07 maio 2008

Inês: balanço

A campanha a favor da Inês foi lançada aqui no blogue em 8 de Abril. Para além de pequenas referências nos rodapés dos textos publicados, desde então, durante o mês de Abril, dedicámos à campanha um segundo texto em 14 de Abril e ainda um terceiro em 22 de Abril, neste indicando que a campanha duraria até ao final do mês. É tempo de balanço.

Os donativos recebidos em resultado da campanha atingiram o montante de 250,00 euros, montante que será entregue aos pais da Inês no final do corrente mês, conjuntamente com o resultado da recolha de fundos que a Loja Mestre Affonso Domingues está internamente a efectuar.

O montante de 250,00 euros obtido através da campanha aqui no blogue não é muito nem pouco, isto é, não supera nem defrauda as expectativas. Associado a outros montantes recolhidos, dará certamente um alívio e permitirá um pequeno desafogo à Inês e sua família.

Devo, no entanto, confessar que a forma como se atingiu este montante me deixa algo desiludido e com um leve amargor na boca. Não seria assim se tivesse verificado que este montante fora atingido, por exemplo, com 25 donativos de 10 euros. Aliás, por várias vezes que, quer nos textos principais, quer nos textos de rodapé, se frisou que nenhuma quantia era demasiado pequena...

Porém, o que sucedeu é que o montante obtido resultou de 2 - dois - donativos!

Entre 8 e 30 de Abril, o contador de visitas ao blogue registou 3.937 visitas ao blogue. Destas, admito que metade sejam ocasionais e de internautas não propriamente particularmente interessados nestas coisas da maçonaria, do aperfeiçoamento pessoal e da solidariedade - não será por acaso que o artigo presentemente mais lido do blogue é o dedicado ao sítio das tatuagens maçónicas e que a etiqueta "curiosidades" seja a terceira mais procurada (apesar de, no corrente ano, nenhum texto ter sido marcado com essa etiqueta). Por outro lado, cerca de dois terços das visitas a este blogue são provenientes do Brasil. Quer pela distância, geradora de distanciamento, quer pelos custos das transferências bancárias internacionais, desde o início que admiti que dificilmente seria possível que a Inês recebesse muitos donativos vindos dessa proveniência. Mas ainda admiti que um ou dois pudesse passar essa barreira de dificuldade e desmotivação... Assim, das putativas 1.968 visitas de pessoas especificamente interessadas nos temas deste blogue, admiti que só um terço constituísse o "mercado alvo" do apelo, ou seja 656.

Dado que muitas dessas visitas são - felizmente! - efectuadas por visitantes regulares, calculo que não será exagerado admitir que pelo menos 66 pessoas interessadas, próximas e persistentes visitaram o blogue no decorrer da campanha. Destes, admito que metade tenha efectuado donativos para a Inês através de outros meios, designadamente nas recolhas de fundos a que se procedeu em várias Lojas.

Mesmo assim, resta um universo de 33 pessoas interessadas, próximas, persistentes e solidárias.

Pois bem, destas consegui que os princípios de solidariedade fossem transformados em acto prático por duas. Falhei esse objectivo com 31.

Tratando-se de pessoas interessadas, próximas, persistentes e solidárias, se não foram tocadas ao ponto de passarem à prática os seus princípios e sentimentos, a culpa só pode ter sido minha e da minha incapacidade de as motivar.

Daí o amargor da minha boca. Porque o reconhecimento da nossa própria incompetência deixa-nos esse amargor.

Só me restam duas coisas a fazer: uma, procurar conseguir ser melhor, mais competente, mais impressivo para a próxima; a outra, pedir desculpa à Inês, à sua família e aos leitores deste blogue pela minha incompetência!

Rui Bandeira

2 comentários:

Paulo M. disse...

Caro Rui:

Pelo que vou aprendendo da Maçonaria, versa esta sobre o melhoramento de cada um, e não sobre o melhoramento dos outros. Por outro lado, já Saint-Exupéry punha na boca do Rei as sábias palavras: "Se eu ordenasse a um meu general que voasse de flor em flor como uma borboleta, ou que escrevesse uma tragédia, ou que se transformasse em gaivota, e o general não executasse a ordem recebida, quem - ele ou eu - estaria errado?"

Tentar contrariar a natureza - o que, em nós, já é sobejamente difícil - é receita certa para a frustração quando tentado contra a natureza dos outros. Sucede que é tão perfeitamente compreensível quanto era previsível a frustração do Rui, pois a parede que ele não conseguiu derrubar é aquilo a que os psicólogos chamam o "efeito de espectador", e que consiste num fenómeno muito fácil de explicar: se virmos uma pessoa em dificuldades e formos a única pessoa que a pode ajudar, é grande a probabilidade de que o façamos, pois sentimo-nos compelidos a isso; contudo, se houver dezenas ou centenas de pessoas na mesma circunstância que nós, deixamos de nos sentir responsabilizados, uma vez que "certamente outro ajudará". O problema é que todos os "outros" pensam rigorosamente o mesmo... e ninguém faz nada. É tristemente célebre - e perfeitamente paradigmático - o caso de uma senhora que caiu numa via rápida e ficou estendida no chão, sem se poder mexer, enquanto dezenas de carros passavam e se desviavam sem que alguém parasse para lhe prestar auxílio.

Uma forma de quebrar o ciclo da apatia numa circunstância destas é ir mostrando, ao longo do tempo, em que medida o apelo vai tendo (ou não) efeito. Não é por acaso que muitos sistemas de votação online mostram os gráficos de resultados logo após a votação de cada pessoa, providenciando um feedback imediato que permite que cada um veja o resultado - e a utilidade - do seu contributo. O efeito da indiferença (especialmente se anónima) é, contudo, muito poderoso, e quase impossível de enfrentar com sucesso, pelo que, no meu humilde entendimento, o Rui de nada tem que se penitenciar. Dizem que um dos primeiros passos para se atingir a felicidade é assumir - e aceitar - as nossa próprias limitações...

Um grande abraço,
Simple

Nuno Raimundo disse...

Não creio que se trate de falta de incompetência do Rui, pois não tenho como tal.
Mas antes culpabilizo a crise que vai afectando a toda a gente.
Sei que por mais pequeno que seja um donativo, ele é sempre válido, pois já fiz uma campanha parecida com esta, para o filho de um amigo meu ir aos States em tratamento.
O problema é que muita gente se envergonha do pequeno montante que poderá despender para estas iniciativas, e mesmo que seja pouco para muitos, é sempre muito para alguns...

abr...prof...