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12 setembro 2007

“Os Grandes Portugueses” - 2

Após estimulante conversa com o meu Irmão Aprendiz Maçon A. D., também obreiro na minha estimada loja, na qual me deu nota que via no sítio electrónico em tópico, uma estimulante via de aprendizagem, e não dispensava o seu acesso numa base diária.

Tendo já escrito um artigo para o mesmo e sabendo que os escrivães de serviço são poucos (apenas 3), eu solidariamente, proponho-me de quando em vez, dar o meu contributo.


De resto é esta também uma forma de estar ligado, não só espiritualmente, mas pela forma da letra aos meus irmãos.


Terminada a conversa acedi ao sitio e percorri os artigos, por temas, e um, cuja autoria é do Rui Bandeira, que procurou responder a um leitor cuja curiosidade o levou a querer saber quantos, dos grandes portugueses elencados no conhecido programa televisivo, teriam sido Maçons.


Na sua habitual facilidade com que explana os temas, o Rui Bandeira, de forma brilhante teceu os seus considerandos sobre o caso, pese embora, se note que só a custo aceita ter sido o Marquês de Pombal um Maçon, com facilidade vê em Fernando Pessoa um irmão, e com gosto conjectura sobre o preenchimento de requisitos de Aristides Sousa Mendes, para como tal ser reconhecido.


Compreendo isso. Afinal as acções do Marquês de Pombal não se compaginam com os valores maçónicos – perseguiu de forma impiedosa os jesuítas, mandou para a forca a nobreza de quem desconfiava, entre outras atrocidades, de quem o Intendente Geral da Policia – Pina Manique – era o braço direito.


Quanto a Fernando Pessoa, o Rui Bandeira reconhece premissas que sendo válidas para o “fazer” Maçon também o são para o considerar Mágico, pois também estudou esta via esotérica, e não me parece que o tivesse sido, só porque estudou a magia, tendo-se dado até com o conhecido “Mago” Allister Crowlley.


Mas no essencial aquilo que me leva a escrever estas linhas é o facto de o Rui Bandeira ter eliminado, logo á partida, com um bom argumento diga-se, pessoas como D. Afonso Henriques, Infante D. Henrique, D. João II, Vasco da Gama, e Camões.


Não resisto a pensar numa linha, ainda que ténue, não perceptível a “olho nu” ligando estas figuras, entre outras não mencionadas ou retratadas, e cujos pontos de contacto à Maçonaria, são bem defensáveis.


Passo a explicar. Para início de conversa Portugal é um País de génese iniciática e esotérica. Isso está patente pelo seu principal mentor – S. Bernardo de Claraval – figura maior do seu tempo no seio da cristandade, primo do Conde D. Henrique, este pai do nosso primeiro Rei.


Foi Bernardo de Claraval quem, enviando um seu tio para a Palestina, fomenta a criação dos templários, ordem de cavalaria iniciática que haveria de ter em D. Afonso Henriques como frater.


Os Templários criados para a demanda do Santo Graal, enclausuraram-se durante 7 anos no antigo templo do Rei de Salomão, e surgem como um braço armado da cristandade temido em todo o oriente.


O que eles lá encontram não se sabe, supõe-se apenas, como se supõe terem-no trazido para um porto seguro, na Europa, o Porto do Graal, ou como assinava o nosso primeiro Rei, o Portugral, hoje Portugal. Mais tarde, aí uns 400 anos, haveria, digo eu, de ser levado para a terra da Verdadeira Cruz, ou vera cruz como lhe chamou Pedro Alvares Cabral.


É sabido que a arte Gótica surge de repente na Europa, trazida pelos templários da palestina. Os construtores dos templos, isto é a maçonaria operativa, trabalhava para e com os Templários. Os pontos de contacto eram pois muito fortes.


Isto para dizer que D. Afonso Henriques pode não ter sido, e creio que não, um maçon, mas com eles teve próximo contacto, até pela sua condição de frater de uma ordem iniciática, como a dos Templários.


Quanto ao infante D. Henrique, recordo que foi Governador da Ordem de Cristo, logo também ele um iniciado nos mistérios templários, de quem a Ordem de Cristo era a fiel depositária.


Lembremo-nos ainda que esta Ordem foi uma criação do Rei D. Dinis que lutou arduamente durante 7 anos, para obter confirmação Papal, após o papado ter extinto a Ordem dos Templários.


E este Rei é importante, porque também ele era um iniciado. Não na Ordem do Templo não na de Cristo (pelo que se julga saber) mas sim numa Ordem iniciática Trovadoresca, conhecida como “Os Fieis do Amor”. Faz sentido ter sido este nosso Rei Poeta tão ilustre no seu tempo pelas suas “cantigas de amor”.


Acontece que se supõe ter o nosso Luís Vaz de Camões e Fernando Pessoa, ambos pertencido a esta Ordem Iniciática tão pouco conhecida entre nós.


O Rei João II um iniciado, tendo sido um dos mais destacados Grão-Mestres da Ordem de Santiago, e vários dos grandes navegadores foram cavaleiros desta Ordem. De referir ainda que D. Dinis não se limitou a criar a Ordem de Cristo, a ele se deve a desanexação da Comenda Portuguesa da Ordem de Santiago, através de Bula Papal de 1290.


Vasco da Gama tendo sido um ilustre Almirante, obrigatoriamente seria um iniciado, pois só assim possível capitanear uma embarcação Portuguesa.


Portanto, admitindo como boa a argumentação para o facto de todos estes não terem sido Maçons, foram pelo menos iniciados, e tiveram pontos de contacto importantes, com a Ordem Maçónica e a Maçonaria, que no entender de Fernando Pessoa não seriam a mesma coisa … para ele a Ordem Maçónica era ancestral (anterior mesmo à lenda que os portadores do avental com 3 rosas conhecem) e a maçonaria a que ele se refere é a especulativa surgida no XVIII. Quando Fernando Pessoa dá a entender, nos seus escritos, ser “Maçon” a qual das duas se referiria? Penso que à primeira …


Uma última nota para chamar à atenção do logótipo estilizado do Município de Odivelas que ostenta um coração e um curso de água.


Sabendo que o Rei D. Dinis é a principal figura deste município, foi ele o criador do lugar de Odivelas, não deixa de ser uma muito feliz coincidência ter sido adoptado o símbolo do Amor – o coração – fazendo juz ao facto de ter sido um iniciado dos “Fieis do Amor”.


Como sei que o criador do logótipo não sabia disto, não tenho dúvidas que foi o G.:A.:D.:U.: quem guiou a sua mão.


Bem Hajam.


Templuum Petrus

15 março 2007

"Os grandes portugueses"

A forma privilegiada de interacção entre os autores do blogue e os visitantes deste é, obviamente a caixa de comentários, pelas possibilidades de diálogo entre uns e outros a propósito de qualquer tema, de qualquer texto, que a mesma propicia. Neste aspecto, já o JoséSR deixou cair, há tempos, num dos seus textos, um pequeno lamento quanto ao reduzido número de comentários que são colocados no blogue. Não é algo que me espante, quer porque, ao contrário dos hábitos anglo-saxões de participação, os nossos hábitos latinos não nos incitam a sair dos respectivos casulos e compartilhar opiniões. Normalmente lemos, gostamos ou não, concordamos ou não, mas raramente achamos que vale a pena dar - ainda por cima publicamente... - a nossa opinião. Acresce que neste blogue optámos por não permitir comentários anónimos, o que obriga aquele que, ocasionalmente, sinta o impulso de comentar um texto, a fazer um registo prévio no serviço de blogues para o poder então fazer, o que, frequentemente, faz extinguir o impulso...

Mas outra forma há de interacção, para quem pretenda opinar ou sugerir algo: o uso dos endereços de correio electrónico dos vários autores de textos, disponíveis nos respectivos perfis (excepto no caso do JPSetúbal; mas, para esse, podem comunicar comigo, que eu depois retransmito para ele...).

Foi o que sucedeu com um dos nossos visitantes, que me enviou uma mensagem de correio electrónico, em que, além do mais, escreveu o seguinte:

"a razão pelo e-mail, prende-se pelo facto de me ter surgido uma ideia/curiosidade, talvez que o Sr. ate possa esclarecer ou ate mesmo escrever no Blog:
Dos dez nomeados no concurso do "Melhor Português"
http://www.rtp.pt/wportal/sites/tv/grandesportugueses/index.php) quantos e quais foram maçons?
Pelo que li no livro de José Braga Gonçalves o Marques de Pombal foi um dos primeiros maçons em Portugal e dos nomeados Fernando Pessoa também tinha alguma ligação com a maçonaria. Mais alguém?"

Esta mensagem resolveu pela alternativa positiva uma dúvida com que me debatia: fazer ou não um texto a propósito deste programa televisivo? Por um lado, estava tentado a fazê-lo, pela temática histórica do programa e pela sua potencialidade de, pela via lúdica da "eleição" do "maior", reinteressar os portugueses pela História; por outro, o desagradável e infantil "campeonato" de cultores de ideologias representadas por dois dos "nomeados" em que publicamente se transformou o programa e a escolha, fez desaparecer instantaneamente o meu interesse pelo programa. Aquilo deixou de ser um programa lúdico-didáctico, passou a ser um banal pretexto para uma pueril pugna entre saudosistas de Salazar e cultores da personalidade de Cunhal, qual pseudo Benfica - Sporting de baixo nível, que nem Cascalheira - Carcavelinhos chega a ser. Enfim, tacanha mediocridade transformou uma ideia que até era interessante em reality show de baixo nível, como todos o são!

Mas se alguns assim estragaram o que indiscutivelmente era uma boa ideia, muitos - felizmente! - continuam fiéis à boa ideia e aproveitam o pretexto do programa para se interessar pela nossa História. É o caso do meu correspondente electrónico, e será o caso de muitos e muitos, e ainda bem! É, assim, com todo o gosto que vou procurar responder à questão colocada: quantos e quais dos dez nomeados no dito concurso foram maçons?

Os dez nomeados são, por ordem cronológica: D. Afonso Henriques, Infante D. Henrique, D. João II, Vasco da Gama, Camões, Marquês de Pombal, Fernando Pessoa, Aristides de Sousa Mendes, Salazar e Cunhal.

Em primeiro lugar, recorde-se que a Maçonaria Especulativa, a Maçonaria tal como a entendemos hoje teve o seu início em princípios do século XVIII. Antes disso, o que existia era o o que designamos por maçonaria operativa, isto é, a organização profissional dos construtores em pedra, que se organizavam em Lojas de trabalho operativo. A construção em pedra abrangia não só a elaboração dos projectos e planos de construção (actividade hoje associada à profissão de arquitecto), como a direcção da execução da mesma (engenheiro), como ainda a execução da obra (pedreiro, canteiro) e a elaboração das peças decorativas (escultor, gravador, pintor). A partir da segunda metade do século XVII, as oficinas de construção, as Lojas, passaram a admitir também elementos estranhos à arte da construção em pedra, mas nela interessados, particularmente nobres e intelectuais, assim iniciando a transição da maçonaria operativa, organização profissional com ética e princípios próprios, para a Maçonaria Especulativa, sistema de aperfeiçoamento ético e espiritual, independentemente da profissão de cada um.

Portanto, anteriormente ao século XVII, a inclusão de alguém na maçonaria só enquanto operativa, e, portanto, só se tratando de alguém que trabalhasse a pedra.

Dos dez nomeados ficam, assim, automaticamente excluídos dessa hipótese cinco: D. Afonso Henriques, Infante D. Henrique, D. João II, Vasco da Gama e Camões. Vejamos então os restantes cinco.

Cunhal é público e notório que não foi maçon. Dedicou-se à luta política, dedicou-se à ideologia que abraçou.

Salazar é também evidente que não foi maçon, antes se opôs à Maçonaria e contra ela usou o seu poder, tendo feito publicar diploma legal proibindo-a.

Aristides de Sousa Mendes podia perfeitamente ter sido maçon. Os seus princípios, a sua ética, os seus actos, qualificavam-no abundantemente para tal. Os maçons sentir-se-iam honrados em tê-lo na sua companhia! Aliás, na GLLP/GLRP existe uma Loja que homenageia a sua memória, a R:. L:. Aristides de Sousa Mendes, n.º 32. Mas não existe qualquer registo de entrada na Ordem Maçónica. Mas sem dúvida que o seu comportamento, a sua postura e os seus ideais permitem que, sem objecções, dele se diga que foi um autêntico "maçon sem avental".

Fernando Pessoa esteve muito ligado ao mundo do esoterismo - o que, aliás, é perceptível na sua obra - e obviamente que teve contactos com a Maçonaria, seus textos e princípios. Defendeu publicamente a Maçonaria, no artigo "As Associações Secretas: Análise Serena e Minuciosa a um Projecto de Lei apresentado ao Parlamento", publicado em 1935 no Diário de Lisboa. Mas nenhuma evidência ou registo existe que permita concluir que alguma vez foi iniciado maçon. Certamente porque não teve interesse em tal. Se o tivesse desejado, não haveria, sem dúvida, dificuldade na sua admissão às provas da Iniciação. Também em relação à sua memória a GLLP/GLRP dedicou e dedica uma Loja, a primeira, a R:. L:. Fernando Pessoa, n.º 1.

Quanto a Sebastião José de Carvalho e Melo, Conde de Oeiras e Marquês de Pombal, existem efectivamente indícios de que terá sido iniciado maçon. A época, as viagens, as ligações pessoais e o sentido de modernidade autorizam essa ideia. José Braga Gonçalves, designadamente no seu livro O maçon de Viena sustenta essa tese com abundância de pormenores, alguns dos quais talvez um pouco forçados (estou a pensar na tese de que os planos da Baixa Pombalina reproduzem a disposição de uma Loja Maçónica: só com algum esforço e alguma dose de boa vontade se pode concluir pela afirmativa). Mas, apesar dos pesares, o conjunto de indícios apontados por Braga Gonçalves é de considerável peso. No entanto, até agora não se encontraram provas irrefutáveis que confirmem essa forte possibilidade. O Marquês de Pombal também é homenageado por uma Loja da GLLP/GLRP, a R:. L:. Marquês de Pombal, n.º 19.

De referir, ainda, que a GLLP/GLRP dedica à memória do Poeta dos Lusíadas a R:. L:. Camões, n.º 15, e à do Navegador a R:. L:. Infante D. Henrique, n.º53.

Rui Bandeira