22 junho 2011

Lição de um Mestre ao seu Aprendiz - V



Meu Irmão, finalmente estás onde deves estar, estás entre nós! Sempre que um novo elemento se junta a nós, toda a Loja se alegra. Mais um homem bom quer tornar-se melhor e, fazendo-o, nos ajudará, a todos e cada um de nós, a sermos um pouco melhores também! Sê, pois, muito bem-vindo, Irmão. Todos esperamos que, sempre, gostes tantos de estar connosco como – não o duvides! – todos e cada um de nós gostaremos sempre de estar contigo.

Hoje, encerrou-se um ciclo na tua vida e iniciaste um novo ciclo. Hoje, deixaste para trás a tua vida profana e iniciaste o teu percurso como maçom. E não duvides também que, a partir de hoje, em todos os aspetos da tua vida, em todos os momentos dela, em todos os locais onde te encontrares, com quem estiveres, não mais estará apenas o homem que há algumas horas entrou neste edifício – a partir de agora, sempre, em todos os lugares, com todas as pessoas, estará o maçom! Porque passaste por uma Iniciação que, a ti, como a milhões de outros antes de ti, subtilmente já te começou a mudar e que, se é esse o teu sincero propósito – e todos nesta sala acreditámos e acreditamos que sim! – te ajudará a melhorar, um pouco cada dia, mas sempre e sempre e mais e mais.

A partir de agora, tens muitos símbolos para estudar, para sobre eles meditares, tirares tuas conclusões e aplicares essas conclusões em ti, na tua vida, no teu comportamento. É esse, em síntese, o nosso método, o método maçónico que desde tempos imemoriais os maçons de todo o mundo usam. Basta olhares em teu redor e verás objetos, representações, mas também gestos, palavras, atos, condutas, que, tudo isso, tem significado simbólico que a ti te cabe descobrir, para que uses essas tuas descobertas em benefício de ti próprio, não do que hoje és, mas do que vais ser, do que vais ser em cada dia sendo um pouco diferente e melhor do que no dia anterior.

Muitos símbolos te rodeiam, mas agora quero apenas chamar-te particularmente a atenção para dois, que não escolhi ao acaso. Dois que, sei-o porque mo disseste, especialmente te tocam: o maço e o cinzel.

O maço e o cinzel são as ferramentas básicas com que deves, de imediato, começar a trabalhar. Simboliza o maço a força, o poder, a energia que transmite ao cinzel, a ferramenta subtil que, aproveitando a Força que lhe é transmitida pela energia da mão que empunha o maço, utilizando-a, distribuindo-a harmoniosamente com a sua ponta, mediante o seu sábio manuseio, em variados ângulos de colocação sobre a pedra, desbasta esta, retira as suas asperezas, transforma a rudeza do informe bloco em trabalhada e lisa pedra que, com sua devida esquadria, está apta a ser colocada no espaço que lhe está destinado na construção.

Assim também deves recordar-te em todos os momentos que sempre, mas sempre mesmo, deves diligenciar para que o maço da tua Força de Vontade seja aplicado com o cinzel da Sabedoria na pedra bruta que é o teu caráter, desbastando-lhe as asperezas, as irregularidades, retirando-lhe e reparando-lhe as imperfeições, moldando-o com a devida esquadria para que se integre harmoniosamente na sociedade e constitua uma forte e bela pedra essencial ao todo em que se integra.

As asperezas, as irregularidades, as imperfeições que hás de, dia a dia, um pouco de cada vez, mas persistentemente, ir retirando de ti próprio, tu, melhor do que ninguém, saberás, descobrirás, quais são. E tu próprio alterarás o que tiveres a alterar. Ninguém o fará por ti!

Para isso, precisas de, permanentemente te conheceres, cada vez mais e melhor, a ti próprio. Só assim saberás – tu e mais ninguém – o que aperfeiçoar, onde e como trabalhar, para que amanhã estejas um pouco melhor do que hoje.

Portanto, meu muito prezado Irmão, pega no teu maço, manuseia o teu cinzel e desbasta tua pedra. O resultado do teu trabalho será, mais cedo ou mais tarde, verificado por todos, mesmo os mais distraídos. Mas, antes e acima de tudo e de todos, será apreciado por ti próprio, que, em resultado do teu trabalho, desde que sério, desde que persistente e incessante, te sentirás cada dia mais forte, mais apto, melhor. Sobretudo contigo mesmo!

Rui Bandeira

5 comentários:

Marcos Amaro disse...

Estimado Rui Bandeira;

Este texto agrada-me de forma muito especial, pois faz-me lembrar algo.

O Maço manobrado com consciência e com a noção da força que deve de ser aplicada, pode, sem dúvida, permitir, a quem o manuseia, olhar para a Pedra Bruta e idealizar o que poderá ser, essa mesma Pedra Bruta, depois de trabalhada.

Da forma que a força é aplicada sobre o Cinzel e dependendo do Ângulo, que se aplica ao mesmo, poderemos trabalhar a Pedra, nos exactos pontos onde ela necessita de ser trabalhada, sem que por esse trabalho a ponta, do Cinzel, sofra danos e a Pedra fique beliscada de forma irremediável.

Creio que o trabalho feito com tempo, consciência, método, projecto e plano de acção, permite que antes de se aplicar o Maço, sobre o Cinzel, se consiga ter consciência da força necessária a aplicar ao Maço, e calcular o Ângulo, do Cinzel, para que este desbaste seja feito na medida certa, e as Asperezas da Pedra Bruta possam ser eliminadas.

No entanto o manuseio destas e de todas as outras ferramentas necessitam da explicação de quem delas mais conhecimento têm, por isso o Trabalho do Aprendiz é sem duvida o reflexo de quem com Mestria o guiou e de quem as Ferramentas lhe passou.

Bem-haja quem com Mestria conduz, os Trabalhos, e do seu saber, de Mestre, disponibiliza o conhecimento a quem dele quiser retirar ensinamentos.

JPA disse...

Que o aprendiz cinzele com pancadas precisas e eficientes a pedra bruta que é. E que não se esqueça de ir rectificando as esquadrias formadas, pois precisa de tempo e ajuda, a pedra cúbica aparecerá.

Bom São João a todos
JPA

Candido disse...

Mas se entretanto a pedra for rejeitada pelos mestres, outros a poderão aproveitar e fazer dela uma pedra angular!
Obg

Nuno Raimundo disse...

Boas...

Uma bela Prancha que acima de tudo incute empenho e vontade em trabalhar...
Tudo o que um Maçom precisa para "desbastar a sua pedra".

TAF

GMPEDRAS disse...

Sr. Rui Bandeira
Este texto trouxe-me alegria e desprendimento ao perceber que mais gente (e gente com profundo conhecimento) observa a vida das pessoas e as compara com as pedras.
Escrevo o blog gmpedras@blogspot.com contando tudo (sem ser pretensioso)sobre as pedras, desde sua formação geológica passando por ditos populares até conceitos de vida e comparativos com saúde e religião.
Passarei a ler mais sobre os textos do "A Partir Pedra", e na medida do possível a divulgá-lo também aqui na cidade onde moro.
Não sou "irmão" mas admiro vosso trabalho.
GSM
Curitiba/Paraná/Brasil