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03 outubro 2016

Pompa e circunstância


Mês de equinócio é mês de sessões de Grande Loja (ou Grande Oriente). Em Portugal, no Brasil ou, genericamente em qualquer parte do mundo onde esteja implantada a Maçonaria, sessão de Grande Loja ou Grande Oriente é, normalmente, sinónimo de pompa e circunstância. 

Desde que a Maçonaria especulativa surgiu, muito rapidamente a Primeira Grande Loja passou a ter como dirigente máximo um elemento da nobreza. Ora, como sabemos, nobreza britânica e pompa e circunstância são termos inseparáveis... 

Não há mal nenhum na pompa e circunstância - desde que cada maçom tenha sempre presente que o que verdadeiraente importa não tem nada a ver com isso.

Maçonaria pode ter brilho, pode ter dourados, pode ter aventais ricamente bordados, colares vistosos e toda a série de penduricalhos que se quiser. Mas, em Maçonaria o que verdadeiramente importa é a construção que cada um faz de si e em si mesmo. Esse é que é o princípio e o fim.

A pompa, a circunstância, os penduricalhos, os profusos elogios, saudações e outras intervenções fazem parte, mas não são mais do que mundanidades, afinal concessões que nós, maçons, fazemos ao que de nós menos importa, à imperfeição que reside em nós. Se nós, maçons, não nos reconhecêssemos imperfeitos, não buscaríamos aperfeiçoarmo-nos... E é esse nosso lado imperfeito que atende a todas essas mundanidades. Mas o maçom deve ter sempre presente que essas mundanidades não são mais do que a ganga, a roupa, o cenário, que acompanha e simultaneamente cobre o que realmente interessa: o discreto mas incessante trabalho que cada um deve fazer em si para procurar sempre ser um pouco melhor, um pouco mais digno da centelha divina ínsita na Vida que o anima e que é verdadeiramente o essencial de si, o que permanecerá depois de tudo o resto se desintegrar.

Não há mal nenhum que o maçom aprecie a pompa e circunstância, ache bonitos os dourados e penduricalhos - desde que não se esqueça nunca de que tudo isso pouco significa em face do que verdadeiramente importa: o seu esforço constante e solitário no burilar de si próprio, na procura da libertação da Luz que busca e que afinal traz em si e só precisa descobri-la e desvelá-la. Só assim as mundanidades permanecem confinadas onde é saudável que permaneçam relegadas - e não se transformam em profanidades.

Pompa, circunstância, penduricalhos, títulos, honrarias não passam de, porventura necessárias, concessões que o maçom faz a si próprio, na parte de si que menos importa. Mas integram apenas o ponto de partida, nunca constarão do ansiado porto de chegada... À medida que se vai construindo, o maçom vai vendo diminuir o "valor" de tudo isso.

Porque o que todos os maçons sabem e não devem nunca esquecer é que há uma igualdade essencial entre todos eles, desde o Aprendiz de alvo avental, ao Companheiro, ao Mestre, ao Oficial de Loja, ao Venerável Mestre, ao Grande Oficial e ao Grão-Mestre: com mais ou menos atavios nos seus aventais, com mais ou menos brilhos, com mais ou menos louvores ou elogios, com mais ou menos "importância", todos não passam de Operários em Construção!

Rui Bandeira

19 janeiro 2015

Formalismos na Maçonaria…

(imagem proveniente de Google Images)

Na Maçonaria existe o costume de os seus membros se tratarem por irmãos ou manos, uma vez que a Augusta Ordem Maçónica é uma Irmandade de carácter fraternal.

Mas para além deste hábito, existe outro que costuma fazer alguma confusão aos recém-chegados. É o facto de todos no seu trato habitual se tratarem por “tu”.
Independentemente da idade, do grau ou da qualidade maçónica (cargo que se represente em Loja ou na Obediência), todos, mas mesmo todos, se tratam por “tu”.

Enquanto na vida profana é habitual  as pessoas tratarem-se com alguma deferência, nomeadamente tratarem-se por “você” ou por “senhor” ou até mesmo pelo título académico que detenham, na Maçonaria não existe esse distanciamento pessoal. Quando se aborda um irmão, é por “tu isto…” ou “tu aquilo…” É “tu” e prontos!

Isto por si só, é uma demonstração que aos maçons não interessam os cargos ou as profissões que um irmão desempenhe na sua vida profissional. Em Loja todos sãos iguais entre si. Desde o mais desfavorecido financeiramente ao mais folgado em questões de metais, não existe diferença no trato. Os “metais” devem ficar sempre fora de portas do Templo. 
Esta é outra das virtudes que se podem encontrar na Maçonaria a par da tolerância e do espírito fraternal.

E como entre irmãos não há lugar para deferências ou "salamaleques", é mais salutar e sensato o tratamento por “tu” que por outra coisa qualquer. Desse modo, aos recém-chegados dá-se lhes a confiança necessária para se enturmarem com os mais antigos na casa, e aos mais idosos em idade, consegue-se que mantenham dessa forma, um espírito jovem e reverencial que a todos agrada. Aos mais jovens é que normalmente causa algum desconforto em tratar alguém mais velho em idade por uma forma tão simples de tratamento, mas com o tempo esse pequeno desconforto passa e é normal que depois nem se note a diferença de trato nem a idade do irmão com quem se interage.

Esta forma de tratamento entre pessoas, foi dos hábitos que mais “estranheza” me causaram nos meus tempos de neófito.

É como se costuma dizer: “primeiro estranha-se, depois entranha-se…”

Mas em Maçonaria e em como tudo o que sejam instituições, associações ou grupos onde o Homem se reúna, existe sempre uma hierarquia a respeitar, e como tal, o tratamento com alguém hierarquicamente superior, devido às funções que lhe são acometidas, nunca poderia ser igual à que os outros membros terão entre si. E como afirmei acima, se na Maçonaria os seus obreiros se tratam entre si como irmãos e no trato normal por “tu”, não deixa de ser interessante que quando se trata de alguém com funções diretivas, esse tratamento seja enaltecido.

Apesar de quando um irmão se dirige a um irmão que ocupe um cargo relevante na estrutura maçónica o trate na mesma por “tu”, a diferenciação no tratamento é respeitante ao cargo e função ocupada em si e não à pessoa em concreto. Por isso é que é habitual se ouvir falar em “Venerável Mestre”, “Respeitável Irmão” e “Muito Respeitável Grão-Mestre” entre outros apelidos que se conheçam e que existem, que servem apenas para diferenciar um irmão dos restantes apenas pelas funções que lhe são atribuídas e nada mais.

Em Maçonaria todos os cargos são transitórios, tal como quase tudo na vida, e os maçons têm isso presente, e como tal, não adianta ou não é necessário existir outro tratamento que não seja por “tu”, pois se hoje desempenhamos um cargo, amanhã poderemos estar apenas a ocupar um lugar numa das colunas. E quem hoje se encontra simplesmente numa coluna e sem funções atribuídas, amanhã poderá ser chamado a ocupar alguma função importante na estrutura maçónica. E este tipo de tratamento possibilita uma transição entre colunas ou funções sem qualquer tipo de sobressaltos.

Concluindo, se as designações dos cargos maçónicos ou dos títulos dos graus maçónicos que existem poderem sugerir algumas vezes que o tratamento entre irmãos possa derivar em "pantominices", essa assumpção está bastante errada. O tratamento entre irmãos é sempre feito da forma mais simples que se conhece, utilizando simplesmente o pronome “tu”.
E é assim que se quer que a Maçonaria funcione, de uma forma simples e elementar.


PS: Texto adaptado deste outro, também escrito e publicado por mim.