01 maio 2013

O Mestre Maçom perante o Aprendiz e o Companheiro


Qual a palavra que melhor define o que deve ser o Mestre Maçom perante o Aprendiz e o Companheiro?

Na minha opinião, não é "Mestre", nem "formador", nem "ensino". É certo que os Aprendizes e Companheiros estão em período de formação, de aprendizagem e prática sobre símbolos e simbologia, valores, propósitos e objetivos. É também certo que a formação de Aprendizes e Companheiros é enquadrada e proporcionada pelos Mestres da Loja. Aliás, no Rito Escocês Antigo e Aceite - e não só - existe um Mestre da Loja com a específica responsabilidade de coordenar a formação dos Companheiros - o Primeiro Vigilante - e um outro com idêntica responsabilidade em relação aos Aprendizes - o Segundo Vigilante. Também é comum, e certo, o entendimento de que o Padrinho (isto é, o proponente da admissão do então ainda profano na Loja) tem o especial dever de acompanhar e auxiliar o Aprendiz ou o Companheiro cuja entrada na Loja patrocinou, quer na sua integração no coletivo que é a Loja, quer na sua formação.

Mas, sendo tudo isto certo, sempre entendi e defendi que, em bom rigor, a Maçonaria não se ensina, aprende-se, isto é, os Mestres proporcionam os meios, propõem os conceitos, guiam os Aprendizes e Companheiros no seu trabalho, mas o essencial está no trabalho do próprio Aprendiz ou Companheiro, no seu esforço, no seu compromisso, perante si próprio, de ser e fazer melhor, sempre melhor. O trabalho do maçom é sempre e inapelavelmente individual, embora executado no seio e com o auxílio do grupo que é a Loja. Mas o determinante é o desbaste que o cinzel, sob a pancada do malho, ambos empunhados pelo maçom, efetua na pedra que está a ser desbastada, o próprio que maneja as ferramentas de desbaste. Esse é o trabalho essencial, o que tem vero significado, o que importa. Esse é o trabalho que mais ninguém executa, nem pode executar, senão o próprio em si mesmo. Tudo o resto é acessório. E, porque assim é, não é o que se ensina, ou quem ensina, ou como ensina, que releva. O que releva é tão só o que se aprende.

No meu entendimento, a palavra que melhor define o que deve ser o Mestre Maçom perante o Aprendiz e o Companheiro é "exemplo".

Precisamente porque aquele que está a aprender a aprender é influenciado, formado, preparado, mais do que pelas palavras, mais do que por lições, mais do que por explicações ou exposições, pelos atos de quem vê como mais antigo, mais experiente, mais "sabedor", mais "qualificado". Em Maçonaria não vigora, não deve vigorar, seria inaceitável que vigorasse, o dito popular "Bem prega frei Tomás, faz o que ele diz, não faças o que ele faz". A melhor pedagogia, a mais eficaz, a que realmente vale a pena, é a do exemplo.

Não nos esqueçamos que os Aprendizes e Companheiros, sendo jovens membros da Loja, não são, porém, imaturos infantes na vida... Pelo contrário, são pessoas desenvolvidas, com as suas competências sociais inteiramente adquiridas, com vida própria, princípios e valores de base adquiridos, com família, muitas vezes (seguramente na maioria dos casos) eles próprios educando os seus filhos. Não são bonitas palavras, elegantes conceitos, que marcam, convencem, ajudam a melhorar, adultos com vida e personalidade próprias e marcadas e, evidentemente, com o espírito crítico que desenvolveram ao longo da sua vida. Os Aprendizes e Companheiros são jovens na Loja, ainda apenas sabem soletrar a simbologia que lhes é presente, mas sabem muito bem, como adultos capazes e experientes que são, distinguir entre a parra e a uva e, sobretudo, discernir quando porventura alguém que lhes pretenda dar lições, afinal tenha muita parra e pouca uva e devesse, no fim de contas dedicar-se a realmente aprender e executar as lições que debita...

Só é verdadeiramente Mestre Maçom aquele que propicia a aprendizagem, a melhoria, o crescimento, dos Aprendizes e Companheiros, pelo seu EXEMPLO.

De muito pouco valem bonitas exortações, exuberantes conceitos, profundas lições, se tudo isso não passar de meras palavras facilmente levadas pelo vento dos factos, regularmente desmentidas pelos atos praticados. Se o Mestre Maçom, apesar de pregar o trabalho, o esforço, a qualidade, se mostra desinteressado, desleixado, impreparado, dificilmente inculcará no Aprendiz ou no Companheiro as virtudes que proclama da boca para fora e trai nos seus atos.

Por isso, a postura do Mestre Maçom perante o Aprendiz e o Companheiro deve atender sempre a que tem de agir como o exemplo daquilo que proclama, sem contradição, sem facilitismo. Ou muito mau Mestre será...

Afinal de contas, se acho que a Maçonaria não se ensina, aprende-se, também acho que uma das melhores formas de aprender é diligenciar ensinar. E, tendo-se sempre presente que, em Maçonaria, a melhor forma de ensino é o exemplo, facilmente se adquire a noção de que, para se poder dar o exemplo, tem-se de, constantemente, dar o melhor de si mesmo, fazer melhor, trabalhar mais esforçadamente, procurar sempre ser hoje melhor que ontem e amanhã melhor do que hoje.

Basta, simplesmente, fazer aquilo que se proclama. Chega, afinal, ser efetivamente maçom em todos os atos e momentos. E assim poder ser reconhecido pelos demais de que é realmente Mestre Maçom, capaz de dar o exemplo aos mais jovens de como se faz - sempre e até ao fim da vida!

Rui Bandeira

5 comentários:

Unknown disse...

Meu querido amigo e Irmão, todos teus escritos e ensinanças são de um altissimo nivel e motivo de estudo e grande elogio, mas hoje superaste tudo quanto disseste até agora. Esta "definição" do que tem de ser um Mestre Maçon é de tal clareza, e simplicidade perfeitamente entendivel que não é preciso ler nenhum dos milhares de livros sobre este conceito para entender e practicar o que deve e tem de ser um homem que se considere Mestre Maçon. Sem nunca ter falado contigo sobre isto, tenho que confessar que é assim como eu sinto e como procuro conduzir-me na minha vida maçónica, por isso aprecio ainda mais saber que teu conceito e o teu exemplo diario coincidem.
Querido Rui, obrigado mais uma vez, pelas tuas licões, pelo teu "exemplo" e pela tua amizade.
gnr

Nuno Raimundo disse...

Boas,
o Mestre deve ser para além de Amigo, um guia e um exemplo SEMPRE a ser seguido pelos demais, qualquer que seja o grau a que se pertença...
Pois incute respeito, disciplina e aos mais "preguiçosos", a vontade de trabalhar, para não ficarem para trás... ou que se note a sua falta de estudo e aprendizagem.
Disse.

TAF

Luz do Oriente disse...

Pelo exemplo se perpetua Maçom e pelo trabalho se exalta. Até porque há quem entenda que chegado a Mestre pode descansar nos louros alcançados. Fica naquela letargia do sono à espera que não se lembre dele. E que lhe é autorizado tudo incluive a violação dos juramentos que tomou porque "é Maçom para toda a vida". Nas tuas belissimas peças ensaísticas gostaria um dia de te ver elaborar sobre esta pseudo-verdade de - acontecer o que acontecer - "sou Maçom para toda a vida". Há muita teia de aranha à volta disto (lembro os "adormecidos"). Abração do Oriente. Gama

Rui Bandeira disse...

@ Luz do Oriente:

Sem prejuízo de oportunamente (não prometo que brevemente) escrever algo sobre o tema proposto, lembro um texto em que, embora talvez um pouco lateralmente, escrevi algo sobre o assunto:

http://a-partir-pedra.blogspot.pt/2012/02/as-obrigacoes-dos-macons-iii-as-lojas.html

JPA disse...

Chegar a Mestre, é ter a responsabilidade de ser "EXEMPLO".

A3raços
JPA