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22 junho 2011

Lição de um Mestre ao seu Aprendiz - V



Meu Irmão, finalmente estás onde deves estar, estás entre nós! Sempre que um novo elemento se junta a nós, toda a Loja se alegra. Mais um homem bom quer tornar-se melhor e, fazendo-o, nos ajudará, a todos e cada um de nós, a sermos um pouco melhores também! Sê, pois, muito bem-vindo, Irmão. Todos esperamos que, sempre, gostes tantos de estar connosco como – não o duvides! – todos e cada um de nós gostaremos sempre de estar contigo.

Hoje, encerrou-se um ciclo na tua vida e iniciaste um novo ciclo. Hoje, deixaste para trás a tua vida profana e iniciaste o teu percurso como maçom. E não duvides também que, a partir de hoje, em todos os aspetos da tua vida, em todos os momentos dela, em todos os locais onde te encontrares, com quem estiveres, não mais estará apenas o homem que há algumas horas entrou neste edifício – a partir de agora, sempre, em todos os lugares, com todas as pessoas, estará o maçom! Porque passaste por uma Iniciação que, a ti, como a milhões de outros antes de ti, subtilmente já te começou a mudar e que, se é esse o teu sincero propósito – e todos nesta sala acreditámos e acreditamos que sim! – te ajudará a melhorar, um pouco cada dia, mas sempre e sempre e mais e mais.

A partir de agora, tens muitos símbolos para estudar, para sobre eles meditares, tirares tuas conclusões e aplicares essas conclusões em ti, na tua vida, no teu comportamento. É esse, em síntese, o nosso método, o método maçónico que desde tempos imemoriais os maçons de todo o mundo usam. Basta olhares em teu redor e verás objetos, representações, mas também gestos, palavras, atos, condutas, que, tudo isso, tem significado simbólico que a ti te cabe descobrir, para que uses essas tuas descobertas em benefício de ti próprio, não do que hoje és, mas do que vais ser, do que vais ser em cada dia sendo um pouco diferente e melhor do que no dia anterior.

Muitos símbolos te rodeiam, mas agora quero apenas chamar-te particularmente a atenção para dois, que não escolhi ao acaso. Dois que, sei-o porque mo disseste, especialmente te tocam: o maço e o cinzel.

O maço e o cinzel são as ferramentas básicas com que deves, de imediato, começar a trabalhar. Simboliza o maço a força, o poder, a energia que transmite ao cinzel, a ferramenta subtil que, aproveitando a Força que lhe é transmitida pela energia da mão que empunha o maço, utilizando-a, distribuindo-a harmoniosamente com a sua ponta, mediante o seu sábio manuseio, em variados ângulos de colocação sobre a pedra, desbasta esta, retira as suas asperezas, transforma a rudeza do informe bloco em trabalhada e lisa pedra que, com sua devida esquadria, está apta a ser colocada no espaço que lhe está destinado na construção.

Assim também deves recordar-te em todos os momentos que sempre, mas sempre mesmo, deves diligenciar para que o maço da tua Força de Vontade seja aplicado com o cinzel da Sabedoria na pedra bruta que é o teu caráter, desbastando-lhe as asperezas, as irregularidades, retirando-lhe e reparando-lhe as imperfeições, moldando-o com a devida esquadria para que se integre harmoniosamente na sociedade e constitua uma forte e bela pedra essencial ao todo em que se integra.

As asperezas, as irregularidades, as imperfeições que hás de, dia a dia, um pouco de cada vez, mas persistentemente, ir retirando de ti próprio, tu, melhor do que ninguém, saberás, descobrirás, quais são. E tu próprio alterarás o que tiveres a alterar. Ninguém o fará por ti!

Para isso, precisas de, permanentemente te conheceres, cada vez mais e melhor, a ti próprio. Só assim saberás – tu e mais ninguém – o que aperfeiçoar, onde e como trabalhar, para que amanhã estejas um pouco melhor do que hoje.

Portanto, meu muito prezado Irmão, pega no teu maço, manuseia o teu cinzel e desbasta tua pedra. O resultado do teu trabalho será, mais cedo ou mais tarde, verificado por todos, mesmo os mais distraídos. Mas, antes e acima de tudo e de todos, será apreciado por ti próprio, que, em resultado do teu trabalho, desde que sério, desde que persistente e incessante, te sentirás cada dia mais forte, mais apto, melhor. Sobretudo contigo mesmo!

Rui Bandeira

16 março 2011

Lição de um Mestre ao seu Aprendiz - IV


Meu Irmão:

Antes de tudo e acima de tudo, quero expressar-te, em nome de toda a Loja o júbilo que aquece nossos corações. Enfim, estás entre nós! Mas, meu Irmão, o júbilo não brota diretamente do facto de estares entre nós. Resulta principalmente de estar entre nós alguém que foi por nós reconhecido como um homem bom. Mas, meu Irmão, nota que esse júbilo não resulta apenas de estar entre nós um homem bom. Nasce principalmente de esse homem bom poder tornar-se e ter a vontade de se tornar um homem melhor. E decorre ainda de termos a esperança de que te podemos auxiliar nessa demanda!

O caminho que hoje encetas é um caminho novo e diferente de tudo o que fizeste na vida até agora. Tens à tua disposição um método – o método maçónico de aperfeiçoamento através do estudo dos símbolos e aplicação dos conhecimentos com esse estudo obtido. Não terás, porém, aulas. Terás uma panóplia de símbolos perante ti, para que os descubras e trabalhes por ti, terás um guia para começares a fazê-lo, terás à disposição das tuas perguntas, disponíveis para ajudar à remoção das tuas dúvidas, dezenas de Irmãos, que fizeram e continuam a fazer o trabalho que ora vais encetar.

A Maçonaria é uma instituição que estimula e favorece o mais belo dos egoísmos: o egoísmo de querer ser melhor. Melhor homem, melhor crente, melhor familiar, melhor profissional. A Maçonaria incessantemente te incita à busca da excelência, em todos os campos da tua vida. É esse o grande múnus da Maçonaria. O caminho da excelência é talvez o mais solitário dos caminhos. A Maçonaria consegue realizar o aparente paradoxo de proporcionar que esse solitário percurso seja efetuado com a companhia de teus Irmãos. Todos o fazem em conjunto – mas cada um o fará afinal só por si!

Esta noite de emoções foi-te propositadamente proporcionada. Não te terás ainda dado conta, mas hoje muitas lições recebeste. E recebeste-as da mais eficaz forma possível: não apenas ouvindo passivamente, mas vivendo o momento, sentindo, estando inserido na ação. A seu tempo apreenderás que não é só a tua inteligência intelectual que te permite aprender. Também a tua inteligência emocional to possibilita e quiçá de uma forma bem mais profunda e eficaz. Ao seres hoje o centro, o destinatário, o ator principal e o principal espetador da tua Iniciação, foi-te estimulada a Inteligência Emocional que o homem moderno desaprendeu de cuidar – mas que é a chave para a descoberta individual da resposta à grande questão que a todos, mais cedo ou mais tarde, assalta: qual o sentido da Vida, qual o significado da minha existência? Essa resposta não ta daremos nós. A essa resposta chegarás tu quando estiveres preparado para a ela chegares. Através da tua inteligência intelectual, mas também e indispensavelmente através da tua inteligência emocional.

Nos tempos mais próximos – que durarão algum tempo, que o Tempo também é construtor! – observa, lê, raciocina, impregna-te de ambientes e estados de espírito. Interroga-te e interroga. Responde, emenda as tuas respostas, recomeça e chega a nova conclusão, que descobrirás ser afinal uma nova pergunta. Mas sobretudo pensa, reflete, medita. Arranja maneira de reservar alguns minutos de cada um dos teus dias para o fazeres. Será através desse momentos de pensamento, de reflexão, de meditação, que descobrirás as perguntas que verdadeiramente te interessam e as respostas que é possível dar-lhes. Todos os demais o mesmo fazem. Este é o espaço da partilha do resultado desse trabalho. E descobrirás que, ao assim fazeres, cada vez mais te é agradável fazê-lo, que cada vez maior proveito tirarás. Até que um dia assim farás sem esforço e naturalmente. Nesse dia, serás verdadeiramente Mestre. Mestre daquilo que importa: Mestre de ti próprio!

Bem-vindo, meu Irmão. O teu trabalho inicia-se a partir de agora. O limite está para além do horizonte. Descobre-o!

Rui Bandeira

09 março 2011

Lição de um Mestre ao seu Aprendiz - III


(Nota: as lições anteriormente publicadas neste blogue foram escritas por Jean-Pierre Grassi e estão aqui e aqui)

Meu Irmão:

A melhor forma de manifestar os calorosos sentimentos fraternos de toda esta Respeitável Loja para contigo é sublinhar que não foste simplesmente aceite aqui, não foste simplesmente admitido à Iniciação, foste verdadeiramente cooptado para este grupo, para esta Loja.

Cada vez que alguém entra ou sai da Loja, esta modifica-se, pois a Loja é o conjunto de todos os seus obreiros, a soma de todas as suas capacidades, a multiplicação de todas as suas potencialidades, a divisão por todos dos pesares de cada um, enfim, a Loja é um conjunto vivo cujas células são os seus obreiros. E se, quando um obreiro parte, a Loja pouco perde, perde apenas as suas potencialidades futuras, conservando tudo o que esse obreiro, enquanto entre nós esteve aqui deixou, aqui ensinou, connosco partilhou, a cada um de nós influenciou, sempre que um novo elemento é cooptado pelos que já a integram para também nela ingressar, muito ela ganha, muito ela se transfigura, porque os novos, aprendendo, integrando-se, partilhando, novas capacidades, outros ensinamentos, trazem e juntam.

Meu Irmão: a melhor forma de demonstrar os calorosos sentimentos fraternos de toda esta Respeitável Loja para contigo é deixar claro que a Loja em ti, na tua entrada, na tua junção a nós, deposita o que de mais precioso tem, a sua própria identidade, confiante e certa que não só não a irás degradar, como serás fator do seu aprimoramento.

Bem-vindo, pois, meu Irmão. Estamos certos que honrarás a confiança que em ti depositámos. Procuraremos corresponder à esperança que em nós tens.

Quanto à sucinta explicação do sentido e finalidade da Arte Real, uma frase chega: é um meio, um método, um caminho, um ambiente, para o teu aperfeiçoamento pessoal, moral, cívico e espiritual. Os primeiros tempos são de silêncio e de observação. Olha, vê, ouve, sobretudo medita, relaciona, interpreta. Através de símbolos, de parábolas, de linguagem figurada, nada te será ensinado, mas muito aprenderás, pela melhor forma de aprender que existe: por ti mesmo, em função da tua própria experiência. Este trabalho só termina à meia-noite. Fá-lo bem, para que, chegada essa hora, estejas satisfeito contigo próprio.

Começa por olhar em volta e atentar nos pormenores. Todos têm significado. Procura entendê-los. Não tenhas receio de perguntar e, sobretudo, não te esqueças nunca que as melhores respostas que irás receber serão aquelas que te não satisfizerem e te levarão a procurar mais longe ou diferentemente.

Lê muito atentamente o ritual e catecismo que hoje recebeste. Fá-lo sem pressas, mas frequente e persistentemente. Cada frase, bem meditada, é fonte de preciosos ensinamentos. Sei-o bem: há mais de vinte anos que faço o mesmo e o que aprendi é uma ínfima parte do que ali ainda tenho para aprender.

Sê pois bem-vindo, meu Irmão, e hoje festeja. O teu trabalho podes começá-lo amanhã...

Rui Bandeira

28 novembro 2010

A pedra bruta



O aprendiz tivera recentemente a sua primeira lição sobre a pedra bruta e a pedra polida. Foi-lhe explicada a base, o essencial, o ponto de partida do significado desses símbolos, que depois interiorizaria e desenvolveria por si mesmo. Aprendeu, então, que a pedra é cada um de nós; que o nosso trabalho consiste em "aparar" as nossas asperezas de modo a atingirmos um estado de maior perfeição - ou de polimento - para que, por fim, juntos, formemos essa sublime construção, esse supremo templo que o Homem edifica, a partir de si mesmo, à Glória do seu Criador.

Várias noites seguidas o aprendiz adormeceu sobre o assunto, e sonhou com pedras de todos os feitios. Sonhou com enormes e antigos rochedos cobertos de um musgo ancestral; sonhou com areia fina, outrora parte de imponentes escarpas e agora reduzida a pó; sonhou com mós de moinho, com as pedras dos muros das aldeias da sua infância, com a calçada da cidade, com esquinas de prédios, com gravilha, com os seixos rolados que lançava fora quando abria um buraco no quintal e cuja forma traía um longo percurso de leito de rio e de enxurradas de Outono.

Num dos seus sonhos, o seu olhar recaiu sobre um calhau quase em bruto, semi-enterrado, com um dos lados mais plano - o mais batido pela intempérie - e o resto, por ter passado a maior parte do tempo oculto debaixo da terra, ainda cheio de rugosidades e imperfeições. Algo de familiar lhe chamara a atenção para com aquela pedra, pelo que a fixou com atenção. Logo acordou, mas aquele calhau, mais áspero de uns lados, mais liso de outro, não lhe saía da cabeça.

Só dias depois, ao fazer uma introspeção sobre as suas fraquezas e as suas forças, se reconheceu, não sem algum embaraço, na pedra com que sonhara. O seu lado mais polido - aquele, afinal, em que mais tempo investira, e que era aquele que lhe punha o pão na mesa - estava, não obstante, rachado e eivado de sulcos aqui, mas ali ainda com sinais de pouco trabalho e pouca perseverança que traíam a rugosidade original. Do resto nem valia a pena falar; precisava de tudo.

Inspirou fundo e quase desistiu; a tarefa era árdua, e não sabia sequer por onde começá-la. Apercebeu-se, então, que nem sequer sabia onde queria chegar, pelo que não fazia sentido meter-se, antes disso, ao caminho. O que deveria fazer dessa pedra que era ele mesmo?

Inquieto, procurou junto de um dos seus Mestres orientações quanto ao que deveria fazer. Este, à guisa de resposta, mostrou-lhe dois muros, igualmente sólidos e compactos: um, formado por pedras de forma paralelepipédica, cada um com as suas 6 faces laboriosamente aparadas; outro, formado por pedras irregulares mas firmemente encaixadas umas nas outras, em que apenas uma ou duas faces - as exteriores - tinham sido polidas, mas essas, oh, como brilhavam!

Mais baralhado ainda, perguntou ao Mestre que pedra deveria ser, e o que deveria fazer para o atingir. Deveria ir aparando, nas várias faces, as rugosidades maiores, esperando que, ao fim de muitas passagens, a forma se fosse compondo? Ou deveria investir numa ou duas das faces e ignorar as restantes? Ou, pelo contrário, deveria trabalhar todas, mas dando forte preponderância a uma ou duas, e limitando-se a atingir os mínimos nas remanescentes?
Respondeu-lhe o Mestre que não tinha resposta para lhe dar. Que cada um deveria aparelhar a sua pedra da forma que entendesse ser a mais perfeita, e que o Grande Arquiteto saberia usá-la, como ficasse, na construção do Templo. Umas, mais toscas, seriam usadas como enchimento, sem o qual as paredes não teriam consistência para se suster; outras, mais ornamentadas, seriam colocadas em lugar de destaque, mas seriam eventualmente mais frágeis; outras ainda, robustas e fortes, aparadas de forma milimétrica mas sem quaisquer adornos, tornar-se-iam nas pedras que susteriam os vãos e as abóbadas. Algumas pedras, pela sua própria natureza, nunca poderiam servir para certos fins; mas todas conseguiriam tornar-se úteis para alguma coisa, e tanto mais úteis quanto mais trabalho tivesse sido despendido nas mesmas.

O Aprendiz olhou então, longamente, a sua pedra, inspecionou minuciosamente a face mais polida - mas imperfeita - bem como as outras, rugosas e ásperas, e lançou-se ao trabalho.

.·.

Anos mais tarde, já o Aprendiz chegara, por sua vez, a Mestre, tendo a oportunidade de ir apreciando os trabalhos dos Aprendizes e Companheiros da sua Loja, e o quanto eram diferentes uns dos outros. Enquanto uns se esforçavam mais por distribuir o seu esforço por várias faces - obtendo belas peças geométricas que formavam um todo harmonioso, em que nenhuma face sobressaía das demais - outros persistiam em trabalhar a mesma face até que esta brilhasse como um espelho, ofuscando as imperfeições que haviam ficado por trabalhar nas restantes, e que podiam, mesmo, ser vistas como uma promessa de aperfeiçoamento futuro. Em todas elas o Mestre teve oportunidade de aprender algo de novo. E apercebeu-se, então, de que o seu  Mestre tivera razão, pois que de nenhuma poderia dizer, com segurança, que fosse melhor do que as outras.

Paulo M.

02 julho 2009

O Silêncio dos Aprendizes

O Silêncio dos Aprendizes

Ao escolher este tema presto homenagem ao silêncio dos aprendizes em loja e em particular ao seu significado e objectivos, dado considerar que ele contribuiu decisivamente para a minha aprendizagem e para a minha evolução como pessoa e, espero que, como Maçon.

Silencio

Nas conversas prévias que tive com os Irmãos Mestres J:. R:. e R:. B:., integradas no meu processo de admissão à Maçonaria, houve desde logo algo que me causou alguma apreensão – como iria eu conviver com o silêncio que se impunha aos aprendizes em Loja. Ter uma opinião para transmitir e não o poder fazer, só poderia ser uma forma sofisticada de praxe ou de tortura, para ver se eu me aguentava....

Sendo normalmente uma pessoa interventiva, o ficar calado significava para mim quase que uma prova de fraqueza ou ignorância, e isso era algo que não estava habituado. No mundo profano, nomeadamente nas esferas empresariais, é normalmente preferível dizer alguma coisa, mesmo que inútil, do que não dizer nada, já que isso parece ser apreciado.

As minhas primeiras sessões em loja foram muito conflitivas – se não podia falar e só podia ouvir, o que é que eu estava ali a fazer? Durante este período, passei por várias fases evolutivas: equacionei ir-me embora, já que não queriam ouvir o que eu tinha para dizer e eu tinha muito para dizer; ponderei os inconvenientes de desrespeitar a regra, rompendo o silêncio; efectuei comparações entre os argumentos que eram utilizados e os que eu utilizaria na mesma situação, etc.. Creio que posso afirmar que a minha permanência na Maçonaria se deve a um acto de teimosia, já que decidi não desistir e ir até ao fim.

Gradualmente, fui começando a alterar a minha atitude perante o silêncio, principalmente a partir do momento em que conclui ser inútil preocupar-me em construir uma argumentação que depois não teria continuidade. Já que não podia falar, talvez existissem outras formas de rentabilizar o tempo que ali passava e a forma mais lógica e imediata parecia ser, ouvir e assimilar o que estava a ser dito. Tal “descoberta” fez-me começar a escutar de forma consciente, o que efectivamente se dizia, o que me conduziu a uma nova descoberta acerca de mim próprio: tinha tendência para só escutar os outros em função da resposta que teria de lhes dar e não por aquilo que tinham para me dizer.

Esta constatação levou-me a começar a tentar escutar os outros de forma desinteressada e sem reservas ou intenções. Foi um processo intencional, lento, com avanços e retrocessos mas extremamente agradável - sentir que começava a descobrir os outros e ver que a atitude destes se alterava gradualmente. De forma tímida no inicio, primeiro nos círculos familiares e depois entre amigos e em ambientes profissionais, foi encorajante ouvir frases como “não sei porquê, mas agora é mais agradável conversar contigo”...

No campo estritamente profissional e nomeadamente nos processos negociais, em que cada argumento antecipado pode constituir uma vantagem para os outros, descobri também que o escutar me permitia analisar melhor a situação e sobretudo preparar melhor a argumentação necessária à consecução de estratégias ganhadoras.

E no entanto toda esta simplicidade parece ser fruto de uma sabedoria milenar que já Hiram utilizava quando formava os seus aprendizes e companheiros, para os preparar para a construção do Templo de Salomão.

Quando o recém iniciado é advertido de que não poderá falar em loja, desde a sua iniciação até à sua passagem a mestre, devendo apenas ouvir e observar, está-se simplesmente a dar continuidade a um dos mais antigos costumes das ordens iniciáticas: o silêncio.

Voltado para si mesmo, calado, numa postura de reflexão e recepção, o Aprendiz Maçon deverá evitar resvalar para uma atitude passiva ou desinteressada. Pelo contrário, todos os seus sentidos devem estar atentos para o que se passa em loja. Ver, ouvir, receber, reflectir e guardar, são as palavras chave deste processo de aprendizagem e evolução interior. Juntar e interligar todas as informações que lhe chegam ao cérebro, estranhas e diferentes das que já conhece, formulando hipóteses e conclusões que lhe permitam uma visão cada vez mais elevada das observações que faz. Esta deve ser a maior preocupação do iniciado.

O ainda candidato é exposto pela primeira vez perante a regra de silêncio quando é introduzido na Câmara de Reflexão, permanecendo sozinho e ladeado por símbolos, palavras e frases, estimulado a pensar e a penetrar no fundo do seu interior. No silêncio da meditação, vai ao encontro de si mesmo, examinando minuciosamente o que lhe vai na alma. É então confrontado com a sigla Vitriol (Visita Interiora Terrae, Retificandoque, Invenies Occultum Lapidem), que na sua tradução para português significa: "desce ao interior da terra, e perseverando na rectidão, poderás encontrar a pedra oculta".

Após toda a cerimónia de iniciação, o candidato profano transforma-se em recipiendário silencioso, o recém iniciado assume o papel do hermetista, ou do alquimista na sua busca incessante da Pedra Filosofal, que uma vez descoberta, o transformará no homem perfeito. Este é o sentido que o maçom busca quando luta para transformar a sua Pedra Bruta na Pedra Cúbica, que poderá utilizar e encaixar perfeitamente na construção do seu novo Templo interior.

O conselho "lege, lege, relege, ora, labora et invenies", que significa lê, lê, relê, ora, trabalha e encontrarás, era dado ao eleito para conhecer e assimilar os mistérios da Alquimia. Hoje, continua sendo este o conselho dado ao iniciado. O maçon afasta lentamente todas as suas paixões, os seus vícios, os seus desejos incontroláveis, para vê-los transformarem-se em virtudes, domínio de si mesmo, tolerância e prudência, alcançadas no silêncio e na introspecção. O iniciado reconhece como fundamentais, as palavras "Vigilância e Perseverança" nas metodologias do seu estágio de observação. Quem fala muito pensa pouco, ligeira e superficialmente, e a Maçonaria quer que seus membros sejam melhores pensadores do que faladores.

Todo este processo pretende, na sua essência, preparar e induzir ao Aprendiz a necessidade da reflexão como método de transformação interna. Embora indirectamente, é possível estabelecer vários paralelismos e interacções com o Catecismo do 1º grau, nomeadamente:

  • Quando o Aprendiz afirma vir “vencer as suas paixões, submeter a sua vontade e realizar novos progressos na Maçonaria”, logo seguido de “Porque um Maçon deve desafiar-se a si próprio e evitar juízos de valor antes de consultar a sabedoria dos irmãos”. O silencio proporciona-lhe um método de progressão e impõe-lhe uma prática de reflexão que o levará a ponderar os seus juízos de valor em função de conhecimentos que deve reconhecer como mais profundos.
  • Na resposta “Antes queria ter a garganta cortada do que revelar os segredos que me foram confiados”, que pressupõe não só dedicação e respeito pela Ordem, mas também a capacidade de responder ou reagir após um processo de interiorização e valoração, que a pratica do silencio poderá ajudar a tornar inconsciente e natural.
  • Na resposta “Porque todas as forças destinadas a desenvolverem-se utilmente no exterior devem primeiro concentrar-se em si mesmas”, em que claramente transparece a necessidade de um trabalho interior prévio em que o silencio pode e deve ser uma peça fundamental.

Se mais não houvesse para aprender na Maçonaria, o ter conhecido o valor do silencio e tudo aquilo que este me proporcionou, já teria valido a pena.

Partindo de um silencio imposto, cujas motivações se fundamentam na sabedoria milenar do grupo e que constitui como que um tirocínio para o recém iniciado, passa-se para uma fase de utilização em termos interiores do silencio, evoluindo finalmente para um estadio de admiração pelo silencio em que a imposição se transforma em voluntariado que assim se transforma em sabedoria, fechando o círculo e preparando o iniciado para novas fases da sua evolução e do seu crescimento interior.

A. Jorge em 27.04.6000

12 maio 2009

Leçon d'un Maitre à son Apprenti - II


Mon Très Cher Frère,

Cette cérémonie, dont tu fus l’acteur principal, a fait de toi un Initié.

Cette initiation a débuté lorsque tu étais seul, face à toi-même, dans le cabinet de réflexion. Nous t’avons ensuite révélé une partie de nos savoirs car nous t’avons jugé digne de les recevoir.

Nous avons décelé en toi, lors de ton passage sous le bandeau, l’aptitude nécessaire pour te joindre à nous. Nous t’avons donc initié.

Que signifie le mot « initiation » ? Il vient du latin initiatio et on peut lui donner la signification de « commencer ». Tu laisses derrière toi ta vie profane pour commencer ta vie de Maçon.

L’initiation est seulement la première étape sur la route qui te mènera, si tu en as les capacités, vers la lumière. C’est la restauration de ton état édénique, te replaçant dans un état d'innocence primitif. Il te reste tout à apprendre.

A partir de cet instant, tu vas progresser dans ton émancipation personnelle et spirituelle aidé, pour cela, de tes Maîtres qui seront attentifs à l’application que tu apporteras dans l’exécution des travaux qui te seront confiés.

Ainsi, au fil de ta compréhension des enseignements ésotériques du degré auquel tu appartiens, celui d’apprenti, tu chemineras progressivement d’étape en étape jusqu'à obtenir l'équivalent du degré de ton maître, voire de le dépasser. C’est tout le mal que nous te souhaitons.

Je parle de l’ésotérisme car c’est ainsi que l’on dénomme l’enseignement que nous allons te prodiguer au sein de cette Respectable Loge.

L’ésotérisme fait usage de symboles, qui sont nombreux et divers dans la pratique de l’Art Royal qu’est la Maçonnerie, que tu auras l’occasion de découvrir auprès de celui qui aura la charge de ton enseignement, notre frère Second Surveillant.

Tu vas être confronté à des mots, à des objets, à des attitudes qui ont tous une signification particulière. Tout est symbole et rien n’est le fruit du hasard.

- Apprends ces mot et comprends les puisqu’un jour, tu pourras les prononcer ;
- Sois attentif lorsque tes Frères manient les objets car tu auras, toi aussi, à les utiliser plus tard ;
- Observe nos gestes et nos attitudes en Loge, tu devras toujours t’y conformer.

Une seule recommandation : ouvre tes yeux et tes oreilles mais, et ne l’oublies jamais, ce que tu vois et ce que tu entends ici ne peut, et en aucun cas, franchir la porte de ce Temple.

Bienvenue, mon Très Cher Frère, nous sommes heureux et fiers de t’accueillir parmi nous.
Jean-Pierre Grassi

07 abril 2009

Leçon d'un Maitre à son Apprenti


Mon très cher Frère

A l’instar de millions de Francs-Maçons qui, au long des siècles passés, ont été initiés sur les 5 continents, tu viens de renier ta vie profane pour partir à la recherche de la lumière.

Je dois te prévenir que ce sera un chemin long à parcourir, parfois monotone, parfois exaltant, mais ce sera surtout un long travail personnel d’étude et de recherche sur toi-même afin d’atteindre ce que chacun de nous recherche.

Ne te décourage jamais, il y aura toujours une main fraternelle qui sera prête à t’aider à franchir les obstacles que tu pourras rencontrer. Notre Ordre est ainsi fait que, où que tu sois, l’universalité de la Maçonnerie sera toujours présente. La Fraternité n’est pas, pour nous, un vain mot, une valeur sans fondements.

Aujourd’hui, tu viens d’être reçu Apprenti Maçon. C'est-à-dire que tu vas apprendre pourquoi et comment sera ta nouvelle vie. Le terme « Apprenti » n’est pas péjoratif, loin de là. D’ailleurs, un de mes maîtres en Maçonnerie me disait qu’il était toujours un apprenti, après tant d’années passées en Loge, car tellement éloigné de la connaissance. Tu vas donc apprendre et c’est ici, dans ce lieu que nous dénommons « Loge » que se fera ton apprentissage.

J’ai le devoir de t’informer que tu ne pourras pas exercer le droit de parole lors de nos tenues, avant que nous jugions que tu sois apte à recevoir le 3ème et dernier grade de la Franc-maçonnerie qui est celui de Maître Maçon. Les Frères Apprentis et Compagnons se taisent en Loge. Donc, regarde et écoute, et nous t’aiderons à comprendre et à progresser dans ton travail.

Tu dois savoir que nous sommes actuellement dans ce que nous appelons « une tenue de loge », c'est-à-dire, une session de travail rituel qui réunit tous les frères de la Loge. Un mot important, « Rituel » !

Le déroulement de nos travaux de loge dans notre Rite, qui est le Rite Ecossais Ancien et Accepté, respecte une tradition immuable depuis les premiers jusqu’aux derniers mots prononcés par le Vénérable Maître. C’est le Rituel des Travaux.

La tenue peut être plus ou moins longue, en fonction de l’ordre du jour, mais elle obéira toujours à la même liturgie. C’est pourquoi, lorsque tu assisteras dans le futur à une tenue d’une autre Loge, ici ou ailleurs dans le monde, tu ne seras jamais dépaysé car, si la langue parlée sera différente, le Rituel, lui, sera toujours le même.

Pour terminer, je vais te lire le texte suivant :

« Les dernières qualités que nous exigeons encore de toi sont une discrétion à toute épreuve sur tous les secrets qui te seront révélés ; une volonté ferme et constante d’aimer tes Frères, de les protéger, de les secourir dans leurs besoins, de les éclairer de tes lumières, de les édifier par tes bons exemples, de sacrifier tout ressentiment personnel et de rechercher, en un mot, tout ce qui peut contribuer à la paix, à la concorde et à l’union de la Société. »

Tu vois, ces phrases on été écrites en 1772 et ont été prononcées, elles aussi, par l’Orateur, lors de l’initiation d’un profane, tel que tu l’as été aujourd’hui.

Ce texte contient la référence de toutes les valeurs morales qui, aujourd’hui encore, sont exigées des Francs-maçons. Et je ne doute pas, en te regardant, d’avoir en face de moi un homme qui respectera, tout au long de sa vie, ces valeurs fondamentales.

Mon très cher Frère , au nom de tous, je te souhaite la bienvenue au sein de la Maçonnerie Universelle, en général, et parmi nous, dans notre Loge, en particulier.



Jean-Pierre GRASSI

27 maio 2008

A sementeira deste ano


Na Loja Mestre Affonso Domingues, temos por hábito, sempre que os trabalhos decorrem nos segundo ou terceiro grau e, portanto, os Irmãos de grau inferior têm de se ausentar da sala onde decorre a reunião, aproveitar esse tempo para providenciar a esses Irmãos uma sessão de instrução. A instrução dos Aprendizes é da responsabilidade do 2.º Vigilante e a dos Companheiros da do 1.º Vigilante. Mas obviamente que, nestas circunstâncias, estando em simultâneo uma reunião da Loja a decorrer, quer um, quer outro, têm de assegurar o exercício das respectivas funções, pelo que o Venerável Mestre designa um Mestre da Loja para sair da sala juntamente com os Aprendizes e assegurar essa sessão de instrução e, se for caso disso, um outro para acompanhar e instruir os Companheiros.

Numa das últimas sessões, estava agendada a passagem dos trabalhos ao grau de Companheiro, para que um Irmão dessa Oficina apresentasse a sua prancha de proficiência.

Eu já conhecia essa prancha, pois o Venerável Mestre tinha-me facultado antes da sessão a sua leitura, para que eu pudesse dar-lhe um parecer sobre determinada questão que a mesma levantava. Voluntariei-me, assim, para assegurar a sessão de instrução aos Aprendizes presentes.

Estavam presentes três Aprendizes, dois dos quais tinham sido iniciados na sessão anterior e o outro não muito mais antigo. De um dos recém-iniciados fui um dos padrinhos, isto é, um dos que avalizaram a sua candidatura e, assim, deve considerar-se directamente responsável pela sua boa integração no grupo.

A meia hora, quarenta minutos durante a qual a Loja trabalhou no grau de Companheiro e, noutra sala, nos dedicámos, eu e os três Aprendizes, à instrução do grau, passou sem darmos por isso! Rapidamente o diálogo se estabeleceu, as ideias fluíram, as análises surgiram, o trabalho rendeu! Deu para ver que estava perante um grupo de Aprendizes de alta qualidade e capacidade.

Penso que não me engano e a Loja tem este ano uma sementeira que vai dar uma colheita vintage”...

E eu, todo babado, apetece-me logo vir aqui anunciá-lo!

Rui Bandeira

08 maio 2008

Mestre e Aprendiz

Costumo invocar com frequência a noção de que o Mestre maçon deve considerar-se um eterno Aprendiz, se quer ser digno de ser considerado Mestre.

Também me relembro com frequência que ser maçon é um percurso de auto-aperfeiçoamento, sempre dinâmico, sempre inacabado, sempre em execução. Um dos marcos desse caminho é o maçon, o homem livre e de bons costumes, poder convictamente considerar-se Mestre de si mesmo, capaz de dominar suas paixões, seus vícios, domar seu temperamento, desbastar sua personalidade, no sentido do equilíbrio, da justeza. Enfim, conseguir EFECTIVAMENTE nortear sua vida e suas acções e realizações dentro do espaço delimitado por três características indispensáveis para que cada obra humana tenha valia digna desse nome: a Sabedoria, a Força e a Beleza. Que cada nossa decisão, cada realização nossa, consiga simultaneamente ser sabedora, porque justa e certa e equilibrada e prudente, forte, porque durável e susceptível de naturalmente se impor e prosseguir seus objectivos e bela, porque agradável aos demais, não é empresa fácil, se a queremos realizar bem, mas é extremamente gratificante, quando se alcança.

Ser maçon é, portanto, ser sempre Aprendiz, porque em cada momento devemos melhorar, mais bem compreender e fazer, sempre devemos estudar e especular e experimentar, para em cada dia sermos um pouco, um grão que seja, melhores do que o anterior. Mas é também ser Mestre, porque a aprendizagem não é um mero exercício intelectual, é um meio para utilizarmos e dominarmos e integrarmos o que aprendemos, com valia para nós próprios e para os demais, que podem beneficiar do que aprendemos e da transmissão do nosso conhecimento.

Esta dualidade Aprendiz - Mestre é, por natureza, dinâmica. Aprendemos e do que aprendemos somos Mestres e, sendo-o, verificamos que mais temos a aprender, e vemos como, e de novo mais aprendemos, e de mais somos Mestres e assim sucessivamente, numa eterna sucessão do ciclo tese-antítese-síntese que é nova tese. Esta relação entre aprendizagem e utilização do que se aprendeu necessita, porém, de ser equilibrada - de pouco vale aprender, aprender e aprender, se nada se utiliza, se aplica, se usa; não muito vale fazer e refazer e repetir o que um dia se aprendeu,em eterna e rotineira execução, sem perspectivas nem evolução. Por isso, em Maçonaria se preza o equilíbrio e se atende ao valor da dualidade, como factor de progresso, de evolução.

Em bom rigor, o maçon não É aprendiz, não É Mestre. O maçon FAZ-SE Aprendiz e, com isso, TORNA-SE Mestre. Não se compreende efectivamente a natureza da Maçonaria se dela apenas se retém uma imagem estática. A Maçonaria e os seus ensinamentos são essencialmente dinâmicos e é esse dinamismo, essa perpétua evolução, esse incessante movimento intelectual que é indispensável entender, se se quer perceber o que é a Maçonaria. Cada ponto de chegada é um novo ponto de partida. Sempre. Com a especificidade de que cada maçon não tem necessariamente de partir dos SEUS pontos de chegada. Pode beneficiar dos que seus Irmãos obtiveram para, a partir deles, integrar os seus próprios conhecimentos e de tudo beneficiar para prosseguir sua demanda.

É também por isso que a maçonaria orgulhosamente se reclama da Tradição. Da Tradição de seus ancestrais, dos Mestres que antes de nós fizeram suas demandas e chegaram a suas conclusões. Que abriram e aplainaram os caminhos que hoje confortavelmente percorremos sem dificuldade, permitindo que nos aventuremos no desbaste de novos percursos que, se bem trabalharmos, um dia serão rápidas estradas, facilmente atravessadas pelos vindouros até às fronteiras de seus desconhecidos novos percursos. Por isso, para um maçon é natural ir ao passado rever o que aí se descobriu, para integrar com o que hoje está à nossa disposição e poder construir o que amanhã se descobrirá. Por isso, o Passado, o Presente e o Futuro se unem e tocam e associam para mais um pouco se avançar. Por isso, nós, maçons, valorizamos o Passado, a Tradição, os Ritos e os Conhecimentos que herdámos de nossos antecessores, tanto como valorizamos o nosso esforço de Hoje e como aspiramos a que seja valorizado o que procuramos construir para o Futuro. Que um dia será Presente e logo Passado... Dinâmica, não estática...

Os Aprendizes de antanho são para nós Mestres que nos ajudam a aprender e a sermos, por nosso turno, Mestres. Mas também os Mestres Aprendizes de agora mutuamente se influenciam. Por isso, mais do que dizer-se apenas que cada Mestre maçon, sendo-o, é simultaneamente um Aprendiz, pode e deve dizer-se ainda que cada maçon é também e sempre um Aprendiz de alguém e Mestre de algum outro Aprendiz.

Portanto, e resumindo: cada Mestre maçon é simultaneamente Mestre de si próprio e eterno Aprendiz, Aprendiz dos ensinamentos dos seus antecessores e Mestre dos vindouros e ainda Aprendiz de alguém e Mestre de algum outro Aprendiz - porventura também Mestre e, portanto, com as mesmas características...

Uma das coisas que eu gosto na Maçonaria é esta sua simplicidade!

Rui Bandeira

29 abril 2008

Variação sobre o silêncio


Já aqui no blogue publiquei um texto onde explanei o meu entendimento sobre o alcance, interesse e virtualidades do silêncio do Aprendiz e um outro texto dedicado ao silêncio do Companheiro.

Não tencionava voltar ao tema tão cedo. Mas o homem põe e a fortuna (acaso, circunstâncias, conjunção astral, divina providência, simples mudança de opinião - cada um escolha e tome o que quiser, em cada situação...) dispõe. O Venerável Mestre da Loja Mestre Affonso Domingues teve a gentileza de me pedir a opinião sobre uma determinada questão relativa à administração dos trabalhos da Loja e a análise e meditação sobre a mesma, em ordem a poder transmitir-lhe uma opinião fundamentada, conduziu-me, quase que por associação livre, a um diferente reflexo do tema silêncio do aprendiz e do Companheira de que me não tinha ainda, ao menos, conscientemente, dado conta.

O silêncio do Aprendiz e do Companheiro significam que, salvo para apresentação das respectivas pranchas de proficiência no grau, os Aprendizes e Companheiros não têm o direito ao uso da palavra em sessão ritual. Mas significa ainda uma outra coisa. Ter a palavra é ter o poder de ENSINAR. E, nesse sentido, só os Mestres ensinam, só os Mestres detêm a palavra. Numa Loja maçónica, toda a formação de Aprendizes, de Companheiros e também dos Mestres está exclusivamente a cargo dos Mestres, só é encargo dos Mestres.

Nesse sentido, a asserção de que os Aprendizes e Companheiros não têm direito à palavra significa também - quiçá essencialmente, bem vistas as coisas - que estes não ensinam. Compreende-se: a fase em que se encontram é a da sua formação. Estão a aprender, não estão a ensinar. Devem concentrar-se no seu próprio crescimento, não em transmitir aquilo que apreenderam para formação dos demais. Tempo virá em que essa tarefa também repousará sobre os seus ombros. Mas quando esse tempo vier, serão já Mestres maçons.

Sob este ponto de vista, assume inteira lógica a verificação de que o silêncio dos Aprendizes e Companheiros é quebrado para a apresentação das respectivas pranchas de proficiência. Porque, ao fazê-lo, não estão a ensinar, estão a prestar provas, a dar testemunho, a mostrar a sua evolução.

Portanto, o silêncio dos Aprendizes e Companheiros significa também, se é que não principalmente, que estes não ensinam, só aprendem. E por isso não tomam a palavra. Porque esta deve servir para ensinar, para transmitir algo de útil aos demais e não para discutir, tergiversar, ou simplesmente exprimir palavras volúveis e sem valia.

Corolário desta asserção é que os Mestres têm a palavra para ensinar, para serem úteis aos seus irmãos. Só devem, portanto, usá-la com esse propósito e utilidade. O direito à palavra dos Mestres não é um privilégio, é uma responsabilidade acrescida.

Isto foi algo que aprendi agora, após dezoito anos de maçonaria, e que logo decidi partilhar convosco. Maçonaria aprende-se todos os dias. E cada conclusão nova, ou diferente, ou mais aprofundada, a que o Mestre maçon chega só deve, afinal, confirmar no seu espírito uma verdade que ele não deve nunca esquecer: pode ser Mestre entre os maçons, mas não deixa nunca de ser um eterno Aprendiz. Porque, se deixar de o ser, deixará de ser Mestre...
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Maçonaria aprende-se todos os dias. A solidariedade deve estar sempre no nosso pensamento, sejamos ou não maçons. De certeza que se sensibilizou com a situação da Inês. Porque espera para ajudar? Veja aqui como. E ajude!

Rui Bandeira

22 janeiro 2008

A prancha de Aprendiz

Para o Aprendiz que se entrosou no grupo e que vem fazendo o seu trabalho, com assiduidade e diligência, chega sempre um momento em que um Mestre – por regra o 2.º Vigilante, mas pode ser qualquer Mestre -, no meio de uma descontraída conversa, a propósito ou aparentemente a despropósito, lança, como quem não quer a coisa, a pergunta: - Então, já escolheste o tema da tua Prancha?

Este é o primeiro sinal que é dado ao Aprendiz que os Mestres da Loja entendem que o seu trabalho está a ser frutífero e que se aproxima a hora de novo avanço. O tempo da integração e da adaptação decorreu e está próximo de terminar, o tempo de progredir está-se a aproximar. Não quer isto dizer que a progressão, o avanço esteja já aí ao virar da esquina. Não é incomum, pelo menos na Loja Mestre Affonso Domingues, que, entre o momento em que o Aprendiz é incentivado a começar a elaboração da sua prancha e aquele em que deixará de ser Aprendiz medeiem uns bons seis meses, ou mesmo mais. É que, entre o primeiro incentivo ao Aprendiz à elaboração por este de uma prancha e a conclusão por este da dita, vai seguramente decorrer algum tempo. E depois há que agendar a sua apresentação em Loja. E, decorrida esta, haverá que aguardar pela ocasião propícia para a Passagem do Aprendiz à fase seguinte do seu percurso maçónico. E já neste espaço deixei consignado (por várias vezes) que pressa e maçonaria não ligam bem...

A elaboração pelo Aprendiz de uma Prancha é essencial para possibilitar o seu avanço de grau. A Prancha do Aprendiz é como que o relatório do seu trabalho, o registo da sua mudança, a exposição da sua evolução, patenteados perante a Loja. Não é um exame – o Aprendiz não tem que provar a sua proficiência em Simbolismo, Aperfeiçoamento e Artes e Ofícios Correlativos... Aliás, tudo o que o Aprendiz tem de provar, tem de o fazer a si próprio, apenas e tão só, e a mais ninguém. Se ele quiser lograr alguém, só ele será enganado, mais ninguém...

A Prancha do Aprendiz é, antes do mais e para além de tudo o mais, apenas mais um trabalho que este deverá executar. Com a diferença que este se destina, não apenas ao interior de si próprio, mas também a ser apresentado, escrutinado, apreciado em Loja.

O essencial interesse da Prancha de Aprendiz é a sua feitura. Mais uma vez, o que interessa é o percurso, não a meta. Também aqui o essencial é o trabalho que o Aprendiz realiza e não propriamente o seu resultado final. Há Pranchas de Aprendiz belas e vulgares. Enciclopédicas e triviais. Extensas e breves. Profundas e superficiais. Enfeitadas e toscas. Literatas e simples. Imaginativas e insossas. Há de tudo. Não importa. O que importa é o investimento pessoal que o Aprendiz fez na sua elaboração e, com ele, o que aprendeu, o que sistematizou, a aresta que limou.

Apresentada que esteja a prancha, ela é sempre, na Loja Mestre Affonso Domingues, objecto de apreciação e comentário dos Mestres presentes. Normalmente, todos os Mestres, ou quase, se pronunciam. E todos os que o fazem, qualquer que seja o nível da prancha, do mais esplendoroso e credor de admiração, ao mais simples, nos seus comentários lobrigam algo de positivo, algo de bom, e algo de negativo, algo susceptível de melhoria. Pode o trabalho ser objecto dos mais entusiásticos encómios – mas não deixará de ver apontado um, insignificante que seja, aspecto em que se declara que podia ser ainda melhor. Pode o trabalho sofrer as mais ferozes críticas – mas não deixará de se realçar, por minúsculo que seja, o aspecto merecedor de uma referência elogiosa. Porque todo o trabalho dedicadamente feito merece encómios e nenhum trabalho humano é perfeito. Porque foi feito e apresentado por um dos nossos. E os nossos têm de nós sempre o elogio misturado com a censura, para que nunca sucumbam à tentação de subir às alturas que causaram a queda de Ícaro; e os nossos merecem de nós sempre a crítica lúcida, verdadeira e leal, mas sempre temperada com o incentivo do nosso reconhecimento do que de bom é feito e da sua capacidade de fazer melhor.

Normalmente, as três últimas intervenções são, respectivamente, do 2.º Vigilante (o Mestre responsável pela Coluna dos Aprendizes) – que termina a sua intervenção declarando que entende que o Aprendiz está pronto para avançar para o grau seguinte -, do 1.º Vigilante (o Mestre responsável pela Coluna dos Companheiros) – que termina a sua intervenção manifestando a sua disponibilidade para receber o Aprendiz que apresentou a Prancha na sua Coluna – e do Venerável Mestre – que sintetiza tudo o que foi dito, anunciando que oportunamente se procederá ao aumento de salário (isto é, à passagem de grau) do autor da prancha.

Assim se declara o reconhecimento da Loja da evolução que o Aprendiz teve desde que foi iniciado. Assim funciona e trabalha a Loja Mestre Affonso Domingues. E não nos temos dado mal com o sistema...

Rui Bandeira

19 dezembro 2007

O trabalho do Aprendiz

O Aprendiz, após a sua Iniciação, não tem apenas de se integrar na Loja. Essa integração, se bem que necessária, é apenas instrumental da sua actividade maçónica.

O Aprendiz, logo na sua Iniciação e imediatamente após a mesma, é confrontado com uma panóplia de símbolos variada, complexa e de grande quantidade. Uma das vertentes importantes do método maçónico é o estudo e conhecimento dos símbolos, o esforço da compreensão e apreensão do seu significado.

Aprender a lidar com a linguagem simbólica, a determinar os significados representados pelos inúmeros símbolos com que a Maçonaria trabalha é, sem dúvida, uma vertente importante dos esforços que são pedidos ao Aprendiz. É uma vertente tão mais importante quanto ninguém deve “ensinar” o significado de qualquer símbolo ao Aprendiz. Quando muito, cada um pode informá-lo do significado que ele dá a um determinado símbolo. Mas nunca poderá legitimamente dizer ao Aprendiz que esse é o significado correcto, que esse é o significado que o Aprendiz deve adoptar. O Aprendiz pode adoptar o significado que o seu interlocutor lhe transmitiu ser a sua interpretação, mas apenas se concordar com ele. Se atribuir acriticamente a um símbolo um significado apenas porque alguém lhe disse entendê-lo assim, está a agir preguiçosamente, não está a trilhar bem o seu caminho.

Não quer isto dizer que o Aprendiz não deva, não possa, atribuir a determinado símbolo o mesmo específico significado que outro ou outros lhe atribuem. Aliás, diversos símbolos são generalizadamente vistos da mesma maneira pela generalidade dos maçons. Mas cada um deve meditar sobre o símbolo, procurar entender o que significa, por ele próprio. Pode – não há mal nenhum nisso! – ouvir a opinião de outros, aperceber-se que significado ou significados outros lhe dão. Ao fazê-lo, está a beneficiar do trabalho anteriormente realizado por seus Irmãos e é também para isso que serve a Maçonaria, é também essa a riqueza do método maçónico. Mas deve, é imperioso que o faça, analisar, reflectir sobre o que lhe é dito, verificar se concorda ou discorda, em quê, em que medida e porquê. e então extrair ele próprio a sua conclusão e adoptá-la como a que entende correcta. Pode ser igual à dos seus Irmãos; pode ser semelhante, mas levemente diferente; ou pode ser muito ou completamente diferente. Não importa! Ninguém lhe dirá, ninguém lhe pode legitimamente dizer, que está errado. É a sua interpretação, a que resultou do seu trabalho, da sua análise, é a interpretação correcta para ele. E tanto basta! E se porventura mais tarde, com nova análise, com os mesmos ou outros ou mais elementos, vier a modificar a sua interpretação, tudo bem também! Isso corresponde a evolução do seu pensamento, que ninguém tem o direito ou legitimidade para contestar!

Ainda que beneficiando da sinergia do grupo, da ajuda do grupo, das contribuições do grupo, o trabalho do maçon é sempre individual e solitário! E também, inegavelmente, difícil. É todo um novo alfabeto que, mais do que aprender, o Aprendiz maçon está a criar e a aprender a criar!

Não é, ainda, porém, esse o principal trabalho do Aprendiz maçon. É um trabalho importante, é sobre ele que deverá, a seu tempo, mostrar a sua evolução, mas ainda assim é apenas um trabalho instrumental.

O verdadeiro trabalho do Aprendiz é, afinal, o de se aperfeiçoar a ele próprio. Incessantemente. Incansavelmente. Interminavelmente. Ou melhor, só terminando no exacto momento em que deixa esta dimensão do Universo e passa ao Oriente Eterno. O verdadeiro trabalho do Aprendiz é trabalhar a sua pedra bruta e dar-lhe, pacientemente, diligentemente, a regular forma cúbica que harmoniosamente se integre na grande construção universal projectada pelo Grande Arquitecto do Universo!

A pedra bruta a aparelhar é ele próprio, as asperezas a retirar são as suas muitas imperfeições, os seus defeitos, os seus deméritos, a forma a trabalhar e a tornar regular e harmoniosa é o seu carácter.

Este trabalho nunca está concluído. Por mais lisa que esteja a sua pedra, por mais regular e harmoniosa que esteja a sua forma, nunca está perfeita, pode e deve sempre aprimorá-la, alisá-la ainda um pouco mais, dar-lhe ainda melhor proporção.

Este trabalho é o verdadeiro, o importante, o essencial trabalho do Aprendiz maçon e é-o para toda a sua vida. É, portanto, também o trabalho do Companheiro e do Mestre maçon. Por isso o Mestre maçon que seja realmente digno dessa qualidade só se pode considerar, ainda e sempre, um Aprendiz e continuar, prosseguir, com perseverança, o sempiterno trabalho de se aperfeiçoar, de trabalhar a pedra bruta, que por muito cúbica que esteja, deverá sempre ver como bruta em relação ao que deve estar, ao que ele pode que esteja, ao que deve aspirar que seja, esperando que, chegada a hora, algum préstimo tenha.

O verdadeiro trabalho do Aprendiz é, tão só, o trabalho de ontem, de hoje e de sempre, do maçon, qualquer que seja o seu grau e qualidade: melhorar. melhorar e, depois disso, melhorar ainda! Tudo o resto é apenas instrumental!

Rui Bandeira

28 novembro 2007

O lugar do Aprendiz

O local onde uma Loja maçónica se reúne é pelos maçons designado de Templo. Dentro do Templo, e no decorrer de uma reunião de Loja, tudo existe segundo uma ordem determinada e todos têm assento em locais definidos. O sentido de ordem, a segurança que psicologicamente é transmitida a quem se encontra num local ordenado, onde tudo e todos estão no seu lugar, ajudam à criação de uma atmosfera de confiança, descontracção e concentração que é preciosa, quer para o bom desenrolar da sessão, quer para o conforto de todos, quer para a predisposição para atender aos assuntos do espírito, deixando-se efectivamente os metais à porta do Templo.

Como todos os outros obreiros, o Aprendiz tem o seu lugar determinado. Ou, melhor dizendo, uma zona da sala destinada a que ele ali se coloque e assista a tudo o que se passa. Esse lugar, essa zona, situa-se nas cadeiras traseiras do lado Norte da sala.

O lado Norte aqui em causa é, como quase tudo em Maçonaria, simbólico. Pode, portanto, corresponder ou não ao Norte geográfico. Normalmente, as salas onde decorrem as reuniões de Lojas têm a forma rectangular, com a entrada colocada num dos lados mais pequenos. E quando não tem essa forma, utilizam-se os adereços necessários para que o local onde decorre a reunião tenha essa disposição. O lado onde se situa a entrada é, por convenção, designado de Ocidente. Logo, o lado oposto, onde se coloca a Cadeira de Salomão, é o Oriente. A generalidade dos obreiros toma assento nos lados direito e esquerdo da entrada. Convencionado que está que a entrada se situa no Ocidente, o lado direito de quem entra é, portanto, o Sul e o lado esquerdo de quem entra é o Norte.

Portanto, o Aprendiz toma assento na segunda fila do lado esquerdo de quem entra. Como sempre, esta disposição tem um significado simbólico. Para ser entendido, há que ter presente que a Maçonaria nasceu no hemisfério Norte. Neste hemisfério, o que está situado a Norte é menos ensolarado, menos iluminado. Em termos de Maçonaria, o Aprendiz ainda está na fase de transição da vida profana para a vivência maçónica. Está em processo de aprendizagem dos símbolos, dos princípios, da vivência, da Maçonaria. Está no início do percurso que todos os maçons procuram fazer, do seu aperfeiçoamento, da busca do Conhecimento do significado da Vida e da Morte, da Criação, do Universo, do Material e do Imaterial. Está, como os maçons dizem, no início do caminho para a Luz. O Sol nasce a Oriente. Simbolicamente a Luz que o maçon busca encontra-se a Oriente. Daí que seja no lado que simboliza o Oriente que se encontra a Cadeira de Salomão, onde toma assento o Venerável Mestre, que conduz a Loja e os seus Obreiros na busca, individual e colectiva, do aperfeiçoamento e do Conhecimento, na busca da Luz. O Conhecimento, para quem não está preparado, pode ser nefasto, pode ser incompreendido ou mal compreendido e, logo, recusado, afastado, distorcido. Portanto, o acesso à Luz deve ser gradual, em função da capacidade, da preparação, do Caminhante. Consequentemente, aquele que está ainda menos preparado, aquele que está ainda na fase inicial da sua Jornada, deve ser protegido do excesso de Luz, para que nele se não torne nefasto o que deve ser benfazejo. Assim, deve tomar assento na zona mais protegida da Luz, ou seja, no Norte.

Quanto ao facto de tomar assento nas cadeiras traseiras, e não na primeira fila, tal deve-se, quer ao facto de, quanto mais ao Norte estiver, mais protegido estar da Luz em excesso, quer, muito mais prosaicamente, ao facto de o Aprendiz ainda ter uma reduzida intervenção nos trabalhos e ser conveniente deixar a primeira fila ser ocupada por quem pode intervir ou necessita de circular pela sala...

Esta regra só tem uma excepção: no dia da Iniciação, finda a respectiva cerimónia, o nóvel Aprendiz toma assento, até ao final da sessão (e só nessa sessão), na primeira fila do Norte. Também por uma razão muito prática: não faz sentido ser colocado mais atrás, porventura obrigando outros obreiros a desviarem-se para lhe dar passagem, para o que resta da sessão. Dá muito mais jeito manter reservado um lugar na primeira fila que, a seu tempo, será então ocupado pelorecém-iniciado. Afinal, depois do turbilhão de emoções que constitui a Iniciação, sabe bem sentar-se pertinho, pertinho, no primeiro lugar disponível e facilmente acessível...

A partir da´sessão seguinte, e durante todo o tempo em que for Aprendiz, tomará, então assento na zona que lhe está destinada, os assentos traseiros do lado Norte. Protegido na sua zona, subtraído a movimentações, o Aprendiz está sossegado, em plenas condições de se concentrar, de tudo observar, de tudo apreender. Em Maçonaria, o Aprendiz é um Homem do Norte...

Rui Bandeira

13 novembro 2007

O silêncio do Aprendiz

Em Loja, o Aprendiz Maçon não tem direito ao uso da palavra.

Esta frase, sendo substancialmente verdadeira, não espelha, porém, correctamente a realidade. A mesma ideia, correctamente formulada, expressa-se pela seguinte frase: em Loja, o Aprendiz Maçon beneficia do direito ao silêncio e cumpre o dever do silêncio.

O Aprendiz Maçon não usa da palavra em Loja, não porque se lhe não reconheça capacidade para tal (pelo contrário: o Aprendiz foi cooptado para integrar a Loja, pelo que se lhe reconhece valor), não porque se lhe atribua um estatuto inferior aos restantes (mais uma vez, pelo contrário: o Aprendiz tem um estatuto de plena igualdade com os restantes obreiros e é um importante pólo de atenção da Loja, que tem como uma das suas mais importantes tarefas a sua formação), mas porque o cumprimento de um período de silêncio é considerado imprescindível para o seu processo de aperfeiçoamento.

O silêncio do Aprendiz em Loja é importante por, pelo menos, três razões: a defesa do próprio Aprendiz, a focalização da sua atenção para a simbologia de que se vê rodeado e a demarcação de prioridades no seu processo de aperfeiçoamento.

Em primeiro lugar, estando o Aprendiz Maçon confinado ao silêncio, nada tem de dizer, sobre nada tem que opinar, nenhuma posição lhe é exigida. O silêncio a que é confinado funciona, desde logo, como um meio de defesa, de protecção, do mesmo.

O Aprendiz Maçon está a efectuar um processo de integração num grupo novo, com regras específicas, com uma ligação inter-pessoal forte. Desejaria, porventura, ter uma atitude proactiva de se dar a conhecer, de intervir, de mostrar o seu valor. Mas não precisa: que tem valor, já todo o grupo o sabe - por isso o aceitou no seu seio -, o conhecimento advirá, nos dois sentidos, com o tempo e a naturalidade dos contactos entre todos. O Aprendiz Maçon está num processo de mudança de paradigma quanto à forma de estar social. Os valores apreciados nos meios profanos não serão os mesmos que são preferidos entre os maçons. Na Maçonaria não se busca eficiência, produtividade, riqueza, estatuto, etc.. Na Maçonaria valoriza-se a força de carácter, o reconhecimento das próprias imperfeições, o desejo de melhorar, a ponderação, o respeito pelo outro, a tolerância, a paciência, etc.. Seria injusto para o Aprendiz maçon que, vindo das realidades do mundo profano, está ainda em processo de adaptação aos objectivos do método maçónico de aperfeiçoamento, deixá-lo expressar opiniões que, a breve trecho, mudará, exprimir conceitos que, desejavelmente, abandonará, em suma, actuar como está habituado a actuar no mundo profano, para logo verificar que errou e que o seu erro foi publicamente exposto.

Todo o processo de aprendizagem é um processo de tentativa-erro-correcção. O aperfeiçoamento pessoal é um processo também com estas características. Errar é normal. Será, porventura, até necessário. Os maçons experientes sabem-no. Mas quem está a soletrar as primeiras letras do novo alfabeto de valores só com o tempo o verificará. Não necessita de errar publicamente e, porventura, sentir-se diminuído com isso. Tempos virão em que será muito útil, para si e para os demais, que expresse a sua opinião, que colabore, que intervenha. Enquanto está na fase de aprendizagem, o que se espera dele é que aprenda, que se situe, que se concentre em si próprio, não na imagem que gostaria de transmitir para os demais.

Por outro lado, o facto de o Aprendiz maçon estar confinado ao silêncio, permite-lhe focalizar a sua atenção para tudo o que o rodeia, para tudo o que se passa, para tudo o que é dito - sem necessidade de responder! A experiência mostra-nos que, muitas vezes, não damos a atenção que deveríamos dar a situações, a acções, a declarações, porque estamos em simultâneo a pensar na resposta que vamos dar à situação, à acção, à declaração. O Aprendiz Maçon, com o seu direito ao silêncio, está eximido de responder, de opinar. Não tem assim de desviar a sua atenção para preparar a sua resposta. Pode e deve concentrar toda a sua atenção no que se passa, meditar sobre o seu significado, errar ou acertar, emendar o erro ou confirmar o acerto, em suma, ver (ver mesmo, não apenas olhar...) os símbolos, procurar compreendê-los e atribuir-lhes significados, utilizar esse conhecimento para sua própria melhoria.

O silêncio do Aprendiz permite-lhe, finalmente, pensar, depois reflectir e seguidamente meditar. E pensar, reflectir e meditar é o principal trabalho que tem a fazer. Porque só assim verá para além do óbvio, só assim despertará para o desconhecido, só assim se virará do exterior para o interior de si mesmo. E só assim poderá descobrir que tudo o que verdadeiramente importa já o tem, dentro de si. Basta que o encontre, que o utilize, que o aceite, que o desfrute!

A prioridade do maçon é ele próprio. O trabalho do maçon é melhorar, aperfeiçoar-se. Tudo o que de bom o maçon faça tem como objectivo esse aperfeiçoamento. A solidariedade é um meio de aperfeiçoamento. A fraternidade é um meio de aperfeiçoamento. O comportamento tolerante é um meio de aperfeiçoamento.

O importante está dentro de si. Tudo o que é exterior, incluindo a riqueza, posição social, reconhecimento dos demais, só tem valor na medida em que se repercuta positivamente no interior de cada um.

O Aprendiz Maçon vai, em silêncio, conhecer e aprender o significado de muitos símbolos. Vai, em silêncio, assistir a rituais e procedimentos. Vai, em silêncio, assistir a debates e verificar como se podem debater opiniões contrárias de modo civilizado, profícuo e satisfatório. Mas vai, sempre com o auxílio do silêncio, que há-de vir a compreender que não foi uma imposição, antes um benefício, sobretudo surpreender, apreender e compreender que o primeiro grande objectivo do maçon, o primeiro grande passo para se aperfeiçoar, a primeira ferramenta para descortinar o significado da Vida e da sua existência, é CONHECER-SE A SI MESMO.

E esse conhecimento de si mesmo não se obtém falando para os outros, conversando, discursando, palrando, opinando.

Esse conhecimento de si mesmo adquire-se lentamente, às vezes dolorosamente, sempre buscando persistentemente, apenas em diálogo consigo mesmo.

O silêncio do Aprendiz Maçon - quanto mais cedo este o perceba, melhor! - só existe perante os demais. Na realidade, o silêncio do Aprendiz mais não é do que um ensurdecedor diálogo consigo próprio, uma discussão que o que tem de bom trava com o que tem de mau, uma conversa com a criança que nos esquecemos de ser, com o adulto ponderado que, às vezes, deixamos para trás de nós próprios, com o experiente e sabedor ser que, de qualquer forma, o decurso do tempo mostrará que existe em nós, nós é que, muitas vezes, não damos por ele e não nos damos ao trabalho de inquirir se ele existe.

É no silêncio que o Aprendiz Maçon vai amaciando as asperezas da pedra bruta que é ele próprio. O silêncio do Aprendiz Maçon é o primeira prenda que a Loja lhe dá. Deve o Aprendiz Maçon utilizá-la como uma ferramenta. Se a utilizará bem ou mal, ele próprio - e só ele - o avaliará!

Rui Bandeira

09 outubro 2007

O avental do Aprendiz

Em Loja, o Aprendiz Maçon usa um avental rectangular completamente branco, com uma aba superior, de forma triangular, igualmente integralmente branca, que é usada levantada.

Ensina o Ritual do Rito Escocês Antigo e Aceite – aquele que é praticado pela Loja Mestre Affonso Domingues – que a cor branca do avental simboliza a pureza do seu coração, recomendando ainda ao Aprendiz que evite conspurcar o seu avental.

Em determinada passagem do mesmo Ritual, o Aprendiz é informado de que deve usar o avental com a aba levantada, sem que sejam dadas quaisquer explicações ou justificações para essa determinação.

Pese embora o facto de o Ritual apresentar a cor branca do avental de Aprendiz como símbolo de pureza, é minha convicção de que a escolha dessa cor tem uma origem muito mais prosaica.

Retenhamos, antes do mais, que a Maçonaria Especulativa, tal como foi fixada no século XVIII, em Inglaterra, deriva de uma Maçonaria Operativa, existente desde, pelo menos, há alguns séculos atrás, que regia o ofício dos construtores em pedra e que agrupava os respectivos profissionais, nas suas diversas vertentes (Mestres de Obras ou Arquitectos, Pedreiros, Canteiros, Escultores, etc.).

O uso de avental por profissionais de diversas profissões tem origens antigas e permanece actual. Os ferreiros e ferradores usavam avental e, pelo menos aqueles, ainda hoje usam; os cozinheiros usavam e usam avental; os trabalhadores em pedra usavam avental, etc.. O propósito do uso desta peça é evidente: a protecção da roupa envergada pelos respectivos portadores, evitando que esta seja suja ou danificada pelos materiais trabalhados pelo profissional.

Naquelas épocas, o nível de vida dos artesãos não era propriamente desafogado. A protecção da sua roupa era-lhes indispensável, o avental de protecção utilizado era confeccionado no material que, exercendo essa protecção, fosse mais abundante e barato.

Os aventais eram, assim, confeccionados na matéria-prima que então abundava na Europa e era barata: a pele de ovelha, com a respectiva lã.

A razão porque o avental era branco decorre assim do prosaico facto de a lã ser dessa cor! E obviamente que não se ia encarecer o artefacto tingindo-o, porquanto se tratava de uma peça de trabalho, destinada a ficar suja no decorrer do trabalho, não de uma peça de adorno.

Não era apenas o Aprendiz de trabalhador em pedra que usava avental de pele e lã branca. Eram todos os trabalhadores em pedra.

Evidentemente que, com a transição da Maçonaria Operativa para a Maçonaria Especulativa, a razão do uso dessa peça alterou-se, passando tal uso a ter valor simbólico, primeiro, de distinção de grau, seguidamente, e de adorno finalmente (particularmente nos Altos Graus e em Grande Loja, em que, por vezes, são utilizados vistosos, belos - e caros! - aventais). E, com essa transição, o avental perdeu o seu valor de protecção de vestuário. Daí que, enquanto que, nos tempos da Maçonaria Operativa o avental se destinava a ser sujo em vez da roupa que ele protegia, com o advento da Maçonaria Especulativa essa necessidade desapareceu e, portanto, passou a desejar-se que permaneça sempre limpo, quer material, quer simbolicamente, neste plano representando a pureza de carácter que o seu portador deve ter e que deve procurar sempre, mais e mais, aperfeiçoar.

O avental branco, em bom rigor, não é o avental do grau de Aprendiz: é o avental do maçon! Aliás, ainda hoje, em muitas Lojas dos Estados Unidos é comum entregar-se àquele que é iniciado um avental de pele de ovelha, com lã, branco, o qual é religiosamente guardado e nunca utilizado pelo maçon seu proprietário, a não ser em ocasiões festivas ou cerimoniais. Qualquer que seja o grau de quem o usa, o avental de pele e lã branco é ali utilizado como peça de adorno cerimonial!

Ainda hoje, em todas as Obediências, o avental branco pode ser usado por qualquer maçon, qualquer que seja o seu grau e qualidade. As únicas diferenças são que, por um lado, o Aprendiz só pode usar avental branco, enquanto que os maçons de outros graus podem usar o avental branco ou o do seu grau; e, por outro, que o Aprendiz deve usar o avental branco com a respectiva aba levantada, enquanto que os demais maçons, quando usam avental branco, o fazem com a respectiva aba baixada.

O actual Grão-Mestre da GLLP/GLRP, Muito Respeitável Irmão Mário Martin Guia utiliza habitualmente um singelo, mas belíssimo, avental todo branco, adornado apenas por um discreto bordado, também branco, assim simbolizando que até mesmo o Grão-Mestre se deve sempre considerar um eterno Aprendiz.

Quanto à razão do uso do avental com a aba levantada pelo Aprendiz (e aqui, efectivamente, só por este), não explicada ou justificada no ritual, deve buscar-se também nas raízes operativas da Maçonaria e na função de protecção do avental, importadas e adaptadas para a Maçonaria Especulativa. Porque o Aprendiz ainda não é versado nem experiente na Maçonaria, porque é natural que cometa erros, porque ainda está aprendendo a trabalhar a pedra bruta do seu carácter, a sua necessidade de protecção é simbolicamente maior. Daí que deva aumentar a área de protecção proporcionada por essa peça, para tal usando a respectiva aba levantada.

Quando as mais agudas arestas do seu carácter estiverem já trabalhadas, quando esse carácter se tiver já aperfeiçoado e o maçon não o trabalhe já como uma pedra bruta, antes o cinzele como se faz a uma pedra cúbica, então a necessidade de protecção terá diminuído e o maçon poderá então passar a usar o seu avental com a aba baixada. Mas, quando assim for, já, em reconhecimento do esforço que efectuou, os Mestres da Loja providenciaram o seu aumento de salário – e já não será Aprendiz!

Rui Bandeira

08 outubro 2007

A integração do Aprendiz (III)

Se é dever e do interesse da Loja providenciar pela correcta e bem sucedida integração do novo Maçon, o processo, no entanto, é bidireccional: também o novo Maçon deve providenciar pela sua correcta e bem sucedida integração na Loja e na Maçonaria.

Essencial, desde logo, é a sua assiduidade. A Integração do novo Maçon é, em larga medida, efectuada com recurso a factores emocionais. A Cerimónia de Iniciação terá marcado o novo Maçon. Mas essa marca, se não for protegida, desenvolvida, acarinhada, desaparecerá com o tempo, com o desvanecer da memória, com o diluir das sensações experimentadas. Todo o processo de integração na Loja é, não só racional, como afectivo. A sua interrupção, o distanciamento dele, o desinteresse na sua prossecução, ferem-no de morte. A maior parte dos abandonos de Aprendizes – isto é, de falhanços no processo de integração de Aprendizes – decorre da sua deficiente assiduidade. Os laços, não só emocionais e afectivos, mas também desta natureza, que deviam ter sido criados, ficaram irremediavelmente comprometidos. A integração do novo Maçon é como a colocação de uma planta no jardim: se não for regada com a devida assiduidade, se não for cuidada, não pegará, definhará e secará. Mas, se receber os cuidados adequados, as suas raízes firmar-se-ão, crescerá e desenvolver-se-á e, a seu tempo, florirá e frutificará.

Não quero com isto dizer que a quebra de assiduidade irremediavelmente conduza ao desinteresse do novo Maçon. Já assisti a situações em que Aprendizes, logo a seguir a terem sido iniciados, se ausentaram, designadamente por razões profissionais, para longínquas partes do globo e só regressaram passado um ou dois ou, mesmo, mais anos e que, apesar disso, reiniciaram sua vida maçónica, tão precocemente interrompida, e completaram, com êxito, o seu processo de integração. Também conheço exemplos de plantas que, sem terem recebido os devidos cuidados após a sua transplantação, apesar disso resistiram, não secaram e, vindo mais tarde a beneficiar das condições que nunca lhes deveriam ter faltado, arribaram, recuperaram e cresceram. Mas, quer num caso, quer no outro, o esforço de recuperação do que quase se perdeu foi muito maior, mais fundas foram as preocupações, mais intensos foram os cuidados necessários.

Uma das mais básicas leis da Natureza é aquela que costumamos designar por “lei do menor esforço”: o máximo de eficácia resulta da melhor relação entre o resultado obtido e o esforço despendido. Também aqui se deve procurar maximizar essa relação. E essa maximização depende grandemente da assiduidade do novo maçon.

O segundo aspecto que deve merecer o cuidado do nóvel maçon respeita à gestão das suas expectativas. A Maçonaria não é uma varinha mágica que transforma um sapo num belo príncipe através do toque da Iniciação... E também não é, nem uma corte de extasiados súbditos determinados a apreciar as excelsas qualidades do novo elemento que, triunfador na sua vida profana, irá expandir sua glória entre os maçons, nem uma soberba estrutura de prestação de cuidados individuais que, num abrir e fechar de olhos, cuidará de suas deficiências, reparará seus complexos e o doutorará em Êxito Pessoal, Social, Profissional, Esotérico e Valências Correlativas... A Maçonaria é um meio, um caldo de cultura, um ambiente, um método. O seu aproveitamento cabe ao maçon, ao seu esforço, à sua capacidade, ao seu interesse.

Finalmente, o terceiro aspecto importante na integração do novo maçon, na perspectiva deste, é a Paciência. O maçon deve cultivar muitas virtudes – todas as Virtudes! Mas uma das primeiras a que deve dedicar seus esforços é a virtude da paciência. Na Maçonaria não há micro-ondas que aqueçam instantaneamente, ou quase, o coração dos seus elementos; a Maçonaria não é um aviário que faça crescer em poucas semanas a ave do conhecimento, para consumo massificado - desse crescimento acelerado só resultaria um insípido pseudo-conhecimento, de reduzido ou nulo valor nutritivo para o espírito do maçon. Na Maçonaria, dá-se atenção à eficácia, mas reconhece-se o imenso valor do tempo. Há que dar tempo para que se assimile um conceito, para que ele seja perfeitamente integrado no maçon, em termos racionais e emocionais, para que, só então, se avance para o passo seguinte. Os princípios e o método maçónicos vêm dos tempos do trabalho artesanal, do paciente burilar da pedra até que esta atinja a forma desejada, não se dão bem com prontos-a-vestir, prontos-a-comer e muito menos com prontos-a-conhecer...

Paciência, pois! O trabalho metódico, calmo, firme, seguro, persistente, dará seus frutos! Poderá não dar os frutos que, à partida, se pensava que desse, mas alguns frutos dará. E dará quando, tempo após tempo, for tempo de os dar! A nossa vida “moderna” habituou-nos a obter tudo já, agora e imediatamente, a querer tudo para ontem, para o podermos largar hoje e avançar amanhã para novos objectivos. A Maçonaria não é assim, a Maçonaria poderá ser hoje por alguns considerada anacrónica, mas dá valor ao Tempo, à Sequência, à Evolução, à Consistência.

E, afinal de contas, o que mais admiramos? O moderno, brilhante e construído em poucos meses edifício, ou a vetusta e arcaica catedral que demorou décadas a ser finalizada?

Assiduidade, expectativas equilibradas e paciência são as ferramentas que, utilizadas adequada e diligentemente pelo novo maçon, lhe conferirão a devida integração na Maçonaria. E, quando o novo maçon der por isso... já será maçon antigo e recordará com ternura o tempo em que era um inexperiente Aprendiz buscando encontrar na Maçonaria o seu lugar, sem estar ainda ciente que esse lugar é onde ele quiser, para onde ele for, onde ele estiver!

Rui Bandeira

04 outubro 2007

A integração do Aprendiz (II)

O primeiro nível de integração de que a Loja deve, de imediato, cuidar é o da integração social, porque, como é fácil de entender, condiciona todos os demais. Sem uma bem conseguida integração social no grupo, dificilmente se gera empatia, se criam e fortalecem afinidades, se geram amizades, enfim, se dá uma verdadeira integração do novo elemento no grupo.

A este nível, o processo de integração começa logo no ágape que se segue à sessão em que ocorreu a Cerimónia de Iniciação. Ao nóvel Aprendiz é destinado um lugar ao lado do Venerável Mestre. Como este tem assento na zona central da mesa dos ágapes, o novo Aprendiz está rodeado de vários elementos mais antigos da Loja. Procura-se que mais perto dele tomem assento Mestres experientes, se possível incluindo o 2.º Vigilante. A conversa flui descontraidamente entre todos. Não há melhor ocasião para conviver do que à volta de uma mesa, consumindo uma refeição... Nesse ambiente descontraído, o novo Aprendiz começará a conhecer os demais elementos da Loja. Comenta o que quiser comentar, pergunta o que precisar de perguntar, brinca-se e fala-se a sério, enfim, convive-se. O importante é que o novo Aprendiz se comece a sentir "mais um" daquele grupo. E assim se prossegue.

Outro aspecto importante da integração social do novo Aprendiz é a integração de sua família nos eventos em que as famílias dos maçons se reúnem, na medida em que isso seja possível. É muito mais fácil para o novo maçon prosseguir com a sua vida maçónica se tiver o apoio de sua família do que se tiver a oposição desta... Participar nas reuniões e outras iniciativas da Loja e da Grande Loja consome tempo - tempo que se subtrai ao convívio familiar. É importante que, de alguma forma, as famílias dos maçons sejam compensadas das ausências destes com algumas oportunidades de agradável convívio social, seja em jantares brancos - isto é, abertos às famílias -, seja em visitas ou viagens organizadas, seja no âmbito de qualquer realização da Loja. É importante que a integração do novo maçon envolva também a sua família. Até porque é um princípio básico da maçonaria que o cumprimento dos deveres familiares seja prioritário.

O objectivo final da integração social do novo maçon é que ele sinta a sua Loja, os seus Irmãos, como um espaço onde ele e a sua família podem estar seguros e confiantes, sem competições, sem atropelos, em fraternidade. Para uma bem sucedida integração social do novo Maçon é importante o papel do seu padrinho, mas indispensável o contributo de toda a Loja.

A outro nível, a Loja deve providenciar pela formação do Aprendiz. Deve apresentar-lhe os símbolos e providenciar-lhe as noções básicas para que ele os interprete, mas sempre tendo o cuidado de evitar dogmatismos. Mais uma vez, o objectivo não é ensinar, é que o Aprendiz aprenda. Neste aspecto é, consequentemente, muito importante que não se diga que X simboliza A. Aquilo que X simboliza deve ser apreendido, entendido, reflectido, encontrado, por cada um. X pode simbolizar A para mim, mas também pode simbolizar B para o meu interlocutor, ou C para outro qualquer maçon. Na formação do Aprendiz, proporcionam-se-lhe ferramentas, método - não dogmatismos. O objectivo é que o Maçon reflicta em si e no Mundo, no Material e no Espiritual, na Vida e na Morte, enfim, que procure encontrar o seu lugar na Vida, o significado da sua existência. É um trabalho nunca acabado. É um trabalho que se impõe que o Aprendiz maçon comece. Neste percurso de reflexão utilizando a simbologia, deve-se auxiliar o maçon que nos pede auxílio ou opinião, nunca se deve impor conceitos. Porque o conceito de meu Irmão é tão válido quanto o meu, na medida em que é aquele em que ele se sente confortável, como eu me sinto confortável com o meu. Cooperação e não competição. Aprendizagem, não ensino. Tolerância, não dogmatismo. Valorização da diferença. Discussão sã e amigável dos respectivos pontos de vista, não para impor a nossa maneira de ver ao Outro, mas para nos esclarecermos mutuamente sobre o que ambos pensamos e para aprofundarmos o nosso conhecimento sobre os conceitos em causa. Reflexão, reflexão e ainda reflexão. Estes são posicionamentos básicos que devem ser transmitidos ao Aprendiz. E com a sua apreensão e utilização por ele, todos estamos no mesmo comprimento de onda, todos estamos em sintonia, todo estamos integrados na mesma busca - mas, na realidade, cada um tem a sua busca particular, que não interfere nem se sobrepõe às dos demais...

Finalmente, o terceiro nível de integração do novo Aprendiz é a integração no Ritual. Propiciar que o novo maçon entenda que o ritual não é apenas uma repetição mecânica de palavras e actos, mas uma fonte, um guia, uma constante lembrança de conceitos, de normas morais, de chaves para interpretação de símbolos, é fundamental. O Ritual e o Catecismo de cada grau são ferramentas indispensáveis, fontes inexauríveis de alimento para o intelecto e o espírito, tesouros inesgotáveis de conhecimento especulativo que o Aprendiz tem à sua disposição. Estando a dar os seus primeiros passos na maçonaria, ainda só sabendo soletrar, terá a seu lado para o guiar, para o aconselhar, para o esclarecer (mas nunca para algo lhe impor) um experiente Oficial da Loja, o 2.º Vigilante, que tem a seu cargo, além do mais, a missão específica de acompanhar, orientar, supervisionar, os Aprendizes. E o Aprendiz tem também - sempre! - à sua disposição qualquer outro Mestre da Loja para lhe proporcionar a ajuda de que careça, o auxílio que solicite, o esclarecimento que peça.

Uma integração bem sucedida a estes três níveis será meio caminho andado para que o novo maçon sinta confirmadas as expectativas que tinha quando buscou juntar-se à Maçonaria. É dever da Loja proporcionar-lhe essa integração. É do interesse da Loja fazê-lo. É da essência da Maçonaria prossegui-lo.

Rui Bandeira