MUITO SATISFEITO.

A todos os que colaboraram, ao CEDACE que coordenou - Obrigado.


José Ruah

Mais Memoria de Loja

Tem sido designio do actual Veneravel Mestre que se compile o espolio da Loja e que se faça a História da Loja.
Ha dois dias fui finalmente ao sitio onde tinha guardado todo o espolio que tinha na minha posse e tirei-lhe a poeira.
Muita coisa ja entreguei ao arquivista, mas alguns documentos estão ainda na minha posse. São documentos relativos às reuniões de discussao sobre o futuro da Loja aquando da cisão de 1996.
Sobre este assunto já falei, mas depois de reler os documentos comecei a digitalizar alguns. E se uns permitem a utilizaçao de OCR e pude passa-los a ficheiros de textos outros ficarao ficheiros de imagem.
Porque estes textos têm, na minha opinião, valor historico suficiente para serem publicados, mas sobretudo porque mesmo passados 11 anos ainda estao actuais decidi começar a publicaçao aqui mesmo.
Alguns deles, por serem manuscritos terei que os passar para ficheiro e isso levará tempo mas... valerá a pena.
O texto de hoje é a minha alocução inicial proferida em 18 Janeiro de 1997 no Hotel Plaza em Lisboa, perante cerca de 40 membros da Loja Mestre Affonso Domingues, ali reunidos para decidirem sobre o futuro da LOja.


ALocuçao Inicial
Rudes golpes atingiram esta casa, a fraternidade não imperou e o diálogo ou não existiu ou foi transformado em monologo.

Foram ditas e feitas coisas indignas de um Maçon, que queira ser digno desse nome.

Em nome de uma bandeira chamada regularidade esconderam-se seguramente os verdadeiros motivos que levaram os actuantes a fazer o que bem conhecemos.

Regularidade: Conceito esquisito
Regularidade: Aquilo que todos reclamam ter
Regularidade: Bandeira para guerras santas
Regularidade: Simplesmente a crença no GADU , a não discussão de política ou religião entre nós, o respeito pelos Landmarks e pelas constituições de Andersen.

Não sei qual das definições preferem, eu opto pela ultima.

Os protagonistas da crise esqueceram-se destes princípios, pois segundo a minha opinião esqueceram-se do GADU, envolveram-se em questões de ordem política , revelaram identidades seja explicita ou implicitamente, usaram da força

A cobiça dos Homens substituiu a sabedoria da tradição alicerçada nos landmarks . O homem quis ser Deus.

As paixões sobrepuseram-se às virtudes. Perverteu-se a Maçonaria.

Rudes golpes para atordoar, para ferir, para matar.


Quem é o responsável ?

Uns dizem Fernando Teixeira
Outros dizem Luís Nandim de Carvalho
Outros ainda afirmam que foram os dois e seus acólitos
Eu digo-vos NÓS.

Nós II, Nós Lojas, Nós Indivíduos.

Nós porque não fomos capazes de prever, antecipar e consequentemente evitar.

Nós Lojas nunca quisemos o poder por pensarmos que tínhamos coisas mais importantes para fazer.

Virámo-nos para dentro esquecendo o exterior.

Por nossa não actuação pagamos agora a factura. Factura que é elevada demais para as nossas posses.

Podemos argumentar, não não temos culpa, não destituímos ninguém, não fomos para a imprensa, não.

É verdade. Mas isso não impede que a factura nos seja dirigida.

Como Aconteceu?

Uns dizem que o início da crise foi há muito tempo, outros que foi apenas há umas semanas atrás.
Provavelmente têm todos razão ou não tem nenhum.

Como aconteceu também não é importante.


O que aconteceu?

Falar do sucedido sem tecer juízos de valor é difícil.
Sabem todos que o dom da palavra não tenho, o da pena julgarão depois de me ouvirem.

Tentarei citar factos, se porventura incorrer em algum juízo de valor é porque talvez não fosse possível descrever o facto tal qual aconteceu, ou porque também sou humano, embora a tendência seja de considerar o VM extra-humano pois falhas não lhe são normalmente admitidas.

Cingir-me-ei aos factos mais marcantes.

Segunda-feira, 25 Nov. 1996

É posto a circular um documento do tipo abaixo assinado que promove a destituição do Grão Mestre Luís Nandim de Carvalho.
Nunca vi este documento na sua forma original, mas informações recebidas de II em quem deposito a máxima confiança garantem a existência do mesmo nesta data.


Sexta-feira, 29 Nov. 1996

Publicação de um artigo no jornal” A Capital” referenciando esse mesmo movimento e incluindo uma fotografia de LNC e outros II durante o juramento prestado pelo
primeiro em sessão de GL de 28 Setembro de 1996 , aquando da sua instalação enquanto GM


Sábado 7 Dez 1996

Um grupo de IIocupa a sede da GLRP em Cascais, autodenominando-se governo interino.

Foram as suas acções seguintes a destituição do Grão Mestre LNC, do SCO ( nota introduzida – Soberano Colégio de Oficiais órgão deliberativo à época) , nomeação de novo SCO e envio de um comunicado à imprensa.
( permitam-me agora uma interrogação. Teria sido absolutamente necessário recorrer a forças de segurança privadas? )


Domingo 8 Dez 1996

Reunião de informação e debate promovida por LNC nas instalações da Associação Cultural Albert Pike, onde também funciona o Templo dos Altos Graus do REAA. Para este efeito a sala foi despojada de todos os adornos Maçónicos do REAA e as cadeiras dispostas em plateia.
Desta reunião saiu nomeado um secretariado de crise.


Segunda-Feira 9 Dez 1996

Reunião do SCO nomeado no dia 7, em Cascais , com o objectivo de ratificar as decisões tomadas no Sábado anterior.

Ratificação essa que segundo as minhas informações foi unânime entre os presentes.


Dias 7 - 8 - 9 - e seguintes


Profusão de comunicados e artigos na imprensa e na TV.

Todos os actos posteriores são consequência destes referidos e sobre eles não falarei, mas incluíram reuniões de VM, sessões de G.Loja, reuniões de SCO, reuniões várias. Decretos, Decretos anti-Decretos e Decretos anti-Decretos anti- Decretos.

E não falarei pelo seguinte:

Dos factos que relatei apenas um contou com a minha presença, sobre os demais recebi relatos de fontes de confiança como já referi.

Dos posteriores não vos falo, como disse acima, porque tudo o que sei deles foi o que ouvi a terceiros. Não estive presente em qualquer deles com o fito único de não comprometer a Loja que dirijo e que nos pertence.

Fi-lo na esperança que o GADU incutisse bom senso onde faltava e os II apertassem as mãos retomando a Cadeia de União.

Até hoje, isso não aconteceu e tanto quanto sei os caminhos divergem.


Outros acontecimentos dignos de registo

Tentei honestamente promover dialogo. As portas não se abriram.

Tentei conjuntamente com alguns II incutir bom senso nas bases, isto é nas Lojas. Não sei se tive sucesso.

Outras Lojas tentaram promover a conciliação. Não tiveram Sucesso.

Pergunto-vos

O que aconteceu à Tolerância?
O que aconteceu à Fraternidade ?
O que aconteceu ao Amor Maçónico?
O que aconteceu .....

Será que temos que rescrever o catecismo do grau de Aprendiz e à pergunta


DE ONDE VENS MEU IRMÃO ?

a resposta passe a ser

DE UMA LOJA DE TREVAS

Volto a dizer-vos as Paixões sobrepuseram-se à virtude.

Quando fui eleito para este cargo confidenciei àqueles que escolhi para oficiais desta Loja que pretendia apenas continuar o trabalho iniciado anteriormente, e que tentaríamos manter a nossa Loja em posição de relevo Maçónico mas sem sobressaltos exteriores.

Era só o que eu queria, e depois de acabar o mandato passar o malhete ao I que fosse eleito, acompanhá-lo com conselho se fosse pedido, para posteriormente ser GIe finalmente ocupar um lugar nas colunas, em posição cómoda e seguramente menos trabalhosa.

Foi um bom sonho, até porque o se tinha começado a concretizar. Acordei num pesadelo que infelizmente não o é por ser real.

Não gosto de conflitos, são normalmente desgastantes e consomem muito tempo.

Ninguém ganha uma guerra. E quem disser que ganhou é tolo. Com certeza não contabilizou os seus custos, excepto claro se o conceito de ganhar for “ganha o que ficar de pé” e então não é tolo é muito tolo para mais não dizer.

Tenho consciência que entre nós, obreiros desta Loja, existem múltiplas posições, algumas declaradamente assumidas, outras apenas assumidas, outras por assumir.

É minha esperança que nesta casa de tradição a não união não signifique a desunião e que o confronto de opiniões não seja uma guerra.

Respeito, como aliás sempre respeitei as posições de cada um enquanto indivíduo, e logo exercendo a sua prerrogativa de livre arbítrio.

Espero que a minha posição enquanto indivíduo seja respeitada, aquando do seu anuncio formal, ou seja se a concórdia não for possível.

A minha posição enquanto VM obriga-me à total imparcialidade e à luta pela paz e concórdia entre os II .

Durante este período , pareceu-me que a melhor política era a de deixar a poeira assentar. Não tomei, portanto, qualquer posição publica que pudesse comprometer a Loja Affonso Domingues.

Infelizmente até numa Loja em que a tradição tem um peso de respeito, em que entre os Irmãos constam ou constaram gentes vindas de muitos países, de várias confissões religiosas, cores e opiniões políticas, que permitiu chegar até hoje sem mácula, a divisão teima em aparecer.

Estou desgostoso porque esta divisão é causada por razões e motivos intra­Obediência.

Somos Fortes para fora e fracos do lado de dentro.

Foi-nos dado a acreditar que sendo respeitados e reconhecidos pelos países A; B; C; etc. o nosso futuro estava assegurado.

Pobre arquitecto que desenha uma cúpula de Prata e uma fundação de papelão.

Pobre do seu segundo que não o chamou à realidade.

E por fim pobres de nós que apanhamos com o tecto na cabeça.

Disse-vos já que os responsáveis da crise tínhamos sido nós.

Talvez não seja tanto assim.

Não vou assacar responsabilidades a A ou B nem dizer-vos que são todos farinha do mesmo saco.

Mas é obvio que a História um dia atribuirá responsabilidades, nós saberemos então de quem foi a culpa.

Até a Historia nos informar sobre quem foram os responsáveis, teremos que tomar uma posição enquanto indivíduos e enquanto Loja.

Eu pessoalmente preferiria que a Loja decidisse por se manter unida na procura da união entre os II

Não sou no entanto D. Quixote e saberei quando desistir.

Antes de concluir e consequentemente passar a palavra peço-vos encarecidamente que se lembrem dos seguintes conceitos:

- Respeito
- Tolerância
- Educação
- Decoro
- Amor

O debate é aberto a todos os presentes.
Que o GADUilumine os trabalhos que se vão seguir.

Lisboa, 18 de Janeiro de 5997


Após esta alocuçao decorreram quase 8 horas de debate em dois dias.
Ficam para publicaçao breve e para vos aguçar o apetite:
As propostas entradas ; os resultados das votaçoes ; As propostas que estavam preparadas mas que nao entraram; O discurso final.

José Ruah
Afastado mas sempre por perto !

15 janeiro 2008

A Maçonaria X Ambiente

Estive estes últimos dias completamente fora do A-Partir-Pedra (claro, já sei que bem podia continuar, obrigado !) mas como o tema Maçonaria versus Ambiente se mantém resolvi incluir mais um apontamento.
De facto tenho mais algumas coisas que gostaria de preparar para ajudar à discussão, mas as coisas têm estado demasiadamente animadas cá pró meu lado, fazendo com que não tenha tido nem disposição, nem concentração, para acompanhar os nossos queridos colaborantes blogueiros (o Rui, o Bandeira, o R.Bandeira, o RB, … uma data deles!).

Entretanto apanhei alguns vídeos sobre a participação dos Maçons brasileiros na defesa da Amazónia.

A Maçonaria Regular do Brasil, organizada sob o Grande Oriente do Brasil não é de capinar sentada no que se refere à participação política e todos os dias recebo notícias sobre intervenções do GOB e/ou de Lojas estaduais (como eles dizem) em assembleias, comissões de estudo, participação em iniciativas legislativas, sendo que na maioria dos casos a participação é por convite como conselheiros.

As iniciativas de carácter filantrópico são mais que muitas, no ensino, na saúde, no apoio social de toda a ordem sendo responsáveis pela recuperação e manutenção de muitas pequenas povoações onde a vida seria degradante, não fosse a intervenção daqueles nossos Irmãos organizando e mantendo escolas, postos de saúde, pequenas indústrias e pólos de desenvolvimento artesanal.

A intervenção na defesa da Amazónia, que os vídeos retratam, tem uma face de defesa ambiental mas tem, também, uma clara e confessada faceta de defesa da independência territorial.
Para nós e para o tema presente interessa-me a luta declarada pela manutenção da selva amazónica, pulmão de um mundo que está com uma tosse cada vez mais cavernosa e com os pulmões todos infectados.
Vamos a ver se este “antibiótico” ainda vai a tempo.

JPSetúbal

14 janeiro 2008

MAÇONARIA E AMBIENTE: O paradigma do Valor

Para se trocar um bem por outro, há que calcular quanto vale cada um. Para facilitar o processo de troca, criou-se a moeda. A moeda é a referência do valor de todos os bens. A moeda, a troca, o mercado são os pés do tripé que sustenta a economia global.

Mas não é a moeda que estabelece o valor de um bem. É suposto que uma dada quantidade de moeda represente o valor de um bem. O Valor dos bens é intrínseco e logicamente anterior à sua expressão monetária.

O problema é que a nossa Civilização criou um paradigma de Valor que não é perfeito. O paradigma do valor que estabelecemos respeita à QUANTIDADE de algo que nele está inserido: quantidade de matéria, quantidade de trabalho nele introduzida, quantidade de custos necessários para o produzir e comercializar. Exemplificando: o valor de uma jarra corresponde ao valor da quantidade de material de que ela é composta, mais o valor do trabalho necessário para a fabricar, mais os custos de produção e comercialização da mesma (lucro dos diversos intervenientes no processo incluído). Por sua vez, o valor do material que compõe a jarra depende do valor unitário que é atribuído à respectiva substância: o ouro vale mais do que a prata, esta mais do que o cristal e este mais do que o vidro. Mais uma vez, a atribuição deste valor intrínseco depende da QUANTIDADE do material disponível. Há menos ouro do que prata, daí que aquele valha mais do que esta; o cristal incorpora mais substâncias (chumbo, designadamente) que o vidro e, portanto vale mais do que este, mas pode-se fabricar muito mais quantidade de cristal do que é possível obter de prata e muitíssimo mais do que existe de ouro, daí que o cristal valha menos do que a prata e muito menos do que o ouro.

Toda a economia se baseia no conceito de valor e o paradigma deste presta tributo essencialmente à QUANTIDADE, não tanto à QUALIDADE.

Mesmo nos campos em que aparentemente o valor das coisas depende da sua qualidade, se analisarmos bem, assim não é. O quadro dos Girassóis de Van Gogh vale o preço absurdo que vale não propriamente pela sua qualidade intrínseca, mas pela raridade de telas pintadas por Van Gogh e pela enorme desproporção entre a quantidade de pessoas que gostaria de ser proprietária desse quadro (eu incluído!) e o número de exemplares do mesmo: UM! Mas, se fosse apenas uma questão da QUALIDADE da imagem, então não se justificaria a enormíssima diferença de valor entre o original, cópias e reproduções...

Similarmente, assim se entende porque, quando morre um pintor famoso, aumenta exponencialmente o valor dos seus trabalhos. É que, enquanto o artista está vivo, pode continuar a produzir trabalhos e não se sabe quantos mais irá criar; quando morre, fica certo o número exacto de obras que produziu, que será sempre inferior ao número de pessoas que gostaria de possuir uma dessas obras. E, previsivelmente, no futuro, ocorrerá o fenómeno inverso: aumentará o número dos que almejam a possuir uma obra do artista e o número destas só pode variar no sentido da diminuição, na medida em que ocorra a destruição de algum trabalho. A QUANTIDADE de potenciais compradores é superior e aumenta; a QUANTIDADE de obras é inferior e é estável ou diminui; o VALOR das obras aumenta!

Ao basear-se o paradigma do Valor na QUANTIDADE, negligencia-se na incorporação do valor dos bens elementos que vamos colectivamente verificando que deveriam ser considerados. Qual a sustentabilidade, em termos ambientais, da produção desse bem? Quais os custos, em termos de poluição, de gasto energético, de biodiversidade, de..., de..., de..., que a produção e comercialização desse bem acarreta?

Ou, por outra via: QUANTO VALE O AR PURO?

Nem o valor do ar puro, nem o da biodiversidade, nem o da sustentabilidade energética, nem, de forma geral, os componentes, eminentemente QUALITATIVOS, dos valores ambientais incorporam o paradigma do Valor dos bens.

Para bem da saúde ambiental do planeta, convém que o paradigma do Valor mude, de forma a incorporar também estes elementos.

Também aqui a Maçonaria e os maçons podem ajudar. Os maçons interessam-se precisamente por temas e assuntos e matérias que não têm valor económico, mas apenas racional, moral ou espiritual. E prezam muito estes valores. E estão habituados a ponderá-los em todos os actos da sua vida. E devem procurar transmiti-los aos demais membros da Sociedade e, por essa via, contribuir para a melhoria desta. É também tempo de nos habituarmos a considerar também os valores ambientais, a apreciá-los, a ponderá-los em todos os actos da nossa vida, em transmiti-los aos outros membros da Sociedade.

Por essa via, ajudaremos à necessária mudança do paradigma do Valor. E esta mudança será uma das mais profundas que a Humanidade conseguirá. E vale um tesouro incalculável: a sobrevivência das espécies - no limite, a sobrevivência da NOSSA ESPÉCIE - em ambiente saudável e equilibrado.

Claro, um tesouro QUALITATIVAMENTE muito valioso! Mas, em bom rigor, só poderemos determinar exactamente quanto depois da mudança do paradigma do Valor...

Rui Bandeira

11 janeiro 2008

Fácil X Difícil


Mais um texto aparentemente ligeirinho, que recebi através do correio electrónico. Mas, meus caros, sendo ligeirinho, ligeirinho, vale a pena meditar no que nele está escrito (o que é fácil) e, sobretudo, levar à prática as nossas conclusões (o que é mais difícil).

Fácil é ocupar um lugar na agenda telefónica;

Difícil é ocupar o coração de alguém.

Fácil é julgar os erros dos outros;

Difícil é reconhecer os nossos próprios erros.

Fácil é ferir quem nos ama;

Difícil é curar essa ferida.

Fácil é perdoar aos outros;

Difícil é pedir perdão

Fácil é exibir a vitória;

Difícil é assumir a derrota com dignidade.

Fácil é sonhar todas as noites;

Difícil é lutar por um sonho.

Fácil é rezar todas as noites;

Difícil é encontrar Deus nas pequenas coisas.

Fácil é dizer que amamos;

Difícil é demonstrá-lo todos os dias.

Fácil é receber;

Difícil é dar.

Fácil é criticar os outros;

Difícil é melhorar-nos a nós mesmos;

Fácil é pensar em melhorar;

Difícil é deixar de pensar e realmente fazê-lo!

Ser maçon é partir do fácil e procurar fazer o difícil.

Rui Bandeira

10 janeiro 2008

Procuram-se Anjos da Guarda

Li no jornal electrónico A Tribuna on line, do litoral Estado de São Paulo, Brasil, que a estrutura da região litoral de São Paulo da Ordem DeMolay, organização juvenil apoiada pela Maçonaria, tem em curso, de hoje até domingo, uma campanha de angariação e registo de potenciais dadores de medula óssea, nos municípios de Santos, Praia Grande e São Vicente.

Na Praia Grande, funcionarão dois postos de registo, um na Praia do Boqueirão, que funcionará entre as 9 e as 17 horas, e o outro no Litoral Plaza Shopping, aberto entre as 10 e as 18 horas. Neste último ponto de registo, estará presente, no sábado, a partir das 12 horas, o saxofonista Caio Mesquita, disponível para dar autógrafos... mas apenas a quem se registar como dador de medula!

Em Santos, o posto de recolha funcionará, das 9 às 17 horas, na Praça das Bandeiras: ao lado do Bonde Turístico, na Praia do Gonzaga.

Em São Vicente, o centro de recolha funcionará, no mesmo horário, no Ilha Porchat Clube, sito na Alameda Paulo Gonçalves, n.º 61.

Com o nome Procuram-se Anjos da Guarda, a campanha é organizada em parceria com o Hospital de Câncer (HC) de Barretos. Mais de 60 médicos e enfermeiros, da Fundação Pio XII, gestora do HC, vão cadastrar o tipo sanguíneo de quem quiser ajudar, destinando-se os elementos recolhidos a integrar o Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome), do Brasil. As amostras de sangue são encaminhadas para o Instituto Nacional do Câncer (Inca), localizado no Rio de Janeiro, onde serão submetidas a testes de compatibilidade. Os dados permanecerão à disposição num banco de dados e o doador só será chamado quando houver necessidade.


Refere-se na notícia do Tribuna on line que, actualmente, no Brasil, as probabilidades de se encontrar um doador compatível com os pacientes são de uma em 100 mil. Nos casos mais graves, essa probabilidade diminui e passa para uma num milhão.


Segundo o organizador da campanha na região, o DeMolay Reynaldo de Faria Júnior, a expectativa é atrair 6 mil pessoas nos quatro postos.


Para se registar no Redome, o interessado deve ter entre 18 e 55 anos de idade e estar de boa saúde. As únicas restrições são para os portadores de doenças infecciosas, SIDA (AIDS) e cancro (câncer).


Para efectuar o registo, os técnicos colhem pequena quantidade de sangue e preenchem uma ficha com os dados pessoais do doador, num procedimento simples que dura, no máximo, 20 minutos.


Vindo a ocorrer compatibilidade entre um dador de medula óssea e um doente necessitado de transplante da mesma, a colheita da medula para transplante é um procedimento que não causa danos à saúde, uma vez que a medula se regenera, permitindo, inclusive, novas doações. O transplante é uma forma de tratamento para doenças malignas que afectam as células do sangue, designadamente leucemias.


O A Partir Pedra tem todo o gosto em aqui divulgar esta iniciativa e apela aos nossos leitores da zona litoral do Estado de São Paulo, que estejam em condições de saúde para o efeito, que gastem muito bem gastos vinte minutos do vosso tempo a efectuar o registo como dadores de medula óssea. Todos ganham. Quanto mais dadores houver registados, maiores são as probabilidades de ser encontrado dador compatível para quem só com um transplante de medula óssea pode ser salvo da morte. Um dia, pode ser um parente vosso a ser salvo, graças à solidariedade de um qualquer desconhecido!


E esta campanha no litoral do Estado de São Paulo bem pode servir de pretexto e lembrança também para quem reside noutros pontos do globo. Leitores de outras regiões do Brasil: aproveitem, por favor, a lembrança e vão ao sítio do REDOME e vejam aí onde se podem registar como dadores de medula óssea. Leitores de Portugal, para vós é ainda mais fácil: olhem para o lado direito do blogue, na secção de Atalhos e sigam o atalho Banco de Medula / Centro de Transplantes que nós temos permanentemente à vossa disposição. O primeiro passo está dado. Façam o favor de dar o seguinte... Leitores de outras zonas do globo: informem-se onde e como podem, na vossa região, inscrever-se como dadores de medula.


Solidariedade não é apenas uma palavra. É, sobretudo, acto. E nem sequer precisa de ser muito difícil ou grandioso. O pequeno gesto, o leve incómodo, da inscrição como dador de medula é fácil, é barato e insere-o numa cadeia de solidariedade que, quantos mais milhões de elos tiver, mais vidas salvará.


Rui Bandeira

09 janeiro 2008

Vamos poupar energia...


O “e = mc2” já está passado, mas foi durante muitos anos a bandeira dos físicos. Constituiu a enorme descoberta de uma relação matemática entre “energia” e “matéria”, relação que já se sabia que existia muito antes mas não estabelecida e provada matematicamente. Foi esse o enorme passo que Einstein deu.

Entretanto aqui, no A-Partir-Pedra, o tema foi base de um encontro, mais um, de textos esclarecidos e esclarecedores e ao qual quero dar uma achega, isto é, não resisto a meter a colherada.

- É da maior importância a discussão sobre o ambiente e a sua manutenção;
- É muito importante trazer a ‘campo descoberto’ o relacionamento, ou o possível relacionamento, com a atitude maçónica;
- É da discussão que nasce a luz (?) já diziam os meus avós, e eu posso constatar que da discussão nascem as ideias, as coisas novas, as melhores e mais importantes descobertas.
Então se é assim só posso apoiar esta “discussão” !

O consumo de energia e respectiva produção estão directamente relacionados com o equilíbrio do sistema ecológico, mas também a forma como essa energia é consumida e é produzida.
Isto é, o problema não está apenas nos actos do consumo e da produção, mas está também na maneira como se faz esse consumo e essa produção, porque é possível fazer a produção de forma menos agressiva, tal como é possível fazer o consumo mais criterioso, obtendo melhor rendimento daquilo que se gasta.
E, de facto, não há produção de energia sem transformação de matéria.
Diz o nosso Caro “Simple” (a partir de Lavoisier) “… que tudo se transforma” !
Muito bem, é ainda uma quase verdade na época em que estamos.
É que a transformação da energia em matéria, que significaria a sua reciclagem (m = c2/e) exigiria o controlo do “c”, e aí estamos tramados, por enquanto.
Algum dia será, mas agora ainda não.
Algumas teorias dizem que algum dia foi assim, o “big bang” teria sido isso mesmo, mas por agora está fora do nosso controlo.
O homem ainda não conseguiu o seu “bang”, nem grande nem pequeno.
No dia em que isso for conseguido acabam as companhias aéreas e passamos a movimentar-mo-nos por transmutação da matéria.
A questão é que a transformação da matéria em energia (o nosso querido corpinho a ir-se num sopro) já se faz de forma… assim, assim, ali vai ele num fio de cobre ou numa radiação electro-magnética qualquer.
A inversa é que… (a tal equação com a incógnita trocada m = c2 / e )
Entramos numa “espécie de cabine telefónica” e vamos parar, num momento, numa outra “espécie de cabine telefónica” do outro lado do mundo !
Já pensaram o que se vai poupar em transporte ?
Vejam o IC19 sem filas de automóveis… O pessoal passa todo a deslocar-se por transmutação ! Vai ser sensacional !
Só um aspecto me preocupa. O que acontecerá quando no meio da minha viagem houver um apagão ?
Do outro lado, na tal “espécie de cabine telefónica” de chegada irá sair assim como que uma espécie de JPS.
Por acaso esta ideia não me entusiasma !

Mas regressando à conservação do Ambiente…

Diz o Rui que relacionar Maçonaria e Ambiente é como que fazer a quadratura do círculo…
Mas então a Maçonaria não tem o Homem como preocupação central ?
E o objectivo não é a sua melhoria, espiritual (claramente) mas física também ?
E como melhorar a condição humana deixando degradar o ambiente de vida ?
Correndo o risco do “impossível” que é “quadratar” o círculo, afirmo que a Maçonaria se relaciona com o ambiente, sim !

Ao Maçon compete-lhe, também, preservar o sistema ecológico sem o qual o animal humano ficará em risco de sobrevivência.
A questão poderá mesmo chegar ao ponto em que o Homem tenha de escolher entre o sobreviver e o continuar a viver com as suas comodidades (o que poderá significar acabar com a espécie).
E se… qual vai ser a decisão ?
Se o leitor decide manter o seu status-quo actual… é bom que encomende já a urna porque na altura poderá não haver madeira para tal !
Se o leitor decide sobreviver, então comece já a poupar. Talvez consiga ainda evitar a dispensa de algumas das mordomias que tem e que terá de abandonar.

E a Maçonaria tem a ver com isso, tem mesmo !
JPSetúbal

08 janeiro 2008

Prancha

Na Antiguidade, a especialização era muito menor. O Mestre Construtor era uma mistura de arquitecto, mestre de obras, engenheiro, paisagista, decorador de interiores, canteiro, escultor, metalúrgico, enfim, parte daquilo que as nossas mulheres ainda hoje pretendem que nós sejamos lá em casa...

Na Idade Média e no Renascimento, as corporações de construtores em pedra também tinham estruturas (Lojas) dirigidas por Mestres construtores, que exerciam as funções de arquitecto, engenheiro e director de obra, além de assegurar também as de gestor e formador.

Como hoje, a construção de uma edificação que ultrapassasse a rusticidade implicava a prévia laboração de um mais ou menos complexo e detalhado projecto. O desenho desse projecto era, na falta de papel, executado em material durável, transportável, leve, que se transportava enrolado e que se consultava estendido sobre e preso a uma prancha de madeira. Mesmo a própria acção de desenhar o projecto era efectuada com o suporte do desenho colocado sobre e preso a uma prancha. Ali se desenhavam os planos da obra, ou, utilizando a linguagem da época, se traçavam os planos. E a prancha sobre a qual os planos eram traçados era denominada, naturalmente, a prancha de traçar.

A prancha de traçar era, pois, um indispensável instrumento do Mestre Construtor e o símbolo da sua actividade. Era o Mestre quem traçava, não os restantes operários da construção, pelo que a prancha de traçar era o instrumento do Mestre. Sempre que era preciso detalhar qualquer aspecto da obra, desenvolver qualquer solução, o Mestre ia à prancha traçar o trabalho.

A língua evolui. Uma mera questão de tempo mediou a passagem entre a expressão “ir à prancha” (traçar um projecto, desenhar um detalhe) e “fazer uma prancha”. E, quando se faz uma prancha, então a “prancha” é o trabalho feito.

A Maçonaria Especulativa herdou e desenvolveu as tradições vindas da Maçonaria Operativa, das Corporações de Construtores. Assim, na Maçonaria Especulativa o instrumento próprio do Mestre Maçon é a prancha de traçar. E o trabalho que o Mestre maçon executa e apresenta em Loja é uma “prancha traçada”. Abreviadamente, uma “prancha”.

Mas, embora sejam os Mestres quem tem a obrigação de zelar pela formação de todos os obreiros (incluindo a dos outros Mestres e a deles próprios, pois um Mestre maçon deve considerar-se um eterno aprendiz), não são só os Mestres quem apresentam trabalhos em Loja. Companheiros e Aprendizes também o fazem, como demonstração dos seus progressos na Arte Real. Todo o trabalho apresentado em Loja se denomina uma prancha. E é irrelevante para essa denominação a natureza do trabalho: pode ser um texto ou uma obra de arte, uma música ou uma peça em pedra. O que importa é que se trate de um trabalho de um maçon para maçons, que se destine a testemunhar ou a colaborar no aperfeiçoamento individual ou colectivo.

Pode ser sobre matéria de exposição ou interpretação simbólica, pode ser uma reflexão filosófica, uma manifestação artística, uma exposição científica ou uma mera divulgação factual. Feita por maçon para maçons e apresentada em Loja é uma prancha.

Rui Bandeira

07 janeiro 2008

Variações sobre e=mc2

O simple elaborou um comentário ao textoMAÇONARIA E AMBIENTE: e=mc2 que merece ser puxado para o corpo principal do blogue, quer pelo seu interesse intrínseco, quer por suscitar várias questões. É algo longo e, com as considerações que o comentário me suscita, vai resultar num texto maior do que o habitual, mas acho que vale a pena ler.

O Rui, como nos tem habituado, começou bem e acabou melhor. De facto, estamos em plena fase de transição de uma forma de energia (o petróleo) para outra (sabe-se lá qual...) e temos que ser cautelosos com o rumo que tomarmos. Pelo meio, contudo, o Rui vacilou um bocadinho - não é a sua área, e não tem obrigação de a dominar com precisão. Vou tentar, já que o Rui abordou o assunto - que, reconheça-se, não é nada simples - aclarar um ou outro ponto.

Como descobriu Lavoisier, "nada se cria, nada se perde, tudo se transforma". Contrariamente ao que parece empiricamente, na combustão não há transformação de matéria em energia; o que há é libertação de energia por se passar de matéria de um estado "mais energético" para um outro "menos energético". Mas o que é que isso quer dizer? Queimar algo é como que deixar cair um peso de uma certa altura; a queda do peso liberta energia (que pode ser usada para gerar movimento, por exemplo) mas o peso não se transforma em energia; continua a pesar e a ser feito precisamente do mesmo. Para voltar a colocar o peso na posição inicial temos que dispender energia - pelo menos tanta, mas normalmente mais, do que aquela que ganhámos ao deixá-lo cair.

Do mesmo modo, a lenha, o carvão ou o petróleo (mais energéticos) decompõem-se em cinza, em água e em CO2 (menos energéticos), e pelo caminho libertam a energia que consubstancia a diferença entre os dois estados. Se pegarmos numa semente, água, cinza e CO2 podemos reverter o processo, fazendo uma árvore outra vez - desde que forneçamos energia, concretamente energia solar. Essa energia permitirá elevar, de novo, o potencial energético. A matéria envolvida é, contudo, sempre a mesma; é sempre a mesma quantidade de oxigénio, carbono e hidrogénio; esses átomos não são criados nem destruídos, antes se recombinando sob a forma de substâncias diferentes. Podemos, por isso, dizer sem errar que a lenha, o carvão e o petróleo têm energia solar acumulada. Os combustíveis fósseis e a biomassa (lenha, carvão vegetal e afins) apenas "devolvem" a energia que as plantas que lhes deram origem receberam do Sol.

Já Einstein foi um pouco além de Lavoisier: descobriu que a matéria pode, de facto, ser destruída, e que essa destruição liberta uma enorme quantidade de energia (e daí vem a famosa equaçãozinha referida pelo Rui). É esse o princípio de funcionamento dos reactores nucleares: pega-se numa pequena quantidade de matéria instável e, nas condições propícias, parte desta transforma-se em energia; no processo, a matéria desaparece. É, de resto, esse o processo que se dá no interior do Sol, que é um enorme reactor nuclear. Curiosamente, até aqui Lavoisier tinha alguma razão: podemos, desde que disponhamos de uma colossal quantidade de energia, criar matéria a partir do nada - bom, do nada, não: a partir da energia que fornecemos.

Os combustíveis fósseis, o vento (fruto das diferenças causadas pelas diferenças de calor na Terra aquecida pelo Sol), as centrais hidro-eléctricas (baseadas no ciclo da água, de que faz parte a evaporação causada pelo calor do Sol), são formas indirectas de energia solar. O Sol é, incontornavelmente, a fonte de energia a que, de uma forma ou de outra, mais vezes recorremos. Já uma que nada parece ter que ver com o Sol é a proveniente de centrais nucleares. Na verdade não temos grande alternativa: ou usamos, directamente, a energia de uma central nuclear pequena e feita por nós - com o problema da escassez de recursos naturais e da poluição dos resíduos resultantes do processo - ou usamos, de forma mais ou menos indirecta, a energia que emana dessa enorme central nuclear que é o Sol. Há ainda a energia geo-térmica, mas é ainda pouco explorada. Quem sabe...

Seria desejável que a "nova fonte de energia" que substitua o petróleo fosse o menos poluente possível. Contudo, procurar o mais barato, através da "lei do menor esforço", sempre foi um grande motor de desenvolvimento, e poderá impedir que isso aconteça. O que irá, no fim, determinar a escolha será, estritamente, o factor económico. É possível que a próxima fonte seja, por exemplo, a energia nuclear. O petróleo é o mais usado porque, até agora, tem sido barato. Ao aumentar a escassez não diminuindo a procura, ensina a Economia que o preço sobe - o que tem acontecido. A partir de certo ponto, será mais barato produzir energia a partir de qualquer outra coisa; nesse ponto, a procura de petróleo declinará - como declinou a procura de locomotivas a carvão - mas não antes. Pretender que o mais barato seja o melhor e o menos poluente... bom... isso é já wishful thinking... pode ser que sim, mas pode ser que não.

Subscrevo o voto que faz o Rui: saibamos escolher bem. É que o tal "aquecimento global", longe de ser o fim da Terra, seria não obstante, e como bem o diz o Rui, o fim do mundo tal como o conhecemos. Ao mesmo tempo que levaria ao florescimento de uma infinidade de espécies que achariam o clima quente mais propício - como as nossas amigas melgas - levaria, eventualmente, à extinção (ou forte declínio) de muitas espécies - nomeadamente da nossa. E, com o devido respeito pelas melgas, prefiro que estas sucumbam e deixem a Terra para os nossos filhos.

Genericamente, concordo com o que o simple escreveu. Mas tenho pontuais discordâncias, pelo que julgo ser ajustado complementar com duas observações e um desenvolvimento explicativo.

A primeira observação é que, no comentário do simple, noto uma confusão entre os conceitos de "peso" e de "massa". O peso é a força gravitacional sofrida por um corpo na vizinhança de um planeta ou outro grande corpo. Também pode ser definido como a medida da aceleração que um corpo exerce sobre outro, através da força gravitacional (definições retiradas da wikipedia).Massa é uma grandeza fundamental da física, que, antigamente,correspondia à ideia intuitiva de "quantidade de matéria existente em um corpo" (idem). Um objecto tem uma determinada massa e um específico peso. A confusão entre os dois conceitos é frequente e resulta de, para a medição de ambos, ser utilizada a mesma unidade de medida, o quilograma. Daqui decorre que o peso é energia, enquanto que a massa é matéria. E é esta precisamente a relação estabelecida na célebre equação de Einstein! Daí ser importante distinguir os dois conceitos. E, nesta parte, entendo que o raciocínio exposto pelo simple está viciado.

A segunda observação, que de alguma forma decorre da primeira é que, quando simple afirma que é possível ocorrer a reversão da decomposição da lenha, carvão, petróleo em cinza, água, CO2, mediante o fornecimento de energia, nomeadamente a solar, para além de não ser exacto (para "recriar" a árvore não bastam as suas cinzas, é necessária uma semente...), deixa de lado um outro indispensável elemento estrutural: o TEMPO.

O tempo, que varia desde os anos que demora a nova árvore a crescer até atingir o porte da anterior, aos milhares de anos que demora o processo de transformação da madeira em carvão, até aos milhões de anos necessários para a criação de petróleo. E precisamente o busílis da questão, quando, nos dias de hoje se reflecte sobre a questão energética, está no TEMPO, mais precisamente na rapidez com que a Humanidade consome o que demorou milhares ou milhões de anos a ser criado e a falta de tempo que começamos a antever para mudarmos o nosso paradigma energético para um outro que seja ambiental e planetariamente sustentável.

O desenvolvimento explicativo é que, na sua (valiosa) contribuição, escapou ao simple que a minha utilização da equação einsteiniana só podia ser realizada figurativamente e como tal apreendida. Com efeito, o raciocínio lógico-científico permite facilmente concluir que não é possível extrair correctamente da dita equação a conclusão que eu extraí no texto...

Ao contrário do que aparenta, a famosa equação de Einstein não é constituída por três variáveis, mas apenas por DUAS variáveis (e=energia; m=massa) e UMA constante. A medida de c não é variável. É fixa e determinada. O valor de c (velocidade da luz no vazio) é de 299792458 metros por segundo. Porque se popularizou a fórmula como e=mc2? Porque, obviamente, é muito mais simples de fixar, e logo, muito mais apelativa, do que se se utilizasse e = m x (299792458 m/s)2...

Ora, sendo c uma constante determinada, não é lógica nem matematicamente correcto efectuar a modificação que, após a referência à dita fórmula, eu fiz no texto MAÇONARIA E AMBIENTE: e=mc2 : passar do conceito de "velocidade da luz no vazio" para o conceito de "velocidade" (sem mais), daí para "medida de movimento" e daqui para "movimento", no espaço de três frases. Ao fazê-lo, passei a, como dizia a minha professora da escola primária, somar bananas com laranjas...

Mas, se não podia, porque o fiz? Para malevolamente enganar aqueles que me lêem, em geral, e o simple, em particular? Claro que não! O texto deve ser entendido figurativamente e não precisamente. Pensava eu que facilmente seria assim entendido. Pelo comentário do simple apercebo-me que o objectivo do texto ficou mais escondido do que eu pensava. Aproveito, então, para clarificar.

Relacionar Maçonaria e Ambiente é um pouco como efectuar a quadratura do círculo - o que, como se sabe, ainda ninguém, até hoje, conseguiu, mais uma vez porque a área de um quadrado é certa e medida com certeza (lado vezes lado) e a área do círculo só pode ser medida por aproximação, porque depende de um factor, o pi, que é um número irracional, isto é, que não tem um valor preciso, apenas um valor aproximado, pois para a ele se chegar são necessárias aproximações através de séries infinitas de somas. A transcendência de pi estabelece a impossibilidade de se resolver o problema da quadratura do círculo: é impossível construir, somente com uma régua e um compasso, um quadrado cuja área seja rigorosamente igual à área de uma determinada circunferência (dados retirados, de novo, da Wikipedia), ou, com maior precisão, a área circunscrita por uma determinada circunferência. A Maçonaria é uma filosofia e uma ética de vida adquiridas através de um método específico. O Ambiente é uma envolvente da vida de cujas complexidade e fragilidade só agora começamos a tomar consciência.

Por outro lado, como acertadamente pontuou o simple, eu não sou, de forma alguma, um conhecedor profundo das questões do ambiente, nem sequer da Ciência, pura ou aplicada. A minha formação é a das Humanidades. A minha profissão é a de Advogado. Sou, digamos assim, um especialista em ideias gerais, alguém que sabe um pouco de tudo e a fundo de nada, excepto talvez da aridez dos artigos, alíneas e parágrafos dos diplomas legais cá da terra... Não tenho, assim, a pretensão, de "debitar postas de pescada" sobre o tema do Ambiente e sua Conservação. Decidido a escrever sobre ele, optei por procurar relacioná-lo, na medida do possível, com a Maçonaria, ou melhor, com o papel que a Maçonaria e os maçons podem ter na indispensável empreitada da Humanidade na Conservação do Ambiente. Ao fazê-lo, opto pela abordagem que é mais confortável aos maçons: a especulação, o livre pensamento, até mesmo a utopia.

e=mc2, neste contexto, foi, para além de um título jeitoso, um pretexto. Um pretexto, para, figurativamente, procurar enfatizar a necessidade de substituir o consumo de combustíveis fósseis por energias renováveis, ou seja, substituir a produção de energia através da massa pela sua obtenção através do movimento. Daí a imediata referência à energia eólica (resultante do movimento do ar) e à energia das ondas (resultante do movimento do mar), a que se pode acrescentar a energia hídrica (resultante do movimento gerado pela passagem da água de um rio nos artefactos geradores de electricidade). Em termos de utopia, vou ainda mais longe. E foi por isso que me lembrei de Einstein e da sua conhecida equação: há forças, formas de energia, no Universo, que a Humanidade ainda não aprendeu a utilizar e - talvez - nem sequer tenha ainda concebido ser possível utilizar. Mas são forças imensas, é uma incomensurável energia, ao pé das quais a energia solar faz figura de vela em palco iluminado por potentes projectores. Pensemos na Força Magnética (da Terra, do Sol, de todos os Corpos Celestes, do Universo). Consideremos a Força da Gravidade, tão poderosa que gere a maravilhosa dança de todos os Corpos Celestes de todo o Universo. Domesticar e utilizar essas energias é impossível? Sonhar com essa possibilidade é utopia inatingível? Será... Tão inatingível como, há apenas dois séculos, o Homem imaginar voar, ir do Continente Europeu ao Americano em poucas horas, ou pôr pé e bandeira na Lua... Tão impossível como conceber a fácil cura da Peste Negra, antes de se terem descoberto os antibióticos...

Poupar é, obviamente, necessário. Reciclar é, evidentemente, indispensável. Mas não chegam. O problema energético só se resolve com a descoberta de novos meios de dominar, aplicar, conservar e transportar as infinitas energias que o Criador colocou no Universo e que à Humanidade cabe aprender a aproveitar.

Para dizer a todos que há que poupar e há que reciclar, já há para aí muita gente, muitas organizações, até alguns fundamentalistas do Ambiente...

Mas para o resto, o indispensável, o que falta fazer, há ainda muito trabalho pela frente, muita imaginação que tem de trabalhar, muita investigação que tem de acontecer. Mas é também preciso convocar as forças e as vontades e os meios para fazer esse trabalho, puxar pela imaginação, efectuar a investigação. É aí que, a meu ver, a Maçonaria pode ser útil: no convocar da Utopia, no congregar para, pouco a pouco, transformar a utopia em realidade. Como quando, há mais de duzentos anos, a maçonaria gritava Liberdade quando havia opressão, clamava Igualdade, quando havia estratificação social, pregava Fraternidade quando havia apenas egoísmo, praticava Tolerância, quando havia fundamentalismo religioso. E como continua hoje a fazer, quando, onde e como é preciso.

Para mim, e=mc2 é bem mais do que uma mera equação que Einstein deixou ao Mundo: é o símbolo do Visionário. Foi com essa dimensão simbólica que a congreguei e a ela apelei naquele texto. E agora o expliquei. Façam o favor de ir reler esse texto à luz desta explicação e vejam lá se agora não vos faz mais sentido...

Rui Bandeira

04 janeiro 2008

Ambiente...

O nosso caríssimo Rui voltou às lides "blogueiras" abordando o tema ambiente e bem como sempre.

A colocação da conservação ambiental face às necessidades energéticas do planeta e ao respectivo consumo mostra a fotografia de uma relação tão terrível quanto real.

Para ajudar a esta "festa" trago para o blog um vídeo da WWF-BRASIL, organização que visa a conservação/salvação do ambiente natural no Brasil (Amazónia, Pantanal,...) espalhando a sua acção pelo resto do mundo com a mesma preocupação, onde a protecção de espécies animais e de ambientes ameaçados o justificam.

O vídeo que junto é um complemento, verdadeiramente directo, ao texto do Rui.

Parece-me que ficam bem, agora para terminar esta achega, 2 apontamentos vindos de origens diferentes, o que também ajuda a perceber que esta preocupação existe nos mais diversos quadrantes do globo, ainda sem consequências muito visíveis mas, com mil diabos, falar-se e discutir-se o problema já é um começo.

GreenPeace –

Quando a última árvore tiver caído, quando o último rio tiver secado, quando o último peixe for pescado,
Vocês vão entender que dinheiro não se come.

Prov. Árabe –

A árvore quando está sendo cortada observa com tristeza que o cabo do machado é de madeira.

Pronto, já só falta... não parar.

JPSetúbal

03 janeiro 2008

MAÇONARIA E AMBIENTE: e=mc2

A civilização humana actual baseia-se no consumo de energia. Usa-se energia para produzir. Usa-se energia para transportar. Usa-se energia para consumir. A energia é tão vital para a civilização humana, tal como a entendemos nos tempos actuais, como o ar para uma pessoa.
O problema é que a energia que existe em abundância (por exemplo, a solar) não é fácil de utilizar. Não é fácil pegar num pouco de energia solar e colocá-la dentro do reservatório do nosso automóvel, para a utilizar como combustível... O problema é que a civilização humana tem tendência para se desenvolver sempre através da solução mais fácil. Durante séculos, a necessidade de aquecimento foi suprida com o recurso à queima de madeira, recurso abundante e de fácil obtenção e utilização. Com a descoberta das potencialidades da energia do vapor de água, a obtenção deste fez-se à custa da queima de carvão. Com a descoberta do motor de explosão, a obtenção da energia necessária para movimentar o veículo fez-se à custa da ignição de produtos petrolíferos.
Em suma, ao longo do tempo a obtenção de energia fez-se à custa do consumo de meios naturais relativamente abundantes. Mas este paradigma tem dois custos, que cada vez mais se revelam mais preocupantes e penosos: a extracção de energia de recursos naturais gera resíduos; os recursos, ainda que abundantes, são finitos.
A civilização baseada na obtenção de energia através da queima de carbono (madeira, carvão, petróleo, no fundo são apresentações diferentes da mesma substância: o carbono) deixa como resíduo, além do mais o dióxido de carbono. Este, na medida em que não seja consumido pelas plantas, acumula-se e, segundo parece, gera um efeito de estufa susceptível de conduzir a um aquecimento global potencialmente catastrófico para a civilização humana, tal como ela está organizada.
Por outro lado, o mais eficiente dos recursos fósseis é, consabidamente, finito. Um dia, mais cedo do que mais tarde, não existirá matéria-prima suficiente para a gulodice energética dos nossos tempos.
Parece estar-se perante um problema insolúvel.
Que podemos nós, maçons, fazer para ajudar? O que sabemos fazer: especular, pensar, racionalizar. Bem sabemos que não há soluções mágicas, que a resolução de problemas complexos se obtém por pequenos passos, pelo solucionar paulatino de cada um dos pequenos problemas em que conseguimos dividir o imenso problema de que vamos tendo consciência.
Por mim, proponho que não esqueçamos a ciência pura, a física básica. Proponho que recordemos a equação popularizada por Einstein: e = mc2.
e = energia; m = massa; c = velocidade da luz no vazio.
Portanto, a energia é igual ao produto da massa pelo quadrado da velocidade da luz do vazio. Energia, massa, velocidade, os três termos da equação.
Velocidade é a medida do movimento. A equação pode, assim, ser referenciada aos três termos energia, massa, movimento.
O meio mais comum de obtenção de energia é extraindo-a da massa, isto é, de diversas substâncias, designadamente do carbono. Talvez a solução do problema energético da nossa civilização passe pela obtenção de energia extraindo-a do outro factor ínsito na equação popularizada por Einstein: o movimento.
Afinal de contas, se pensarmos bem, isso é o que está na base de algumas das que nós chamamos energias renováveis. A energia eólica deriva do vento, isto é, do movimento do ar. A energia das marés deriva do movimento do oceano.
Talvez seja tempo de substituir o paradigma da massa pelo do movimento, no que à obtenção de energia respeita. A Ciência e a Técnica têm a palavra. É que, quer queiramos, quer não, não resolvemos o problema do Ambiente sem obter uma razoável resolução do problema da obtenção de energia.
Rui Bandeira

01 janeiro 2008

Poesia... cinética

Numa das primeiras "blogagens" que fiz recorri ao humor do Millôr Fernandes.
Hoje resolvi regressar a este bom Amigo, escondido da escrita há uns anos, para começar o "A Partir Pedra-2008" com boa disposição.

Com desejos que o V. 2008 seja um ano de Alegria.




JPSetúbal