27 janeiro 2010

O ágape


Este tema já foi objeto de um texto aqui no blogue, nos idos de setembro de 2006. A estrutura de um blogue tem a desvantagem de sepultar nas profundezas dos índices os textos que vão ficando antigos - e, na voracidade do tempo que é apanágio da Sociedade de Informação, o mês passado já é tempo antigo, o ano transato já cheira a antiguidade remota... Pouco terei a acrescentar ao texto atrás referido, mas parece-me valer a pena retomar o tema e relembrar para que serve e o que significa, para os maçons, o ágape.

O ágape é a refeição que os maçons partilham logo após (de preferência) ou imediatamente antes (se assim tiver de ser) de uma reunião de Loja. É considerado a extensão dos trabalhos da Loja. Destina-se a aprofundar os laços de amizade e fraternidade entre os elementos que compõem a Loja e a debater assuntos de interesse comum, num ambiente mais descontraído e informal do que os trabalhos rituais.

Em termos de formalismo, o ágape pode ser ritual, formal com libações ou informal.

O ágape ritual processa-se com a execução de um ritual próprio, similar ao ritual dos trabalhos em Loja, com abertura, encerramento e outros momentos próprios do trabalho em Loja.

Este tipo de ágape só ocasionalmente ocorre. As condições logísticas, temporais e anímicas necessárias para um ágape deste tipo são estritas e de difícil verificação. Para garantir a sua simultânea existência, é necessário que a Loja antecipadamente deseje, programe e organize um ágape desse género. É necessário garantir um espaço adequado, exclusivamente destinado aos intervenientes no ágape. Estes terão, obrigatoriamente, de ser maçons, não sendo admitida a presença, ainda que ocasional ou por curto período, de profanos. Isto implica que o ágape decorra, ou nas instalações da Loja, ou em local cedido para acesso reservado exclusivamente para os maçons participantes. Implica também que os mantimentos a consumir sejam preparados pelos próprios maçons, na hora ou pouco antes, ou que sejam encomendados e recebidos já preparados antes de se iniciar o ágape. Implica a disponibilidade de todo o equipamento necessário para uma refeição de um considerável número de comensais: mesa de tamanho adequado, cadeiras, toalhas, pratos, copos, talheres, guardanapos, etc.. Implica prévia organização de como decorre o repasto: quem faz o quê, quando e como. Enfim, é um tipo de ágape que não é prático nem fácil organizar rotineiramente - e que, portanto, só ocorre extraordinariamente, seja para celebrar algo, seja para permitir aos seus participantes a experiência de um ágape inteiramente ritual.

Acresce ainda que, saídos de uma reunião com ritual, não apetece propriamente passar a uma refeição... igualmente ritual, com óbvia proscrição da informalidade e diminuição da descontração...

O Antigo Grão-Mestre e Grão-Mestre ad vitam da G.·. L.·. L.·. P.·./G.·. L.·. R.·. P.·. Luís Nandin de Carvalho elaborou, em 2002, adaptado de vários rituais de tradição oral, portugueses e franceses, um ritual de ágape que, segundo creio, nunca chegou a ser formalmente adotado pela Obediência, mas que é detido por várias Lojas, que o poderão, quando desejarem, executar.

O ágape formal com libações não é ritualizado, exceto quanto a estas, mas seguem-se tradicionalmente algumas regras, designadamente quanto à posição na mesa do Venerável Mestre (e, quando possível, também dos Vigilantes), quanto à invocação inicial e mais um ou outro aspeto, variável de Loja para Loja. As libações, isto é, os brindes, são obrigatoriamente no mínimo de sete e ocorrem segundo uma ordem determinada. Este tipo de ágape pode ocorrer apenas com a presença de maçons ou também como ágape branco, isto é, com a presença de profanos.

Finalmente, o ágape absolutamente informal destina-se essencialmente ao convívio. Não ocorrem libações. É o ágape possível quando apenas se tem disponível um local público, não exclusivamente utilizado pelos maçons presentes.

Havendo condições para tal (local e tempo), pode e deve providenciar-se para que, integrado no ágape, ocorra um debate sobre qualquer tema, maçónico ou profano, ou a apresentação de uma prancha, igualmente de cariz maçónico ou profano. Obviamente que o debate ou apresentação de tema de cariz maçónico só ocorre em ágapes em que estão exclusivamente presentes maçons. Já os debates ou apresentações de temas profanos podem ocorrer em ágapes de maçons ou ágapes brancos.

Podem ser convidados profanos a proferir uma comunicação ou a intervir num debate, em ágape branco, em regra sobre temas profanos da especialidade do convidado. Pode também ocorrer que esse convidado, profano, conferencie sobre um tema de interesse maçónico - do ponto de vista do profano.

As intervenções nos ágapes são abertas a todos - isto é, não vigora no ágape a regra do silêncio de Aprendizes e Companheiros. O ágape funciona, assim, como meio importante da integração dos Aprendizes na Loja e reforço dessa integração, quanto aos Companheiros.

Rui Bandeira

20 janeiro 2010

Amigos como os de infância


O grupo de maçons conversava descontraidamente. A reunião formal terminara, a refeição que se lhe seguira também já fora apreciada por todos. A conversa fluía com naturalidade. Embora partindo do tema que iniciara o debate, cada um ia-se afastando dele, ao sabor do curso dos seus pensamentos. Era um grupo de amigos que conversava. Como qualquer outro grupo de amigos. Talvez a mais notável diferença fosse que não havia ruído de fundo de conversas cruzadas. Mesmo em descontração, aquele grupo de maçons praticava a regra de que falava um de cada vez, para todo o grupo, e cada um aguardava a sua vez de dar a sua opinião.

Rapidamente a conversa derivou para o significado que aquele grupo, a Loja, tinha para cada um. O que cada um esperava. Do que cada um pretendia que fosse, que fizesse.

Cada intervenção era diferente da anterior. Mesmo quando concordando com o que já fora dito, acrescentava-se sempre algo de novo, alguma subtileza, uma nuance, um elemento, que tornava diferente o que se declarava similar. Nada de extraordinário naquele grupo. Há muito que era assim e assim se forjara a sua identidade. Os novos que se juntavam aos que já estavam depressa aprendiam como o grupo funcionava. Era através da apresentação sucessiva de opiniões, posições, sugestões, nunca completamente coincidentes, às vezes diversas e aparentemente inconciliáveis, que, lentamente, naturalmente, sem esforço, emergia a síntese que todos acabavam por adotar como a posição comum, por todos aceite e respeitada. Às vezes não era fácil. Às vezes durava mais tempo. Às vezes implicava duas, três, quatro, as conversas que fossem necessárias. Mas, mais tarde ou mais cedo, sempre a tal posição comummente adotada acabava por emergir.

A conversa espraiou-se por um tema que não era novo. Os mais antigos no grupo sabiam que era ciclicamente abordado e renovado. Era natural. O grupo alterava-se, renovava-se, havia sempre novos elementos que nunca tinham abordado a questão. O tema era o que fazer com o grupo. E, como sempre, derivava-se sempre para as expectativas de cada um...

Um preferia o convívio. Outro apreciava mais o ritual. Um terceiro dava muita importância à beneficência. Outro ainda gostava mesmo era da apresentação de trabalhos. Houve mesmo outro que declarou, enfaticamente, que o que buscava era que fossem contraditadas as suas ideias feitas, de forma a poder continuamente testar o seu pensamento e, assim, verificar quando devia mudar de opinião. Um outro ainda, não menos enfaticamente, esclarecia que considerava uma maçada as reuniões em que não aprendia nada novo. Mas, no entanto, logo acrescentava que, mesmo quando sabia que havia reuniões em que não aprendia nada de novo, e que ele ia achar uma maçada, ainda assim gostava de ir e... não sabia como, também essas acabavam por lhe ser úteis.

E assim iam conversando, como alguns deles e outros assim mesmo tinham conversado antes, e outros antes deles... Nada de especialmente novo, pensava o velho maçom, sabendo, esperando que, como sempre, algo de diferente acabasse por surgir, como frequentemente acabava por suceder.

Foi então que um deles, pessoa de palavras não muito complicadas, mais de fazer do que de falar, chegada a sua vez, disse que o que ia dizer tinha-o ouvido a outro membro do grupo, naquele dia não presente, mas que era isso mesmo o que sentia.

E disse então: a Loja é aquele sítio onde podemos ter amigos como os de infância.

O velho maçom recostou-se na cadeira em que se sentava e sorriu interiormente: a síntese daquela noite fora encontrada!

Tinha e tem toda a razão aquele maçom não especialmente dotado para a palavra, mas que expressou a ideia melhor que os melhores oradores. É precisamente isso que é uma Loja maçónica que se preza de o ser: um local onde podemos encontrar amigos como os da infância, um bem precioso de que a vida e as preocupações da idade adulta geralmente nos privam de ir renovando. Amigos como os da infância normalmente só na infância se fazem - e essa é uma das razões por que esse período da vida é recordado frequentemente com nostalgia... Passada a infância, podem fazer-se amigos, fazem-se amigos, mas, em bom rigor, essas novas amizades dificilmente têm a mesma pureza, o mesmo desinteresse, a mesma naturalidade, das amizades de infância.

Mas, lembrou-o com acerto aquele maçom, e já o tinha notado o outro maçom que ele citara, ali, na Loja, descobria-se um local onde, afinal, se podia ter amigos como os de infância.

E esta é parte importante e imprescindível da essência da Maçonaria.

A próxima vez que um profano me perguntar o que faz afinal um grupo de homens adultos reunir-se frequentemente, tirando tempo à sua família, aos seus afazeres, ao seu descanso, já sei finalmente como lhe posso responder, para que entenda: reunimo-nos em Loja, gostamos de o fazer, porque aquele é um local onde podemos ter amigos como os de infância - e isso é raro, muito raro, e precioso!

Rui Bandeira

16 janeiro 2010

Entrar bem o ano

Porque Vocês merecem... Magnífico este slogan.

Ainda por cima verdadeiro, neste caso !

Pois porque Vocês merecem aqui Vos deixo mais um "boneco" da Cristina Sampaio que ela quiz ter a simpatia de me mandar... com os votos de um bom Ano Novo.

A Cristina, como todos os que seguem a sua arte bem sabem (no Expresso e no Público é raro falhar um exemplar), tem uma visão muito crítica da sociedade e não esconde, bem pelo contrário, nos desenhos que faz.

Este é só mais um acerca do qual não vou tecer qualquer comentário, mais ainda porque correria o risco de adulterar o espírito que queremos que se mantenha neste espaço de formação e informação.
Assim fiquem simplesmente com este "polvinho" assaz atrapalhado para cumprir o ritual.


E tenham um bom fim de semana, sem copos excessivos e com os pés (todos os possiveis) bem assentes no chão.
JPSetúbal

13 janeiro 2010

O décimo oitavo Venerável Mestre


O décimo oitavo Venerável Mestre exerceu funções entre o segundo sábado de setembro de 2007 e idêntico dia de 2008. Dispensa aqui apresentações, pois é bem conhecido dos leitores deste blogue, de que é fundador. O décimo oitavo Venerável Mestre foi o nosso bem conhecido, e atual "animador" de fim de semana do blogue, JPSetúbal.

JPSetúbal é - e já era, na altura em que exerceu o ofício de Venerável Mestre da Loja Mestre Affonso Domingues - o reformado mais ocupado que conheço. Ele são os netos, ele são as instituições de solidariedade que apoia, ele são as reparações de material informático, ele é o sítio de informação regional, ele é a televisão de informação regional (agora já são duas), ele é o tempo que dedica aos amigos, conhecidos, companheiros, colegas e ex-colegas, ele é o tempo que dedica à família (sempre pouco, no dizer da sua permanentemente insatisfeita cara-metade.... como a minha diz de mim... são feitios...), enfim, ele fica com pouco tempo até para se coçar...

Mas, como todas as pessoas atarefadas, o JPSetúbal lá arranjou ainda tempo para encaixar na sua vida mais uma responsabilidade: dirigir, durante um ano, a Loja Mestre Affonso Domingues. Recebeu a Loja organizada, como referi no texto sobre o seu antecessor, e iniciou o seu mandato com evidente entusiasmo, logo apresentando o seu Quadro de Oficiais e o seu plano das atividades previstas (hábitos de gestor, que não se perdem com a reforma...).

A Loja recebeu o seu décimo oitavo Venerável Mestre com indisfarçada expectativa e esperança de mais um ano bonançoso. O JPSetúbal era, e é, um obreiro muito querido e considerado da Loja Mestre Affonso Domingues. A sua bem disposta bonomia, a sua serena competência, o seu estilo calmo, ponderado e conciliador, enfim, o seu ar de "confortável avô", cativam todos os demais e predispõem para que todos correspondam aos seus pedidos e se enquadrem no cumprimento das tarefas por si organizadas.

E o ano foi, efetivamente, bonançoso... até certo ponto - que os imponderáveis espreitam sempre atrás da porta...

O JPSetúbal não propôs, nem preparou, nem organizou, nem executou, nenhuma grandiosa iniciativa. nem era isso que se propunha fazer - ou que tinha cabimento que fizesse. O JPSetúbal fez precisamente aquilo que dele se esperava que fizesse: a gestão calma, serena e normal de uma Loja maçónica em velocidade de cruzeiro, sem especiais problemas nem visíveis desequilíbrios relevantes, tomando o leme que o seu antecessor deixou entregue ao seu cuidado e conduzindo a Loja no seu normal caminho até chegar a altura de passar a direção da barca ao seu sucessor.

Assim, programou e executou o que, para a Loja Mestre Affonso Domingues, já é, felizmente, o trivial e sem história particular: as iniciações dos candidatos - que, na Loja Mestre Affonso Domingues, nunca faltam e, até, têm de ficar em "lista de espera", pois procuramos não exceder a nossa capacidade de acompanhamento e enquadramento de Aprendizes -, as passagens de grau dos que cumpriram com êxito a primeira parte do seu trabalho e da sua integração, as elevações dos que concluíram a sua fase de formação e estão prontos para a futura assunção de responsabilidades na Loja, as pranchas, a atividade administrativa e de representação da Loja, enfim, repito, o trivial...

Para além desse trivial, lembro-me que foi o JPSetúbal quem diligenciou a fabricação e obtenção do segundo exemplar do estandarte da Loja (já que o exemplar original foi objeto de uma apropriação privada por parte de um anónimo, externo e obviamente desconhecido colecionador - não sei se me faço entender...), quem organizou e dirigiu a participação na Loja Mestre Affonso Domingues na homenagem a Aristides de Sousa Mendes, organizada pela Loja que ostenta o seu nome, quem organizou e dirigiu mais uma sessão de dação de sangue (esta, afinal, está mal colocada: façam o favor de a considerar enfileirada no "trivial" - para nós, já o é), levou a cabo a formalização da geminação com a Respeitável Loja Rigor, ao Oriente de Bragança, teve o encargo e responsabilidade de realizar a intervenção de saudação ao Grão-Mestre e a todas as Lojas na sessão de Grande Loja do equinócio da primavera de 2008 - algo que, uma vez que só há quatro sessões de Grande Lojas por ano e porque tal compete por rotatividade entre as Lojas, não voltará a ocorrer senão daqui a muitos anos, se é que volte a suceder! - e programou, organizou e participou na visita da Loja gémea Fraternidade Atlântica à outra Loja gémea, a Rigor. Deixou preparada e pronta para execução a receção dos Irmãos da Fraternidade Atlântica em Lisboa.

Foi neste ponto do seu mandato que o imponderável exterior fez a sua aparição e condicionou fortemente a atividade do JPSetúbal. Precisamente quando se encontrava em Bragança, no encontro com a Fraternidade Atlântica e a Rigor, a sua cônjuge adoeceu, súbita e inesperadamente, com alguma gravidade. Teve de ser submetida a duas intervenções cirúrgicas em Bragança e de ali permanecer durante algum tempo. Obviamente que o JPSetúbal teve de fazer o que era simultaneamente seu dever e sua vontade: ficou em Bragança todo o tempo necessário, em ajuda e companhia da sua cônjuge.

Praticamente toda a parte útil restante do seu mandato teve de ser assegurada à distância. O que, obviamente, comprometeu os seus projetos para a parte final do seu mandato. Mas o que tem de ser tem muita força. E, pelo menos, resta a consolação de que o trabalho feito até que surgiu o impedimento foi profícuo e relevante. E que a Loja reagiu com naturalidade e sem problemas a mais esta, para si inédita, experiência, de ficar, durante um tempo não negligenciável, a ser dirigida à distância, em óbvios "serviços mínimos", sendo a ausência física do seu líder suprida pelos elementos que, nestes casos, têm de suprir essa ausência.

O previsível ano bonançoso teve, na sua parte final, esta pequena tormenta. Que serviu para a Loja testar e executar a sua capacidade de prosseguir o seu caminho normal, apesar da inesperada dificuldade, suprida pela forma como está estabelecido que seja suprida, sem problemas de maior. Enfim, mais uma experiência bem sucedida!

Fora da Loja Mestre Affonso Domingues não se deu pela ocorrência desta anormalidade. O que demonstra a preparação da Loja para lidar com estes imponderáveis que - aprendemo-lo à nossa custa! - podem surgir a qualquer tempo e sem pré-aviso.

Contas feitas, o mandato do JPSetúbal foi, afinal, um bom ano para a Loja. Apesar do imponderável surgido, JPSetúbal entregou ao seu sucessor uma Loja um pouco melhor, seguramente um pouco mais adulta, do que a que recebeu do seu antecessor. Essa maturidade acrescida veio a ser útil mais tarde...

Rui Bandeira

08 janeiro 2010

Máquina infernal...

Só pode mesmo ser uma máquina infernal, destinada a enlouquecer qualquer pobre afinador que tenha o arrojo de se meter a afinar esta... coisa.

Mais uma vez um amigão quis partilhar comigo, e eu convosco, uma curiosidade.

Desta vez trata-se de um objeto inqualificável para mim, mistura de instrumento musical, robot, realejo, número de circo, ... que alguém (não me disseram nada sobre a autoria da invenção) imaginou e realizou e que alguém (outro ou o mesmo) resolveu transmitir para a net.

Agora, mistério, mistério, então não é que toca música... mesmo ?

Para começar o ano com animação e imaginação.

A propósito desse tema ("começar o ano") tão espremido durante estes dias passados, apetece-me reafirmar que o estado do mundo em que vivemos e de que tanto todos se queixam, está dependente, exclusivamente, daquilo que os homens quiserem dele.

E até podemos pegar no exemplo do "instrumento" acima.

Porque razão havemos de ser tão complicados ?

Como diria o do anúncio, "se fosse mais simples também tocava, mas não seria a mesma coisa..."

Os homens e o seu mundo (quem se lembra do "D.Camilo e o seu pequeno mundo" ?) se fossem mais simples também existiriam... mas não seria a mesma coisa !

Pois claro. Seria bem melhor.

JPSetúbal

06 janeiro 2010

Blogue da R.·. L.·. Zarco a Oriente do Funchal


Basta consultar os textos do marcador "Blogues outros" para se verificar que aqui se está atento à "concorrência" e que, quando se encontra um blogue que entendemos que o justifica, o divulgamos através de um texto aqui no A Partir Pedra.

Hoje, é com indisfarçada satisfação que referencio aqui o Blogue da R.·. L.·. Zarco a Oriente do Funchal (endereço: http://joaogoncalveszarco.blogspot.com/), que, de alguma forma, se inspira no A Partir Pedra mas que, certamente, fará o seu próprio caminho, diferente - porventura melhor... - que o nosso.

A R.·. L.·. Mestre Affonso Domingues deu uma ajuda para o alçamento de colunas da R.·. L.·. João Gonçalves Zarco, ao Oriente do Funchal, acolhendo e preparando obreiros que iriam integrar esta Loja, aliás presentemente liderada por um antigo obreiro da R.·. L.·. Mestre Affonso Domingues.

Não admira, assim, que alguns dos projetos iniciais desta nóvel - e visivelmente dinâmica - Loja se inspirem no que a R.·. L.·. Mestre Affonso Domingues vem desenvolvendo - e, a partir dessa inspiração, desenvolvendo os seus próprios caminhos, buscando aperfeiçoar o modelo, expurgá-lo do que de menos bom tem, melhorá-lo.

Nesse sentido, enquanto o A Partir Pedra se anuncia a si próprio como o Blogue escrito por maçons da Loja Mestre Affonso Domingues, o Blogue da R.·. L.·. Zarco a Oriente do Funchal declara que Este blogue é feito pelos obreiros da R:. L:. João Gonçalves Zarco, n.º 71 da Grande Loja Legal de Portugal - GLRP, a Oriente do Funchal.

Um dos colaboradores do Blogue da R.·. L.·. Zarco a Oriente do Funchal é T.:. P.:., que, sob o pseudónimo por extenso de Templuum Petrus, já publicou alguns textos aqui.

Apontadas as semelhanças, anotem-se as diferenças. Desde logo, de imagem, tendo o Blogue da R.·. L.·. Zarco a Oriente do Funchal optado pelo tradicional fundo negro de muitos dos blogues de temática maçónica. Mas, para além da "cosmética", é já possível notar-se, apesar da juventude do blogue (teve os primeiros textos publicados em 12 de novembro último) e do ainda reduzido (mas significativo, para menos de dois meses de publicação) número de textos (19, até ao final do ano de 2009), uma assinalável diferença - para melhor, frise-se - em relação ao nosso blogue: a participação de elementos daquela Respeitável Loja. Em 19 textos, descortinamos, pelo menos, seis autores (Zarco, Nadir, T.:. P.:., tes.:o.dias, RF e H:. T:.), o que é quase o mesmo número de autores de textos dos mais de mil já publicados aqui e, comparativamente à dimensão das respetivas Lojas, denota uma muito maior proporção de participação no Funchal do que em Lisboa...

No Blogue da R.·. L.·. Zarco a Oriente do Funchal publicam-se, segundo julgo perceber, pranchas ou sinopses de pranchas dos obreiros daquela Loja, ao contrário do que, com as inevitáveis exceções, tem sucedido aqui.

Estes dois aspetos - maior proporção de obreiros da Loja a participarem no blogue e publicação nele das pranchas ou sinopses de pranchas apresentadas em Loja - afiguram-se-me exemplos de dois caminhos diversos do que este blogue vem seguindo, com vantagem para os nossos Irmãos madeirenses.

Seguir o Blogue da R.·. L.·. Zarco a Oriente do Funchal é uma maneira fácil de seguir e apreciar o trabalho dos maçons da, por enquanto única, Loja Regular na Madeira. Eu, por mim, já me inscrevi como seguidor...

E, claro!, este blogue passa a integrar a nossa lista de atalhos!

Assim a Maçonaria Regular portuguesa vai crescendo na blogosfera. Já vamos em três blogues, oriundos de localizações tão díspares como Lisboa, Madeira e Macau...

Rui Bandeira

30 dezembro 2009

E chega...


Encadeada com a festa do solstício de dezembro, o Hanukkah, o Natal, a Festa da Família, segue-se o período da comemoração do Ano Novo.

A necessidade de compartimentação do tempo, desde tempos imemoriais sentida pelos humanos, levou à criação dos calendários. A compartimentação do tempo não se fez ao acaso, antes seguiu e reproduziu o ciclo da vida na natureza, nos países temperados. Desde cedo que o bicho-homem se apercebeu que a natureza se repetia ciclicamente, que ao frio sucedia o calor, que o brotar das plantas, o seu florir, era seguido pelo crescimento dos frutos, que à colheita se seguia o tempo de pousio, em que nada crescia e a natureza parecia reservar um tempo para ganhar forças e tudo recomeçar.

Desde cedo que o bicho-homem se apercebeu do ciclo natural e da sua repetição. Um ano corresponde, assim, ao desenrolar dos processos desde o repouso da Natureza até novo repouso - ou, conforme as culturas, desde um florescer a outro, ou desde uma época de colheita a outra.

No calendário gregoriano que atualmente utilizamos, poucos dias após o solstício de dezembro, inverno no hemisfério norte, tem lugar o início do novo ciclo. O Sol reinicia o seu ciclo e, poucos dias depois, a Natureza começa a reemergir do Nada para a Vida, as plantas germinam, a seu tempo brotarão e crescerão, os animais preparam e efetuam o acasalamento, as crias nascerão e crescerão. Enfim, do Nada aparente a Vida brota e cresce, até ao seu declínio - e novo renascimento.

O Ano Novo simboliza para nós, humanos, o Recomeço. Um novo período que se inicia, que será genericamente semelhante ao que terminou, mas, como novo início que é, que cada um de nós espera "formatar" ao seu gosto, corrigindo o que de mal fez no período anterior, alterando o que mau resultado deu. Um novo começo, uma nova oportunidade! Uma nova corrida, uma nova viagem, dentro da Grande Viagem da nossa Vida.

No fundo, o que nós celebramos em cada Ano Novo é esta oportunidade de Recomeço, é a Esperança de que faremos ou conseguiremos mais e melhor neste novo período que se inicia, do que conseguimos no que termina.

Afinal, o que celebramos em cada Ano Novo é a nossa capacidade de nos reinventarmos, de sonhar, de construir e reconstruir, enfim, de fazermos o nosso próprio progresso e de corrigirmos os nossos erros e infelicidades.

Ao celebrarmos o Ano Novo, celebramos a nossa capacidade de FAZER, de CONSTRUIR, de PERSEVERAR.

No fim de contas, o que celebramos em cada Ano Novo é a Vida e a nossa capacidade de nela influirmos e de recuperarmos das nossas desilusões e fracassos, alçando os olhos para novos desafios e objetivos.

Celebremos, pois, o Novo Ano, enquanto indivíduos e enquanto espécie!

A todos desejo um próspero 2010!

Rui Bandeira

27 dezembro 2009

O BONECO

Meus Caros, o funcionário de serviço ao fim de semana chegou atrasado, culpa de um "gripalhado" (junção dos genes da gripe com o "atrapalhado") que me deixou um tanto às avessas durante dois dias.

E depois não sei como passariam o fim de semana completo sem esta intervenção sempre tão oportuna e valiosa... (digo eu... claro)
Certamente que poderiam passar o fim de semana sem mim... mas não seria a mesma coisa !
O Rui conta tudo direitinho quanto ao período que estamos a atravessar.
E neste período aquilo que mais se ouve falar é em auxílio, fraternidade, solidariedade, companhia, combate à solidão e não sei mais quantas coisas boas.

É bom que esta época festiva sirva para isso, já que passando este período tudo regressará invariavelmente ao isolamento cada vez maior em que cada ser humano se vai distanciando dos outros, num movimento que, se bem entendo o sentido de preservação da existência, é completamente contraditório.
Mas de facto aquilo que sinto é um egoísmo mesquinho, crescente, que nos isola e nos faz mandar às urtigas tudo o que significar "chatice".
Seria bom, seria desejável, que desta época ficassem sementes.
Isso significaria a esperança de que um dia pudessem germinar e trazer aos humanos um pouco de capacidade de aceitação das diferenças, porque é aí que bate o ponto.

Estou pessimista !

Entretanto a minha querida amiga Cristina Sampaio fez-me a surpresa de me enviar (e autorizar a publicar) um boneco daqueles...
A Cristina é uma renomadissíma caricaturista (cartonista como dizem os americanos) com vários prémios nacionais e internacionais ganhos com os magníficos traços que "rabisca" e nos quais consegue definir uma história completa em meia dúzia de traços.

Julgo que já trouxe ao blog um boneco dela quando ganhou o 1º prémio do World Press Cartoon em 2007.
Pois este ano a Cristina enviou-me mais um boneco "super" que passo a partilhar convosco... porque vocês merecem !
Sobre este desenho de "meia dúzia de traços" (repito) poder-se-ão escrever manuais inteiros sobre o comportamento humano e em particular dos portugueses.
A Cristina, sabe dizer isso tudo assim.
Um lápis e meio bico... não precisa de mais.

Desejo que tenham tido esta época com a alegria que é suposto ter e com a Paz que é desejável para todos.

Boas Festas e Excelente 2010.

JPSetúbal

23 dezembro 2009

A festa do solstício de dezembro


A 21 de dezembro ocorre o solstício de inverno, o dia mais curto do ano no hemisfério norte. A partir daqui, dia a dia, o dia ganha mais uns minutos. Ao fim de um mês, mais coisa menos coisa, é uma hora de Sol a mais - o que faz a sua diferença e é notado.

Desde tempos imemoriais que a Humanidade celebra este dia, este período. À angústia de ver cada dia o Sol (a primeira divindade do homem primitivo) a desaparecer mais cedo e por mais tempo, dando lugar às trevas e ao frio da noite, sucede-se, a partir do solstício, o alívio de notar que o processo se inverte, que cada dia nos traz um pouco mais de tempo de luz.

Desde os primitivos tempos que a humanidade celebra esta ocasião, ligando o receio de ver desaparecer, esvair-se, o Sol ao outro grande receio primitivo do bicho-homem, o do seu desaparecimento físico, a morte, e anunciando a esperança de que a vitória do Sol sobre as trevas que, a partir do solstício, sensivelmente se vê, dia a dia, simbolize também a vitória sobre a morte, numa esperada, ansiada, ressurreição.

O solstício de inverno marca, no ciclo da vida e das estações, a decadência como meio, como etapa, como estágio, para a recuperação, o renascer, o reflorescer, que virá a ter o seu clímax por alturas do equinócio da primavera.

Assim é, ano a ano. Assim desde os tempos do Homem Primitivo, se assinala o período. O mito de Osíris é talvez, da Antiguidade, a sua variante mais conhecida. Nos dias de hoje, permanecem as celebrações da época. As religiões reservam uma festividade para este período, em consonância com o primitivo sentir do bicho-homem.

Na religião judaica, celebra-se o Hanukkah, festividade que comemora a rededicação do Templo de Jerusalém, no tempo da Revolta dos Macabeus, no século II a. C.. Celebra-se durante oito noites, com início no vigésimo quinto dia do mês Kislev, que é o terceiro mês do ano civil e o nono mês do ano eclesiástico do calendário hebreu e que, no calendário gregoriano, aquele que usamos presentemente no nosso dia a dia, ocorre entre finais de novembro e finais de dezembro.

Nas religiões cristãs, celebra-se o Natal, o nascimento de Jesus Cristo. Na antiguidade, o Natal era comemorado em várias datas diferentes, pois não se sabia com exatidão a data do nascimento de Jesus. Foi somente no século IV que o 25 de dezembro foi estabelecido como data oficial de comemoração. Na Roma Antiga, o 25 de dezembro era a data em que os romanos comemoravam o início do inverno. Portanto, acredita-se que haja uma relação deste facto com a oficialização da comemoração do Natal.

Esta época é também assinalada, por todo o mundo cristão, pela Árvore de Natal e pelo Presépio. Acredita-se que a tradição da Árvore de Natal começou em 1530, na Alemanha, com Martinho Lutero. Certa noite, enquanto caminhava pela floresta, Lutero ficou impressionado com a beleza dos pinheiros cobertos de neve. As estrelas do céu ajudaram a compor a imagem, que Lutero reproduziu com ramos de árvore em sua casa. Além das estrelas, algodão e outros enfeites, utilizou velas acesas para mostrar aos seus familiares a bela cena que havia presenciado na floresta. Esta tradição foi trazida para o continente americano por alguns alemães, que emigraram para a América durante o período colonial, e daí difundida um pouco por todo o Mundo. O presépio mostra o cenário do nascimento de Jesus, ou seja, uma manjedoura, os animais, os reis Magos e os pais do menino. Esta tradição de montar presépios teve início com São Francisco de Assis, no século XIII.

A época é de festa, de recolhimento familiar, no fundo de relembrança dos valores que fazem a vida valer a pena ser vivida. Solstício, Hanukkah, Natal, seja como se festeje, deve ser uma época em que nos recolhemos ao interior de nós mesmos e nos reunimos com os nossos, fortalecendo a noção de que é em conjunto, em família, no nosso grupo central, que a vida deve ser vivida, em paz e harmonia.

Festejemos, pois!

A todos, Boas Festas!

Rui Bandeira

Fontes:
Wikipedia: Hanukkah
Wikipedia: Kislev
Professor Gabriel Campos de Oliveira: Origem do Natal e o significado da comemoração (mensagem privada)

19 dezembro 2009

Semana da preparação

Estamos no penúltimo fim de semana anterior à "festa da Família (?)", chame-se-lhe Natal ou outra coisa qualquer, de acordo com a cultura e convicções de cada um.

Os míudos ficaram de férias e há muita gente a fugir, ou a preparar-se para fugir das cidades, quem sabe procurando o quê.

Há casos em que se procuram os familiares mais chegados que restam (cada vez menos) nos locais de origem, outros procuram sossego (leia-se, silêncio), outros procuram a diferença e outros ainda procuram sem encontrar e sem saberem o que procuram.

Como o tempo não está para grandes festas (está um frio danado e andam por aí a barafustar por causa do aquecimento...), mantenho a minha tentativa de Vos animar (não faz mal tentar...) com um pouco de música bem disposta.

Se depois de verem os bonequinhos (os que os virem, claro) puderem dizer: - T'á giro... já fico satisfeito.

Se não acharem piada nenhuma... azar. O tempo gasto não foi muito.

O primeiro é dos antigos, daqueles que já não se fazem agora:

O segundo é dos modernos, daqueles que não se faziam antigamente:

Aqui estão com os votos de bom fim de semana, sem fatias, filosofias e chatas tias.

Abraço.

JPSetúbal

16 dezembro 2009

Criar e fabricar


Jean Staune

A Loja Nacional de Investigação da Grande Loge Nationale Française tem o nome de Villard de Honnecourt, um arquiteto gaulês do século XIII. Esta Loja publica trimestralmente Les Cahiers Villard de Honnecourt. No decorrer da minha recente visita à Respeitável Loja Fraternidade Atlântica, o seu Venerável Mestre teve a amabilidade de me oferecer o último volume então publicado, o n.º 69, dedicado genericamente ao tema Aspetos do sagrado.

Logo nas páginas iniciais deste volume, encontrei e li uma interessante entrevista concedida por Jean Staune, fundador da Universidade Interdisciplinar de Paris e professor convidado em duas Universidades Pontificais em Roma e na Universidade de Shandong, na China. Considera-se um filósofo das ciências, trabalhando na encruzilhada entre a filosofia, a teologia, as ciências e a gestão. O seu último livro foi um sucesso editorial em França e tem um título significativo: A nossa existência tem um sentido?

Na entrevista, toca temas como a a necessidade humana da transcendência, em pleno século XXI, o papel de Deus no seu pensamento filosófico, o choque de civilizações, a busca iniciática, a Tradição.

Uma passagem da sua entrevista chamou-me particularmente a atenção e aqui a publico, em tradução livre minha:

A minha conceção de Deus foi muito influenciada por autores judeus, como Hans Jonas e o seu O Conceito de Deus depois de Auschwitz. Ele demonstra bem que a ideia de um Deus Omnipotente é contraditória com a ideia de uma verdadeira liberdade. Deus abdicou de uma parte da sua omnipotência, dando-nos uma verdadeira liberdade. Se Deus pudesse agir permanentemente para nos impedir de fazer esta ou aquela coisa, é claro que não seríamos livres. E se Ele não pode intervir, não é Omnipotente. Ele pode intervir, mas não pode suprimir a nossa liberdade, entre outras, a de fazer o mal.

Este conceito da abdicação parcial da Omnipotência em virtude da Criação não o tinha ainda encontrado e, na sua simplicidade, parece apto a responder ao paradoxo invocado a propósito dos atributos de Deus (Deus Omnipotente e Deus Omnisciente são conceitos incompatíveis entre si: se Deus, tudo sabe, sabe o que acontecerá até ao fim da eternidade e então não pode mudar o que vai acontecer; se pode mudar, não pode saber o que vai acontecer) e, sobretudo, ao entendimento de que só o ateísmo é compatível com o Livre-Arbítrio, pois a crença no Criador e na Criação implica que aquele, tendo Criado e podendo Mudar, a seu bel-prazer, tudo determina e, portanto, impede que haja verdadeiro Livre-Arbítrio.

Criar não é sinónimo de fabricar. Fabricam~se artefatos, que deverão ser como nós queremos, enquanto quisermos, como quisermos. O ato da criação implica algo mais profundo, mais dinâmico (muito mais interessante...): implica que o que criamos não fique sob o nosso absoluto controlo, que cresça e evolua por si, mesmo contra a nossa vontade.

Fabricam-se automóveis ou frigoríficos ou colheres. Tudo que se fabrica é estático. É e será o que foi fabricado, como foi fabricado, para o que foi fabricado. Nem mais, nem menos, nem diferente.

O que é criado tem potencial de evolução próprio e independente do seu criador. Uma criança como um cachorro, como uma planta, como uma obra de arte, que será vista, entendida e interpretada por mil maneiras diversas e imprevistas pelo seu criador (ou então não será uma obra de arte, antes qualquer coisa verdadeiramente não criada, apenas fabricada...).

O ato de criar implica então abdicar da possibilidade de determinar, do controlo, da decisão. Implica admitir que a criatura vai desenvolver-se, não como nós quereríamos, mas como ela própria se desenvolver, vai agir, não como gostaríamos, mas como ela própria decidir agir. Para o bem e para o mal.

Criar é, inevitavelmente, um ato de Liberdade e, mais do que isso, um hino à Liberdade. Porque usamos a nossa Liberdade para possibilitar que algo exista com Liberdade própria.

Deus só pode ter sido Omnipotente ANTES da Criação. Continuaria a ser Omnipotente se nada tivesse criado. Quando muito, se tivesse apenas... fabricado... Mas, quando optou por Criar, aceitou (quis aceitar, usou o seu poder de aceitar, sabendo qual a sequela de o fazer e querendo e aceitando essa sequela) a inevitável consequência de que tal ato implicava a abdicação da sua Omnipotência, em favor do Livre Arbítrio que criava e do que criava.

Este conceito não se me tinha ainda mostrado e descobri-o com esta passagem da entrevista de Jean Staune. Os ateus continuarão a dizer que nada prova sobre a existência de Deus. Eu continuarei a defender que a melhor prova da existência do Criador é a simples e mera observação do que está por cima da nossa cabeça ao ar livre numa noite de Verão sem nuvens... Aos que acenam com o Big Bang, continuarei eu a inquirir-lhes sobre o que e quem o despoletou... Esta ideia que encontrei nada resolve, sobre nada é definitiva. Mas, para mim, serviu para pensar um pouco, sob uma perspetiva em que não tinha ainda pensado.

Esta ideia que encontrei é apenas uma pedra que, por si só, nada constroi, nada acaba. Mas é uma pedra que encontrei e pontua o MEU caminho. Tanto me basta!

Rui Bandeira

12 dezembro 2009

Bom, então seja... 1002 !

Bom, rompamos então com os salamaleques matemáticos para um apontamento curtíssimo.

(Tinha mais umas coisas para incluir neste texto mas confronto-me com uma dificuldade que não estou a perceber e que se assemelha muito a uma daquelas birras em que as "novas tecnologias" são ferteis.
Como costumo dizer, esta treta das "Novas Tecnologias" foi inventada para nos moer o juizo, e agora é o que está a acontecer.
Já gastei mais tempo às voltas à "procura desta rolha" do que o que gastei na maior parte dos posts que cá deixei. Adiante, hei-de descobrir e depois conto.)

O Rui deu-nos uma grande notícia com o seu exercício de pura lógica matemática.
Nada de completamente inesperado, mas sem dúvida bem melhor lido assim... escrito pelo próprio.
O exercício lógico do Rui leva-me a uma conclusão:

- Garantidamente tê-lo-emos a escrever no blog durante mais 1000 posts, pelo menos !

É fácil de demonstrar.
Se quem escreveu o 1, deve escrever o 1000, então quem escreveu o 1001 deverá escrever o 2000... !!!
Elementar meu caro Watson... diria o do boné aos quadradinhos.

Ficamos todos de parabéns !

Então preenchendo o 1002, quanto a este não há dúvidas, e ocupando este período de fim de semana (vai ser frio, cuidem-se) selecionei 2 momentos.
No primeiro temos uma aplicação prática dos modelos de "Maçonaria" a que nos temos referido ao longo destes 1001 textos.

Assim numa primeira fase, temos o exemplo gritante, no verdadeiro sentido da palavra, de uma versão de "Maçonaria Especulativa"...

Após diagnóstico passa, na maior parte das vezes, a "Maçonaria Operativa"... (sempre gritante, diga-se...!!!), particularmente na altura do pagamento da conta.



É assim, há sempre uns tipos dispostos a dar uns chutos na bola e depois... ... ... não digo (quero dizer, não escrevo !) o resto.
Mas acontece-lhes mais ou menos como ao mexilhão !

Bom e agora entraria o tal 2º momento (eu anunciei dois, verdade ?) mas estamos naquele impasse, eu e o "Blogger", de desentendimento profundo.
E não estou para lhe dar mais confiança por agora.

Sorte a vossa que acabo mais depressa.
Estão a ver ? Já está

Gozem o fim de semana, descansem, divirtam-se mas tenham cuidado com o frio. Ele anda por aí.

JPSetúbal

09 dezembro 2009

O milésimo (e um) é da Fraternidade (Atlântica)


O nosso sempre muito apreciado JPSetúbal dispôs-se, magnanimamente, a efetuar provisória torcedela nas imemoriais regras da Aritmética (uma das ciências que, por gosto, tradição e inerência os maçons cultivam), de forma a que a 999 anunciasse que se seguia 1001, deixando "reservado" o (simbólico) milésimo texto para o meu humilde teclado.

Assim simbolicamente (outro algo em que os maçons trabalham) se suspendeu o milésimo texto até à minha anunciada chegada de Paris, não no bico de lendária cegonha (que sou demasiado grandinho e... "usado" para tal meio de transporte), mas em prosaica viagem de avião.

Agradeço penhoradamente a atenção e a intenção, mas julgo asado repor aqui a normalidade aritmética, por duas igualmente importantes razões, que de imediato exponho.

A primeira é que o número 1000 não deve, a meu ver, ser apenas encarado como um mero número redondo; deve também ser visto como a pedra (laboriosa, persistente e interessadamente partida) de fecho do ciclo constituído pelo primeiro, espero que de muitos, milhar de textos. E, nesse sentido, quem precisamente foi adequado para, mui justamente, colocar essa pedra de fecho foi o mesmo que teve a iniciativa de, acolhendo ideia consensualizada a três, avançar com a criação deste blogue e nele publicar o seu primeiro texto, no dia 4 de junho de 2006. Faça o leitor o favor de seguir o atalho e verificar com os seus próprios olhos quem foi: é isso mesmo, foi o nosso estimado JPSetúbal! Assentemos, pois e então, que o magnanimamente intitulado Texto 1001 é, afinal, com toda a Justiça e o devido rigor aritmético, o milésimo texto, a tal pedra de fecho da abóbada do primeiro milhar de textos, adequadamente colocada por aquele que partiu e pôs no seu devido sítio a primeira pedra.

A outra, e não menos importante, razão é que este texto que agora lê é dedicado à nossa muito estimada Loja-gémea, a Respeitável Loja Fraternidade Atlântica, n.° 1267 da Grande Loge Nationale Française. Ora, a esta nossa apreciada Loja-gémea não se dedica um texto de fim de ciclo. Tem ela todo o direito e todo o nosso carinho de lhe ser dedicado um texto de INÍCIO de ciclo, de início de novo milheiro, um texto virado para o futuro e não apenas encerrando um, ainda que agradável, passado.

Portanto, este é o texto que inicia o novo milhar, o primeiro dos que estão para vir, não o último dos que já foram escritos. Este é - reivindico-o! - o milésimo primeiro texto deste blogue!

Fui então visitar a Respeitável Loja Fraternidade Atlântica ao Oriente de Neuilly-Bineau, próximo de Paris. Trata-se de uma Loja de língua portuguesa em terras de França, mas em que o português e o francês alternam com a naturalidade dos bilingues. E quem ali não é bilingue aspira a sê-lo. Fiquei particularmente impressionado com o Irmão Guy que, nos seus vetustos, mas rijos, 85 anos (isso mesmo: oitenta e cinco!) resolveu que era tempo e de sua vontade aprender a falar português e, além das lições que toma... juntou-se à Fraternidade Atlântica! Afirmo já aqui pública e solenemente: quando for grande, gostava de ser como o Irmão Guy (e como o nosso Alexis, igualmente jovem com os seus similares 85 anos...).

Aprendi muito com a Loja. Algo faz como nós, algo faz diferente de nós. Alguma dessa diferença merece ser analisada por nós, para passarmos a fazer como eles.

E é esse o propósito e interesse das visitas a outras Lojas: aprender com as semelhanças e diferenças; colher o que fora do nosso grupo se faz de bom, confirmar o que dentro do nosso grupo se faz bem.

A Respeitável Loja Fraternidade Atlântica é, sobretudo, uma Loja alegre, coesa e organizada. Foi um gosto vê-la trabalhar, com o desenrolar dos trabalhos em suave harmonia e discreta eficácia. Foi uma lição ver a sua organização e rotina. Foi um enorme conforto ver e sentir como ali a harmonia impera, a cooperação tem lugar, a busca da qualidade e da melhoria individual e coletiva é uma constante.

Os obreiros da Loja Mestre Affonso Domingues têm razão para se sentirem honrados e muito satisfeitos por a sua Loja estar geminada com a Respeitável Loja Fraternidade Atlântica. E os laços entre as duas Lojas vão-se estreitando. Sou portador do convite para que a Loja Mestre Affonso Domingues esteja presente, no próximo dia 13 de maio de 2010, na comemoração dos 15 anos da Fraternidade Atlântica. Recebi deles o propósito de estarem representados, em junho seguinte, na comemoração do vigésimo aniversário da Loja Mestre Affonso Domingues.

O melhor que posso dizer da minha visita à Respeitável Loja Fraternidade Atlântica é, no fundo, algo muito simples, mas sentido: senti-me lá como na Mestre Affonso Domingues! Nós, os da Mestre Affonso Domingues e da Fraternidade Atlântica sabemos tudo o que de bom isso significa!

Um grande bem-hajam pela exemplar hospitalidade, meus Irmãos, um triplo, fraterno e sentido abraço de satisfação e harmonia vos dei e de vós recebi. Até à próxima e até sempre. Aí e aqui! Para todos, mais avião, menos hotel, é igual!

O nosso passado comum foi bom. O nosso futuro em conjunto será certamente melhor e enormemente gratificante para todos nós!

Rui Bandeira

06 dezembro 2009

Texto 1001

O Zé Ruah fez questão de alertar para o número de ordem do texto em que refere o livro sobre a "influência dos maçons na guerra civil americana".

E esse texto tem o número de ordem 999 !

Daí este ser o 1001 !!!

Óh meu querido leitor, até podia ter razão. Não lhe levo nada a mal essa de me chamar burro por, aparentemente, não saber contar até 1000.

As minhas qualidades natas levam-no, naturalmente, a pensar assim, mas desta vez não tem razão.

Sei contar até 1000 sim senhor...

Enfim, não saberei muito mais... mas até 1000 ainda lá vou.

O que acontece é que o texto 1000 tem de ser, de direito mais que pleno, do Rui.

Portanto, façam o que quiserem com a Matemática, com a Adição e as suas propriedades (na verdade não sei se isso ainda existe !), mas tem de ser.

Neste Blog vai ser 999+1= 1001 .

O 1000 vai ter que esperar o regresso do Rui, que foi até Paris (aquele "Paris da França", sabem qual é ?) de visita aos nossos Irmãos da R:. Loja:. Fraternidade Atlântica, e quando vier fará então a edição do post 1000.

Ele merece-o mais do qualquer outro de nós, portanto ficam a saber que desta vez o texto 1001 irá ficar antes do 1000.
O respeitinho é muito bonito e o "chefe" é que manda...

É assim ! A nossa vontade pode bem surpreender a Matemática. É só querermos !

E para não se armarem em espertos (sim, porque vocês são muito capazes disso), eu considero que esta regra (passageira) que aqui imponho é, enquanto durar, um axioma. Escusam de vir com pedidos de demonstração porque não se safam. Era o que faltava.

Pronto, explicada que está a sequência numérica dos textos nesta fase do "A Partir Pedra" aqui vos deixo mais um entretem para o fim de semana, que desta vez até é prolongado considerando a hipótese de uma "pontezinha" na 2ªfeira.

E a "laracha" desta vez tem mesmo a ver com o respeitinho... que é muito bonito, e Domingo só há um por semana !

Ora vejam com atenção o vídeo e digam lá se é, ou não, como eu digo.



E posto o respeitinho na ordem aqui vos deixo o meu voto habitual:

- Bom fim de semana, mesmo com a chuva toda que aí vem. Aproveitem, fiquem no quentinho do borralho, atenção às correntes de ar... Não se esqueçam que a gripe anda aí. Cuidado com ela.

Isto parece conversa da minha Avó... Abraço.

JPSetúbal

04 dezembro 2009

Qual o Papel dos Maçons na Guerra Civil Americana ?

Sabe o Leitor ?

Eu tambem não. Mas Michael Halleran sabe.

E como sabe, aliás essa é uma das suas especializaçoes, decidiu publicar um livro a sair em março de 2010.

Como Michael é nosso amigo fez o favor de nos informar desse facto e mandou-nos o site onde iniciou a divulgação do Livro.

Mas o autor é mesmo muito nosso amigo, e decidiu obsequiar este blog ( através de mim) com a possibilidade de publicarmos em fevereiro uma peça sobre o livro pelo que vai mandar um exemplar.

Quem estiver interessado pode desde ja fazer a encomenda no site do livro e que é:

http://michaelhalleran.com



José Ruah

PS: esta mensagem é a 999 publicada neste blog ( se ninguem publicar nada entretanto)

02 dezembro 2009

Fanfarra para o homem comum

Aaron Copland, compositor

Esta é uma das peças musicais minhas preferidas. Não é demasiado longa - menos de três minutos. Transmite uma sensação de solenidade. É executada sem a intervenção do naipe "nobre" da orquestra - as cordas -, que cede a primazia aos usualmente secundários metais e à percussão. É uma peça musical que se destina a ser executada, não pelas "estrelas", mas pelos "carregadores do piano" (instrumento que, afinal, nem sequer faz parte da orquestra sinfónica...).

Mas o que me atrai primordialmente nesta peça musical é o seu nome: FANFARRA PARA O HOMEM COMUM. Não para o especialista, não para o melómano, não para o solista, não para o génio executante, não para o emblemático compositor. Simplesmente para o homem comum! Para mim, que isto escrevo, para si, que isto lê, para o analfabeto e para o culto, para o rico e para o pobre, para o novo e para o velho - para o homem comum, em todas as suas vertentes. Não para o que se destaca - para o que se mistura e confunde na imensa multidão da Humanidade!

A que propósito vem isto num blogue temático sobre a Maçonaria?

Muito simplesmente porque esta - ao contrário do que por vezes se pensa - também não se destina aos iluminados, à "nata" da sociedade, aos privilegiados. A Maçonaria - que é essencialmente um método e um meio de aperfeiçoamento pessoal, nas vertentes moral e espiritual - destina-se essencialmente ao Homem Comum! Ao Homem Comum de boa vontade, interessado em melhorar, em evoluir, em crescer. A Maçonaria recebe, e ajuda a desenvolverem-se, homens comuns. Para que se tornem melhores! Provavelmente, por assim se tornarem, para se transformarem em homens incomuns. Mas com o propósito último de que, de tantos vir a melhorar, fazer com que os incomuns venham a ser, verdadeiramente, e simplesmente, comuns!

Rui Bandeira

28 novembro 2009

Amigos... AMIGOS ... sempre

Estamos a falar de Amigos. De AMIGOS !
E amigos são todos os que aqui vêm.
E os amigos não têm de concordar sempre.
E os amigos também discutem.
Mas... os amigos não deixam de ser amigos.

Este pequeno vídeo dá-nos uma indicação de como é possível os animais entenderem-se.
Os animais de 4 patas... quanto aos de 2... muita água tem de correr ainda.

De qualquer forma a minha intenção às 6. feiras (ou ao Sábado... ou ao domingo... consoante a oportunidade disponível) é deixar um toque de boa disposição para o fim de semana.
Eu repito... "intenção" ! Se o objetivo é conseguido ou não, é outra conversa e depende mais dos leitores do que do escriba.
Se for possível, ótimo, se não for assim... continuemos a tentar.
Há milhões de vídeos, power-point's, sonetos, poemas, versos soltos e "presos", cantigas e músicas, pimbas e óperas,... eu sei lá o que há por esse universo à volta para glorificação da Amizade, e para mostrar exemplos, e para ensinar a ser amigo (como se isso se aprendesse em curso com manual e tratado), e para mais uma data coisas que não têm nada a ver com a Amizade de verdade que simplesmente se cria ou não se cria, se merece ou não se merece, e ponto final.
A sugestão agora é uma voltinha no vídeo que aí vai:

Posta esta estorinha do vídeo, segue um complemento.
Convém esclarecer que tudo (ou quase...) do que para aqui trago é material fornecido gratuitamente por... ... amigos, claro, que diariamente e muitas vezes noturnamente, me enchem a caixa do correio com "tretas" de grande utilidade e algumas de enorme beleza.

Obrigado a todos..



Caros Amigos... bom fim de semana. Divirtam-se e cuidado com os amigos.

JPSetúbal

27 novembro 2009

O Gato


Todas as noites, quando o guru se sentava para fazer as preces, o gato do ashram entrava e perturbava os presentes.
Por isso, o guru mandou que o gato ficasse amarrado durante o serviço da noite.
Depois de o guru morrer, o gato continuou a ser amarrado durante o serviço da noite.
E, quando o gato morreu, foi trazido outro gato para o ashram, para que pudesse ser devidamente amarrado durante o serviço da noite.
Séculos depois, eruditos tratados foram escritos pelos discípulos do guru sobre o significado liturgico de se amarrar um gato durante a realização do serviço religioso.

25 novembro 2009

Maçonaria e Política



Porque estará tão disseminada a noção de que a integração na Maçonaria confere «influência junto ao Poder Político», que serve para «subir na vida» e «usufruir de privilégios especiais»?

De tal forma que leva maçons a escrever - «CINCO MOTIVOS PARA NÃO SER MAÇOM»?

A pergunta é pertinente e é daquelas que merece resposta, não apenas em outro comentário mas em texto no espaço principal do blogue.

Comecemos por aferir da justeza dos pressupostos. É exato que está tão disseminada a noção de que a integração na Maçonaria confere «influência junto ao Poder Político» ?

Está! É inegável que está! Pelo menos na "opinião publicada". Seguramente nos azedos comentários de anti-maçons ou, mais elucidativo ainda, de adversários políticos de determinado partido político português, que, certa ou erradamente, ganhou fama de ser muito influente entre os maçons.

É óbvio, é evidente que não me agrada esta "tão disseminada" noção. Mas o facto de assim ser não faz com que ela não exista e que esteja menos "disseminada". Não o reconhecer é equivalente ao inútil ato, atribuído, quiçá injustamente, à avestruz, de esconder a cabeça na areia. E com os mesmos ineficazes resultados!

Penso que as várias centenas de textos de minha autoria que este blogue leva publicados mostra bem que essa não é a minha postura. Pode concordar-se ou discordar-se das ideias que aqui exponho. mas, com justiça, não posso ser acusado de fugir ao debate ou às questões incómodas! Vou portanto ensaiar aqui dar a minha resposta, não sem antes deixar bem claro que, na mesma, não se deve ver qualquer juízo de valor em relação a outras organizações que não aquela em que me integro, nem aos seus aderentes. Vou limitar-me a referir factos, tal como os conheço, e a extrair deles as minhas conclusões.

A Maçonaria Universal tem duas grandes variantes.

Uma delas é a Maçonaria Regular, por alguns também designada "de inspiração anglo-saxónica". Considera-se a verdadeira Maçonaria. Reclama-se de ser a seguidora direta das quatro Lojas que, em 1717, fundaram a Grande Loja de Londres, que declara a Grande Loja fundadora da moderna Maçonaria especulativa, erigida sobre as fundações da antiga Maçonaria operativa. Não abdica de dois princípios essenciais: a crença num Criador, qualquer que seja a designação que cada um lhe dê ou a religião que cada um professe, que designa por Grande Arquiteto do Universo, e a sua vocação exclusiva de se destinar ao aperfeiçoamento individual, moral e espiritual, dos seus membros. Como corolários destes dois grandes princípios, resultam a proclamação do eminente valor da Tolerância, no sentido de que se deve reconhecer ao Outro o direito às suas ideias e à expressão delas, ainda que delas profundamente se discorde, pois as ideias rebatem-se com argumentos, não com proibições ou ostracismos; a consideração de que as mudanças a que o maçom deve aspirar são as que reconhece dever haver em si próprio, não havendo lugar, enquanto maçom e enquanto Maçonaria, a intervenção na Sociedade, muito menos de caráter revolucionário, limitando-se a única intervenção do maçom na sociedade ao exemplo que der pela sua conduta, atuando o maçon e a Maçonaria sempre no estrito respeito da Legalidade vigente em cada lugar; a recusa de intervenção política, enquanto maçom ou enquanto Maçonaria, pois a luta política deve ser estranha à Fraternidade entre maçons e o respeito pelas ideias do Outro implica que cada maçon é livre de, individualmente, ter as posições que entender e, enquanto cidadão, intervir politicamente como quiser, não havendo lugar a qualquer "indicação" política ou "congregação" de vontades políticas.

Outra variante é a que costumo designar de Maçonaria Liberal, ancorada na evolução sofrida pelo Grand Orient de France, na sequência de vários fatores: rivalidade franco-britânica, evolução das condições sociais em França (Revolução Francesa), inserção dos atores políticos na Maçonaria. Esta outra variante é em quase tudo consentânea com a primeira, com duas importantes exceções: por um lado, aceita a presença de agnósticos e ateus nas suas fileiras, fundamentando tal opção no princípio da Liberdade de Consciência e na não ingerência na convicção alheia (elevando o corolário da Tolerância ao primado de princípio, gerador, por sua vez, de um outro corolário, o laicismo); o entendimento de que a missão principal da Maçonaria é a melhoria da Sociedade (e não apenas dos seus membros, individualmente considerados), cabendo à Maçonaria pugnar pela realização da trindade essencial dos princípios políticos (Liberdade-Igualdade-Fraternidade) e trabalhar pela sua aplicação na Sociedade, mesmo por meios revolucionários, se tal se justificar, designadamente por inexistência de regime político democrático.

Como é sabido, a evolução histórica em Portugal ocorreu no sentido de que, muito cedo, a Maçonaria que se implantou e, durante muitos anos, em exclusivo existiu no País, foi a desta última variante.

Não é segredo para ninguém que o Movimento Republicano foi fortemente influenciado pelos Maçons da época, podendo mesmo dizer-se, creio que consensualmente, que a Revolução Republicana de 1910 foi fortemente influenciada, para não dizer mais, pela Maçonaria da vertente liberal.

Os principais políticos da I República foram - é sabido - maçons liberais. A esta luz, percebe-se melhor que, no dealbar do salazarismo, uma das medidas tomadas tenha sido a proibição da Maçonaria. Esta, sempre na sua vertente liberal, no entanto, foi conseguindo existir clandestinamente, com ligações aos opositores do regime de Salazar e, mais tarde, de Caetano. Restaurada a Democracia e novamente legalizada a Maçonaria, liberal, esta era constituída essencialmente por velhos republicanos e políticos e outros opositores ao regime derrubado. A nova ordem política pós-25 de Abril incluiu, em lugares de destaque, maçons liberais. Que se rodearam de quadros mais jovens que, atraídos para a política, também inevitavelmente o eram para a Maçonaria liberal. A vocação de intervenção política e social da Maçonaria Liberal pôde voltar a concretizar-se, após o derrube da Ditadura.

Só há cerca de 20 anos, foi introduzida formalmente em Portugal a Maçonaria Regular. Esta não tem, enquanto tal, qualquer intervenção política. Não é, assim, um local especialmente apetecível para políticos e candidatos a políticos.

Mas mais de um século de intervenção política da Maçonaria liberal deixaram marcas. Não admira que o comum das pessoas associe uma Maçonaria, a liberal, que assumidamente considera ter um campo de intervenção útil na Política, a «influência junto ao Poder Político» - particularmente quando, historicamente, a teve! Quanto ao "subir na vida" e aos "privilégios especiais", são fatores associados, no imaginário corrente, aos políticos, seus privilégios e idiossincrasias e, inevitavelmente, foram, nesse imaginário comum, por associação também aplicados à Maçonaria com atividade política, a liberal.

A Maçonaria Regular, aquela em que me incluo e se incluem os elementos da Loja Mestre Affonso Domingues, integrante da Grande Loja Legal de Portugal/GLRP, contrariamente ao ramo liberal, não tem intervenção política. Postula como seu objetivo o aperfeiçoamento individual dos seus membros. Forma consciências. E cada um, segundo a sua consciência, como livre-pensador que é, intervém onde entende, como entende, se entende. Agrupando livre-pensadores, a Maçonaria Regular não tem a pretensão (logicamente votada ao fracasso...) de pretender que esses livre-pensadores pensem todos de forma igual - por isso considera não ser sua vocação a intervenção política que, para existir de forma minimamente eficaz, implica alguma concordância de pensamento.

Atento o lastro histórico que existe decorrente da antiguidade da implantação da Maçonaria liberal no nosso País, é inevitável a existência da associação entre Maçonaria (liberal) e Política. A Maçonaria Regular, tendo uma firme orientação diferente, necessita de esclarecer bem a sua posição. Não quer que ninguém se interesse pelos seus princípios induzido em erro pelos condicionalismos históricos. Daí que esclareça, cuidadosamente, a questão. Daí que escreva e publique textos como Cinco motivos para NÃO SER maçom!

Rui Bandeira

21 novembro 2009

O obstáculo no nosso caminho

De acordo com os meus queridos Manos entrei hoje... em tempo "extra" !

Não sei se é uma fina alusão ao futebol e ao período extra que os árbitros sempre dão após o tempo regulamentar significando que o meu "tempo de jogo já acabou", mas se é... tudo bem, eu tratarei de ir preparando o caldeirão para quando Vocês chegarem não ficarem à espera !!!

Entretanto chegou-me, sob a forma de lição (esta é uma de 5) mais um "continho" que Vos passo.















O obstáculo no nosso caminho

Em tempos antigos, um rei mandou colocar um enorme pedregulho num caminho. Depois escondeu-se e ficou a ver se alguém retirava a enorme pedra.

Alguns dos comerciantes mais ricos do Rei passaram e simplesmente se afastaram da pedra, contornando-a. Alguns culpavam em alta voz o Rei por não manter os caminhos limpos. Mas nenhum fez nada para afastar a pedra do caminho.

Apareceu então um camponês, carregando um molho de vegetais.
Ao aproximar-se do pedregulho, o camponês colocou o seu fardo no solo e tentou deslocar a pedra para a berma do caminho. Depois de muito empurrar, finalmente conseguiu.

O camponês voltou a colocar os vegetais ás costas e só depois reparou num porta-moedas no sitio onde antes estivera a enorme pedra.

O porta-moedas continha muitas moedas de ouro e uma nota a explicar que o ouro era para aquele que retirasse a pedra do caminho.

O camponês aprendeu aquilo que muitos de nós nunca compreendem!

Cada obstáculo apresenta uma oportunidade para melhorar a nossa situação.

Ora bem, para mim trata-se de uma lição bem interessante e que me deixa a pensar.


1 - Primeiro porque sendo gordo não sou propriamente um Obelix;
2 - Segundo porque nunca dei por um pedregulho destes. Uns calhauzitos de quando em vez e vá lá...
3 - Terceiro porque tenho a certeza que se encontrasse mesmo o tal pedregulho e o afastasse, acabava encontrando uma carteira de crise, ... sem chêta !

Ou então, o que não sei se seria mais inteligente, sentava-me e punha-me a lascar a pedra, ponto aqui, ponto acolá, até ela ficar ao meu jeito.
E depois, como ainda por cima sou republicano, concluiria que debaixo da pedra estava... nada.

Ou será que não é debaixo da pedra que devo procurar... ?
Pois se calhar é isso... não é debaixo da pedra não.
Talvez dentro de mim.

A ver vamos, "como diz o cego".


Tenho esperança que este tempo extra tenha a dimensão daqueles que os árbitros arranjam quando o Porto está a perder... aquilo dura até eles meterem o golito do empate !
E se fôr assim até pode ser que consiga mesmo encontrar ainda alguma coisa.

Mesmo que não seja uma carteira.

Cá vai. Vou apagar as velas.
Grande abraço e bom fim de semana.



JPSetúbal