23 outubro 2008

Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 - Base XIV


BASE XIV

DO TREMA


O trema, sinal de diérese, é inteiramente suprimido em palavras portuguesas ou aportuguesadas. Nem sequer se emprega na poesia, mesmo que haja separação de duas vogais que normalmente formam ditongo: saudade, e não saüdade, ainda que tetrassílabo; saudar, e não saüdar, ainda que trissílabo; etc. Em virtude desta supressão, abstrai-se de sinal especial, quer para distinguir, em sílaba átona, um i ou um u de uma vogal da sílaba anterior, quer para distinguir, também em sílaba átona, um i ou um u de um ditongo precedente, quer para distinguir, em sílaba tónica/tônica ou átona, o u de gu ou de qu de um e ou i seguintes: arruinar, constituiria, depoimento, esmiuçar, faiscar, faulhar, oleicultura, paraibano, reunião; abaiucado, auiqui, caiuá, cauixi, piauiense; aguentar, anguiforme, arguir, bilíngue (ou bilingue), lingueta, linguista, linguístico; cinquenta, equestre, frequentar, tranquilo, ubiquidade.

Obs.: Conserva-se, no entanto, o trema, de acordo com a Base I, 3º, em palavras derivadas de nomes próprios estrangeiros: hübneriano, de Hübner, mülleriano, de Müller, etc.

Em Portugal, já há muitos anos que o trema tinha sido suprimido. Só agora, com o Acordo Ortográfico recentemente entrado em vigor, idêntica supressão ocorre no Brasil.

Tal como alguns intelectuais em Portugal se pronunciaram contra o Acordo Ortográfico, defendendo a manutenção da prioridade à etimologia sobre a fonética, também no Brasil alguns ilustres manifestaram discordância. Um dos polos desta, no Brasil foi precisamente a supressão do trema. João Ubaldo Ribeiro, grande escritor, apreciado em ambos os lados do Atlântico, chegou a clamar: Devolvam-me os meus tremas!

Em Portugal, os opositores do Acordo, sobretudo referindo a supressão das consoantes não pronunciadas, clamaram que este era uma cedência à norma de escrita brasileira. Porventura no Brasil alguns entenderão que a supressão do trema é uma cedência brasileira à norma de escrita lusa. Nem sequer discuto se, em qualquer caso, há ou não cedências. Mesmo que haja, não vejo qual o problema. Um Acordo é isso mesmo: cedências mútuas em relação às posições iniciais de forma a que se atinja uma posição conjunta.

Tal como em Portugal rapidamente se perceberá que as consoantes não pronunciadas não fazem falta nenhuma, também no Brasil não demorará muito a perder-se a nostalgia do trema, que um dia será lembrado como um exotismo semelhante ao ph que em tempos estava na pharmácia... E o trema vai passar a ser apenas coisa de alemão!

Rui Bandeira

1 comentário:

Paulo M. disse...

Isto é que tem sido uma maratona! O que vale é que o acordo "só" tem XXI bases... Já só faltam sete!!!

Um abraço,
Simple