15 fevereiro 2008

Homenagem a Aristides Sousa Mendes

A Respeitável Loja Aristides Sousa Mendes, n.º 32 da GLLP/GLRP, levou a cabo ontem, dia 14 de Fevereiro, uma sessão comemorativa do seu 11.º aniversário e de homenagem ao seu patrono, o Cônsul que, desobedecendo a Salazar, emitiu vistos válidos para entrada em Portugal a cerca de 30.000 refugiados, muitos deles judeus, que fugiam do avanço das tropas de Hitler e do colaboracionismo do regime de Vichy.

A sessão realizou-se numa sala de um hotel de Lisboa, para o efeito preparada e decorada segundo os trâmites do Rito de York, o rito praticado pela Respeitável Loja Aristides Sousa Mendes. Os trabalhos foram ritualmente abertos e posteriormente suspensos, sendo então franqueada a entrada na sala aos convidados, familiares e amigos de Aristides Sousa Mendes, familiares dos obreiros da Loja e maçons visitantes, representante da Fundação Aristides Sousa Mendes, da Comunidade Israelita de Lisboa e da Embaixada de Israel em Lisboa e senhoras da Ordem da Rosa (organização de senhoras esposas e companheiras de maçons, associada aos Altos Graus do Rito de York).

A homenagem a Aristides Sousa Mendes consistiu na apresentação pública de dois trabalhos sobre a vida e obra do homenageado, na entrega à Fundação Aristides Sousa Mendes, na pessoa do seu representante, do diploma de persona grata concedido pelo Muito Respeitável Grão-Mestre da Grande Loja Legal de Portugal/Grande Loja Regular de Portugal e na imposição, na pessoa do neto do homenageado, Major Álvaro Sousa Mendes, do Grande Colar da Ordem General Gomes Freire de Andrade, condecoração maçónica concedida, a título póstumo, a Aristides Sousa Mendes, em reconhecimento da sua conduta de alto significado moral e humanitário, pelo Grão-Mestre da GLLP/GLRP.

Discursaram, relembrando Aristides Sousa Mendes e sua mulher, Angelina, a sua histórica decisão e o alto preço que por ela pagou - o afastamento e o ostracismo imposto por Salazar - e manifestando a sua alegria e reconhecimento pela homenagem prestada, o representante da Fundação Aristides Sousa Mendes, que igualmente divulgou os princípios e objectivos da Fundação, e um neto do homenageado.

Ainda no âmbito das comemorações do aniversário da Respeitável Loja anfitriã, procedeu-se à realização da Cerimónia da Lembrança, sentida forma de recordar e homenagear os maçons da GLLP/GLRP que já passaram ao Oriente Eterno.

Depois de concluídas as cerimónias e homenagens, todos os ilustres convidados abandonaram a sala, após o que os trabalhos da Loja retomaram força e vigor e se procedeu ao seu ritual encerramento.

Os obreiros e ilustres convidados presentes juntaram-se seguidamente num agradável e animado ágape, no decorrer do qual houve lugar à recitação de poemas por dois profissionais do espectáculo, que, graciosa e simpaticamente, se disponibilizaram para o efeito, e a dois momentos musicais, um a cargo de um grupo de que faz parte um filho de um obreiro da Respeitável Loja Aristides Sousa Mendes, que executou, com agrado geral, duas composições musicais, a última das quais de homenagem a Aristides Sousa Mendes, e o outro a cargo de dois obreiros da Loja Mestre Affonso Domingues, Acácio R. (executante de guitarra clássica) e Alexis B. (balalaica e violino), que executaram diversas obras musicais, com as conhecidas mestria e alta qualidade, já familiares aos obreiros da nossa Loja, mas que muito impressionaram os convidados.

Estiveram presentes na sessão e no ágape, além dos obreiros da Respeitável Loja anfitriã, o Muito Respeitável Grão-Mestre, acompanhado de luzida e numerosa comitiva de Grandes Oficiais, e obreiros visitantes de diversas Lojas da Obediência. A Loja Mestre Affonso Domingues fez-se representar por uma delegação composta pelo seu Venerável Mestre, JPSetúbal, três Mestres, todos Ex-Veneráveis, Rui Bandeira, Miguel R. e Paulo FR, um Companheiro, João M., e um Aprendiz, Alberto G.. Estiveram ainda presentes mais dois obreiros da Loja Mestre Affonso Domingues, mas na sua qualidade de Grandes Oficiais da GLLP/GLRP, integrando a comitiva do Muito Respeitável Grão-Mestre, no caso o Vice-Grão-Mestre José M. e o Grande Organista Alexis B.. Apenas ao ágape juntou-se o Acácio R..

Tendo-se verificado que um dos objectivos prosseguidos pela Fundação Aristides Sousa Mendes é a dinamização de doações de sangue, ficou logo projectada a futura colaboração da Loja Mestre Affonso Domingues, através do seu Grupo de Dadores de Sangue, e da Fundação em futuras acções de dinamização de doações de sangue. Para o efeito, ficou aprazada para muito breve uma reunião entre o Venerável Mestre da Loja Mestre Affonso Domingues e responsáveis da Fundação.

Que maneira melhor tínhamos nós de homenagear Aristides Sousa Mendes?

Rui Bandeira

4 comentários:

Paulo M. disse...

O texto de hoje é interessante porque, ao descrever um "evento social" (ou profano, porque não restrito a maçons) nos permite entrever até que ponto se expõem (ou não) os maçons aos profanos, o que me levantou duas questões.

A primeira é uma curiosidade simples de responder: existe alguma organização semelhante à Ordem da Rosa, mas para o REAA?

A segunda é uma que me deixa alguma perplexidade, e que tem que ver com a revelação da condição de maçons pelas pessoas referidas no texto como tal. Por um lado, estiveram presentes profanos, que puderam ver duas pessoas tocar instrumentos, mas que poderiam não ter identificado como maçons. Ora, o Rui escreve aqui que o são, e revela mesmo os seus nomes próprios. Ficando assim revelada a sua cara aos profanos presentes, e revelado que são maçons, de que serve ocultar o seu apelido por detrás de uma letra? Por outras palavras: se quisessem revelar-se, não obstariam à sua plena identificação; se não o quisessem, não deveriam permitir que se dissesse que os músicos eram maçons - isto na minha cabeça. Deve, portanto, estar a falhar-me qualquer coisa de essencial, mas não vejo o quê... Querem deitar alguma luz sobre esta questão?

Um abraço,
Simple Aureole

Rui Bandeira disse...

@ simple.

1. Em Portugal, não existe organização semelhante à ordem da Rosa para o REAA. NO estrangeiro, não sei. Cada Obediência e cada sistema de Altos Graus é soberano de cooperar ou não com organizações de senhoras que porventura existam.

2. Os dois maçons que tocaram no ágape (Alexis B. e Acácio R.)fizeram-no sabendo que iam actuar perante profanos e sendo identificados por esses profanos como maçons. Digo-lhe mesmo mais: na ocasião foram apresentados perante toda a audiência com os respectivos nomes próprios e apelidos. Eles aceitaram expor-se como maçons perante AQUELES profanos.
É lógico que, no bloue, público por excelência, mantenho a sua reserva de identidade...
Mas deixe que lhe acrescente ainda mais outra coisa: TODOS os maçons que estiveram presenes no evento se expuseram perante AQUELES profanos que aí estiveram... Escolheram fazê-lo, aceitaram fazê-lo.
Um abraço.

Paulo M. disse...

@ Rui:

Obrigado. Acho que, mais coisa menos coisa, percebi assim... um bocadinho mais ou menos. É que, posta assim, a reserva de identidade dos maçons parece um rabo escondido com o gato de fora.

Por outro lado, um maçon que não queira, de todo, ser conhecido, mais não deverá fazer que abster-se de aparecer em público como tal - o que nem sempre dará muito jeito.

Um abraço,
Simple Aureole

Micas10 disse...

Muito interessante!
Para recuperar a memória do Acto de Consciência de Aristides de Sousa Mendes vai ser necessário juntar os esforços de todos os Amigos de Aristides e Angelina de Sousa Mendes!
Ver notícias em http://amigosdesousamendes.blogspot.com