08 maio 2013

O Mestre Maçom perante a Loja


No meu entendimento, o termo que mais bem ilustra o que deve ser o Mestre Maçom perante a Loja é "disponível".

Disponível para exercer os ofícios para que seja designado.  Previamente a isso, disponível para aprender os deveres dos ofícios que deve exercer. Durante esse exercício, disponível para detetar, preparar e executar a melhor forma de exercer o seu ofício. Sempre disponível para entender que o exercício de qualquer ofício em Loja - incluindo o de Venerável Mestre; particularmente o de Venerável Mestre - não constitui o exercício de um qualquer Poder, mas tão só um serviço, o cumprimento do dever de cooperar na administração da Oficina. Disponível para, cessado o período de exercício do ofício, deixar ao seu sucessor tudo o que a ele é inerente pelo menos em tão boas condições como as que recebeu - preferentemente, em melhores condições. 

Disponível para ensinar e aprender. Disponível para preparar e apresentar pranchas na Oficina. Não será pedir muito a um Mestre Maçom que, pelo menos de dois em dois anos, tenha uma prancha traçada pronta para ser exibida perante a sua Oficina - e se todos os Mestres da Loja assim procederem, seguramente em todas as sessões de Loja haverá trabalhos apresentados. Disponível para ouvir os trabalhos dos demais e sobre eles ponderar e deles aproveitar o que lhe seja útil. Disponível para debater, trocar opiniões, não para "ganhar discussões" mas para extrair de diferentes conceções os pontos de convergência, as pontes de ligação, os denominadores comuns, os patamares que permitam as evoluções das posições expostas, os consensos atingíveis.

Disponível para as tarefas e projetos e iniciativas que a Oficina leve a cabo. Para auxiliar na execução das muitas boas ideias que surgem, independentemente de quem as tem.

Sobretudo disponível para estar presente, não só fisicamente, mas com toda a sua diligência e atenção - porque só assim será verdadeiramente útil à Loja e verdadeiramente a Loja lhe será útil a ele.

Finalmente, também disponível para, estando presente e pronto para o que preciso for, nunca impor, nem a presença nem a disponibilidade, deixando que naturalmente todos contribuam para todos. O Mestre Maçom integra, faz parte de uma Loja, não é "dono" nem "mentor", nem colonizador da sua Loja. Tão importante como estar disponível para a sua Loja é ter a noção e o equilíbrio de que os demais também estão e que uma Loja saudável recebe os contributos de todos, não só de alguns mais assertivos em fazê-lo. Há um tempo para fazer e um tempo para descansar e deixar que os demais também façam. Numa Loja equilibrada, não há "estrelas" nem "seguidores", todos são "primas donas" e todos são "carregadores do piano" - a vez de ser uma ou outra coisa chega a todos e deve ser por todos bem acolhida. O Mestre Maçom que verdadeiramente o é tem a clara noção de que a Loja deve ter todos disponíveis, mas ninguém insubstituível - o cemitério, esse sim, é que está cheio de insubstituíveis... e a vida continua...

Em suma, disponível para entender e praticar que integrar uma Loja maçónica é dar e receber. E, portanto, que se impõe estar sempre disponível para dar ao grupo a colaboração, a atividade, a solidariedade, a atenção, o tempo, o esforço, que o grupo necessita e merece que se lhe dê, mas também saber estar disponível para receber do grupo e de todos os demais que o integram a ajuda, os ensinamentos, as críticas, as opiniões, as sugestões, os contributos que o ajudarão a conseguir ser um pouco melhor. Ao contribuir para a Loja, para o grupo, está a juntar-lhe algo que fará do todo um grupo melhor. Quanto melhor for o grupo, dele mais e com mais qualidade receberá e aproveitará. E indivíduo e grupo mutuamente se vão fortalecendo, vão progredindo, vão melhorando, num virtuoso ciclo que só depende de um pouco do esforço e da contribuição de cada um.   

Dar e receber. Estar disponível para ambas as ações. É, afinal, tão simples ser maçom...

Rui Bandeira

01 maio 2013

O Mestre Maçom perante o Aprendiz e o Companheiro


Qual a palavra que melhor define o que deve ser o Mestre Maçom perante o Aprendiz e o Companheiro?

Na minha opinião, não é "Mestre", nem "formador", nem "ensino". É certo que os Aprendizes e Companheiros estão em período de formação, de aprendizagem e prática sobre símbolos e simbologia, valores, propósitos e objetivos. É também certo que a formação de Aprendizes e Companheiros é enquadrada e proporcionada pelos Mestres da Loja. Aliás, no Rito Escocês Antigo e Aceite - e não só - existe um Mestre da Loja com a específica responsabilidade de coordenar a formação dos Companheiros - o Primeiro Vigilante - e um outro com idêntica responsabilidade em relação aos Aprendizes - o Segundo Vigilante. Também é comum, e certo, o entendimento de que o Padrinho (isto é, o proponente da admissão do então ainda profano na Loja) tem o especial dever de acompanhar e auxiliar o Aprendiz ou o Companheiro cuja entrada na Loja patrocinou, quer na sua integração no coletivo que é a Loja, quer na sua formação.

Mas, sendo tudo isto certo, sempre entendi e defendi que, em bom rigor, a Maçonaria não se ensina, aprende-se, isto é, os Mestres proporcionam os meios, propõem os conceitos, guiam os Aprendizes e Companheiros no seu trabalho, mas o essencial está no trabalho do próprio Aprendiz ou Companheiro, no seu esforço, no seu compromisso, perante si próprio, de ser e fazer melhor, sempre melhor. O trabalho do maçom é sempre e inapelavelmente individual, embora executado no seio e com o auxílio do grupo que é a Loja. Mas o determinante é o desbaste que o cinzel, sob a pancada do malho, ambos empunhados pelo maçom, efetua na pedra que está a ser desbastada, o próprio que maneja as ferramentas de desbaste. Esse é o trabalho essencial, o que tem vero significado, o que importa. Esse é o trabalho que mais ninguém executa, nem pode executar, senão o próprio em si mesmo. Tudo o resto é acessório. E, porque assim é, não é o que se ensina, ou quem ensina, ou como ensina, que releva. O que releva é tão só o que se aprende.

No meu entendimento, a palavra que melhor define o que deve ser o Mestre Maçom perante o Aprendiz e o Companheiro é "exemplo".

Precisamente porque aquele que está a aprender a aprender é influenciado, formado, preparado, mais do que pelas palavras, mais do que por lições, mais do que por explicações ou exposições, pelos atos de quem vê como mais antigo, mais experiente, mais "sabedor", mais "qualificado". Em Maçonaria não vigora, não deve vigorar, seria inaceitável que vigorasse, o dito popular "Bem prega frei Tomás, faz o que ele diz, não faças o que ele faz". A melhor pedagogia, a mais eficaz, a que realmente vale a pena, é a do exemplo.

Não nos esqueçamos que os Aprendizes e Companheiros, sendo jovens membros da Loja, não são, porém, imaturos infantes na vida... Pelo contrário, são pessoas desenvolvidas, com as suas competências sociais inteiramente adquiridas, com vida própria, princípios e valores de base adquiridos, com família, muitas vezes (seguramente na maioria dos casos) eles próprios educando os seus filhos. Não são bonitas palavras, elegantes conceitos, que marcam, convencem, ajudam a melhorar, adultos com vida e personalidade próprias e marcadas e, evidentemente, com o espírito crítico que desenvolveram ao longo da sua vida. Os Aprendizes e Companheiros são jovens na Loja, ainda apenas sabem soletrar a simbologia que lhes é presente, mas sabem muito bem, como adultos capazes e experientes que são, distinguir entre a parra e a uva e, sobretudo, discernir quando porventura alguém que lhes pretenda dar lições, afinal tenha muita parra e pouca uva e devesse, no fim de contas dedicar-se a realmente aprender e executar as lições que debita...

Só é verdadeiramente Mestre Maçom aquele que propicia a aprendizagem, a melhoria, o crescimento, dos Aprendizes e Companheiros, pelo seu EXEMPLO.

De muito pouco valem bonitas exortações, exuberantes conceitos, profundas lições, se tudo isso não passar de meras palavras facilmente levadas pelo vento dos factos, regularmente desmentidas pelos atos praticados. Se o Mestre Maçom, apesar de pregar o trabalho, o esforço, a qualidade, se mostra desinteressado, desleixado, impreparado, dificilmente inculcará no Aprendiz ou no Companheiro as virtudes que proclama da boca para fora e trai nos seus atos.

Por isso, a postura do Mestre Maçom perante o Aprendiz e o Companheiro deve atender sempre a que tem de agir como o exemplo daquilo que proclama, sem contradição, sem facilitismo. Ou muito mau Mestre será...

Afinal de contas, se acho que a Maçonaria não se ensina, aprende-se, também acho que uma das melhores formas de aprender é diligenciar ensinar. E, tendo-se sempre presente que, em Maçonaria, a melhor forma de ensino é o exemplo, facilmente se adquire a noção de que, para se poder dar o exemplo, tem-se de, constantemente, dar o melhor de si mesmo, fazer melhor, trabalhar mais esforçadamente, procurar sempre ser hoje melhor que ontem e amanhã melhor do que hoje.

Basta, simplesmente, fazer aquilo que se proclama. Chega, afinal, ser efetivamente maçom em todos os atos e momentos. E assim poder ser reconhecido pelos demais de que é realmente Mestre Maçom, capaz de dar o exemplo aos mais jovens de como se faz - sempre e até ao fim da vida!

Rui Bandeira

24 abril 2013

Ser Mestre Maçom é...



... mais do que uma chegada, uma nova partida, não um objetivo atingido mas um projeto sempre em execução. A Exaltação à Mestria possibilita que o Obreiro atento o entenda desde logo.

Simplesmente, enquanto até aí o maçom teve guias e apontadores de caminhos, quando a Loja concede a um maçom a sua “carta” de Mestre, este sente-se um pouco como aquele que, após as suas lições e o seu exame de condutor, recebe a sua carta de condução: está habilitado a conduzir (a conduzir-se...) mas... inevitavelmente que sente alguma ansiedade por estar por sua conta e risco, sem rede que ampare suas quedas em possíveis erros.

Assim, apesar de serem as mais visíveis manifestações da mudança de estado conferida pela Exaltação à Mestria, não são o seu direito à palavra e o seu direito ao voto que são importantes. Importante é a sua total capacidade de exercer o seu verdadeiro e pleno direito ao seu caminho. O direito a trilhar o seu caminho por si, só, se assim escolher ou assim tiver que ser, ou acompanhado por quem quiser que o acompanhe e que o queira acompanhar, se assim for de vontade dos interessados, pelo tempo que quiser, por onde quiser, como quiser, para o que quiser.

O direito ao seu caminho enquanto cidadão já o tinha desde que atingiu a idade adulta e como adulto foi pela lei do Estado considerado. O direito ao seu caminho enquanto maçom, ou seja, o caminho do aperfeiçoamento, da busca da excelência, da proximidade tão próxima quanto humanamente possível for, da Perfeição, a ser trilhado por si só, como quiser, quando quiser, pela forma que quiser, adquire-o o Maçom com a sua Exaltação à Mestria, após o tempo de preparação que necessário foi para que não seja em vão que esse direito lhe seja conferido, para que efetivamente o exerça. Porque é um direito que o Mestre Maçom deve exercer como um dever, com a diligência do cumprimento de uma obrigação.

Ser Mestre Maçom é, assim, essencialmente cumprir o dever de exercer o seu direito de escolher e percorrer o seu caminho para a excelência.

Para quem andou longo tempo a ser guiado, não é fácil ver-se, de um momento para o outro, responsável pelo seu caminho, sem ajuda, sem orientação, sem rede. Responsável, porque livre, porque pronto, porque assim é o destino do homem que busca o brilho da Luz, da sua Luz. Mas, após uma pausa para ganhar orientação e pesar as suas escolhas, todos os Mestres Maçons seguem o seu caminho – porque para isso foram preparados, por isso são Maçons, com isso são verdadeiramente Mestres.

O caminho que cada Mestre Maçom decide escolher tem em conta a primacial pergunta que faz a si mesmo: Que fazer, como fazer, para ser melhor? A essa pergunta cada Mestre Maçom vai obtendo a sua resposta, pessoal, íntima, tão diferente das respostas de outros quanto diferente dos demais ele é. E é na execução da resposta que vai obtendo, no traçar do trabalho que essa resposta propõe, que o Mestre Maçom constrói, porque construtor é, o seu percurso. E a cada estação conquistada, novamente a mesma pergunta de sempre se lhe coloca: que fazer, como fazer agora para ser de novo melhor? E nova resposta e novo percurso e nova paragem, com nova e sempre a mesma pergunta, com outra resposta e outro percurso, incessantemente se apresentam.

Mas o Mestre Maçom não sabe apenas buscar a resposta à sua pergunta. Sabe também que, embora cada um trilhe o seu solitário caminho, os caminhos dos maçons têm muito de comum e sobretudo são postos por eles muito em comum.

O Mestre Maçom sabe assim que o que adquire, o que ganha, o que aprende, o que consegue, não é para ser avaramente fruído apenas por si, antes é para ser posto em comum com a Loja, pois também é do comum da Loja que recolhe contributos, ajudas, meios, ferramentas, para melhor e mais frutuosamente obter respostas às suas perguntas.

Ser Mestre Maçom é, assim, sempre, dar o seu contributo à Loja, seja no que a Loja lhe pede e ele está em condições de dar, seja no que ele próprio considera poder tomar a iniciativa de proporcionar à Loja. Porque ser Mestre Maçom é também saber que, quanto mais der, mais receberá, que a sua parte contribui para o todo mas também aumenta em função do aumento desse todo e que, afinal, não é vão o dito de que “dar é receber”.

Ser Mestre Maçom é portanto saber que o seu percurso pessoal será mais bem e mais facilmente percorrido se o for com a Loja, pela Loja, a bem da Loja. Porque o bem da Loja se traduz em acrescido ganho para o maçom, que assim consegue realizar o paradoxo de ser um individualista gregário, porque integra e contribui para um grupo que é gregário porque preza e impulsiona a individualidade dos que o compõem.

Ser Mestre Maçom é descobrir que a melhor forma de aprender é ensinar e assim escrupulosamente executar o egoísmo de ensinar os mais novos, os que ainda estão a trilhar caminhos que já trilhou, dando-lhes o valor das suas lições e assim ganhando o valor acrescido do que aprende ensinando – e sempre o homem atento aprende mais um pouco de cada vez que ensina.

Ser Mestre Maçom é comparecer e trabalhar na Loja, mas sobretudo trabalhar muito mais fora da Loja. Porque o que se faz em Loja não passa de “serviços mínimos” que apenas permitem a sobrevivência da Loja e o nível mínimo de subsistência do maçom. O trabalho em Loja é apenas um princípio, uma partícula, uma gota, uma pequena parte do trabalho que o Mestre Maçom deve executar em cada um dos momentos da sua existência.

Ser Mestre Maçom é portanto mais do que aguardar que algo lhe seja pedido, antes tomar a iniciativa de fazer algo – não para ser reconhecido pela Loja, mas essencialmente por si, que é o que verdadeiramente interessa.

Ser Mestre Maçom não é necessariamente fazer grandes coisas, excelsos trabalhos, admiráveis construções. Mais válido e produtivo é o Mestre Maçom que dedica apenas cinco minutos do seu dia a fazer algo muito simples em prol da sua Loja, da Maçonaria, afinal de si próprio, desde que o faça efetivamente todos os dias, do que aqueloutro que uma vez na vida faz algo estentório, notado, em grande estilo, mas sem continuidade. Porque a vida não se esgota num momento, nem numa hora, nem num dia. A vida dura toda a vida e é para ser vivida todos os dias de toda a vida.

Ser Mestre Maçom não é necessariamente ser brilhante, mas é imprescindivelmente ser persistente E o Mestre Maçom que persistentemente realize dia a dia, pouco a pouco, o seu trabalho, pode porventura passar despercebido, não receber méritos nem medalhas nem honrarias, mas tem seguramente o maior mérito, a maior honra, a melhor medalha, o maior reconhecimento a que deve aspirar: o de ele próprio reconhecer que fez sempre o seu trabalho, deu o seu melhor, persistiu na sua tarefa e, de cada vez que olhou para si próprio, viu-se um pouco, um poucochinho que seja, melhor do que se vira da vez anterior. E assim sabe que, pouco a pouco, no íntimo do seu íntimo, sem necessidade que outros o honrem por tal, ganhou um pouco mais de brilho, está um passo mais próximo do seu objetivo, continua frutuosamente percorrendo o seu caminho para o que sabe ser inatingível e, no entanto, persiste em procurar estar tão próximo de atingir quanto possível: a Perfeição!

Em suma, ser Mestre Maçom define-se com o auxílio de uma frase que li há algum tempo e que foi dita por alguém que creio até que nem sequer foi maçom, Manuel António Pina, jornalista, escritor, poeta, laureado com o Prémio Camões em 2011, falecido em 19 de outubro de 2012: o Mestre Maçom é aquele que aprendeu e que pratica que o mínimo que nos é exigível é o máximo que podemos fazer.

Rui Bandeira

17 abril 2013

Oriente Eterno


Oriente Eterno é a designação que os maçons dão ao que nos aguarda depois da morte física. Porquê Oriente e porquê Eterno?

Talvez a mais remota manifestação da crença humana numa Entidade Superior se encontre nos cultos solares. Cedo a humanidade percebeu que o Sol era condição indispensável para a existência e manutenção da Vida, neste pequeno planeta que todos habitamos. Cedo observou que o negrume da noite era quebrado, primeiro pela luminescência da aurora, depois pela aparição do Astro-Rei, sempre a Oriente. Cedo se associou o Oriente ao ponto cardeal de onde provém a luz. Da constatação do fenómeno físico à consideração figurada de que a LUZ nasce, vem, existe, revela-se, no Oriente medeou apenas um pequeno passo.

Por outro lado, são condições imprescindíveis para se ser maçom regular, para além da condição de homem livre e de bons costumes e do efetivo propósito de aperfeiçoamento, a crença no Criador e na vida depois da morte. O Grande Arquiteto do Universo, por definição e à escala humana, é Eterno. A LUZ que dele provém naturalmente que compartilha dessa caraterística.

O Oriente Eterno é, assim, para os maçons o simbólico lugar de onde provém a LUZ, onde está o Grande Arquiteto do Universo, onde o que resta de nós depois de tudo o que de nós é físico se extinguir tem lugar, se reintegra.

Não existe uma conceção, uma figuração, uma imaginação, comum aos maçons de como é o Oriente Eterno. Tal como é deixada a cada um a pessoal conceção do Criador, exigindo-se apenas a efetiva crença na sua existência, também as condições e formas de vida após a vida são assunto do foro íntimo e pessoal de cada um. Em função da crença individual, o Oriente Eterno pode ser associado ao Paraíso cristão, ao Reino de Jehovah, ao Paraíso islâmico, ao Nirvana, ou àquilo em que cada um crer.

A única certeza compartilhada pelos maçons regulares é que a morte física é apenas uma passagem do que de nós é verdadeiramente essencial para outro estádio, outro plano. E, portanto, que incumbe a cada um de nós o dever de se aperfeiçoar, de se polir, de melhorar, de se capacitar em todos os aspetos, para que, chegada a hora, esteja preparado e em condições de se integrar  no seu lugar nesse novo plano da existência.

O que será, afinal, o Oriente Eterno, nenhum maçom o poderá, de ciência certa e segura, afirmar. Apenas que crê na sua existência e que dedica a sua vida a preparar-se para o papel que ali desempenhará. Afinal, a Luz só é plenamente visível depois de ultrapassada a cortina da morte física e superadas as limitações do nosso corpo físico...

Rui Bandeira

10 abril 2013

Luz


Em Maçonaria, como em vários ramos da espiritualidade, incluindo crenças religiosas, é utilizado ou referido o conceito de "Luz", como algo a procurar, objetivo a atingir, mediante o trabalho do iniciado, do crente. Mas o que é, afinal, a Luz? Que simboliza? Cada um tirará as suas conclusões.  A minha resulta da consideração, designadamente, dos elementos que seguidamente exponho. 

Segundo a Infopédia, Enciclopédia e Dicionário Porto Editora, "Luz" é um "fluxo radiante capaz de estimular a retina para produzir a sensação visual", "claridade emitida ou refletida pelos corpos celestes", "clarão produzido por uma substância em ignição". Em sentido figurado, segundo a mesma fonte, é "verdade, evidência, certeza", "perceção, intuição", "guia, orientação", "iluminação espiritual, fé".

O Génesis, primeiro Livro da Bíblia, inicia-se assim:

No princípio criou Deus os céus e a terra.
E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas.
E disse Deus: Haja luz; e houve luz.
E viu Deus que era boa a luz; e fez Deus separação entre a luz e as trevas.
E Deus chamou à luz Dia; e às trevas chamou Noite. E foi a tarde e a manhã, o dia primeiro. 
Gênesis 1:1-5

No entanto, um pouco adiante, consta:

E disse Deus: Haja luminares na expansão dos céus, para haver separação entre o dia e a noite; e sejam eles para sinais e para tempos determinados e para dias e anos.
E sejam para luminares na expansão dos céus, para iluminar a terra; e assim foi.
E fez Deus os dois grandes luminares: o luminar maior para governar o dia, e o luminar menor para governar a noite; e fez as estrelas.
E Deus os pôs na expansão dos céus para iluminar a terra,
E para governar o dia e a noite, e para fazer separação entre a luz e as trevas; e viu Deus que era bom.
E foi a tarde e a manhã, o dia quarto. 
Gênesis 1:14-19

Portanto, só na quarta jornada da Criação o Grande Arquiteto do Universo criou o Sol e a Lua, "para haver separação entre o dia e a noite", para "iluminar a terra e para governar o dia e a noite e para fazer a separação entre a luz e as trevas". Então que Luz criou Ele logo na primeira jornada, que separação entre a luz e as trevas foi essa bem antes de criar os astros que, na quarta jornada, de novo se refere destinarem-se à "separação da luz e das trevas? Que "Dia" e que "Noite" (note-se as maiúsculas...) são esses referidos na descrição da primeira jornada se só na quarta jornada são criados os astros destinados a governar o dia e a noite?

Ou há grossa contradição logo na primeira página do Volume da Lei Sagrada judaico-cristão, ou então, a Luz , o Dia e a Noite referidos na primeira jornada não são os mesmos referenciados na quarta etapa da Criação...

Entendo que ajudará a esclarecer-nos o início do Evangelho segundo São João (não se estranhe a referência: a Maçonaria é originariamente teísta cristã; sobre a camada original, passou a incluir também a noção deísta, mas esta não anula aquela, tal como aquela não impede esta...):

1 No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus.
2 Ele estava no princípio junto de Deus.
3 Tudo foi feito por ele, e sem ele nada foi feito.
4 Nele havia a vida, e a vida era a luz dos homens.
5 A luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam.
6 Houve um homem, enviado por Deus, que se chamava João.
7 Este veio como testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que todos cressem por meio dele.
8 Não era ele a luz, mas veio para dar testemunho da luz.
9 [O Verbo] era a verdadeira luz que, vindo ao mundo, ilumina todo homem.

Analisando os contributos dados por estes dois textos, chama a atenção, no texto do Génesis, a distinção aí feita entre "Deus" e o "Espírito de Deus", aquele realizando, executando a dinâmica da Criação, este apenas movendo-se "sobre a face das águas", mas sem atividade dinâmica.

Esta distinção encontra-se também na Filosofia Pitagórica, designadamente nos conceitos de UM (princípio criador estático, força criadora em potência) e de DOIS (a ação do Criador, a concretização da potência da força criadora).

Mas, regressando ao tema, na primeira jornada o Criador fez a LUZ, a separação entre a luz e as trevas, àquela chamando Dia e a estas Noite.

Esta LUZ não é, seguramente a luz física, pois essa só foi criada na quarta jornada, com a criação do Sol e da Lua e das estrelas, "para haver separação entre o dia e a noite" e "para iluminar a terra". A LUZ da primeira jornada tem um significado metafórico.

Olhando para o início do Evangelho segundo São João, verificamos que o Verbo estava junto de Deus e era Deus; nele havia a vida e a vida era a luz dos homens; era a verdadeira luz...

A LUZ metafórica referida na primeira jornada da Criação, explicitada no início do Evangelho segundo São João, é, no meu entendimento, a Consciência de Si do Criador, que proporciona que a Potência Criadora se realize. O Espírito de Deus movia-se no Caos Primordial, com a potência de tudo criar. Mas só a consciência de Si, da Vida que É, possibilitou a concretização da potência criadora. Essa consciência foi a LUZ que se separou das Trevas da inconsciência da Existência, da Vida e da fabulosa Potência Criadora. Separou-se assim o Dia (da consciência, da aquisição da visão sobre as capacidades e possibilidades) da Noite (em que o Espírito Criador, embora dotado da Potência Criadora não tinha consciência de tal e portanto apenas vogava, inerte e sem concretizar a sua Força). Havia o Verbo, o pensamento concretizável na palavra e, assim, na ação, que estava junto de Deus e era Deus, mas ainda inerte, que ficou ativo quando Aquele que É tomou inteira consciência de Si próprio e do seu Poder e da sua Força.

Portanto, para mim, a LUZ simboliza mais que o Conhecimento, a Sabedoria ou a Fé. Simboliza a Consciência do Criador e da Vida, Consciência essa que cataliza, ativa, a potência criadora que tudo criou e tudo regula.

Sendo assim, em que consiste a busca humana pela LUZ? Na criação de condições, na sublimação da nossa materialidade, de forma a que se possa ver a LUZ, adquirir a Consciência do Criador e da Vida, assim finalmente compreendendo o significado e objetivo da Criação, da Vida e do ínfimo, mas indispensável, papel de cada um nelas. É que tal Consciência é indispensável para ativar a necessária dinâmica para o que segue... Mas isso é já outro tema, crença individual que não tem cabimento neste espaço - que é de divulgação, não de proselitismo.

Esta a minha interpretação do significado simbólico da LUZ. Não a divulgo aqui para convencer ninguém do que quer que seja. Cada um analisará o que exprimo, tomará do meu pensamento o que lhe convenha, recusará o que não lhe agrade, complementará com outros indícios e raciocínios e teses e chegará à conclusão que, para si, será a certa. Se há algo que na Maçonaria é consensual é que há muitos caminhos para a LUZ...

Rui Bandeira 

03 abril 2013

Meia-noite


Meia-noite é a hora em que os maçons pousam as suas ferramentas e terminam os seus trabalhos - ou seja, o momento da morte física do maçom, a ocasião em que ocorre a sua Passagem para o Oriente Eterno, como é comum os maçons referirem. 

Ao referirem que os maçons iniciam os seus trabalhos ao meio-dia e pousam as suas ferramentas à meia-noite, querem estes significar que o trabalho do maçom sobre si próprio, o seu esforço de aperfeiçoamento da sua Pedra Bruta inicial, de alisamento das suas imperfeições até a transformar numa Pedra Aparelhada, que esteja já devidamente dimensionada para poder ocupar um lugar útil no Grande Templo da Humanidade, e de cultivo e polimento das suas virtudes, para dela fazer uma Pedra Polida que, além de útil, seja bela e agradável, uma vez começado, no momento em que atingiu a maturidade necessária para reconhecer dever iniciar esse trabalho, persiste incessantemente até ao seu último suspiro, até ao derradeiro alento da sua permanência neste plano de existência.

Com uma singela frase, transmitem os mais experientes aos mais novos a noção de que o trabalho que a sua Iniciação assinalou é uma tarefa de vida para ser prosseguida durante o resto dela - ou será apenas perda de tempo e de energias.

De nada vale procurar melhorar-se, aprimorar-se, durante um certo lapso de tempo - um mês, um ano ou uma década. No momento em que essa preocupação, esse esforço, que é simultaneamente um meio e um objetivo, cesse, nesse preciso momento começa a inevitável degradação do que se tenha logrado atingir. O polimento que tenha dado brilho à sua interação com os demais, se não for continuamente persistido com o incessante lustre das suas virtudes, inevitavelmente que esmaece, se apaga. O aparelhamento da sua utilidade na vida e na sociedade inevitavelmente se degrada, abre fissuras e falhas. O resultado do esforço - quantas vezes de anos - esvai-se com mesma rapidez que a areia se desvanece por entre os dedos, apesar do esforço, tempo e trabalho tido na sua acumulação na mão.

De pouco vale ter sido uma boa pessoa. O que importa é que se seja, se continue a sê-lo. Um cozinheiro, ainda que tenha obtido três estrelas Michelin no seu restaurante, se deixar de confecionar comida agradável de comer, se a salgar, se passar a utilizar produtos pouco frescos e ingredientes sem qualidade, verá a sua clientela desertar e o seu negócio ruir em menos de um fósforo. O significado de uma vida honrada fica indelevelmente manchado por uma única nódoa, um solitário deslize, afinal uma avultada traição a tudo o que se construiu antes. Assim sendo, o maçom, uma vez iniciado o seu trabalho, deve, tem que, não pode deixar de, prossegui-lo até ao derradeiro momento da sua vida, se não quiser deitar a perder, ou pelo menos a deixar desvalorizar, todo o esforço que tenha tido.

O trabalho do maçom sobre si próprio tem de ser prosseguido, com qualidade, cuidado e persistência até ao momento em que se esgota o seu tempo de permanência neste mundo. Só assim e então poderá, de consciência tranquila e com a noção do seu dever bem cumprido, finalmente pousar suas ferramentas. É no momento da sua morte que o maçom finalmente atinge aquilo por que busca durante toda a sua vida enquanto tal: a perfeição - a sua  perfeição, o melhor que pôde e conseguiu ser. 

E é assim na sua meia-noite, no exato momento em que atingiu a sua perfeição, que pousa as suas ferramentas, vê brilhar a Luz e passa ao Oriente Eterno! 

Rui Bandeira

27 março 2013

Meio-dia


Repararam certamente que os meus textos aqui no A Partir Pedra são, desde há muito, sempre publicados precisamente ao meio-dia (hora legal de Portugal Continental). Faço-o propositadamente, porque o meio-dia é a hora em que os maçons iniciam os seus trabalhos.

Não quer isto dizer que os maçons sejam uma cambada de mandriões que passam as manhãs em vale de lençóis ou em dolce far niente... A expressão tem um significado simbólico - que nem sequer é muito difícil de descortinar.

Mas, antes de prosseguir, uma advertência: em Maçonaria não há dogmas, não há "verdades" impostas a quem quer que seja - designadamente em termos de significados simbólicos. Cada um estuda, analisa, reflete, sobre um símbolo e extrai dele o significado que lhe parecer adequado - e que pode ou não coincidir com a interpretação alheia. Não há significados "certos" de símbolos. Há significados que são certos para aquela pessoa, podendo outra pessoa considerar certo para si diferente significado do mesmo símbolo. E isto é, mais do que normal, vulgar e essencial em Maçonaria, que preza em absoluto a liberdade individual e que tem como componente inderrogável a Tolerância pelo entendimento alheio. Se dois maçons tiverem diferente perceção sobre algo (por exemplo, um significado simbólico), calmamente expõem os respetivos pontos de vista, analisam-nos em conjunto, e cada um extrairá as sua conclusões, podendo um ser convencido pelo outro, podendo ambos mudar de opinião e confluírem numa conclusão diferente das respetivas posições iniciais, podendo um ou ambos mudar de opinião, mas permanecerem em desacordo, agora em diferentes bases, ou simplesmente ambos manterem os seus respetivos entendimentos, concordando em discordar - sem que, em qualquer das situações, venha daí mal ao mundo... A liberdade de opinião é sagrada, mas só o pode ser desde que se respeite a liberdade de opinião alheia (que é tão sagrada como a nossa...) e naturalmente se conviva com a inevitabilidade das divergências, sem que elas impeçam o trilhar comum dos caminhos em que se está de acordo.

Por vezes há símbolos cujo significado adquire uma natureza quase consensual. Mesmo nesses casos, não se pode, em bom rigor, afirmar que o significado, ainda que consensual, do símbolo é "o" correto. Se alguém lhe atribuir outro significado, se alguém concluir que esse outro significado é o que, para si, é o certo, para esse assim será - e os demais naturalmente respeitam isso. Portanto, sempre que eu afirmo que um determinado símbolo tem um certo significado, o leitor deve entender que esse é o significado que eu lhe atribuo, que pode até ser consensualmente aceite pela generalidade dos maçons - mas não é necessariamente certo para todos, aceite por todos. Sempre que eu refiro um significado de um símbolo, o leitor deve fazer o seu juízo e concordar com ele ou dele discordar. Apenas sabe que eu atribuo esse significado, que raciocino em função dele e deve ter tal em consideração ao interpretar o que escrevo. Mas deve manter a sua liberdade de pensamento e o seu juízo crítico e concordará ou discordará - e assim é que deve ser!

Regressando então, após esta - longa! - advertência ao assunto, dizia eu que se atribui (eu atribuo; muitos dos maçons atribuem, como eu...) ao meio-dia um significado simbólico que leva a ser comummente usada entre os maçons a frase de que estes iniciam os seus trabalhos a esta hora. 

Tal como o dia é regido pelo percurso do Sol desde o momento em que nasce até àquele em que se põe e atinge o seu clímax, o seu máximo expoente, ao meio-dia, os maçons utilizam o termo para significar a idade adulta. Durante a madrugada e manhã das suas vidas - a infância e a adolescência - crescem, aprendem, amadurecem. Nessa altura ainda não têm a maturidade necessária para consistentemente passar do material ao espiritual, ainda não estão prontos para iniciar os seus trabalhos de maçons - que consistem no dominar das suas paixões, no alisar de seus defeitos, no aprofundar de seus conhecimentos, no lustrar de suas qualidades, enfim, em tudo o que necessário é para que se evolua, se melhore, se aperfeiçoe. 

Só com a idade adulta e a estabilidade a ela inerente atingidas, ultrapassadas que estejam as dúvidas sobre si próprio, as suas capacidades e o seu lugar no mundo, o homem está verdadeiramente disponível para melhorar, se aperfeiçoar, através de um método próprio, que implica vir do mundo para dentro de si e dar de si ao mundo o melhor que continuamente faz, edifica, altera. 

O meio-dia a que se referem os maçons é, pois, a sua maturidade, o momento em que estão maduros e, continuando a lidar com o mundo, a vida, a sociedade, as suas obrigações pessoais, familiares, profissionais, sociais, podem e conseguem já não se limitar a isso - como muitos vão fazendo ao longo da sua vida, e chegam perto do seu fim perguntando-se se a vida é só isso... -, mas fazer um pouco mais, e diferente, construir-se a si próprio, conhecer-se, retificar-se, evoluir, buscar o que sabem ser inatingível, mas que só vale a pena viver se se viver buscando-o: a perfeição.

É nesse preciso momento em que ultrapassou o imenso período de crise, porque de contínua mudança, que é a infância e a adolescência, que resolveu os seus problemas de sobrevivência, que sabe qual é o seu lugar no mundo e na sociedade, e o ocupa, que, enfim, está estabilizado, que o homem está pronto para trabalhar no seu interior, esculpir a sua personalidade, melhorar os seus conhecimentos e a sua forma de ser, estar e de agir, ir para além da vulgar materialidade embrenhando-se no território quantas vezes quase desconhecido da sua espiritualidade.

Esse é o momento em que está pronto para iniciar os seus trabalhos sobre si próprio. Uns atingem-no cedo, outros mais tarde. Cada um, e as suas circunstâncias de vida, atinge esse preciso ponto de equilíbrio, em que ou estagna na sua vidinha, ou se abalança à aventura de se metamorfosear, mantendo o mesmo aspeto exterior, na altura em que atinge. Esse é o momento em que se fica ou se vai. Esse é o momento em que o homem não faz sombra a nada, nem a ninguém - nem a si próprio -, mas em que adquire a consciência do valor da sua individualidade e do potencial que ela pode desenvolver.

Esse é o meio-dia, a hora em que os maçons iniciam os seus trabalhos! 

Rui Bandeira

20 março 2013

"Casamento maçónico"


Um ilustre Irmão perguntou-me porque é que em certas jurisdições os maçons repetem os votos de casamento em Loja em presença dos Irmãos e das famílias e ainda se tal seria um modismo ou se tinha alguma concatenação histórica.

As aspas colocadas no título deste texto denunciam que a minha opinião não é particularmente entusiasta em relação a esta prática que, tanto quanto sei, tem essencialmente lugar no Brasil. Mas, apesar disso, manda a justiça frisar que no grande país lusófono da América do Sul, tal prática não deve ser considerada um modismo, pois encontra-se enraizada  nos costumes locais, sendo reconhecida por várias Obediências  Regulares brasileiras. Já a "importação" dessa prática para outras paragens, na minha opinião, sofreria desse pecado...

Antes do mais, deve refutar-se a designação de "casamento maçónico". A este respeito, transcrevo parte de um texto que consigna as conclusões de um simpósio sobre o tema"Maçonaria e Religião" que decorreu em Belo Horizonte em 10 de setembro de 2005, sob a égide do Supremo Conselho do Grau 33 para a República Federativa do Brasil, Rito Escocês Antigo e Aceito (texto completo aqui): 

Casamento: Cerimônia tradicional entre os maçons, ligada ao matrimonio, é atualmente denominada, "CONFIRMAÇÃO MATRIMONIAL". Não se trata de uma solenidade religiosa, nem cívica, conforme normalmente se considera. Não é tampouco uma solenidade substitutiva daquelas que normalmente ocorrem num templo religioso. Nesta solenidade, evocando os valores da família, sempre exaltados pela maçonaria, os cônjuges - normalmente já casados - se comprometem perante os membros da loja e demais maçons de outras lojas, a manterem firmes e constantes os vínculos que livremente resolveram celebrar. A maçonaria lembra o dever de cada um, bem como suas responsabilidades na condução da família, célula essencial da sociedade.
O cerimonial nada tem de religioso, é uma solenidade fraterna e humanitária muito usual entre maçons. É antes de tudo uma afirmação da maçonaria aos valores éticos e morais de uma sociedade formada por famílias solidamente constituídas.

O erradamente designado "casamento maçónico" deve então, com maior correção, ser designado por "confirmação matrimonial". Também encontrei a designação, que me parece igualmente adequada, de "reconhecimento conjugal" num outro texto de que, pelo seu evidente interesse, transcrevo o seguinte excerto:

Após e somente de posse do registro do Cartório o  Irmão poderia pedir a Loja que lhe fizesse seu Reconhecimento Conjugal. Há vários rituais para o ato, cada Potência/Obediência adota um. O mais importante é sempre ressaltar que NÃO SE TRATA DE CASAMENTO MAÇÔNICO. Maçonaria não é religião e nem substitui os requisitos e formalidades que as leis do país estabelecem para a validez do matrimônio. 


Em resumo, trata-se de um costume brasileiro que, tendo ali criado algumas raízes, deve ser respeitado pelo significado que os maçons ali lhe atribuem, embora reconheçam (como no texto sobre "reconhecimento conjugal" também se assinala, e dele novamente cito) que alguns procedimentos adotados pelas Potências/Obediências Maçônicas não estão diretamente ligados aos Ritos Maçônicos. Muitas atividades foram criadas para atender a demanda dos Maçons. Um exemplo é o Reconhecimento Conjugal, algumas Potências/Obediências criaram um momento próprio para a apresentação da esposa do Irmão a todos os demais Irmãos e cunhadas.

Reconhecendo a intenção dos Irmãos brasileiros, não me parece que deva ser um costume que seja asado importar para a Europa. A Maçonaria busca possibilitar e enquadrar o esforço de aperfeiçoamento individual dos seus membros. A cerimónia de "reconhecimento conjugal" ou "confirmação matrimonial" não tem nenhum significado esotérico ou simbolismo maçónico, reconduzindo-se, afinal, a uma festividade social levada a espaço no espaço de um templo maçónico. A meu ver, deve-se reservar o espaço e o tempo e o modo de reunião dos maçons para o que simbólica e espiritualmente tem significado para estes e contribui para o aperfeiçoamento de cada um e de todos. As festividades sociais, o regozijo pelo enlace matrimonial, o acolhimento das esposas dos nossos Irmãos no círculo de amizades e social dos maçons pode e deve ser naturalmente feito fora e para além do espaço da Loja. Por muito bonita que seja a cerimónia, por muito belo que seja o texto ritual que para ela foi criado, continua a não ser mais do que uma festividade social...

Fontes:

Conclusões do Simpósio sobre "MAÇONARIA E RELIGIÃO", ocorrido em belo Horizonte em 10 de setembro de 2005, sob a égide do Supremo Conselho do Grau 33 para a República Federativa do Brasil, in http://www.guatimozin.org.br/artigos/mac_religi.htm .

Quirino, A. R. L. S. Presidente Roosevelt, n.º 25 da Grande Loja Maçônica de Minas Gerais, Reconhecimento Conjugal, 21 de agosto de 2011, in http://www.aminternacional.org/PDF/ReconhecimentoConjugal_Quirino.pdf

Rui Bandeira

13 março 2013

O meu testamento maçónico


No texto anterior, procurei esclarecer o que é o testamento maçónico. Neste, vou procurar ilustrar na prática esse documento. Pessoalmente, e uma vez que há muito assumi publica e orgulhosamente a minha condição de esperar que os meus Irmãos me reconheçam como maçom, não necessitaria de elaborar um documento desse género. Mas, já que me predispus a um exercício prático ilustrativo do que é este tipo de documento, eis então o que, aqui e agora, constitui o meu testamento maçónico.

AOS MEUS IRMÃOS MAÇONS E A TODOS OS QUE ME RECONHECEM COMO TAL

Saibam todos os que este escrito lerem ou ouvirem que o seu autor um dia teve a ousadia de crer merecer ser admitido na Augusta Sociedade dos Maçons, antigamente chamados de pedreiros-livres, pedreiros porque utilizam como seus símbolos artefatos dos construtores, livres de pensamento e de paixões que os dominem (embora todos reconheçam ter paixões, defeitos e asperezas que são ínsitos a todos os seres humanos - e que procuram, com diferentes graus de êxito, dominar, domesticar, encerrar nos calabouços de seus íntimos, de forma a que ninguém prejudiquem e raramente sejam entrevistos). Essa ousadia pagou-a, pelo resto da sua vida, com permanente esforço de procurar, em cada dia, ser um pouco, um tudo nada, melhor do que o anterior: aprender mais, aprender sempre, refletir mais cuidadamente, dominar suas impaciências, dosear justiça com solidariedade e rigor com generosidade, trabalhar eficazmente, honrar sua palavra, amar sua família, respeitar a todos, tolerar as imperfeições alheias na mesma medida em que espera poder ver toleradas pelos demais as suas, enfim, viver plenamente a vida como deve ser vivida, na permanente busca da melhoria que é, talvez, o verdadeiro significado e objetivo da nossa passagem por este plano de existência. 

Chegado o tempo do pousar de ferramentas, na altura da disposição do que aqui resta depois do mais importante de mim ter partido para o Desconhecido no Eterno Oriente, deixo à vontade de meus Irmãos e da minha família a realização, pública ou recatada, de cerimónia maçónica: em bom rigor, não será já questão que me afete, pois já terei então partido e o que fisicamente restar não serei já eu, mas apenas o que fica para trás. Sempre achei que as cerimónias fúnebres - de qualquer tipo - se fazem para os vivos, não para quem já partiu... Portanto, se à minha família e a meus Irmãos agradar fazer uma cerimónia maçónica, que ela seja feita. Se a uma ou outros desagradar tal coisa, que sem remorso ou pena fique por fazer, que falta não me fará, certamente, pois tenciono já ir adiante...

Se alguém perguntar qual a minha religião, respondam que fui, acima de tudo, Crente. Fui católico por cultura, mas fui mais do que católico, pois considerei-me também protestante e judeu e muçulmano e hindu e animista e tudo o resto que põe o Homem perante o Absoluto, o Criador e a Criação, a Vida, a Vida antes da Vida e depois dela. Sempre considerei que o que importa na religião é, precisamente, religar o Homem à sua origem, à sua criação, e ao seu destino, religar a minúscula partícula de quase invisível peça, que cada um de nós é, ao Grande Arquiteto Construtor e sua inapreensível Obra. Por isso, sempre acreditei que não há que dividir entre religiões, todas são a mesma expressão da mesma necessidade humana, simplesmente cada uma sendo específica variante de particular cultura, de determinado tempo, de ambiente próprio. Mas, porque todas as religiões correspondem à mesma básica necessidade humana, todas são iguais no essencial e, assim, aquilo em que diferem é necessariamente apenas acessório. O desejo que deixo expresso é que cada um viva o Essencial, praticando livremente o Acessório que lhe agradar!

Se alguém quiser falar de mim e se tal não for penoso para minha família nem agredir demasiado a paciência de quem a acompanhe, então que sobretudo não fale de mim, do que fiz ou deixei de fazer, dizer ou pensar, mas antes procure extrair a lição para o futuro do que fiz bem e do que mal efetuei: o que tenha feito no Passado, Passado é. Importa mais preparar o Futuro, vivendo plenamente o Presente.

Os objetos ligados à Arte Real que para trás deixo, se os meus herdeiros com isso concordarem e se a minha Loja nisso estiver interessada, que sejam confiados à minha Loja, que lhes dê o destino que lhe aprouver. Se uns não concordarem ou outros não estiverem interessados, que isso não cause preocupação ou desgosto a ninguém. Afinal de contas, são meros objetos, nada mais... Os meus livros de temática maçónica que fiquem para os meus herdeiros, se nisso tiverem interesse, ou então que sejam entregues à minha Loja, para que lhes dê o uso ou destino que lhe aprouver e para que tenham utilidade. 

O que escrevi, publiquei-o e, uma vez publicado, não pertence só a mim. Os pensamentos, uma vez divulgados, são de todos, para que cada um faça com eles o que bem entender. As palavras, logo que públicas, são livremente utilizáveis por cada um. Tudo o que escrevi pode ser citado, copiado, glosado, divulgado, comentado, criticado, apenas com o respeito de duas condições: a identificação do seu autor e a indicação do local onde foi primeiramente publicado. Quanto a publicações comerciais ou de que resultem proventos (se algo do que escrevi algum dia tal mérito ou potencialidade tiver), naturalmente que dependem do regime legal dos direitos de autor e dependerão da vontade de meus herdeiros e herdeiros deles, até que legalmente caduquem tais direitos.

Em suma, e parafraseando alguém que foi uma grande alma e que foi também por muitos reconhecido como tal, Raul Solnado, a mensagem que tenho a veleidade de deixar é apenas esta: FAÇAM O FAVOR DE SER FELIZES. Eu procurei sempre sê-lo e aprendi que a felicidade está nos momentos, na satisfação do dever cumprido, no orgulho das vitórias, mas também na consciência das derrotas bem lutadas, no percorrer do caminho que traçámos, com destino ao horizonte depois do horizonte. Que cada um percorra o caminho na direção de sua escolha pela forma que seja do seu agrado e, sobretudo, que consiga ser feliz, com a noção de que verdadeiramente não se é feliz, está-se feliz e é do estar que vem o ser.

Sobretudo, que cada um celebre o que é verdadeiramente importante: a Vida!

Rui Bandeira

06 março 2013

Testamento Maçónico


Enquanto cidadãos, todos podemos elaborar o nosso testamento, documento no qual, essencialmente, expressamos, desejavelmente dentro dos limites da Lei - senão, o que estipularmos será nulo -, a nossa vontade quanto ao destino dos bens que acumulámos ao longo da nossa vida. 

O maçom pode também elaborar e deixar ao cuidado de seus Irmãos um testamento maçónico. Neste caso, o essencial não é a estipulação sobre bens materiais, até porque a forma legalmente prevista para tal é precisamente o testamento civil, não o maçónico.

O cerne das disposições do testamento maçónico respeita à indicação de como deseja o testador que se comportem os seus Irmãos em relação à sua condição de maçom, designadamente no decorrer das exéquias fúnebres.

Um dos elementos que integram o segredo maçónico é a reserva de identidade do maçom que não se tenha assumido publicamente como tal. A razão de ser desta reserva prende-se exclusivamente com a necessidade de prevenir prejuízos para o maçom, em virtude da divulgação dessa sua condição, em sociedades em que a Maçonaria seja reprimida ou objeto de preconceito. Pode estar em causa a manutenção do seu emprego, a obtenção dos meios de subsistência do próprio e da sua família, quando e onde o preconceito contra a Maçonaria esteja presente. Porém, tal reserva apenas subsiste em vida do maçom em causa, pois, com o seu decesso, não há já preconceito que o possa prejudicar.

Os maçons aprenderam, porém, com experiências desagradáveis, que, embora o maçom que passou ao Oriente Eterno não possa já ser prejudicado pela revelação pública dessa sua condição, a família que deixou para trás pode ainda ser negativamente afetada com esse conhecimento público, quanto mais não seja por vil maledicência.

O testamento maçónico destina-se, assim, a possibilitar que o maçom informe os seus Irmãos do seu desejo em relação ao comportamento deles nas suas cerimónias fúnebres.

Assim, designadamente deixa estipulado se deseja ou não que os seus Irmãos, na noite do seu velório, se o mesmo tiver lugar, ou em qualquer outro momento das cerimónias fúnebres, executem a Cadeia de União em sua evocação. A Cadeia de União fúnebre é um tocante ritual de homenagem em honra do maçom partido para o Oriente Eterno e, no caso dos maçons regulares, de reafirmação da crença de todos na permanência da Vida para além do umbral da morte física. Assinala ainda a convicção de todos os nela participantes de que tudo o que o homenageado construiu em si próprio e de si próprio ao longo da sua vida maçónica, todo o seu trabalho de aperfeiçoamento, não foi em vão, não se desperdiça nem perde significado com a sua partida, antes permanecem vivos a sua inspiração e o seu exemplo na memória dos seus Irmãos, e o seu esforço simbolicamente prossegue no trabalho dos que lhe sucedem, que as ferramentas que pousou ao chegar a sua hora final são retomadas pelos mais novos e incansavelmente prosseguem o trabalho de edificação de uma Humanidade melhor, indivíduo a indivíduo. A Cadeia de União fúnebre pode ser realizada em privado, apenas com a presença de maçons, ou em público, designadamente com a presença de familiares e amigos do  homenageado. Pretendendo ser uma homenagem, uma evocação sentida, não deve ser constrangedora para ninguém, designadamente para a família do homenageado. Assim, ninguém melhor do que o maçom pode informar os seus Irmãos sobre a conveniência de realização pública - e numa ocasião de tanta emoção como são as exéquias do falecido - da Cadeia de União fúnebre.

Pode o maçom também deixar expresso se está ou não de acordo que, nas suas exéquias, um seu Irmão faça uma breve alocução relativa à sua postura na vida profana, na sua vida maçónica ou em ambas.

Pode suceder que o maçom não tenha família no local do seu falecimento e onde deverão decorrer as suas exéquias. Nesse caso, pode deixar aos seus Irmãos indicação se pretende ou não que nelas tenha lugar cerimónia religiosa - e de que religião.

Pode, no testamento maçónico, estipular-se se as flores que os seus Irmãos pretendam enviar em sua homenagem devem ou não conter elemento identificativo de que quem as envia é maçom - designadamente identificação de Loja ou de Grande Loja.

Pode ainda, no testamento maçónico, solicitar-se que um dos Irmãos, em tempo oportuno, providencie aos familiares mais próximos do testador uma explicação do que é a Maçonaria, com ou sem indicação da Loja a que pertencia o falecido, ou que essa explicação seja providenciada apenas em relação a pessoa ou pessoas determinadas.

Pode também declarar-se se pretende doar os seus paramentos maçónicos (aventais, colares, chapéus, luvas) ao Museu da Obediência e os seus livros, escritos e documentos de índole maçónica à Biblioteca da Obediência, ou parte de uns e outros, ou se quer que aqueles, estes ou ambos fiquem na posse dos seus familiares ou de quem ele entender.  Esta estipulação não tem qualquer valor legal (para o ter, teria de estar inserta num testamento civil), servindo apenas de orientação e informação para os seus Irmãos e sua família em relação ao desejo, nesta matéria, do falecido. Mas o poder de decisão pertence, obviamente, aos seus herdeiros legais, nos limites de eventual estipulação feita em testamento civil.

Pode, por outro lado, utilizar-se o testamento maçónico para informar os seus Irmãos de ajuda que seja necessário prestar a qualquer seu familiar, e relativamente a que assunto ou de que natureza. A obrigação de solidariedade dos maçons estende-se aos familiares do Irmão do falecido. Ninguém melhor do que o próprio para informar os seus irmãos de ajudas, esforços ou responsabilidades que se assegurava e que a morte física impede que se continue pessoalmente a assegurar, solicitando o auxílio dos Irmãos sobrevivos para a resolução da questão.

Finalmente, pode o maçom utilizar o seu testamento maçónico para deixar qualquer mensagem, pensamento ou indicação que tenha por asado deixar, seja para os seus Irmãos, ou algum ou algum deles, seja para que os seus Irmãos transmitam a alguém.

Em suma, o testamento maçónico é um documento análogo ao testamento civil, mas relacionado com a vida maçónica do seu autor, sem valor jurídico, mas com evidente valor moral - aquele que, em primeira linha, interessa aos maçons!

Rui Bandeira

27 fevereiro 2013

O Vigésimo Primeiro Venerável Mestre


Foi iniciado em 1998. Foi o primeiro assumidamente autoproposto que a GLLP/GLRP admitiu às provas da Iniciação. Com efeito, una anos antes, manifestara o seu desejo de ser admitido maçom mediante uma mensagem de correio eletrónico enviada para a caixa de correio eletrónico da Grande Secretaria da Obediência. Hoje isso não parece nada de especial. Enviam-se e recebem-se milhões de mensagens de correio eletrónico por dia. Presentemente o correio eletrónico é algo de banal, como banal é a troca de mensagens instantâneas em qualquer rede social. Mas nos anos noventa do século passado, estas coisas da Internet e do correio eletrónico ainda se estavam a enraizar nos hábitos. E receber um pedido de admissão à Maçonaria por mensagem de correio eletrónico foi uma absoluta novidade! Uma novidade tão grande que o A. Jorge - é a ele que me refiro! - durante algum tempo após a sua Iniciação era referenciado como "o Irmão da Internet"!

Mas o século XX findou - sem que se tivessem concretizado os temores do desastre tecnológico anunciado para o alvorecer do ano 2000 (lembram-se?) -, o século XXI avançou, pouco depois em Portugal e na Europa havia uma moeda nova, o Euro, e, quase sem se dar por isso, quando, em julho de 2010, o A. Jorge foi eleito  para vir a ser o vigésimo primeiro Venerável Mestre da Loja Mestre Affonso Domingues, as novidades tecnológicas já eram coisa comum e o A. Jorge já há muito era apenas (e  muito era e é!) o A. Jorge! Sempre ligado às Novas Tecnologias de Informação, é verdade - tanto assim que já há algum tempo era o editor responsável pelo sítio da Loja Mestre Affonso Domingues - mas afinal um maçom que fez o seu percurso normal após a Iniciação, de Aprendiz a Companheiro e daí a Mestre.

Não deixa, no entanto, de ter algo de simbólico que a Loja tenha escolhido como seu líder no início da sua terceira década de funcionamento, maturidade atingida, precisamente um Irmão conotado com a Modernidade e a Inovação, como que enfatizando que, terminado o ciclo do nascimento, implantação, crescimento e superação de crise, o ciclo dos primeiros vinte anos, que a Loja acabara de comemorar, assumia que a sua função, a sua marca genética enquanto Loja Maçónica da GLLP/GLRP era a contínua busca do aperfeiçoamento, da melhoria, da modernidade, da experiência, da excelência, em todos os campos e também no progresso, sem nunca esquecer a sua ligação á Tradição. Tradição e Modernidade, a perfeita simbiose que a Loja Mestre Affonso Domingues vem buscando e que o A. Jorge tão bem encarna e simboliza!

A. Jorge foi eleito para liderar uma Loja pujante, saudável, que acabava de comemorar, com orgulho, as suas primeiras duas décadas de existência. Tudo apontava para que o seu mandato fosse uma aprazível continuação do excelente momento que a Loja atravessava. Mas, entre julho e setembro, altura da sua instalação, o panorama teve algumas mudanças. Nada de particularmente trágico, mas obrigando a suplantar desafios que não eram aparentes à data da sua eleição: mais uma vez, a Loja ia cumprir a sua função de disponibilizar quadros por si formados para, em nova estrutura, realizarem tarefa importante para a Grande Loja.

Já se sabia, em julho, que o Grão-Mestre, por sinal um dos mais antigos obreiros da Loja, designara o Vigésimo Venerável Mestre, Rui C. L., para exercer o ofício de Grande Secretário - o que forçosamente iria limitar a sua participação na Loja, obrigando o seu sucessor a não beneficiar do apoio do Ex-Venerável. Mas o que então apenas poucos sabiam era que, estando em fermentação o processo que viria a culminar na cessação da cisão de 1996/1997 e em curso um processo de regularização de maçons dispersos por estruturas alheias à GLLP/GLRP, se constatara ser necessário que levantasse Colunas uma Loja que enquadrasse um número razoável de elementos que batiam à porta da GLLP/GLRP, solicitando a sua Regularização, e propiciasse a sua boa integração no conjunto da Obediência. E poucos também sabiam então que a nova Loja teria, no seu Quadro Fundador, um conjunto de Mestres Maçons da Loja Mestre Affonso Domingues!

A  Instalação de A. Jorge coincide com o anúncio do Alçamento de Colunas da Loja Fernando Teixeira, nome do Grão-Mestre Fundador adequadamente escolhido para patrono da Loja que iria ser um dos pilares do trabalho de ultrapassagem da cisão e reintegração de todos os maçons regulares na estrutura da GLLP/GLRP. Como seu Primeiro Venerável Mestre foi designado Rui C. L. que, assim, teria, não apenas que diminuir a sua assiduidade na Loja Mestre Affonso Domingues (como era previsível, em função dos seus deveres como Grande Secretário), mas, pura e simplesmente, de a abandonar. Não deixava de ser irónico que a Loja Mestre Affonso Domingues, que perdera, de uma assentada, todos os seus  Antigos Veneráveis aquando da cisão de 1996/1997, mais uma vez se visse privada do seu Ex-Venerável, agora em prol da superação e do termo dessa cisão!

Mais: com Rui C. L. saía para a Loja Fernando Teixeira mais um outro Antigo Venerável - e elemento muito ativo na Loja e muitíssimo integrado no grupo -, o Paulo FR, e mais quatro ou cinco jovens Mestres, que a Loja preparara e de que se via na necessidade de abdicar, a favor da nova Loja!

A. Jorge não temeu e não tremeu! Se assim era preciso, assim seria. Tinha como Vigilantes dois Mestres da nova geração, mas já experientes, que garantiam o adequado acompanhamento das Colunas de Companheiros e Aprendizes. A Loja mantinha alguns veteranos que podia mobilizar da sua situação de "reserva" para enquadrar e auxiliar os Mestres mais novos que restavam. Era certo que algum do potencial de trabalho, de capacidade e de qualidade era, mais uma vez, perdido pela Loja em prol do nascimento de uma nova Loja. Mas, afinal, essa sempre fora uma das marcas da Loja Mestre Affonso Domingues, que nunca atingiu dimensão demasiado grande precisamente porque sempre cumpriu a preceito o seu papel de enquadrar e ser embrião de novas Lojas.

Portanto, com um sorriso nos lábios e a tranquilidade que lhe é caraterística, A. Jorge deu a volta por cima e conduziu a Loja a assim também fazer. A Loja não só apadrinhou a Loja Fernando Teixeira como organizou a sessão do respetivo Alçamento de Colunas e Instalação do seu Primeiro Venerável Mestre! E depois procedeu aos ajustamentos a que tinha de proceder e... prosseguiu a sua normal atividade.

O início do mandato foi inesperado e trabalhoso. Mas o  seu decurso cumpriu-se com normalidade: o Quadro da Loja recompôs-se. A Coluna dos Aprendizes foi reforçada com alguns Candidatos que aguardavam nos Passos Perdidos e, por sua vez, alimentou a Coluna de Companheiros com alguns elementos que, cumprido o seu tempo e o seu trabalho no grau, para isso estavam prontos. Esta, por sua vez, ajudou a recompor o Quadro de Mestres com um novo e promissor conjunto de jovens Mestres. No fim do mandato do A. Jorge, a Loja estava praticamente recuperada em termos de quadros e... pronta para outra! O ano maçónico foi rico em formação e trabalhos apresentados. A relação com as outras Lojas da Obediência manteve-se num agradável plano de fraternidade e harmonia. No fim do mandato do A. Jorge, ninguém diria que ele tivera de gerir a Loja superando uma significativa e inesperada perda de quadros...

Foi um ano trabalhoso para o A. Jorge e que coincidiu com ou imediatamente antecedeu mudanças nos planos profissional e pessoal da sua vida. Terá sido esgotante. Mas pode o A. Jorge estar certo que todos nós unanimemente entendemos que cumpriu o seu mandato com distinção e deixou a Loja melhor do que a encontrou. Soube geri-la ultrapassando as circunstâncias adversas e potenciando os seus meios e forças. Foi um auspicioso começo da terceira década da vida da Loja Mestre Affonso Domingues que é mister reconhecer!

Rui Bandeira

20 fevereiro 2013

Regras Gerais dos Maçons de 1723 - XXXIX (e última)


Toda a Reunião Anual da Grande Loja tem competência própria para fazer novos regulamentos, ou alterar estes, para o real beneficio desta Antiga Fraternidade, desde que os Antigos Landmarks sejam preservados e desde que as alterações e novos regulamentos sejam propostos e aprovados na terceira Reunião Trimestral após a grande festa anual; devendo ainda ser postos por escrito à apreciação de todos os Irmãos, antes do jantar, mesmo ao mais jovem Aprendiz. A aprovação e consenso da maioria dos Irmãos presentes é absolutamente necessária para que os mesmos sejam vinculativos e devem, após o jantar, e após o novo Grão-Mestre ser empossado, ser solenemente aprovados, assim como o foram aprovados e conseguidos estes regulamentos propostos pela Grande Loja, a cerca de 150 Irmãos, no ano de 1721, no Dia de São João Batista. 

Esta última Regra derruba um mito com que, por vezes, nos deparamos: a imutabilidade das regras maçónicas. Todas as disposições regulamentares das Instituições Maçónicas são suscetíveis de alteração, mudança, aperfeiçoamento, substituição. 

A única exceção são os Landmarks que, esses sim, são considerados imutáveis, porque caraterizadores da essência da maçonaria. Consequentemente, qualquer alteração aos mesmos importaria mudança da instituição. Deixava de ser Maçonaria; passava a ser outra coisa qualquer, porventura muito parecida com a Maçonaria, quiçá real ou potencialmente melhor, mas não era a mesma coisa. Mudando-se a essência de algo, esse algo deixa de ser o que era, transforma-se em algo de diverso.

Isto explica a persistência do Grande Cisma Maçónico causado pelo abandono, em 1877, pelo Grande Oriente de França (e também pelo Grande Oriente da Bélgica) da obrigatoriedade de crença num Criador (qualquer que seja a conceção que individualmente se tenha do mesmo) para se ser admitido maçom - assim admitindo ateus e agnósticos. Desde o início da Maçonaria Especulativa que era consensualmente assente que era Landmark da Maçonaria a crença no Criador, que só crentes podiam ser maçons. A alteração pelos Grandes Orientes de França e da Bélgica em 1877 foi uma mudança que atingiu a essência da Maçonaria, transformando-a em algo diverso, talvez muito semelhante, quiçá melhor (os adeptos da Maçonaria Liberal acreditam ser eticamente superior a sua posição, porque inclusiva de todos os que desejem aperfeiçoar-se segundo o método maçónico, independentemente de serem crentes, agnósticos ou ateus) - mas, definitivamente diferente. Alterando-se a essência, altera-se a natureza da coisa...

O problema está em que não existe um conjunto de regras universal e consensualmente aceites como constituindo os Landmarks da Maçonaria - mesmo no âmbito da Maçonaria Regular.. Com efeito, basta dar o exemplo de que a GLLP/GLRP afirma como Landmarks as Doze Regras da Maçonaria Regular, enquanto que, por exemplo, na Maçonaria americana e sul-americana são correntemente invocados os 25 Landmarks compilados por Albert Mackey.

Na minha opinião, o que importa é preservar o essencial dos princípios que são comuns a todas as compilações de Landmarks  que se efetuam. Cada compilação é necessariamente datada, influenciada pelas ideias da época e pelos preconceitos remanescentes no compilador. A título de exemplo, atente-se no XVIII Landmark de Mackey: Por este Landmark, os candidatos à Iniciação devem ser isentos de defeitos ou mutilações, livres de nascimento e maiores. Uma mulher, um aleijado ou um escravo não podem ingressar na Fraternidade. Se é consensual, na Maçonaria Regular que esta instituição é masculina, hoje em dia é claramente inaceitável que um mutilado físico não seja suscetível de admissão à Iniciação. Hoje em dia, entende-se que não é suscetível de ser Iniciado o que tem defeito moral, aquele cujo caráter está mutilado dos sãos princípios inerentes aos bons costumes, tal como o escravo que não pode ser iniciado é aquele que não é livre na sua pessoa, por ser escravo das suas paixões, dominado por elas e incapaz de ser ele a dominá-las.

Esta última Regra informa-nos ainda que o conjunto das Regras Gerais foi aprovado em Assembleia ocorrida no dia de São João Batista (24 de junho) de 1721, era então Grão-Mestre o Duque de Montagu (a quem o Livro da Constituição de Anderson é dedicado). Mas só vieram a ser publicadas em 1723, incluídas no Livro da Constituição de Anderson, era então Grão-Mestre o Duque de Wharton e Vice Grão-Mestre John Theophilus Desaguliers.  Daí que, embora tendo as Regras Gerais sido aprovadas em 1721, atenta a data da sua publicação, sejam usualmente referidas como as Regras Gerais de 1723.


Fonte:

Constituição de Anderson, 1723, Introdução, Comentário e Notas de Cipriano de Oliveira, Edições Cosmos, 2011, página 145. 

Rui Bandeira

13 fevereiro 2013

Regras Gerais dos Maçons de 1723 - XXXVIII


Terminadas as anteriores formalidades, o Grão-Mestre ou seu Vice Grão-Mestre, ou algum Irmão nomeado por aquele, deverá dirigir-se aos Irmãos e dar-lhes os melhores conselhos. Finalmente, depois de todos os procedimentos, que não podem ser escritos em qualquer língua, os Irmãos devem ir-se ou permanecer por mais algum momento, se assim o desejarem. 

Esta penúltima Regra faz referência à prancha do Grão-Mestre, um costume que, felizmente continua a ser mantido pela maior parte das grandes Lojas.

Parte de cada sessão da Grande Loja é dedicada à divulgação de uma prancha pelo Grão-Mestre, em regra pronunciando-se sobre o estado da Obediência, ou alguma questão de particular importância, seja do foro maçónico, seja do foro profano mas com relevo para a Maçonaria, ou ainda pronunciando-se sobre o trabalho maçónico, individual ou coletivo. A Prancha Traçada do Grão-Mestre é uma orientação para os obreiros ou uma chamada de atenção para qualquer assunto de especial relevo. É o momento próprio para o líder exercer a sua liderança perante o conjunto dos representantes dos Obreiros que lidera. A Prancha Traçada da sessão pode ser proferida por um Vice Grão-Mestre ou por qualquer Grande Oficial, ou mesmo obreiro sem ofício particular, para o efeito designado. O que importa é que em todas as sessões haja algo para meditar, para auxiliar ou motivar ou enquadrar o trabalho dos Irmãos.

Também é saudável que em todas as sessões de Loja seja apresentada uma prancha, seja por um Aprendiz ou Companheiro, mostrando a toda a Oficina os seus progressos na Arte Real, seja por um Mestre proporcionando formação, informação ou desenvolvimento de qualquer tema à Oficina. Não é necessário que seja um trabalho de grandes dimensões. Aliás, é mesmo recomendável que a sua apresentação não ultrapasse, no máximo, quinze minutos (daí, penso, no Brasil, a referência ao "quarto de hora de estudos"). Não é preciso que seja um trabalho de nível académico ou de grande profundidade - mas é desejável que seja o melhor que, em cada momento, o seu autor seja capaz de produzir sobre o tema que tratar.  Já ouvi pranchas em Loja que eram constituídas por uma simples frase e que me fizeram pensar mais do que extensos trabalhos. Tal como não é raro encontrar, em trabalhos singelos de recentes Aprendizes que ainda estão na fase de aprender a aprender, pérolas que nos apontam caminhos ou ângulos de análise que os mais experimentados Mestres ainda não tinham descortinado.

O que importa é que haja, em todas as sessões de Loja, um tempo dedicado ao estudo, à formação, à meditação, a aprender algo. Ir à Loja é também conviver, mas não é só conviver. É também praticar o ritual, mas não é só isso. É debater e resolver os problemas da Oficina, mas é mais do que isso. Ir à Loja, ser da Loja, é dar algo aos demais e receber dos demais algo - designadamente ensinamento, matéria para reflexão, ferramenta para aperfeiçoamento. Em todos os momentos da sessão maçónica isso é possível, mas a apresentação e escuta de uma prancha é, por excelência, o momento em que alguém põe em comum algo para que todos retirem algo para si próprios, ocasião em que todos melhoram, ou podem melhorar, aprendem ou podem aprender, mais um pouco, poucochinho que seja. De forma a que todos saiam um pouco mais ricos do que entraram. Ricos interiormente, onde tal é realmente importante.

Prossegue a regra referindo os "procedimentos que não podem ser escritos em qualquer língua". Refere-se ao ritual - no caso, ao ritual de encerramento da Loja. É tradição que todos os rituais de origem inglesa, designadamente o Ritual de Emulação, e os neles originados (inclusive o ritual norte-americano fixado por Preston-Webb, também comummente designado por "rito de York") seja executados de cor. Antigamente eram transmitidos por via oral e apenas por via oral. Daí a referência na Regra. Nos dias de hoje, claro que estão escritos, embora devam os respetivos textos ser de acesso restrito a quem deva lê-los ou aprendê-los. No que se refere ao Rito Escocês Antigo e Aceite, mais complexo e longo, muito dificilmente pode ser dito de cor - ao menos por quem não tenha a memória muito bem exercitada... - estando escrito e sendo, normalmente, lido pelos Oficiais da Loja, nos momentos próprios.

Uma referência à expressão final da Regra: "...se assim o desejarem". É uma expressão utilizada num dos mais significativos brindes maçónicos, o último brinde ritual, proferido pelo Aprendiz mais recente, dedicado a todos os maçons, e pontua bem a essencialidade, no pensamento maçónico, do respeito pela liberdade individual, pelas escolhas de cada um. Os maçons mutuamente se reconhecem que os seus atos devem ser realizados quando, como, nas circunstâncias e se assim o desejarem. Só homens livres podem ser homens responsáveis!

Fonte:

Constituição de Anderson, 1723, Introdução, Comentário e Notas de Cipriano de Oliveira, Edições Cosmos, 2011, página 145 

Rui Bandeira

06 fevereiro 2013

Agora em livro eletrónico!


Há três anos, publicamos o livro LOJA MESTRE AFFONSO DOMINGUES - 20 ANOS DE HISTÓRIA em edição em papel. Tratando-se de edição própria, sem contrato de distribuição comercial, verificámos que, para além das encomendas via correio eletrónico, o acesso ao livro dos interessados residentes fora da região de Lisboa e, naturalmente, fora de Portugal, era difícil.

Agora, aproveitando o sistema de publicação de edições eletrónicas em edição de autor que a Leya disponibiliza através do sítio Escrytos, colocamos à disposição de todos os interessados, em epub, formato eletrónico apto para ser lido em qualquer suporte atual (computador, tablet, ereader, IPad, IPhone e dispositivos Android), a edição eletrónica do livro.


No Brasil, o seu preço são R$ 26,97 e está já disponível no IBA (em https://www.iba.com.br/livro-digital-ebook/Loja-Mestre-Affonso-Domingues---20-anos-de-Hist%C3%B3ria-b0e90b4b3151ff2f33611b080271ab6e), no Submarino (em http://submarino.thecopia.com/catalog/details.html?catId=9858048) e na Livraria Cultura (em http://www.livrariacultura.com.br/Produto/E-BOOK/LOJA-MESTRE-AFFONSO-DOMINGUES-20-ANOS-DE/17638852). Nesta última, os possuidores do cartão Livraria Cultura poderão adquiri-lo com o pagamento em seis prestação de R$ 4,50 cada.

Na Wook, é possível ler uma amostra do livro (prefácio do Vigésimo Venerável Mestre, Nota Introdutória, texto sobre o nosso patrono Mestre Affonso Domingues e o primeiro texto da Memória da Loja, Fundação da Loja e Primeiro Venerável Mestre).

Não consegui localizar, mas a Leya informa que, dentro de um prazo de duas semanas, o e-book estará também disponível na ibookstore /iTunes/ Appstore, nos sítios da Livraria Almedina (Portugal) e do Gato Sabido (Brasil) e na Amazon e na Barnes & Noble (internacionais).

Curiosa é a dificuldade de classificação que os administradores dos sítios tiveram em relação ao livro: na Leya, o livro foi colocado na secção Biografias / Memórias, na FNAC / Kobo, em Arte e Arquitetura - Artes Gerais, na Livraria Cultura, simplesmente em Artes...

A Loja Mestre Affonso Domingues preza a Tradição, mas não rejeita - pelo contrário, utiliza! - as ferramentas de comunicação do século XXI.  Com esta iniciativa, pretendemos possibilitar que, em qualquer ponto do planeta, qualquer interessado possa obter e ler o livro LOJA MESTRE AFFONSO DOMINGUES - 20 ANOS DE HISTÓRIA.

Boa leitura! Espero, sobretudo, que tenham tanto prazer na leitura do livro como nós tivemos na sua conceção e feitura.

Rui Bandeira