11 julho 2016

Pavimento Mosaico (republicação)

Hoje venho fazer a republicação de um texto da autoria do Rui Bandeira e que versa sobre o Pavimento Mosaico, uma das componentes mais importantes de um Templo Maçónico.
Para além do texto poder ser consultado no seu original farei a sua republicação nas linhas abaixo...

"Pavimento Mosaico

Em todas as Lojas maçónicas regulares está presente, em todo ou em parte do solo da sala onde ocorrem as sessões de Loja, um pavimento mosaico, constituído por um conjunto de quadrados brancos e negros, colocados alternadamente entre si. 

O símbolo remete claramente para a dualidade - mas também para a harmonia entre os opostos. Cada quadrado de uma das cores está rodeado de quadrados da outra cor. É assim frequente referir-se ao recém-iniciado que o pavimento mosaico representa a sucessão entre os dias e as noites, o bem e o mal, o sono e a vigília, o prazer e a dor, a luz e a obscuridade, a virtude e o vício, o êxito e o fracasso, etc.. Mas também a matéria e o espírito como componentes do Homem. Ou, simplesmente, recordar que, como resulta da lapidar equação de Einstein, a matéria é composta por massa, mas também por energia.

O dualismo provém de antigas tradições humanas. A civilização suméria dotava os seus templos de piso em pavimento mosaico, que só podia ser pisado pelo sacerdote no mais alto grau da hierarquia e só em dias de eventos importantes. Convencionou-se que o Santo dos Santos do Templo de Salomão teria um pavimento mosaico. 

A filosofia pitagórica postulava que o UM se transformava em DOIS refletindo-se a si próprio e separando-se, original e reflexo, sendo assim o UM o princípio criador estático e o representando o DOIS a dinâmica da Criação. A interação entre o UM e o DOIS gerou o TRÊS, a Criação. Esta resultou, assim, da interação entre o estático e o dinâmico. 

De onde resulta que a dualidade é fecunda, que é necessária a presença da dualidade para haver criação. Mas resulta ainda mais do que isso: não basta que exista dualidade, tem que haver interação entre os opostos para que a criação aconteça. Não bastam dois opostos estáticos; é necessário que esses dois opostos sejam dinâmicos e interajam entre si. Não basta, assim, a dualidade, é necessária a polaridade.

O pavimento mosaico recorda-nos assim que a vida é feita de contrastes, de forças opostas que se influenciam entre si, e que é através dessa influência mútua que ocorre a mudança, o avanço, a evolução. No fundo, a antiga asserção de que toda a evolução se processa através do confronto entre a tese a a antítese, daí resultando uma síntese, que passa a constituir uma nova tese, que se defrontará com outra antítese até se realizar uma nova síntese, que é um novo recomeço, assim e assim sucessivamente numa perpétua evolução...

Assim sendo, o que tomamos por mal, por desagradável, o que procuramos evitar, sendo-o assim, não deixa, porém, de ser necessário - pois é do confronto desse mal com o bem, do que queremos evitar com o que gostaríamos de conservar, daquilo que nos desagrada com aquilo que nos conforta, que resulta avanço, mudança, tendencialmente progresso (tendencialmente, porque nada se deve tomar como garantido: por vezes, a mudança mostra-se retrocesso...).

Nesse sentido, o bem, por si só é estático e estéril. O bem só evolui em confronto com o mal. É desse confronto entre ambos que resulta algo, é esse confronto bipolar que é fecundo. Aliás, em bom rigor, só podemos definir o bem em confronto com o mal, tal como necessitamos da sombra para bem apreender o que é a luz... Se Adão permanecesse no Paraíso, ainda hoje Adão seria Adão e nada mais do que Adão, feliz com sua nudez, mas inapelavelmente boçal. Foi o mal da expulsão do Paraíso que obrigou Adão a deixar de ser mera criatura e passar a ser homem; ou seja, a Humanidade só evolui porque sempre necessitou de se confrontar com o perigo, com a fome, com a necessidade, em suma, com o mal, e teve de superar todos os sucessivos obstáculos para atingir sucessivos patamares de bem, de satisfação, sempre confrontada com novos perigos, obrigando a novas superações. É ao superar os sucessivos obstáculos com que se depara que o Homem se supera a si mesmo.

O Pavimento Mosaico não é um espaço estático. É um caminho, com luzes e sombras, com espaços agradáveis e veredas desagradáveis, com seguranças e perigos. Ficar num quadrado branco e dele não sair não leva a lado nenhum... É necessário enfrentar a dualidade com que nos deparamos, suportar a polaridade inerente a tudo o que nos rodeia e, afinal, inerente a nós próprios e... fazer-nos à vida! Se tomarmos mais opções certas do que erradas, teremos mais sínteses brancas do que negras e desbravaremos um caminho de avanço. Se ou quando (porque é quase que inevitável que esse quando, muito ou pouco, cedo ou tarde, sempre apareça...) enveredamos por opções erradas, acabamos por cair em sombria síntese e deparar com retrocesso e não com o desejado progresso. Mas ainda assim, a solução não é ficar onde se foi parar, com receio de novo retrocesso: é prosseguir com nova síntese, efetuar nova opção, desejavelmente que se revele boa, para melhor sorte nos caber. E assim, em perpétuo movimento, em contínua progressão de inesgotáveis sínteses, o homem avança desde a sua tese inicial até à sua derradeira síntese... que, do outro lado da cortina descobrirá que não foi um fim, mas apenas um novo recomeço, uma nova tese para, noutro plano, se confrontar com fecunda antítese...  

Um simples pavimento mosaico serve de ponto de partida para a mais profunda especulação. Basta atentar e meditar e estudar e trabalhar dentro de si mesmo, juntando a intuição à razão (outra dualidade; ou melhor, polaridade, de fecunda potencialidade...). O Pavimento Mosaico, se atentarmos na sua perspetiva dinâmica, recorda sempre ao maçom  que o principal do seu trabalho não se efetua na Loja, na execução do ritual, na realização de tarefas de Oficial, na discussão de pontos de vista. O principal do seu trabalho faz-se no confronto de si consigo próprio, no uso frequente e equilibrado das duas grandes ferramentas de que dispõe  naturalmente, a sua Razão e a sua Intuição, para trilhar sozinho os seus caminhos (e descobrir que, afinal, encontra frequentemente outros nos cruzamentos a que vai chegando). Por isso, o maçom deve reservar sempre uma parte do seu dia para efetuar a mais fecunda atividade que pode efetuar: pensar, meditar, especular. Tem as ferramentas. Só precisa de as usar. Dia a dia. E quanto mais as usar e quanto mais frequentemente as usar, mais fácil é esse uso, mais gratificante é o seu trabalho. Também dentro de cada um de nós há um pavimento mosaico, disponível para o percorrermos e nele ir tão longe quanto cada um quiser e puder!

Rui Bandeira"

04 julho 2016

A identidade da Loja


Cada Loja maçónica adquire ao longo do tempo uma identidade própria, que a distingue, sem dificuldades, das restantes. Essa identidade começa a construir-se pelas circunstâncias do seu aparecimento (Loja essencialmente com obreiros oriundos de outra Loja: decisão consensual ou conflitual?; Loja de caráter genérico ou Loja criada com um objetivo específico? Loja criada a partir de um grupo coeso que se expandirá normalmente ou Loja de implantação numa zona, cujos fundadores a virão a abandonar quando estiver implantada e firme?), prossegue com a forma como se relacionam os seus elementos (relações de amizade ou cordiais ou existência de tensões que vão sendo dirimidas e aplainadas?) e com a forma como é gerida a Loja e efetuadas as escolhas que tiverem de ser tomadas (Loja habitualmente coesa ou Loja com grupos estabelecidos que se vão confrontando e sucedendo nas tomadas de decisão)?

A forma como a Loja adquire e molda a sua identidade determina a sua maior ou menor aproximação ao arquétipo modelar de uma Loja maçónica: espaço de harmonia, de tolerância, de cooperação, de mútuo auxílio e propiciatório do crescimento e aperfeiçoamento individual de todos e cada um dos seus obreiros. Não tenhamos ilusões: não há Lojas maçónicas perfeitas, tal como não há maçons perfeitos (se o fossem, não precisavam de se aperfeiçoar, logo não eram maçons...). Mas cabe a cada maçom e a cada conjunto de obreiros agrupado numa Loja permanentemente trabalhar para que a sua Loja se aproxime o mais possível do desejado arquétipo.

Vários caminhos, várias formas, vários estilos podem ser e são utilizados nessa busca. Não há fórmulas mágicas nem pretensas unicidades. Cada Loja, em função da sua circunstância, vai adquirindo a sua identidade, estabelecendo a sua forma de trabalhar, o seu estilo de se gerir, a abordagem que mais lhe convém para melhorar e tornar melhores os seus obreiros. É isso que eu designo por identidade de cada Loja. 

Essa identidade vai-se estabelecendo naturalmente, no bom, no assim-assim e no menos bom que ocorrer e gradualmente a Loja vai ganhando caraterísticas próprias, facilmente adotadas pelos seus obreiros e identificadas pelos seus visitantes. 

Questão essencial para o estabelecimento da identidade de uma Loja é a da escolha da sua liderança. A identidade da Loja Mestre Affonso Domingues assenta, quanto à escolha da sua liderança, em três vetores que lhe são essenciais:

1) Não há nela luta ou querela quanto à questão da sua liderança: ressalvada a ocorrência de (sempre possível) qualquer imponderável que o impeça, o Primeiro Vigilante de um ano é o Venerável Mestre do ano seguinte, e ponto final parágrafo! Todos os anos a eleição do Venerável Mestre da Loja Mestre Affonso Domingues é uma mera formalidade, escrupulosamente cumprida nos termos regulamentares! (Quem quiser  saber ou recordar a origem deste princípio identitário da Loja, procure e leia neste blogue o texto A eleição do Terceiro Venerável Mestre).

Com este princípio identitário não se perde tempo em lutas estéreis, não se formam artificialmente grupos, não se estabelecem quezílias. Acordos e desacordos estabelecem-se e discutem-se em relação a opções a tomar, a tarefas a realizar, a projetos a desenvolver. Isso, sim, debate-se o tempo que for preciso até se nos tornar evidente qual o melhor (às vezes, qual o menos mau...) caminho a seguir. Porque não perdemos tempo em questiúnculas de (ilusório!) poder, podemos mais utilmente gastá-lo a debater o que vamos e como vamos fazer.

2) Cada Venerável Mestre é eleito para exercer um ano de mandato e depois dá lugar a outro.

O Regulamento Interno da Loja prevê a possibilidade uma (única) reeleição para um segundo mandato, por maioria qualificada. Mas esta é uma possibilidade ali colocada apenas em face da eventualidade de sobrevir um "dia de chuva" tal que nos obrigue a recorrer ao guarda-chuva de uma excecional reeleição. O exercício do ofício de Venerável Mestre por um ano e basta tem duas evidentes vantagens: todos os obreiros interessados e intervenientes na Loja exercem, a seu tempo, o ofício de Venerável Mestre; não se sacrifica demasiado ninguém, pois, como todos os que se sentaram na Cadeira de Salomão sabem, exercer este ofício permite ao seu titular duas alegrias: a primeira quando é instalado para exercer o ofício, a segunda quando (finalmente, ao fim de um loooongo ano...) vê instalado o seu sucessor e é aliviado da responsabilidade de dirigir a Loja.

3) O Segundo Vigilante de um ano é o Primeiro Vigilante do ano seguinte.

Este princípio identitário é crucial, pois impede que se criem cliques de direção da Loja, impedindo o Venerável Mestre recém-eleito de ser ele a escolher o seu sucessor. Com efeito, o Primeiro Vigilante é (ver princípio identitário 1) o sucessor natural do Venerável Mestre e, consequentemente, não deve ser por ele escolhido, ao contrário da esmagadora maioria dos demais Oficiais da Loja - as exceções são o Tesoureiro (eleito) e o Guarda Interno (que, salvo os inevitáveis imponderáveis é o Ex-Venerável do ano anterior). O Venerável Mestre, na Loja Mestre Affonso Domingues tem o dever de designar para Primeiro Vigilante o Segundo Vigilante do ano anterior, que foi escolhido para essa função pelo seu antecessor, com a expectativa do próprio, do Venerável Mestre que o nomeou e de toda a Loja, de ser no ano seguinte Primeiro Vigilante e , no subsequente, Venerável Mestre. Assim não proceder, para além de ser uma condenável forma de se arrogar o direito de escolher o seu sucessor, seria uma tremenda falta de respeito pelo seu antecessor, uma forma de lhe dizer meu caro, foste um palerma, fizeste uma má escolha para Segundo Vigilante, eu é que vou ser o Cavaleiro Branco que vai emendar o teu erro e escolher o homem certo para o lugar certo... O incumprimento deste princípio identitário da Loja abriria uma Caixa de Pandora de consequências imprevisíveis, correndo-se o risco de deitar a perder tudo o que a Loja foi e construiu ao longo de mais de um quarto de século: uma vez que alguém se arrogue o direito de escolher o seu sucessor (exceto quando o Segundo Vigilante, por qualquer razão, renuncie a exercer o ofício de Primeiro Vigilante - sucedeu recentemente e o problema resolveu-se aberta e consensualmente), cai pela base a confiança no princípio de que o Primeiro Vigilante de um ano é o Venerável Mestre do ano seguinte e cai-se, para o futuro, na pura e dura pugna eleitoral. A partir daí, a Loja não seria mais a mesma, teria perdido a sua identidade, deixava de ter a questão da escolha do seu líder como uma pacífica e natural sucessão de obreiros, passava a ter anualmente de resolver o problema de dirimir disputas eleitorais entre obreiros. A partir de então, a Loja poderia conservar a designação de Loja Mestre Affonso Domingues, mas não seria mais a Loja Mestre Affonso Domingues, seria uma mera caricatura dela!

A Loja Mestre Affonso Domingues é o que é porque, pura e simplesmente, nunca admitiu que no seu seio a questão da escolha da sua liderança fosse um problema ou sequer um fator de temporária desestabilização. Ao longo de mais de vinte e cinco anos, nunca tivemos uma disputa eleitoral, nunca tivemos de apanhar os cacos decorrentes de uma luta dessa natureza. Conseguimos e soubemos identificar, estabelecer e aplicar as condições necessárias e suficientes para tal, os três princípios identitários que atrás enunciei. O preço de abandonar qualquer deles seria muito elevado, seria a senda para mudar a Loja Mestre Affonso Domingues que construímos, de que gostamos e em que nos sentimos bem noutra coisa qualquer. Tão simples como isso!   

Estou há longos anos na Loja, há já um tempo significativo que vou escrevendo neste blogue, procuro deixar nele registada a Memória da Loja, conhecimento do passado que serve de lição, guia e inspiração para o futuro. Mas nada na vida é eterno nem definitivo - um dia, não sei quando, necessariamente que deixarei de escrever aqui, inevitavelmente deixarei de estar na Loja. Por isso me apeteceu hoje deixar esta mensagem, este testemunho, para ilustração presente e para memória futura.

Talvez este seja porventura o texto mais importante para a Loja Mestre Affonso Domingues que publiquei neste blogue!

Rui Bandeira

27 junho 2016

Eleição do Muito Respeitável Grão-Mestre para o triénio 2016/2018...


Foi eleito para desempenhar o cargo máximo na estrutura da Grande Loja Legal de Portugal/GLRP, o candidato e anterior Muito Respeitável Grão-Mestre que se encontrava em funções, o Querido e Muito Respeitável Irmão Júlio Meirinhos, dando acento assim a um processo de continuidade na Obediência; algo que o mesmo vinha desenvolvendo até então e que apartir de agora poderá dar seguimento às suas propostas para este novo mandato e continuar a executar as que já vinha desenvolvendo de forma oportuna.

Neste momento, a Grande Loja terá como meta principal consolidar a sua presença no país e na Maçonaria Regular internacional, seja através do "levantamento de colunas" de novas Lojas bem como do aumento de Templos disponíveis para o trabalho das mesmas, para além do seu labor constante na "relações públicas" com as demais Potências Maçónicas Regulares. Não esquecendo que a breve trecho se irão celebrar os 300 anos de Maçonaria (Especulativa, fundada em 1717) e que Portugal terá um papel primordial na organização destas celebrações.
Mas para já, o mote será prosseguir e concluir alguns do projetos internos que finalmente virão a "luz", ao fim de algum tempo de delineamento.

A Respeitável Loja Mestre Affonso Domingues nº5, estará, como sempre esteve, à Ordem e às ordens do Muito Respeitável Grão-Mestre, e faz votos para que este novo mandato seja frutuoso e de um vigor tal, que contribua também ele para auxiliar a mudar a percepção e a imagem que a sociedade tem da Maçonaria nacional.
Se pelo menos este último ponto que sugeri se alterasse um pouco, tal seria estupendo, pois e apesar de lés-a-lés virem a público notícias sobre atitudes ou comportamentos "menos maçónicos" (e nem sempre verdadeiros !) de obreiros de alguma Obediência e que geralmente são resolvidos internamente, uma coisa deveria ter a sociedade a noção, é que não se "deve condenar uma árvore por um fruto podre nos seus ramos", esse é um dos erros crassos que existem e que com a ajuda dos maçons se poderia mudar, e muito... 
Por isso, com um Muito Respeitável Grão-Mestre que entre outras coisas, elucide tanto internamente como profanamente o que é e do que (se) trata a Maçonaria, as "coisas" iriam decorrer de uma forma tão mais fácil, quase justa e perfeita...

Terminando, aos dois candidatos e suas equipas, envio o meu triplo abraço fraterno, e ao "eleito" digo que estou à Ordem. 

E agora vamos a trabalhar...

20 junho 2016

Maçonaria e intervenção na Sociedade


Da predisposição de ambas as correntes relativamente ao papel mais ou menos ativo, mais ou menos institucionalmente interventivo, da Maçonaria na Sociedade decorrem assinaláveis diferenças na intervenção política.

A Maçonaria Regular não busca ter qualquer intervenção política em termos institucionais. Porque intervenção política implica confronto de ideias, entende que é normal que nas suas fileiras existam defensores das várias ideias em confronto e não se arroga o direito de se pronunciar institucionalmente a favor de uns dos seus obreiros e contra o entendimento de outros dos seus obreiros. A Maçonaria Regular é assim politicamente neutra. Cada um dos seus obreiros defende, dentro dos limites dos Valores essenciais da Maçonaria (hoje, felizmente, consensuais no mundo desenvolvido), as posições políticas que bem entende. Para a Maçonaria Regular, é possível e normal que dois políticos se digladiem na defesa de posições políticas divergentes, sendo ambos maçons - e quiçá integrando até a mesma Loja! O objetivo da Maçonaria Regular é sempre o mesmo: aperfeiçoar os seus obreiros, desejando que estes contribuam para o aperfeiçoamento da Sociedade. Quando os seus obreiros são políticos, apenas pretende que sejam cada vez melhores políticos, que, defendendo as suas ideias, o façam com Dignidade, com Elevação, com Honestidade, com Sentido de Dever e de Serviço Público. 

A Maçonaria Liberal, na medida em que pratique uma intervenção política, defendendo uma posição política, tenderá a juntar elementos de pensamentos tendencialmente compatíveis entre si e com a corrente de pensamento prosseguida pela Obediência. Será tendencialmente mais eficaz na defesa dos Valores da Instituição. Também se "amarra" às consequências dos eventuais reveses que a posição política que ativamente prossiga venha a sofrer. Nesse sentido, convém não esquecer a identificação histórica da Maçonaria com a I República e as consequências sofridas quando esta caiu...

Entendo que é estulto pretender afirmar-se, em absoluto, a superioridade de uma corrente sobre a outra. Cada uma das correntes tem a sua orientação e a sua prática, que será certamente a melhor para quem concorda e se sente confortável com elas. Entendo que, também nesta questão, devem os maçons atender e praticar a Virtude que consideram seu apanágio, a Tolerância. Cada um deve aceitar a posição do outro, ainda que (sobretudo quando) diversa da sua. O Outro tem tanto direito às suas convicções como nós. Devemos aceitar sem rebuço ou hesitação as convicções dos demais, tal como temos o direito de exigir que as nossas convicções sejam respeitadas pelos demais.

Em matéria de intevenção da Maçonaria na Sociedade, a questão não deverá ser nunca quem está certo e quem está errado quanto à intervenção política. Cada um, cada corrente, atua segundo a sua tradição. a sua evolução histórica, a sua forma de pensar. Em matéria de intervenção da Maçonaria na Sociedade, o mais produtivo é determinar o que cada um pode contribuir para a Sociedade, em prol desta.

E muito há para fazer e é possível fazer, em diversos campos de intervenção: na educação ambiental como na educação para a saúde, na promoção da igualdade de género, como na integração dos que, a qualquer título ou por qualquer condição sejam diferentes, na cooperação com as entidades que prestam auxílio e solidariedade a quem necessita como na promoção do desenvolvimento justo, sustentado e integrador, na atenção aos mais novos como na consideração e apoio aos mais idosos, na promoção da formação como no apoio e fruição das artes. Em pequenas organizações ou ações locais levadas a cabo pelas Lojas ou em mais amplos objetivos coordenados pelas Grandes Lojas ou Grandes Orientes.

Reduzir a intervenção da Maçonaria na Sociedade à política é, no meu entender, pensar muito pequeno, muito pouco e muito limitado, Há todo um conjunto de temas e necessidades e atividades e intervenções em que os maçons podem dar o seu contributo. E porventura ajudar a alterar e melhorar a nossa Sociedade muito mais e muito mais proficuamente do que imiscuindo-se na política.

Atenção, não me interpretem mal! Tenho todo o respeito por todos aqueles que se dedicam à defesa da causa pública. Não alinho nas algazarras de denegrimento dos políticos. A Política é uma atividade nobre, que é imensamente útil à Sociedade, desde que exercida com motivações e comportamentos nobres.  Nesse sentido, tenho todo o respeito por todos os políticos que se comportam como bons maçons (sejam-no ou não). O que eu não quero é ver maçons a terem comportamentos de (certos) políticos...

Rui Bandeira

13 junho 2016

" A Trolha" (republicação)

Hoje faço a republicação de um texto da autoria do Rui Bandeira que aborda uma das "ferramentas" que considero como das mais importantes a serem usadas pelo maçom: a Trolha.
Aliás, o Rui muito bem que explana na sua opinião alguma da simbólica associada a este tão importante utensílio. Opinião essa que pode ser consultada no seu original aqui e inclusive mais abaixo neste mesmo post.
Depois de o lerem ou até mesmo de o relerem, poderão então perceber porque eu a considero de tal importância...
Por isso apenas irei dizer em jeito de conclusão ao meu raciocínio e até mesmo de introdução ao texto: "Porque  não pomos de lado o nosso orgulho, vícios e paixões e não passamos nós a trolha onde a mesma é necessária?!"

  "A Trolha
A Maçonaria utiliza os artefatos e ferramentas ligados à atividade da construção como símbolos ilustrativos dos ensinamentos que procura transmitir e preservar. É o caso, por exemplo, da trolha.

A trolha, ou colher de pedreiro, é uma ferramenta do ofício da construção utilizada para separar, transportar, projetar ou colocar argamassa, massa ou cimento nas superfícies, paredes ou muros, de uma construção. Serve também para alisar a massa, argamassa ou cimento colocada, por exemplo, numa placa ou na união entre pedras ou tijolos de uma parede ou muro.

Tendo em conta estas utilidades para o ofício da construção, a Maçonaria Especulativa adapta o conceito para simbolizar virtudes ou comportamentos que devem ser adotados pelos maçons e naturais numa Loja maçónica.

Tal como a ferramenta operativa alisa as superfícies, assim também o maçom deve utilizar a trolha da concórdia, da conciliação, para alisar, regularizar, aplainar diferenças ou conflitos entre Irmãos. 

A Fraternidade não é necessariamente um oásis de paz e ausência de conflitos. Tal como os irmãos biológicos, embora mantendo entre si laços fortes de solidariedade e amor fraternal, não obstante têm frequentes desacordos, querelas, conflitos, que aprendem a regular sem pôr em causa a sua relação fraternal, também os Irmãos maçons estão sujeitos á erupção de conflitos e desacordos entre si, que devem regular preservando as suas fraternais relações.

Devem, por isso, sempre ter ao alcance de sua consciência a trolha da conciliação, da boa-vontade, do saber olhar pelo ponto de vista do outro, para alisar as diferenças, conciliar os interesses ou propósitos divergentes.

A trolha simboliza ainda a benevolência, a tolerância, a indulgência, perante as asperezas, os defeitos alheios, espalhando sobre eles a massa do perdão, do esquecimento de injúrias ou agravos, em prol da harmonia da construção. 

O maçom não se deve também esquecer nunca que, tal como se vê na necessidade de utilizar a trolha para alisar as asperezas que vê em outros, também os demais utilizam idêntico instrumento simbólico em relação às suas próprias imperfeições. A tolerância, a fraternidade, funcionam em sentido duplo. Ninguém tem o direito de reclamar para si o perdão ou a complacência em relação aos seus erros sem ele próprio ter idêntica atitude em relação aos demais.

Manejar a trolha simbólica não é fácil. Exige treino, exige habituação, exige bom-senso. Só progressivamente aquele que entra na Maçonaria se habitua a manejar esta ferramenta simbólica. Enquanto as ferramentas por excelência do Aprendiz são o maço e o cinzel, com que desbastam a sua pedra bruta, corrigindo-se das maiores asperezas e dando-se forma adequada para colocação útil no Grande Templo da Harmonia Universal, e que as ferramentas do Companheiro são essencialmente o prumo, o nível e o esquadro, com que colocam a pedra já aparelhada no sítio certo e útil, o Mestre Maçom tem como instrumentos essenciais a Prancha de Traçar, onde traça os planos da construção de si mesmo e do seu comportamento e - precisamente - a trolha, com que espalha o cimento da harmonia, que une definitivamente todos os materiais da sua construção de si. 

Rui Bandeira"

06 junho 2016

O trabalho fora de Loja: Segundo Vigilante


Ao Segundo Vigilante de uma Loja maçónica compete, além do exercício das funções rituais, a coadjuvação do Venerável Mestre na administração da Loja, em conjunto com o Primeiro Vigilante, e, sobretudo, a superintendência no trabalho e na formação dos Aprendizes.

Quanto ao seu papel na administração da Loja, se nele falhar ou executar deficientemente, tal implicará uma sobrecarga do Venerável Mestre (que terá de suprir a falta ou a deficiência no auxílio) e, sobretudo uma quebra ou uma deficiência na planificação e execução de longo prazo da atividade da Loja. Não é por acaso que, pese embora a Loja delegue a responsabilidade e o poder de decisão no Venerável Mestre, se refira que a administração do grupo recai sobre as "Luzes da Loja", ou seja, no conjunto composto pelo Venerável Mestre e os dois Vigilantes. Porque tendencial - e desejavelmente - estes três Oficiais da Loja cumprem uma linha de sucessão na direção da mesma, a boa cooperação entre esta tríade, independentemente das alterações concretas dos elementos que nela se integram, permite um desenvolvimento harmonioso, a longo prazo, do trabalho da Loja. O Segundo Vigilante tem dois anos para se preparar para o exercício do ofício de Venerável Mestre. O Venerável Mestre pode iniciar ou prosseguir projetos de longo prazo, com o conhecimento e a participação dos seus Vigilantes, sabendo que eles estarão aptos a dar continuidade aos projetos e a inserir neles, se necessário, as modificações que se mostrem aconselháveis.

Mas o principal objetivo, a principal tarefa, do Segundo Vigilante é assegurar o acolhimento, a integração e a preparação dos Aprendizes. E essa tarefa, para ser bem executada, não pode ser deixada apenas para os dias de sessão. O Segundo Vigilante tem de ter disponibilidade, interesse e organização para acompanhar individualmente cada Aprendiz.

Quando é iniciado numa Loja maçónica, o novel Aprendiz, por regra, entra num grupo em que conhece muito poucos elementos (por vezes só um ou dois), com regras estabelecidas que inicialmente desconhece e cujo conhecimento tem de adquirir em simultâneo com o seu cumprimento, e com uma ligação forte entre os seus elementos. Sente-se um estranho, um peixe recém-entrado num aquário já bem povoado... Para que a sua integração no grupo ocorra rápida, fácil e harmoniosamente, é importante o apoio do Segundo Vigilante. É este quem deve dar as primeiras indicações, os primeiros esclarecimentos, ao novo elemento, quem deve zelar pela rápida e tranquilizadora integração do novo "peixe" na segurança do "cardume" dos Aprendizes, com ele e nele tomando conhecimento dos "meandros do aquário".

Paralelamente à integração dos novos elementos, compete ao Segundo Vigilante coordenar a sua formação. Afinal de contas, Aprendiz é para aprender... Esta tarefa é complexa a vários títulos. Desde logo, porque naturalmente haverá Aprendizes em vários estádios de integração e formação, havendo que corresponder às necessidades de cada um de forma individualizada. As necessidades de integração e de auxílio na formação de um Aprendiz recém-iniciado são, naturalmente, diversas de um outro que já leva alguns meses de integração ou de um terceiro que tem já a sua primeira fase de preparação quase terminada e que ultima a elaboração e apresentação da sua prancha de proficiência ou que, apresentada esta, aguarda a oportunidade para o seu aumento de salário.

Mas também há que ter noção que coordenar a formação de um grupo de Aprendizes maçons não tem rigorosamente nada a ver com lecionar uma turma de jovens estudantes. Os Aprendizes maçons serão Aprendizes, mas são homens ativos, alguns homens maduros, em pleno auge das suas carreiras profissionais ou já na fase mais avançada dela, com famílias constituídas, responsabilidades que asseguram, filhos que educam e guiam. São Aprendizes, mas não são - longe disso! - meninos! O tempo em que aprendiam ouvindo as preleções do "sôtor" já é para eles passado, para alguns já longínquo. 

O Segundo Vigilante tem de coordenar a formação do conjunto de Aprendizes, normalmente heterogéneo, em termos de idade, de experiências de vida, de formações académicas, profissionais e culturais e em diferentes estádios de desenvolvimento na aprendizagem da Arte Real. Mas, com todas estas diferenças, são, Aprendizes e Vigilante, essencialmente IGUAIS. Não há qualquer relação de superioridade, nem intelectual, nem académica, nem de responsabilidade. A única coisa que diferencia o Vigilante dos seus Aprendizes é tão só a experiência em Maçonaria que aquele adquiriu e que tem a obrigação de ajudar a que estes adquiram.

A tarefa de coordenar a formação dos Aprendizes não é, pois, fácil. Cada Vigilante terá de a desempenhar por si, em função das suas circunstâncias, das suas disponibilidades, das suas capacidades, das caraterísticas do grupo e dos indivíduos que lhe cabe coordenar. 

Não há, assim, um modelo único de formação que se possa aconselhar. Nem sequer um único método a seguir. No entanto, pode-se sugerir um plano e um método de formação que - sempre sujeito e aberto às adaptações e alterações que cada Vigilante entender necessárias e justificadas - se entende adequado para atender às diferenças do grupo de Aprendizes e apto a captar e manter o interesse de gente por vezes já altamente formada e especializada nos respetivos campos profissionais e que, assim, não está propriamente na disposição de regredir aos seus tempos de polidores dos bancos da escola.

Sugiro que, no início das suas funções, no dealbar do ano maçónico, o Segundo Vigilante selecione até sete temas, não mais, que constituirão a base da formação de Aprendizes nesse ano. Uma hipótese (entre muitas e variadas) pode ser, por exemplo:

1) HISTÓRIA DA MAÇONARIA
2) SÍMBOLOS DO GRAU
3) VALORES MAÇÓNICOS
4) RITUAL DE INICIAÇÃO
5) O MAÇOM PERANTE O CRIADOR
6) O MAÇOM PERANTE SI PRÓPRIO
79 O MAÇOM PERANTE A SOCIEDADE

Repare-se que cada um destes temas é suficientemente amplo e aberto para ser abordado, tratado, desenvolvido, de uma miríade de diferentes maneiras. É esse o objetivo! Não se vai ensinar nada a ninguém, muito menos um pensamento único ou uma visão "correta". Como homens livres e de bons costumes que são, com a maturidade que lhes foi reconhecida como apta a integrar a Loja, os Aprendizes não precisam de ser ensinados, de receber lições. Apreciarão, pelo contrário, enquadramento e meios para que cada um aprenda o que quiser, pelo ângulo que entender, com a perspetiva que achar melhor.

A cada tema corresponderá um ciclo de trabalho de duas sessões e um desenvolvimento.

Para a primeira sessão de cada ciclo, o SEGUNDO VIGILANTE deve ter identificada e preparada (desejavelmente em ficheiros informáticos para serem disponibilizados aos Aprendizes) bibliografia sobre o tema, nos vários aspetos e abrangências dele, tão variada quanto possível - cinco a dez obras ou trabalhos.

Na primeira sessão do ciclo, o Segundo Vigilante deve introduzir o tema, designadamente chamando a atenção para os aspetos mais importantes nele, os subtemas ou questões que acha que serão importantes que os Aprendizes sobre eles debrucem a sua atenção. Deve indicar a bibliografia, de preferência chamando a atenção para diferentes formas de tratar o tema ou os diferentes aspetos abrangidos pelos trabalhos disponibilizados. Deve designar um LÍDER DE DISCUSSÃO para a sessão seguinte sobre o tema. De preferência, os líderes de discussão devem ser designados por ordem de antiguidade dos Aprendizes. O LÍDER DE DISCUSSÃO fica com o encargo de preparar e dirigir a discussão sobre o tema na sessão de trabalho subsequente, escolhendo vários aspetos do tema a tratar para colocar em debate, competindo-lhe garantir que, na sessão seguinte, haja mesmo discussão, debate sobre o tema, sem tempos mortos. Finalmente, o Segundo Vigilante designa a data da sessão de trabalho subsequente, exorta os Aprendizes a prepará-la lendo a bibliografia fornecida e o mais que entenderem e acentua que a sessão subsequente consistirá num debate de todos sobre o tema, dirigido pelo LÍDER DE DISCUSSÃO, que só será proveitoso se todos e cada um, entre as duas sessões, lerem a bibliografia, aprenderem sobre o tema e se prepararem para, exopondo o que cada um aprendeu, ajudar à aprendizagem dos demais.

Na segunda sessão. processa-se a discussão do tema, sob a direção do LÍDER DE DISCUSSÃO. Esta será tanto mais proveitosa quanto melhor o LÍDER DE DISCUSSÃO e os demais Aprendizes se tiverem preparado entre as duas sessões. Se porventura ninguém se tiver preparado convenientemente, provavelmente a sessão será muito aborrecida, constrangedora e muito pouco proveitosa... Mas, pelo menos ensinará a todos que, em Maçonaria, não se ensina, aprende-se - e que a aprendizagem é um esforço individual de cada um, posto em comum com o grupo. Na discussão da segunda sessão, o Segundo Vigilante deve intervir o menos possível - apenas quando necessário para repor a conversa no tema, quando o grupo dele se afastar (as conversas são como as cerejas...).

Finalmente, após a segunda sessão, o LÍDER DE DISCUSSÃO fica encarregado de preparar e apresentar uma prancha sobre o tema - que poderá vir a ser a sua prancha de proficiência para aumento de salário.

Repete-se, ao longo do ano, este esquema, com os vários temas. Ao fim do ano, tem-se Aprendizes preparados, não por terem ouvido umas preleções, mas por se terem debruçado sobre vários temas, por si e para si e para todos. Tem-se trabalhos elaborados - e tendencialmente de boa qualidade, porque resultantes de discussão em grupo e elaborados por quem se preparou para dirigir essa discussão. Tem-se um conjunto de obreiros que criou naturalmente espírito de grupo. O Segundo Vigilante ainda tem o bónus de, no ano seguinte, ir ter, como Primeiro Vigilante, Companheiros que foram Aprendizes bem preparados e bem habituados a preparar-se.

Finalmente, este método permite que, com toda a naturalidade e sem custo, sem demasiado esforço nem dificuldade, os novos Aprendizes que sejam iniciados ao longo do ano se integrem no trabalho da Coluna de Aprendizes, No ano seguinte, o trabalho recomeça. com os mesmos ou outros temas, ou alguns destes e temas novos, consoante o entender o  Segundo Vigilante de então.

Não tenho dúvidas que uma Loja que siga consistentemente este método de formação de Aprendizes terá, mais cedo do que mais tarde, um escol,de obreiros da melhor qualidade, prosperará e cumprirá devidamente o seu papel de fazer, cada vez mais, de homens bons homens melhores!

Rui Bandeira    

30 maio 2016

“Reflexões Eleitorais”


A GLLP/GLRP encontra-se em época eleitoral para o cargo de Muito Respeitável Grão-Mestre, cargo desempenhado hoje em dia pelo Muito Respeitável Irmão Júlio Meirinhos e que terminará estas funções em Setembro próximo, por altura do Equinócio de Outono.

Findo que está o período de “campanha” de debate de ideias e projetos de ambos os candidatos ao cargo, entrámos agora no período eleitoral.
Deste modo não farei qualquer comentário a qualquer das candidaturas proponentes mas tão somente farei algumas reflexões sobre o momento atual que se vive na Obediência na qual está filiada a Respeitável Loja Mestre Affonso Domingues Nº5, Loja da qual fazem parte os autores deste blogue.

Em Maçonaria não existem candidaturas “melhores” nem “piores”, existem ideias e projetos em questão. Cada uma das candidaturas terá as suas qualidades e os seus “desméritos” face à sua competidora.

Em Maçonaria não se deve importar para o seu seio as “profanices” que são habituais noutros processos eleitorais no mundo profano! 
Na Maçonaria requer-se e deseja-se um debate elevado, tolerante e fraterno de ideias e propostas a serem honradas futuramente pelos candidatos que se propuseram ao cargo, caso sejam eleitos.

Em Maçonaria ninguém – mas mesmo ninguém! – se pode esquecer que se tratam de Irmãos que se candidatam ao cargo mais difícil que existe numa Obediência. E como tal, sendo Irmãos, não são certamente “uns quaisquer”… 
Logo, tal como numa família “normal”, apesar de ser possível nem sempre se concordar em tudo, temos de nos respeitar mutuamente, uma vez que estamos ligados por algo maior, e por isso teremos sempre de suplantar qualquer divergência que possa existir na fraternidade que diariamente vivenciamos.

Durante o período de “campanha” foi possível a quem se candidatou informar, debater, demonstrar os seus projetos; Agora é tempo de serem feitas as reflexões necessárias para a tomada de uma decisão não tão fácil de ter como possa ser suposto o ser.
-É a vida e o futuro da Obediência que está em causa e nada mais! –

O nosso voto deve recair sobre a pessoa que consideremos mais apta e cujo projeto nos parece ser mais consentâneo como as possibilidades de real execução e não em mirabolantes miragens que se possam apresentar a curto prazo. 
Temos de eleger o Irmão que consideremos que desempenhará o cargo com a diligência, disponibilidade e entrega necessária que tanto labor (a gestão de uma Potência Maçónica) obriga.

Somos cerca de 2500 maçons regulares e ultrapassada que está a marca de 100 Respeitáveis Lojas pertencentes à Obediência! Por isso, gerir, guiar, orientar, elucidar “isto tudo” é uma tarefa que considero hercúlea e nada fácil para quem agora o faz e principalmente para aqueles que agora se o propõem a o fazer. 
Quem pensar o contrário está completamente enganado!

O Grão-Mestre para além de um Irmão, terá de ser um “pai”, um “tio”, um “padrinho”, enfim, terá de ser o nosso “guia”, a nossa “Luz”. 
Aquele que nos apoiará, ensinará,representará, mas acima de tudo, que saiba nos colocar no nosso lugar!

Como já disse, não é uma tarefa fácil, e por vezes é mesmo ingrata em ser feita por não se compreenderem os motivos que levam a determinadas decisões, mas temos de as respeitar, por isso se diz que estamos numa “Obediência” apesar de sermos “livre-pensadores”.

Gerir pessoas nunca será fácil, pois gerir egos e comportamentos humanos nunca será fácil de o fazer, por isso o Grão-Mestre terá sempre de ser firme no seu pulso, sapiente nas suas decisões e ter alguma beleza nas suas ações; caso contrário será apenas mais um entre muitos e tal não pode suceder, ele é sempre o “Um”, o “Ele”, aquele a quem os holofotes estarão em permanência apontados, logo a sua conduta deverá  ser imaculada e de um primor tal que não possa envergonhar nunca aqueles que ele representa e dirige.
O cargo de Grão-Mestre implica uma humildade pessoal que tem de ostracizar qualquer sentido individualista e egocêntrico que possa subsistir na sua forma de estar e pensamento. 
- O “todo”(a Obediência) será sempre o mais importante!-
O nosso Reconhecimento e Regularidade terão de ser impreterivelmente sempre, uma das bitolas que o guiarão.

E concluindo, tal como fiz questão de salientar no início do texto, não abordei qualquer proposta de candidatura e nem fiz qualquer juízo de valor sobre nenhum dos atuais proponentes, mas isso não significa que não estive atento ao que foi traçado por qualquer uma das propostas para o futuro da Grande Loja.
No fim, ambos serão escrutinados e sufragados. Um será eleito para representar os demais, o outro fará o seu caminho nas “colunas”, desenvolvendo o seu trabalho maçónico tal como os restantes irmãos.
O importante é que será eleito um Irmão, um de “nós” e isso é que conta. O resto é pura conversa…

23 maio 2016

Plágio: uma vergonha! (em todo o lado e também em Palmas - Tocatins, Brasil)

(Tradução: Plágio - Não é dado crédito ao 
"furto de material publicado"
 com pequenas modificações efetuadas)

Para aprender, é preciso ler o que outros antes escreveram. É, pois, normal que quem escreve sobre qualquer tema consulte o que antes se escreveu e que o que escreve seja influenciado pelo que leu. 

Porém, inaceitavelmente incorreta é a tendência que infelizmente se vem notando de, mais do que escrever influenciado pelas ideias que previamente se leu, pura e simplesmente se fazer "corta-e cola", com leves alterações, de textos ou passagens de textos e fazer as passagens copiadas e cosmeticamente alteradas passar como sendo de sua autoria, omitindo a menção de que se está a citar texto alheio, não indicando como referência bibliográfica o texto canibalizado. 

Sou muito sensível  ao plágio, que, além de falta de respeito pelos autores dos textos surripiados, revela uma falha grave de caráter daqueles que utilizam o expediente.

Recentemente, deparei com uma superlativa forma de alguém se enfeitar com penas de pavão e ainda fazer crer que se é muito erudito: imputar passagens copiadas a obras antigas e respeitadas, como se o "autor" tivesse retirado da tal obra antiga a passagem, quando na realidade se limitou a fazer corta-e-cola de textos que encontrou na Internet...

Vamos a factos:

No número 2042 do Informativo JB News, encontra-se um texto intitulado "Compromisso do maçom para com sua Loja", tendo indicado como seu autor o Irmão Samuel Antonio Basso Chiessa, REAA 33, Venerável Mestre da Loja Cavaleiros Templários nr. 32 - Palmas - TO.

Autor do texto será - mas não de todo ele, que o mesmo tem corta-e-cola de, nada mais, nada menos, dois textos publicados no blogue A Partir Pedra.

Inicia-se o texto com esta passagem:

Quando se é admitido numa Ordem de tipo esotérico-iniciática tal como a Maçonaria é comumente definida, é habitual o novo membro efetuar um juramento no momento da sua admissão ou durante a execução de uma cerimônia iniciática, no qual se assume um determinado compromisso. E somente após a realização desse juramento é que o aprendiz é recebido e integrado no seio da respetiva Ordem. 

Eu, que tenho boa memória para estas coisas, tive logo a impressão que já tinha lido este parágrafo antes... e descobri onde. Ora leia-se lá o que escreveu o Nuno Raimundo no seu texto Juramento e compromisso maçónicos, publicado no blogue A Partir Pedra em 9 de dezembro de 2014, logo no primeiro parágrafo:

Quando se segue uma Via Espiritual ou se é admitido numa Ordem de tipo esotérico-iniciática tal como a Maçonaria se define, é habitual o novo membro efetuar um juramento no momento da sua admissão ou durante a execução de uma cerimónia de cariz iniciático, no qual se assume um determinado compromisso. E somente após a realização desse juramento é que o neófito é recebido e integrado no seio da respetiva Ordem. 

Valha a verdade que não é um corta-e-cola puro: o "autor" do texto publicado no JB News excluiu a passagem se segue uma Via Espiritual ou, substituiu se define por é comumente definida, de cariz iniciático por iniciática e neófito por aprendiz. Enfim, umas mudanças cosméticas... talvez para se poder dizer que não se copiou, escreveu-se diferente... Mas será que não seria muito mais honesto simplesmente no fim do parágrafo, colocar uma chamada para nota de pé de página e nesta escrever: Juramento e compromisso maçónicos, Nuno Raimundo, blogue A Partir Pedra, 9/12/2014?

Mas prossiga-se para o segundo parágrafo. Escreveu o dito "autor":

Começo este trabalho com uma boa assertiva: Maçonaria é um contínuo exercício de dar e receber entre cada maçom e os seus Irmãos, cada um aperfeiçoando-se através do que obtém do contributo do trabalho dos demais. A condição do sucesso nessa pretendida melhoria de todos pode resumir-se numa palavra: COMPROMISSO. (Nicola Aslan 1959). 

Veja-se o que tinha eu já escrito no blogue A Partir Pedra, em 16 de julho de 2014, no texto intitulado Compromisso:

Porque a Maçonaria é um contínuo exercício de dar e receber entre cada maçom e os seus Irmãos, cada um aperfeiçoando-se através do que obtém do contributo do trabalho dos demais, a condição do sucesso nessa pretendida melhoria de todos pode resumir-se numa palavra: COMPROMISSO.

Aqui o "autor" refinou a sua técnica. Colocou uma frase introdutória Começo este trabalho com uma boa assertiva:, retirou o Porque a do início do meu texto, transforma a segunda parte da frase num novo período e, no final, tem o desplante de acrescentar (Nicola Aslan 1959), deixando a impressão que se trata de uma frase que o arguto "autor" cita da obra daquele autor A História da Maçonaria, Editora Espiritualista Ltda, Rio de Janeiro (Rl), 1959.

Desafio o "autor" e qualquer outro interessado a encontrar este parágrafo na dita obra de Nicola Aslan. Ninguém o conseguirá. Pura e simplesmente, o "autor" copiou, com as referidas alterações, o primeiro parágrafo do meu texto e, em vez de citar o seu verdadeiro autor e o local de publicação do mesmo, preferiu apresentar-se como um "erudito conhecedor" da obra de 1959 de Nicolas Aslan, donde, tão a propósito, tinha recolhido a citação...

Passe-se agora para o quinto parágrafo da "criação" de Samuel Antonio Basso Chiessa. Escreveu ele ali - e qualquer incauto pensará que o texto saiu da cabeça dele:

COMPROMISSO em relação à assiduidade de cada um (pois quem não está, não participa). COMPROMISSO em relação ao cumprimento dos deveres de cada um, designadamente quanto ao pagamento das respectivas mensalidades e jóias (pois a manutenção da estrutura tem custos, que necessariamente têm de ser equitativamente suportados por todos os que a integram). COMPROMISSO em relação ao trabalho, ao estudo individual, em relação à partilha dos resultados do seu esforço.

Atente-se, porém, no segundo parágrafo do meu texto Compromisso:

COMPROMISSO em relação à assiduidade de cada um (pois quem não está, não participa). COMPROMISSO em relação ao cumprimento dos deveres de cada um, designadamente quanto ao pagamento das respetivas quotas (pois a manutenção da estrutura tem custos, que necessariamente têm de ser equitativamente suportados por todos os que a integram). COMPROMISSO em relação ao trabalho, ao estudo individual, em relação à partilha dos resultados do seu esforço.

Só não são iguaizinhos porque o esforçado "autor" substituiu quotas por  mensalidades e jóias. Azar: após o Acordo Ortográfico, agora o correto é escrever joias... Ou seja, o "autor" plagia e ainda por cima no que altera comete erro ortográfico! 

Mas, sejamos otimistas e vamos até ao final do texto. Talvez na bibliografia se indiquem os artigos publicados no blogue A Partir Pedra... Otimismo vão: nada consta a não ser a referência a duas obras de Nicolas Aslan que, suspeito, nem sequer nada terão a ver com o tema do texto...

É triste que alguém que se reclama ser maçom e do 33.º grau do REAA não tenha a ética suficiente de citar as fontes dos textos que elabora. O "autor" até poderia ter transcrito os parágrafos que transcreveu e ter efetuado as alterações que efetuou se tivesse, simplesmente, feito o que pessoas de bem e de boa fé fazem: citar os autores, textos e locais de publicação de onde retira passagens. Assim, infelizmente, maculou  o seu texto com a nefanda nódoa do plágio! O "autor" que assim procede terá passado por todos os Altos Graus do Rito Escocês Antigo e Aceite. Mas seguramente que não interiorizou as lições por eles transmitidas. Se o tivesse feito, saberia que o plágio é muito feio...

Que belo exemplo o Venerável Mestre da Loja Cavaleiros Templários n.º. 32, de Palmas - Tocatins deu aos seus obreiros!

Rui Bandeira 

16 maio 2016

"A Maçonaria e as Novas Tecnologias de Informação e Comunicação..."


A Respeitável Loja Mestre Affonso Domingues Nº5, Loja que acolhe os membros deste blogue, encontra-se inserida na denominada e reconhecida Maçonaria Regular, Maçonaria esta com um aspeto mais conservador e tradicional, uma vez que respeita e faz por respeitar os Landmarks maçónicos consagrados pela Grande Loja Unida de Inglaterra.
Mas apesar desta Maçonaria ser conservadora nos seus princípios, ela não se tornou arcaica nem deixou de evoluir com a passagem do tempo e teve de se adaptar às mudanças que foram ocorrendo com o progresso da sociedade, nomeadamente no que toca às "Novas Tecnologias".

No caso da Respeitável Loja Mestre Affonso Domingues Nº5, para além do blogue que está neste momento a visitar, ela tem também uma página na Internet que pode consultar aqui, para além da Obediência Maçónica em que está filiada, a Grande Loja Legal de Portugal/Grande Loja Regular de Portugal ter a sua página própria na "rede" que também pode ser visitada aqui.

Não somos caso único e ainda bem, pois com a proliferação de Lojas que têm presença na "rede", seja através de blogues, páginas  ou revistas/magazines,  é possível tanto a maçons como profanos, conhecer o trabalho feito por essas Lojas bem como da Maçonaria na sua generalidade.

Esta abertura ao mundo, descredibiliza à partida a suposta secreticidade da Maçonaria, imposta por algumas teorias conspiratórias que costumam usar como bandeira, o "segredo" "ou "sigilo" que a Maçonaria poderá impor aos seus membros. E mostrando o que as Lojas fazem, seja através de trabalhos escritos ou com a sua presença na Sociedade, através de ações beneméritas e filantrópicas, a Maçonaria mostra o que faz e porque o faz...
O que também possibilita aos profanos que se identificam com os princípios maçónicos solicitar a sua adesão e conhecer uma "porta" onde bater, o que levou exponencialmente ao aumento do número de adesões nas Lojas Maçónicas.

A partilha de trabalhos na "rede" permite porém, a quem se encontra longe dos grandes centros urbanos, ter uma forma de obter esses mesmos trabalhos que de outra forma lhe seriam mais difíceis de obter.
Para além do comércio eletrónico de produtos maçónicos que também se tornou um negócio promissor e a ter em conta também, aproveitando o crescente interesse que a Maçonaria despertou nos últimos anos.

Mas o menos positivo desta abertura às novas TIs, é que acaba por ser difundido muito material maçónico que ou não deve ser exposto publicamente por ser material da vida interna de cada Loja, bem como na maioria das vezes se tratar de material que nem verídico ou fidedigno será, levando ao engano alguns incautos e menos informados sobre aquilo que a Maçonaria trata. Esse de facto é para mim um dos graves problemas que afetam a Ordem Maçónica.

Às vezes aprende-se mais procurando diretamente nas "fontes" do que aceitar facilmente aquilo que se apresenta e sem qualquer trabalho. Aliás um dos "motes" da Maçonaria é trabalhar incessantemente em busca da iluminação/perfeição, pois nada se adquire ou atinge sem trabalho. 

E depois do que aflorei anteriormente, porque não efetuar uma busca num dos vários motores de busca existentes (ex:Google) sobre as várias Lojas Maçónicas que proliferam pelo globo e consultar os trabalhos efetuados pelos maçons por este mundo fora, ficando aqui esta minha sugestão. 

09 maio 2016

A Queda da Grande Loja da Harmónica Utopia - um pequeno conto



Mão amiga fez-me chegar o texto do pequeno conto que seguidamente publico. Este texto terá sido encontrado num pequeno e velho cofre que ganhava pó num sótão, dentro de um sobrescrito em cujo exterior estava rabiscado: PARA LER E DAR A LER EM PERÍODOS DE ESCOLHAS.

Na GLLP/ GLRP, entramos em período de eleição do Grão-Mestre para o próximo biénio. É a altura de ler e dar a ler este pequeno conto!

A Queda da Grande Loja da Harmónica Utopia 
A Harmónica Utopia era um lugar - bem, não foi nunca um lugar porque na verdade não existiu... - onde tudo acontecia de forma ideal.

Todos eram amigos, não havia infracções, os meninos e meninas eram todos excelentes alunos, não havia pobreza (nem mesmo a de espirito – bem, desta talvez houvesse...), nem fome, nem opressão, nem …

Tamanha perfeição era também timbre dos maçons da Grande Loja da Harmónica Utopia. Todos tinham já burilado as suas asperezas e imperfeições. Mais um pouco, muito pouco, e seriam todos “Grandes Arquitetos do Universo”!

Esse pouco era mesmo só o prescindir da disciplina (não fazia falta), da Justiça (porque não havia infrações que não se solucionassem com um abraço e uma conversa), da gestão (os anjos podiam fazê-lo em outsourcing), e, como tudo era ideal, não era preciso pagar quotas. 

Decidiu-se passar a assim proceder.

A partir de então, na Grande Loja da Harmónica Utopia, o Grão-Mestre não precisava de poder. Também para que precisaria disso, se os Irmãos eram todos tão cumpridores? Aliás, era sabido que o Grão-Mestre, quando deixasse o cargo, passaria a usar o titulo de Antigo Grande Arquiteto...

Um dia um homem malvado, talvez o único que ainda restasse, conseguiu disseminar a ideia que a Harmónica Utopia era isso mesmo, uma Utopia - e de repente o sonho acabou.

A Grande Loja da Harmónica Utopia também não resistiu e colapsou. O cobrador do fraque apareceu à porta, parece que queria receber. O Grão-Mestre ainda tentou uma conversa e um convencimento e uma solução harmoniosa, mas não foi suficiente! Então alguém com memória lembrou-se da “estória do grande alicate”.

Parece que no passado, quando ainda não se estava no máximo da Harmónica Utopia, o cobrador da electricidade veio cobrar umas contas atrasadas e que lhe contaram que era precisa a assinatura do Grande Tesoureiro e do Grande Secretário e do Grande ….. e que se ele fizesse o favor de passar na semana seguinte já haveria cheque. O homem lá fez isso e quando chegou, uma semana depois, lá lhe foi dito que já havia a assinatura do Grande e do outro Grande mas que o Grande estava no estrangeiro e que talvez na semana seguinte. O dito cobrador terá então retorquido: “não há qualquer problema, vou ali ao carro buscar o Grande Alicate e corto já a electricidade”.

E quando o Grão-Mestre quis saber como estavam a gestão e as contas e as listas de obreiros e os procedimentos, tudo estava entregue aos anjos do outsourcing e estes não tinham responsabilidade pois só trabalhavam com o que lhes era dado - e fazia dois anos que não lhes davam documentos (embora nunca o tivessem reportado e tivessem sempre recebido o seu cheque...).

E assim acabou a Harmónica Utopia e a sua Grande Loja.

 Felizmente que esta fábula não passa de um sonho. Ou será pesadelo?


Como não gosto de me enfeitar com penas de pavão, garanto que este texto não é de minha autoria. Aliás, nem sequer tenho qualquer jeito para a ficção. Mas subscrevo-o na íntegra. 

Prezo muito a Harmonia - mas não pode haver harmonia sem disciplina, sob pena de ocorrer rapidamente a degradação numa anárquica aparência de organização, em que os mais "fortes", ou os mais "espertos", ou os mais "próximos" mandam e põem e dispõem e os restantes... harmonizam!

Prezo muito a Tolerância. Mas Tolerância não implica não haver Justiça e não serem sancionadas as condutas que violem as obrigações assumidas e as normas vigentes. Até por uma questão de Igualdade entre todos: se uns quantos podem infringir diretamente as normas e - em nome de uma alegada "Harmonia" e de uma enviesada "Tolerância" - não verem punidas as suas condutas, por que razão os demais haveriam de cumprir as normas? Nesse caso, cada um faria o que entendesse, quando entendesse, pela forma que entendesse, segundo o seu livre alvedrio e ao arrepio das normas e das decisões de quem foi eleito para as tomar e alegremente se caminharia rumo à Grande Loja da Harmónica e Tolerante... Anarquia.

Invocar como argumentos eleitorais a prevalência da Harmonia sobre a Disciplina e da Tolerância sobre a Justiça não tem sentido. Afinal, uma Grande Loja é uma Obediência Maçónica - não uma Desobediência...

Cada um pensa por si e decide por si. Mas eu, quando vejo certas posições, lembro-me sempre de um excerto de uma velha canção de Lena d´Água (letra e música de Luís Pedro Fonseca):

Demagogia feita à maneira
É como queijo numa ratoeira

P’ra levar a água ao seu moinho
Têm nas mãos uma lata descomunal
Prometem muito pão e vinho
Quando abre a caça eleitoral
Desde que se vêem no poleiro
São atacados de amnésia total

Disse!

Rui Bandeira

02 maio 2016

Esquadro e compasso (republicação)

Hoje faço a republicação de uma reflexão singela que o Rui Bandeira efetuou em Dezembro de 2013 e que pode ser consultado no seu original aqui.

"Esquadro e compasso

Talvez o mais conhecido dos símbolos da Maçonaria seja o que é constituído por um esquadro, com as pontas viradas para cima, e um compasso, com as pontas viradas para baixo.

Como normalmente sucede, várias são as interpretações possíveis para estes símbolos.

É corrente afirmar-se que o esquadro simboliza a retidão de caráter que deve ser apanágio do maçom. Retidão porque com os corpos do esquadro se podem traçar facilmente segmentos de reta e porque reto se denomina o ângulo de 90 º que facilmente se tira com tal ferramenta. Da retidão geométrica assim facilmente obtida se extrapola para a retidão moral, de caráter, a caraterística daqueles que não se "cosem por linhas tortas" e que, pelo contrário, pautam a sua vida e as suas ações pelas linhas direitas da Moral e da Ética. Esta caraterística deve ser apanágio do maçom, não especialmente por o ser, mas porque só deve ser admitido maçom quem seja homem livre e de bons costumes.

É também corrente referir-se que o compasso simboliza a vida correta, pautada pelos limites da Ética e da Moral. Ou ainda o equilíbrio. Ou a também a Justiça. Porque o compasso serve para traçar circunferência, delimitando um espaço interior de tudo o que fica do exterior dela, assim se transpõe para a noção de que a vida correta é a que se processa dentro do limite fixado pela Ética e pela Moral. Porque é imprescindível que o compasso seja manuseado com equilíbrio, a ponta de um braço bem fixada no ponto central da circunferência a traçar, mas permitindo o movimento giratório do outro braço do instrumento, o qual deve ser, porém, firmemente seguro para que não aumente ou diminua o seu ângulo em relação ao braço fixo, sob pena de transformar a pretendida circunferência numa curva de variada dimensão, torta ou oblonga, assim se transpõe para a noção de equilíbrio, equilíbrio entre apoio e movimento, entre fixação e flexibilidade, equilíbrio na adequada força a utilizar com o instrumento. Porque o círculo contido pela circunferência traçada pelo instrumento se separa de tudo o que é exterior a ela, assim se transpõe para a Justiça, que separa o certo do errado, o aceitável do censurável, enfim, o justo do injusto.

Também é muito comum a referência de que o esquadro simboliza a Matéria e o compasso o Espírito, aquele porque, traçando linhas direitas e mostrando ângulos retos, nos coloca perante o facilmente percetível e entendível, o plano, o que, sendo direito, traçando a linha reta, dita o percurso mais curto entre dois pontos, é mais claro, mais evidente, mais apreensível pelos nossos sentidos - portanto o que existe materialmente. Por outro lado, o compasso traça as curvas, desde a simples circunferência ao inacabado (será?) arco de círculo, mas também compondo formas curvas complexas, como a oval ou a elipse. É, portanto, o instrumento da subtileza, da complexidade construída, do mistério em desvendamento. Daí a sua associação ao Espírito, algo que permanece para muitos ainda misterioso, inefável, obscuro, complexo, mas simultaneamente essencial, belo, etéreo. A matéria vê-se e associa-se assim à linha direita e ao ângulo reto do esquadro. O espírito sente-se, intui-se, descobre-se e associa-se portanto ao instrumento mais complexo, ao que gera e marca as curvas, tantas vezes obscuras e escondendo o que está para além delas - o compasso.

Cada um pode - deve! - especular livremente sobre o significado que ele próprio vê nestes símbolos. O esquadro, que traça linhas direitas, paralelas ou secantes, ângulos retos e perpendiculares, pode por este ser associado à franqueza de tudo o que é direito e previsível e por aquele à determinação, ao caminho de linhas direitas, claro, visível, sem desvios. O compasso, instrumento das curvas, pode por este ser associado à subtileza, ao tato, à diplomacia, que tantas vezes ligam, compõem e harmonizam pontos de vista à primeira vista inconciliáveis, nas suas linhas direitas que se afastam ou correm paralelas, oportunamente ligadas por inesperadas curvas, oportunos círculos de ligação, improváveis ovais de conciliação; enquanto aquele, mais sensível à separação entre o círculo interior da circunferência traçada e tudo o que lhe está exterior, prefere atentar na noção de discernimento (entre um e outro dos espaços).

E não há, por definição, entendimentos corretos! Cada um adota o entendimento que ele considera, naquele momento, o mais ajustado e, por definição, é esse o correto, naquele momento, para aquela pessoa. Tanto basta!

O conjunto do esquadro e do compasso simboliza a Maçonaria, ou seja, o equilíbrio e a harmonia entre a Matéria e o Espírito, entre o estudo da ciência e a atenção às vias espirituais, entre o evidente, o científico, o que está à vista, o que é reto e claro e o que está ainda oculto ou obscuro. O esquadro é sempre figurado com os braços apontando para cima e o compasso com as pontas para baixo. Ambas as figuras se opõem, se confrontam: mas ambas as figuras oferecem à outra a maior abertura dos seus componentes e o interior do seu espaço. A oposição e o confronto não são assim um campo de batalha, mas um espaço de cooperação, de harmonização, cada um disponibilizando o seu interior à influência do outro instrumento. Assim também cada maçom se abre à influência de seus Irmãos, enquanto que ele próprio, em simultâneo, potencia, com as suas capacidades, os seus saberes, as suas descobertas, os seus ceticismos, as suas respostas, mas também as suas perguntas (quiçá mais importantes estas do que aquelas...) a modificação, a melhoria, de todos os demais.

Tantos e tantos significados simbólicos podemos descobrir e entrever nos símbolos mais conhecidos da Maçonaria... Aqui deixei, em apressado enunciado, alguns. Cada um é livre, se quiser, de colocar na caixa de comentários, o seu entendimento do significado destes símbolos, em conjunto ou separadamente, ou apenas de um só deles. Todos os significados simbólicos são bem-vindos! Cada um é também livre de, se quiser, nada partilhar, guardando para si as conclusões que nesse momento tire. Tão respeitável é uma como outra das posições. Este espaço é livre e de culto da Liberdade. Afinal de contas, tanto o esquadro como o compasso estão abertos... abertos às livres opções, entendimentos e escolhas de cada um!

Rui Bandeira"