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14 setembro 2008

Continuidade - instalado o 19º

Ora pois Venerável Mestre!!

Depois de eleito em Julho, coube a J.F. ser instalado na primeira sessão de Setembro.

A cerimónia, decorreu com a solenidade que se impunha. O Muito Respeitavel Grão Mestre que esteve presente tomou em mãos algumas partes da cerimónia, ajudando o Mestre Instalador que era apenas e só um dos Vice Grão Mestre e além disso membro da Loja.

A Loja continua entregue a mãos experientes, não no cargo mas em maçonaria, pois JF é membro da Affonso Domingues desde o dia da sua Iniciaçao e nela fez todo o seu percurso.

Estamos seguros que o seu mandato,que agora se inicia, será proficuo e permitirá que a Loja engrandeça e siga no caminho que tem vindo a percorrer.

Desejo ( desejamos) um grande sucesso ao JF e daqui vai um TFA.

José Ruah

14 julho 2008

A Continuidade - Vem aí o 19º Venerável

Este Sábado dia 12 a Loja Mestre Affonso Domingues, elegeu os seus proximos Veneravel Mestre e Tesoureiro.

Numa votação sem qualquer sobressalto, foi assegurada a continuidade da Liderança da Loja.

Para Tesoureiro foi eleito o Irmão António M., espera-o um cargo dificil e ingrato, se bem que o estado das contas se encontre bom e os sistemas de controlo a funcionar, mas que ele conseguirá cumpri-lo nao temos qualquer duvida.

Para Veneravel, e será o 19º Veneravel da Loja, foi eleito o Irmao João F., a ele a dificil tarefa de ser o primeiro Veneravel da Idade adulta da Loja.

A tomada de posse ocorrerá em Setembro e nessa altura disso daremos conhecimento aqui.

Aos Irmãos eleitos as nossas sinceras felicitações e votos de sucesso.


José Ruah

16 janeiro 2008

Mais Memoria de Loja

Tem sido designio do actual Veneravel Mestre que se compile o espolio da Loja e que se faça a História da Loja.
Ha dois dias fui finalmente ao sitio onde tinha guardado todo o espolio que tinha na minha posse e tirei-lhe a poeira.
Muita coisa ja entreguei ao arquivista, mas alguns documentos estão ainda na minha posse. São documentos relativos às reuniões de discussao sobre o futuro da Loja aquando da cisão de 1996.
Sobre este assunto já falei, mas depois de reler os documentos comecei a digitalizar alguns. E se uns permitem a utilizaçao de OCR e pude passa-los a ficheiros de textos outros ficarao ficheiros de imagem.
Porque estes textos têm, na minha opinião, valor historico suficiente para serem publicados, mas sobretudo porque mesmo passados 11 anos ainda estao actuais decidi começar a publicaçao aqui mesmo.
Alguns deles, por serem manuscritos terei que os passar para ficheiro e isso levará tempo mas... valerá a pena.
O texto de hoje é a minha alocução inicial proferida em 18 Janeiro de 1997 no Hotel Plaza em Lisboa, perante cerca de 40 membros da Loja Mestre Affonso Domingues, ali reunidos para decidirem sobre o futuro da LOja.


ALocuçao Inicial
Rudes golpes atingiram esta casa, a fraternidade não imperou e o diálogo ou não existiu ou foi transformado em monologo.

Foram ditas e feitas coisas indignas de um Maçon, que queira ser digno desse nome.

Em nome de uma bandeira chamada regularidade esconderam-se seguramente os verdadeiros motivos que levaram os actuantes a fazer o que bem conhecemos.

Regularidade: Conceito esquisito
Regularidade: Aquilo que todos reclamam ter
Regularidade: Bandeira para guerras santas
Regularidade: Simplesmente a crença no GADU , a não discussão de política ou religião entre nós, o respeito pelos Landmarks e pelas constituições de Andersen.

Não sei qual das definições preferem, eu opto pela ultima.

Os protagonistas da crise esqueceram-se destes princípios, pois segundo a minha opinião esqueceram-se do GADU, envolveram-se em questões de ordem política , revelaram identidades seja explicita ou implicitamente, usaram da força

A cobiça dos Homens substituiu a sabedoria da tradição alicerçada nos landmarks . O homem quis ser Deus.

As paixões sobrepuseram-se às virtudes. Perverteu-se a Maçonaria.

Rudes golpes para atordoar, para ferir, para matar.


Quem é o responsável ?

Uns dizem Fernando Teixeira
Outros dizem Luís Nandim de Carvalho
Outros ainda afirmam que foram os dois e seus acólitos
Eu digo-vos NÓS.

Nós II, Nós Lojas, Nós Indivíduos.

Nós porque não fomos capazes de prever, antecipar e consequentemente evitar.

Nós Lojas nunca quisemos o poder por pensarmos que tínhamos coisas mais importantes para fazer.

Virámo-nos para dentro esquecendo o exterior.

Por nossa não actuação pagamos agora a factura. Factura que é elevada demais para as nossas posses.

Podemos argumentar, não não temos culpa, não destituímos ninguém, não fomos para a imprensa, não.

É verdade. Mas isso não impede que a factura nos seja dirigida.

Como Aconteceu?

Uns dizem que o início da crise foi há muito tempo, outros que foi apenas há umas semanas atrás.
Provavelmente têm todos razão ou não tem nenhum.

Como aconteceu também não é importante.


O que aconteceu?

Falar do sucedido sem tecer juízos de valor é difícil.
Sabem todos que o dom da palavra não tenho, o da pena julgarão depois de me ouvirem.

Tentarei citar factos, se porventura incorrer em algum juízo de valor é porque talvez não fosse possível descrever o facto tal qual aconteceu, ou porque também sou humano, embora a tendência seja de considerar o VM extra-humano pois falhas não lhe são normalmente admitidas.

Cingir-me-ei aos factos mais marcantes.

Segunda-feira, 25 Nov. 1996

É posto a circular um documento do tipo abaixo assinado que promove a destituição do Grão Mestre Luís Nandim de Carvalho.
Nunca vi este documento na sua forma original, mas informações recebidas de II em quem deposito a máxima confiança garantem a existência do mesmo nesta data.


Sexta-feira, 29 Nov. 1996

Publicação de um artigo no jornal” A Capital” referenciando esse mesmo movimento e incluindo uma fotografia de LNC e outros II durante o juramento prestado pelo
primeiro em sessão de GL de 28 Setembro de 1996 , aquando da sua instalação enquanto GM


Sábado 7 Dez 1996

Um grupo de IIocupa a sede da GLRP em Cascais, autodenominando-se governo interino.

Foram as suas acções seguintes a destituição do Grão Mestre LNC, do SCO ( nota introduzida – Soberano Colégio de Oficiais órgão deliberativo à época) , nomeação de novo SCO e envio de um comunicado à imprensa.
( permitam-me agora uma interrogação. Teria sido absolutamente necessário recorrer a forças de segurança privadas? )


Domingo 8 Dez 1996

Reunião de informação e debate promovida por LNC nas instalações da Associação Cultural Albert Pike, onde também funciona o Templo dos Altos Graus do REAA. Para este efeito a sala foi despojada de todos os adornos Maçónicos do REAA e as cadeiras dispostas em plateia.
Desta reunião saiu nomeado um secretariado de crise.


Segunda-Feira 9 Dez 1996

Reunião do SCO nomeado no dia 7, em Cascais , com o objectivo de ratificar as decisões tomadas no Sábado anterior.

Ratificação essa que segundo as minhas informações foi unânime entre os presentes.


Dias 7 - 8 - 9 - e seguintes


Profusão de comunicados e artigos na imprensa e na TV.

Todos os actos posteriores são consequência destes referidos e sobre eles não falarei, mas incluíram reuniões de VM, sessões de G.Loja, reuniões de SCO, reuniões várias. Decretos, Decretos anti-Decretos e Decretos anti-Decretos anti- Decretos.

E não falarei pelo seguinte:

Dos factos que relatei apenas um contou com a minha presença, sobre os demais recebi relatos de fontes de confiança como já referi.

Dos posteriores não vos falo, como disse acima, porque tudo o que sei deles foi o que ouvi a terceiros. Não estive presente em qualquer deles com o fito único de não comprometer a Loja que dirijo e que nos pertence.

Fi-lo na esperança que o GADU incutisse bom senso onde faltava e os II apertassem as mãos retomando a Cadeia de União.

Até hoje, isso não aconteceu e tanto quanto sei os caminhos divergem.


Outros acontecimentos dignos de registo

Tentei honestamente promover dialogo. As portas não se abriram.

Tentei conjuntamente com alguns II incutir bom senso nas bases, isto é nas Lojas. Não sei se tive sucesso.

Outras Lojas tentaram promover a conciliação. Não tiveram Sucesso.

Pergunto-vos

O que aconteceu à Tolerância?
O que aconteceu à Fraternidade ?
O que aconteceu ao Amor Maçónico?
O que aconteceu .....

Será que temos que rescrever o catecismo do grau de Aprendiz e à pergunta


DE ONDE VENS MEU IRMÃO ?

a resposta passe a ser

DE UMA LOJA DE TREVAS

Volto a dizer-vos as Paixões sobrepuseram-se à virtude.

Quando fui eleito para este cargo confidenciei àqueles que escolhi para oficiais desta Loja que pretendia apenas continuar o trabalho iniciado anteriormente, e que tentaríamos manter a nossa Loja em posição de relevo Maçónico mas sem sobressaltos exteriores.

Era só o que eu queria, e depois de acabar o mandato passar o malhete ao I que fosse eleito, acompanhá-lo com conselho se fosse pedido, para posteriormente ser GIe finalmente ocupar um lugar nas colunas, em posição cómoda e seguramente menos trabalhosa.

Foi um bom sonho, até porque o se tinha começado a concretizar. Acordei num pesadelo que infelizmente não o é por ser real.

Não gosto de conflitos, são normalmente desgastantes e consomem muito tempo.

Ninguém ganha uma guerra. E quem disser que ganhou é tolo. Com certeza não contabilizou os seus custos, excepto claro se o conceito de ganhar for “ganha o que ficar de pé” e então não é tolo é muito tolo para mais não dizer.

Tenho consciência que entre nós, obreiros desta Loja, existem múltiplas posições, algumas declaradamente assumidas, outras apenas assumidas, outras por assumir.

É minha esperança que nesta casa de tradição a não união não signifique a desunião e que o confronto de opiniões não seja uma guerra.

Respeito, como aliás sempre respeitei as posições de cada um enquanto indivíduo, e logo exercendo a sua prerrogativa de livre arbítrio.

Espero que a minha posição enquanto indivíduo seja respeitada, aquando do seu anuncio formal, ou seja se a concórdia não for possível.

A minha posição enquanto VM obriga-me à total imparcialidade e à luta pela paz e concórdia entre os II .

Durante este período , pareceu-me que a melhor política era a de deixar a poeira assentar. Não tomei, portanto, qualquer posição publica que pudesse comprometer a Loja Affonso Domingues.

Infelizmente até numa Loja em que a tradição tem um peso de respeito, em que entre os Irmãos constam ou constaram gentes vindas de muitos países, de várias confissões religiosas, cores e opiniões políticas, que permitiu chegar até hoje sem mácula, a divisão teima em aparecer.

Estou desgostoso porque esta divisão é causada por razões e motivos intra­Obediência.

Somos Fortes para fora e fracos do lado de dentro.

Foi-nos dado a acreditar que sendo respeitados e reconhecidos pelos países A; B; C; etc. o nosso futuro estava assegurado.

Pobre arquitecto que desenha uma cúpula de Prata e uma fundação de papelão.

Pobre do seu segundo que não o chamou à realidade.

E por fim pobres de nós que apanhamos com o tecto na cabeça.

Disse-vos já que os responsáveis da crise tínhamos sido nós.

Talvez não seja tanto assim.

Não vou assacar responsabilidades a A ou B nem dizer-vos que são todos farinha do mesmo saco.

Mas é obvio que a História um dia atribuirá responsabilidades, nós saberemos então de quem foi a culpa.

Até a Historia nos informar sobre quem foram os responsáveis, teremos que tomar uma posição enquanto indivíduos e enquanto Loja.

Eu pessoalmente preferiria que a Loja decidisse por se manter unida na procura da união entre os II

Não sou no entanto D. Quixote e saberei quando desistir.

Antes de concluir e consequentemente passar a palavra peço-vos encarecidamente que se lembrem dos seguintes conceitos:

- Respeito
- Tolerância
- Educação
- Decoro
- Amor

O debate é aberto a todos os presentes.
Que o GADUilumine os trabalhos que se vão seguir.

Lisboa, 18 de Janeiro de 5997


Após esta alocuçao decorreram quase 8 horas de debate em dois dias.
Ficam para publicaçao breve e para vos aguçar o apetite:
As propostas entradas ; os resultados das votaçoes ; As propostas que estavam preparadas mas que nao entraram; O discurso final.

José Ruah
Afastado mas sempre por perto !

19 novembro 2007

Balanço da memória

Desde que iniciei a série de textos que designei "Memória da Loja", já fiz referência aos mandatos de todos os 16 Veneráveis Mestres cujos mandatos se iniciaram antes da criação do A Partir Pedra. Reflecti sobre se deveria parar por aqui, dedicando este registo a esses mandatos iniciados antes de criado o blogue. Decidi, porém, prosseguir, enquanto o blogue também continuar a ser publicado. Por um lado, embora as principais iniciativas da Loja Mestre Affonso Domingues sejam aqui divulgadas, o que porventura justificaria a cessação de publicação de textos sobre os mandatos que decorrem já em curso de publicação do A Partir Pedra, o certo é que a dinâmica dos textos publicados em relação aos mandatos dos primeiros 16 Veneráveis Mestres da Loja Mestre Affonso Domingues acabou por redundar em análises, necessariamente subjectivas, dos respectivos méritos e deméritos, êxitos e fracassos, projectos e rotinas. E isso não é suprido apenas pelas referências casuísticas e factuais às iniciativas que vão ocorrendo. Embora com o selo da minha subjectividade, procurei dar uma visão de conjunto da acção de cada um dos 16 primeiros Veneráveis Mestres. Não seria justo que omitisse essa visão em relação aos subsequentes, a pretexto de o blogue já existir e fazer avulsas referências às iniciativas em cada momento tomadas. E, aliás, mesmo em relação a estas, apenas tenho por hábito publicar o que tem repercussão externa à Loja. A vida interna da Loja apenas a nós diz respeito. Publica-se as notícias da eleição e da tomada de posse do Venerável Mestre e do Tesoureiro e pouco mais. Tudo o resto que não tenha repercussão externa é matéria interna, que não se justifica seja divulgada na contemporaneidade da sua ocorrência. Justificar-se-á a sua referência integrada na "Memória da Loja", na medida em que cada ocorrência, cada decisão, cada evento, auspicioso ou infeliz, tenha relevância para a evolução da Loja e dos seus obreiros.

Dentro deste critério, tenciono prosseguir a publicação de textos integrados na "Memória da Loja". Mas, em relação à análise do mandato de cada Venerável Mestre, entendo que devo fazê-lo quando ele for já "memória", não passado próximo. Assim, não haverá balanço do mandato do Venerável Mestre em cada momento em funções (nem podia haver, por este estar ainda a decorrer), nem do que o imediatamente o antecedeu, este porque ainda de alguma forma influencia o que está a decorrer. Com efeito, cada Venerável Mestre prossegue o trabalho do anterior, desenvolvendo-o, corrigindo-o, alterando-o ou virando-o do avesso, se assim o entender. Comentar esse mandato anterior, particularmente se expressando concordância ou discordância, seria uma forma de subrepticiamente manifestar opinião sobre o que, em cada momento, é feito. Claro que não tenho qualquer problema em dar a minha opinião sobre as decisões, acções ou omissões do Venerável Mestre em exercício. Mas fá-lo-ei perante ele, ou em privado, ou em sessão de Loja. Nunca usando este meio de comunicação, público por definição. É uma simples e mera questão de lealdade, para não dizer cortesia...

Portanto, a minha opinião, a minha memória do mandato de cada Venerável Mestre será aqui dada, a partir de agora, apenas quando o sucessor do seu sucessor for instalado na Cadeira de Salomão. Memória, não actualidade... Daqui decorre que, daqui em diante, só escreverei textos de balanço de mandatos de Venerável Mestre com uma periodicidade anual.

A opção de consignar a Memória da Loja referenciando os factos a cada mandato de Venerável Mestre não tem, reconheço, qualquer validade científica - nem busca tê-la. Este espaço não se destina a fazer História. Apenas a registar a Memória, a minha memória e a daqueles que decidam também aqui a deles divulgar, como fez os José Ruah nos três pormenorizados textos que intitulou "Um dia fui Venerável Mestre da Mestre Affonso Domingues". Serão textos que porventura algum dia poderão auxiliar quem porventura se abalance a registar a História da Loja Mestre Affonso Domingues. Mas, se alguém um dia o fizer, fá-lo-á com a técnica, o saber e os critérios de um historiador, certamente peneirando as imprecisões, os subjectivismos, de quem apenas regista a memória do que viveu e assistiu e opina sobre isso.

A Loja Mestre Affonso Domingues não existe sozinha. Existe integrada numa Grande Loja, compartilhando o espaço e a prática da Maçonaria segundo os princípios da Maçonaria Regular internacional com outras Lojas integradas na mesma Obediência. Essa Grande Loja designou-se primeiro por Grande Loja Regular de Portugal e depois, na sequência de dolorosos eventos que aqui já foram mencionados, por Grande Loja Legal de Portugal/Grande Loja Regular de Portugal (GLLP/GLRP). Essa Grande Loja foi, até agora, dirigida por cinco Grão-Mestres, com mandatos mais alargados do que os de Venerável Mestre da Loja. A "Memória da Loja" é também a memória da sua participação, da sua relação, da sua integração, na Grande Loja. Portanto, vou também dedicar uns textos aos mandatos dos Grão-Mestres. Respeitarei, pelas mesmas razões, critério idêntico ao que enunciei relativamente aos mandatos de Venerável Mestre da Loja: não publicarei textos sobre os mandatos do Grão-Mestre em exercício, nem daquele que o antecedeu. O que faz com que, por agora, apenas venha a publicar textos sobre os mandatos dos três primeiros Grão-Mestres.

Mas a dinâmica da Loja não se esgotou, não se esgota, nem certamente se esgotará no trabalho, na direcção, dos seus Veneráveis Mestres. Outros oficiais, outros obreiros, influenciaram, por vezes notoriamente, a Loja. Acho que vale a pena, à medida que me for lembrando, referenciar as influências de quem não foi Venerável Mestre ou de quem teve influência fora do exercício desse ofício. A Loja Mestre Affonso Domingues tem um rigor e qualidade de execução rituais de que muito se orgulha. Deve-os a uma sucessão de Mestres de Cerimónias de qualidade. E houve um obreiro, que nunca foi Venerável Mestre da Loja, que nos ensinou a todos como deve ser exercido o ofício de Orador. E a Coluna da Harmonia foi decisivamente influenciada na Loja por um outro obreiro, que também nunca foi Venerável Mestre da Loja e, possivelmente, nunca o será. E as circunstâncias, as razões, a ideia, a iniciativa da criação do Grupo de Dadores de Sangue Mestre Affonso Domingues também merecem ser registadas e muito a sua criação se deve a um outro obreiro que nunca foi Venerável Mestre da Loja. Tudo isto merece ser registado e tudo isto tenciono, se o puder fazer, registar neste espaço.

"Memória da Loja" respeita, por definição, ao passado de que nos lembramos. Mas também foi, neste texto, possível perspectivar o futuro da "Memória da Loja"...

Rui Bandeira

12 novembro 2007

O décimo sexto Venerável Mestre

O décimo sexto Venerável Mestre foi Luís R. D.. Foi eleito em Julho de 2005. Como é normal na Loja Mestre Affonso Domingues, exercia o ofício de 1.º Vigilante quando foi eleito.

Luís R. D. era já, aquando da sua eleição, um Mestre Maçon com alguma antiguidade. Normalmente, teria sido chamado a dirigir a Loja mais cedo, mas as circunstâncias da vida impediram que assim tivesse ocorrido. Com efeito, na altura em que Luís R. D. normalmente iria começar a assegurar funções de Oficial do Quadro da Loja, não lhe foi possível assegurar quaisquer tarefas. Grave e prolongada doença de sua esposa obrigou-o a dar prioridade ao que era prioritário: assistir a sua companheira na vida, acompanhá-la na sua provação, proporcionar-lhe o conforto que lhe era possível proporcionar-lhe. Todo o maçon sabe, porque a todos é dito logo no dia da sua Iniciação, que os seus deveres perante a sua família preferem às suas tarefas maçónicas. Assim, durante algum tempo, prolongado, Luís R. D. mantinha com a Loja e os seus obreiros apenas contactos esporádicos. Manifestamente que não podia assumir quaisquer responsabilidades em Loja. Depois, Luís R. D. sofreu o golpe da perda de sua companheira. Apesar de saber que esse era o fim inevitável da doença que lha arrebatou, teve de suportar o desgosto dessa perda e superá-la com o luto que tão necessário é para que os vivos deixem seus entes queridos falecidos repousar em paz e possam seguir com suas vidas. Todo este processo a Loja foi acompanhando e ajudando no pouco em que podia ajudar. Até que, a pouco e pouco, as nuvens negras foram-se dissipando, o luto foi fazendo o seu papel e o Luís R. D. voltou a poder estar mais assiduamente junto de seus Irmãos. Aliás, gostamos de pensar que o convívio connosco ajudou o Luís R. D. na superação da perda sofrida.

Alguns anos se passaram, portanto, até que o Mestre Maçon Luís R. D. pudesse assumir ofícios no Quadro da Loja. Quando lhe foi possível dar o seu contributo assíduo, fez todo o percurso que, na Loja Mestre Affonso Domingues, um Mestre Maçon faz até que seus pares formalmente lhe depositam, por eleição, a sua confiança para que, da Cadeira de Salomão, dirija os destinos da Loja.

Tudo isto fez com que Luís R. D. tenha sido, já septuagenário, o elemento da Loja mais idoso a ser eleito Venerável Mestre, até hoje. Este era, aliás, o único motivo de preocupação que pairava nos espíritos dos obreiros da Loja quando, unanimemente, como sempre, elegeram Luís R. D. para exercer o ofício de Venerável Mestre. Embora fosse um "velho rijo" e - sempre! - (muito) bem disposto, todos reconheciam que a passagem do tempo começava a exigir o seu tributo, que a sua saúde e energia, embora ainda invejáveis, já não eram as mesmas de alguns anos atrás. Mas esse era um problema que, se surgisse, teria de ser resolvido pela Loja, como no passado esta tivera que resolver outros.

Surgiu!

A sessão normal de instalação do Venerável Mestre é a sessão que tem lugar no segundo sábado de Setembro. Alguns dias antes, soubemos que Luís R. D. estava doente, incapacitado de ser instalado. E, depois, que necessitaria de uma intervenção cirúrgica. E, seguidamente, que a recuperação, que se esperava breve, tinha tido uma pequena complicação. Com inquietação, fomos acompanhando este episódio de fragilidade do nosso Venerável Mestre eleito.

Entretanto, a ausência forçada do Luís R. D. foi superada com toda a naturalidade: Miguel R. continuou a exercer o ofício, assegurando a condução dos destinos da Loja até que pôde passar o seu encargo ao Venerável Mestre eleito. Sem dramas, sem problemas, com a calma que o caracteriza.

Só em Novembro de 2005 Luís R. D. pôde, finalmente, ser instalado. Embora ainda naturalmente um pouco debilitado, assumiu com determinação a sua função. Estava à porta a confraternização anual de Dezembro da Loja, momento sempre alto no ano, não só pela confraternização em si, mas porque é a altura em que a Loja agradece ao Venerável Mestre que cessou funções e organiza um leilão de objectos doados pelos obreiros para angariação de fundos destinados a serem entregues a uma associação de solidariedade social ou, de preferência, a financiarem a aquisição de algo que seja útil a uma associação de solidariedade social. Embora a Loja tivesse precavido a incapacidade de Luís R. D. e tivesse começado a preparar o evento, foi com alívio e agrado que pudemos deixar as decisões essenciais da organização do evento ao prudente arbítrio do nosso Venerável Mestre finalmente no pleno exercício de funções.

E, se Luís R. D. teve problemas de saúde para iniciar o seu mandato, logo que instalado tal não se notou. Trabalhou rijamente e assegurou modelarmente todas as organizações da Loja no decurso do seu mandato. Acabou, sem dúvida, por ser um dos mais profícuos anos de trabalho da Loja. A recolha de fundos para a associação de solidariedade social seleccionada para a receber (não interessa qual; mas é uma meritória obra de ajuda ao próximo, particularmente dos mais carentes de apoio) foi um êxito. A ajuda prestada à entidade seleccionada foi superior à que os fundos recolhidos normalmente poderiam proporcionar, graças à experiência, sageza e contactos do Luís R. D., que obteve, sobretudo, medicamentos e material de assistência na saúde em condições mais favoráveis. Fizeram-se duas acções de recolha de sangue, algumas acções culturais muito interessantes, um passeio memorável a Figueira de Castelo Rodrigo (conferir aqui e aqui), integrámos novos elementos, com êxito, completámos a formação de novos Mestres, hoje dando o seu contributo activo à Loja, enfim, o nosso mais idoso, até hoje, Venerável Mestre tudo dirigiu, tudo organizou, tudo proporcionou, com energia, com capacidade, com sabedoria.

E sempre com a sua boa disposição, com o seu sorriso alegre. Foi dos Veneráveis Mestres com mandato mais auspicioso. Foi sempre com muito gosto que todos trabalhámos sob a sua direcção.

Ah! É verdade! E foi também no decurso do seu mandato que se iniciou o A Partir Pedra! Este é um bom exemplo da forma de trabalhar do Luís R. D., que deu toda a liberdade aos obreiros para pensarem e lançarem iniciativas e as acarinhou. O A Partir Pedra foi iniciativa individual de alguns Mestres Maçons da Loja Mestre Affonso Domingues. Mas estes nunca refeririam o nome da Loja se não tivessem tido o aval desta, através do seu Venerável Mestre. Luís R. D., com a sua experiência e largura de vistas, logo percebeu que o que se projectava podia ser uma boa resposta, ao nível de uma Loja Maçónica, à necessidade de dissipação da fama de secretismo da Maçonaria, um instrumento de comunicação do nosso século, valioso e com potencialidades. Portanto, apoiou e deu força. Se o não tivesse feito, talvez o A Partir Pedra não tivesse aparecido, ou só tivesse aparecido mais tarde, ou, talvez ainda, fosse diferente. O que de bom o A Partir Pedra porventura tenha, também é obra do Luís R. D.; aquilo que tem de mau é só culpa nossa...

Rui Bandeira

06 novembro 2007

O décimo quinto Venerável Mestre


Miguel R. foi 1.º Vigilante do Quadro de Oficiais de Alberto R. S. e, como é usual na Loja Mestre Affonso Domingues, sucedeu-lhe na Cadeira de Salomão, em Setembro de 2004, após ter visto, em Julho anterior, confirmado o costume da Loja, através da indispensável eleição.

Miguel R. fora o responsável técnico pela criação e colocação em Rede da página na Internet da Loja Mestre Affonso Domingues e manteve-se responsável pela sua manutenção até muito recentemente. No ano em que exerceu o ofício de Venerável Mestre, poder-se-ia cognominá-lo de "Triplo Mestre", pois que, então, acumulou o seu grau de Mestre com a qualidade de Venerável Mestre da Loja e com o encargo de Webmaster (Mestre da Rede) do sítio da Loja...

Miguel R., um homem simpático e tímido, chegou ainda bastante jovem à direcção dos destinos da Loja. Jovem em idade e jovem em antiguidade. A sua indefectível assiduidade, o seu interesse, o seu equilíbrio, fizeram com que, mal tivesse sido elevado ao grau de Mestre, lhe tivessem sido atribuídas funções de responsabilidade e tivesse sido logo integrado na "linha de sucessão".

Exerceu o ofício na altura certa, beneficiando de uma conjuntura de águas mansas, que se coadunava bem com o seu perfil calmo e discreto, com o seu temperamento cordato, com a sua timidez, aresta da sua pedra que o tempo e a experiência o ajudarão a polir.

Miguel R., bom conhecer do estado administrativo da Loja, geriu-a com competência e suavidade. Foi especialmente criterioso na gestão dos tempos e momentos de progressão de Aprendizes e Companheiros e nas iniciações. Como resultado desse seu cuidado, passou ao seu sucessor uma Loja quase que milimetricamente equilibrada, com um número de Aprendizes, nem excessivo, nem pecando por defeito, com tempos de evolução diferentes, e - o que, até agora, é raro na Loja Mestre Affonso Domingues, que, no meu entender, tem como seu ponto menos forte a formação dos Companheiros (uma vez que o problema está identificado, vai seguramente ser resolvido...) - uma coluna de Companheiros bem guarnecida e composta por elementos de boa qualidade. Miguel R., muito bem, na minha opinião, resistiu à tentação, recorrente na Loja, de considerar o grau de Companheiro um mero ponto de passagem para o acesso à Mestria e preocupou-se com os Companheiros, a sua formação e o seu tempo de evolução, com isso logrando que o seu sucessor recebesse jovens Mestres especialmente aptos e tivesse, ainda, na coluna de Companheiros, gente de muita qualidade em condições de serem elevados a curto prazo.

Se bem ajuízo, esta sua capacidade de bem gerir a formação e os tempos de formação resultaram da seu próprio processo de crescimento maçónico. Miguel R., a meu ver, foi muito influenciado pelas concepções de Luís P., que assegurou a direcção da formação dos Aprendizes e, depois, dos Companheiros, em períodos que abrangeram os tempos da formação do próprio Miguel R.. Na minha opinião, Miguel R. foi o melhor produto dessa escola...

Foi-o porque, com o seu sentido de equilíbrio, sabiamente aproveitou o espírito de aperfeiçoamento que Luís P. indubitavelmente sabia transmitir, o rigor que ele imprimia, sem, no entanto, cair em excessos místicos e crísticos.

Miguel R. tem uma visão pessoal da Maçonaria muito equilibrada, assente na fraternidade e no esforço individual, no espírito de grupo e na profundidade do juízo pessoal, no trabalho eficaz e na meditação necessária. Soube sempre levar a água ao moinho da Loja com calma, persistência e discrição.

Quer pelas suas características pessoais, quer pela influência recebida na sua formação, quer pelo exemplo do seu antecessor, Miguel R. foi sempre extremamente cuidadoso em reservar pequenos espaços em todas as reuniões para apresentar, ele próprio, pequenas pranchas traçadas de Mestre, fragmentos de sabedoria que deixava à disposição dos obreiros da Loja, com a naturalidade das coisas simples.

Não sei como reagiria Miguel R. se tivesse tido que enfrentar tempos de maior turbulência. Provavelmente, enfrentá-los-ia bem, como outros, antes dele, fizeram. Mas Miguel R. aproveitou bem o período bonançoso de que dispôs para fazer bem o seu papel: organizou, formou, actuou. E, com ele, assim também fez a Loja

Na cadeia de União dos Veneráveis Mestres da Loja Mestre Affonso Domingues, Miguel R. não terá sido, porventura, o seu elo mais vistoso; mas não foi, de certeza absoluta, dos seus elos menos fortes.

Do trabalho discreto que Miguel R. realizou, os frutos ver-se-ão a longo prazo. Os quadros que ele ajudou a formar estão aí, prontos para o que preciso for. Durante muitos anos a Loja beneficiará do trabalho de Miguel R. e do trabalho daqueles que Miguel R. ajudou a saberem trabalhar.

Na minha definição de êxito, o mandato de Miguel R. encaixa perfeitamente. E fico muito contente por poder aqui deixar esse reconhecimento.

Rui Bandeira

24 outubro 2007

O décimo quarto Venerável Mestre

O décimo quarto Venerável Mestre, que exerceu o ofício entre Setembro de 2003 e igual mês de 2004, foi Alberto R. S..

Fisicamente um homem meão, de aspecto maciço, de temperamento bem disposto e prazenteiro, Alberto R. S. exerceu o mandato com um notável equilíbrio entre acção e especulação, entre formação e execução.

Fora já um excelente Orador da Loja, tendo marcado esse ofício com um estilo directo e atento que, na minha opinião, se aproxima muito do paradigma correcto do exercício da função. Aliás, se não erro, foi ele o primeiro a estender a "linha de sucessão" informal da Loja Mestre Affonso Domingues até ao ofício de Orador, ascendendo a partir daí, sucessivamente a 2.º e 1.º Vigilante e Venerável Mestre. Nesse sentido, esta normal progressão numa informal "linha de sucessão" foi já o resultado da entrada da Loja no seu período adulto, calmo e cada vez mais bem organizado, permitindo o alargar da dita "linha de sucessão a mais dois ofícios e, muito recentemente, a sua reformulação, sempre em harmonia, calma e entendimento. Alberto R. S., além do ofício de Orador exercera já, como elemento efectivo do Quadro de Oficiais diversas outras funções. Recordo-me, designadamente, que fora o Tesoureiro do Quadro de Oficiais que eu escolhi, quando foi a minha vez de dirigir a Loja e que exercera, também com indiscutíveis qualidade, segurança e brilho, o ofício de Mestre de Cerimónias.

Alberto R. S. chegou, pois, à Cadeira de Salomão com uma variada, constante e profícua experiência. Estava tão bem preparado quanto um maçon pode estar para exercer o ofício de dirigir a Loja. Confiar-lhe o ofício não constituiu qualquer risco ou aposta, antes foi, claramente, um acto de serena e normal naturalidade. E Alberto R. S. em nada iludiu as expectativas!

Tal como anteriormente fora timbre, designadamente, de Jean-Pierre G., com Alberto R. S. muito cedo ficou claro que conhaque é conhaque, trabalho é trabalho. Até ao segundo anterior ao início da sessão, tínhamos entre nós um companheiro bem disposto, bonacheirão, amigo de contar umas larachas e apreciar umas piadas, contribuindo enormemente para a boa disposição geral. No exacto momento em que iniciava a sessão, passávamos a ter perante nós um Venerável Mestre atento, sério, esforçado e rigoroso. A hora era de trabalho - trabalhava-se: discutia-se, sugeria-se, decidia-se; pedia contas de encargos anteriormente confiados, verificava o andamento de todos os projectos em curso, corrigia o que havia a corrigir, assumia o que entendia dever assumir. No segundo imediatamente a seguir à sua saída da sala onde decorrera a reunião, tínhamos de volta o companheiro bem disposto e folgazão...

Não admira, portanto, que Alberto R. S. tenha gerido a Loja com tão bons resultados como os que obteve. No seu tempo a Loja cresceu, melhorou a sua organização, assegurou o êxito de todos os projectos. Sem grandes dificuldades nem exigências, aumentou a eficácia da acção do grupo. O mandato de Alberto R. S. foi um exemplo de sã e proveitosa gestão de um grupo de gente empenhada e unida.

Em todas as reuniões ocorridas no seu Veneralato, Alberto R. S. deixava aos obreiros uma pequena prancha traçada de sua autoria ou por si recolhida. Uma pequena alegoria, uma citação oportuna, uma análise de qualquer aspecto, um conselho, uma poesia, ou um qualquer outro texto para meditação foram sempre apresentados para lição dos obreiros. Como Venerável Mestre, Alberto R. S. nunca descurou a formação, o aperfeiçoamento, dos seus obreiros, nunca deixando de lhes lançar as sementes destinadas a germinar nos seus espíritos.

Alberto R. S. deixou ainda a sua marca na modernidade da Loja, dando execução a algo de que vínhamos falando, mas que ainda não fora concretizado: a página na Internet da Loja Mestre Affonso Domingues. Solicitou e obteve, para isso, a colaboração, que se revelou profícua e valiosa, do seu 1.º Vigilante, que concebeu e realizou, na parte técnica, o sítio. Mas, ainda hoje, grande parte dos textos que se encontram no sítio da Loja são da autoria material de Alberto R. S..

O décimo quarto Venerável Mestre cumpriu brilhantemente a sua função e, sem dúvida alguma, entregou ao seu sucessor uma Loja um pouco melhor do que a que recebera do seu antecessor.

Rui Bandeira

18 outubro 2007

O décimo terceiro Venerável Mestre

António P. foi o décimo terceiro Venerável Mestre da loja Mestre Affonso Domingues. Exerceu o ofício de Setembro de 2002 a Setembro de 2003.

António P., um homem corpulento e afável, não tem o dom da palavra. Como muito boa gente, não consegue transmitir devidamente o seu pensamento quando fala em público. Ainda houve quem desmerecesse dele por isso. No entanto, ninguém ligou a quem tentou formular reservas a António P. por causa disso. António P. podia não ser o melhor dos oradores, mas sempre foi e é um excelente conversador, daqueles que transmite o seu pensamento e as suas emoções tanto pela palavra como pela postura, pelo gesto, pelo sorriso. Talvez seja por isso mesmo, por o seu registo de comunicação ser mais intimista, com uma afabilidade muito própria, que António P. não é bom orador. Decididamente, não foi talhado para "falar às massas", antes para conversar com os amigos.

António P. fora já oficial do meu Quadro, quando foi a minha vez de ocupar a Cadeira de Salomão. Então, escolhera-o para Editor, um ofício até então inexistente e que não voltou a haver, até agora. A sua função era a de preparar a publicação dos trabalhos produzidos pelos obreiros da Loja Mestre Affonso Domingues. Na ocasião, António P. começou pelo princípio, isto é, por começar a localizar e reunir os trabalhos, tarefa que não teve oportunidade de terminar.

Entretanto, nos anos seguintes foi chamado ao exercício de outros ofícios em Loja. Foi 2.º Vigilante do Quadro de Oficiais do mandato de João D. P. e 1.º Vigilante no Veneralato de José M..

Quando chegou a sua vez de ocupar a Cadeira de Salomão, a Loja vivia já o período de estabilidade confortável em que, felizmente, ainda permanece. Nenhuns problemas especiais existiam e nenhuns problemas foram criados. António P. prosseguiu tranquilamente a gestão dos destinos da Loja. Sob a sua batuta, esta prosseguiu os seus normais trabalhos.

Mas António P. não se limitou a assegurar a rotina. No exercício do seu mandato, retomou aquilo que não lhe fora possível concluir, anos antes. Prosseguiu, então, a tarefa de recolha dos trabalhos dos obreiros da loja Mestre Affonso Domingues e concluiu essa tarefa, até ao tempo do seu mandato, recolhendo tudo o que era possível recolher.

Mas entretanto as coisas evoluíram. Neste início de século XXI, três anos são uma eternidade, mil e um dias e noites mudam muita coisa. O que, em 1999/2000 se projectava editar tradicionalmente, um livro, uma brochura, em 2002/2003 já integrava um paradigma que não era já o único. A entrada acelerada nas Novas Tecnologias aconselhavam a ter tudo preparado para as diferentes hipóteses de publicação. O livro não é já a única hipótese. Publicar um conjunto de textos já não implica necessariamente o suporte em papel. Também não o exclui... Mas um conjunto de textos pode agora ser publicado e estar disponível através da Rede Mundial de Computadores, a Internet.

Portanto, António P. não se limitou a reunir os trabalhos. Passou-os a todos para suporte digital. Graças a ele, muitos trabalhos, quase todos, elaborados ao longo dos anos pelos obreiros da Loja Mestre Affonso Domingues, estão disponíveis em suporte informático, aptos para serem publicados, quer digitalmente, quer em suporte de papel.

Este trabalho precioso certamente vai facilitar grandemente a tarefa do actual Arquivista e do actual responsável pelo sítio na Rede da Loja Mestre Afonso Domingues, bem como aos que lhes sucederem nas funções.

Como e quando (e se...) será publicado o que os obreiros da Loja Mestre Affonso Domingues produziram é assunto que ainda está a ser ponderado. Mas uma coisa temos já certa. Os trabalhos estão preservados e digitalizados. Os muitos golpes de malhete e cinzel efectuados pelos obreiros da Loja Mestre Affonso Domingues no desbastar das suas pedras brutas estão registados e guardados. Para que quem nos siga possa, se quiser, consultá-los, lê-los, aprender com eles, criticá-los, discordar ou concordar, ou, simplesmente, satisfazer a sua curiosidade. E como é interessante rememorar trabalhos feitos anos atrás por jovens aprendizes que hoje são Mestres experientes e até já ex-Veneráveis...

Essa possibilidade temo-la hoje e tê-la-ão os que virão depois de nós, em muito graças ao trabalho do António P., um maçon que não foi nem é um bom orador, mas mostrou ser um excelente trabalhador e um Venerável Mestre que deixou obra feita.

Rui Bandeira

10 outubro 2007

O duodécimo Venerável Mestre

Eleito, como habitualmente, em Julho, José M. foi o duodécimo Venerável Mestre da Loja Mestre Affonso Domingues, tendo exercido o ofício entre Setembro de 2001 e Setembro de 2002.

José M., oriundo da primeira geração de iniciados, logo no princípio do funcionamento da então GLRP, hoje GLLP/GLRP, era já, na altura em que assumiu o exercício da função, um maçon muito experiente. Desde há vários anos que colaborava activamente com o Grão-Mestrado, particularmente no apoio aos maçons e Lojas no Norte e Nordeste do País. Algumas dessas Lojas tinham contado com a sua activa colaboração nos primeiros tempos da sua existência. Já fora Venerável Mestre de uma Loja no Nordeste Transmontano, pelo menos, antes de assumir idêntica função na Loja Mestre Affonso Domingues.

José M. há vários anos que dispersava o seu esforço por várias Lojas e na estrutura da Grande Loja. Nunca deixou, porém, de integrar o Quadro de Obreiros da Loja Mestre Affonso Domingues e de comparecer às suas reuniões com a assiduidade que a necessidade de atender a várias solicitações lhe permitia.

Mal comparado, José M. era, desde há vários anos, como que o "Ministro dos Assuntos Exteriores" da Loja. Devido ao seu intenso contacto com as demais estruturas da Obediência, conhecia e era, já então, praticamente conhecido de toda a gente na organização. Veiculava para a Loja o que se passava nas demais estruturas da Obediência; certamente que transmitia a essas outras estruturas o sentir da Loja Mestre Affonso Domingues.

Internamente, para além de ter exercido, mais formal ou mais esporadicamente, praticamente todos, senão mesmo todos, os outros ofícios em Loja, fora, dois anos antes, o 2.º Vigilante do Quadro de Oficiais do meu Veneralato e fora o 1.º Vigilante do João D. P.. Cumprira, pois, o normal percurso (então apenas restrito aos Vigilantes; agora incluindo mais ofícios) que desembocava na Cadeira de Salomão.

José M. dava, pois, todas as garantias de um sereno e profícuo exercício da função, tanto mais que a sua ascensão ao ofício decorrera com toda a normalidade e seguindo todos os passos certos e aconselháveis. Digamos que as suas "habilitações curriculares" eram perfeitas para a função.

Com todas estas boas fundações, como foi então o edifício do seu Veneralato? Foi... sólido... pacato... eficiente... pacato... suave... pacato... calmo... pacato..., etc.... pacato...

É curioso como, quando as coisas correm bem, quando se processam com normalidade, sem sobressaltos, nos deixam apenas uma difusa lembrança na memória!

O mandato do José M. correu bem, correu normalmente, sem sobressaltos, fazendo-se o trabalho que se tinha de fazer, inquirindo-se quem havia que inquirir, iniciando-se quem havia para iniciar, passando-se a Companheiro quem estava na altura de ser passado a Companheiro, elevando-se a Mestre quem justificava a elevação a Mestre, apresentando-se e assistindo-se à apresentação de pranchas, assegurando-se as iniciativas de solidariedade e de convívio social que a Loja já se habituara a assegurar. Em resumo, normalidade absoluta!

Costuma-se dizer que gente feliz não tem história. Será talvez caso para dizer que Loja feliz não sobressai na nossa memória...

O mandato de José M. integra-se numa sucessão de mandatos em que a Loja, atingida já a sua maturidade, apreciava algo que até então, raramente tivera: a possibilidade de trabalhar numa reparadora rotina!

Este período de aparente ausência de acontecimentos durou alguns anos - e constitui um problema para quem procura registar a memória da Loja... - e, porventura, durará ainda. Mas engana-se quem porventura pense que é um período de calmo repouso, se nada feito. O que se inaugurou com o mandato do José M. foi um período de trabalho calmo, porque organizado, de evolução sem sobressaltos, de construção de subtis laços ligando a Loja aos seus membros e estes entre si, que, paulatinamente, foram criando, o ambiente acolhedor, responsável e agradável que se continua a viver na Loja e que todos esperamos que se continue, indefinidamente, a verificar. A Loja deixou de necessitar de reagir com força, união e determinação aos ventos que por vezes a abanaram; passou a navegar airosamente aproveitando as quase imperceptíveis correntes que a transportam do passado para o futuro.

José M., com toda a sua experiência, foi o Venerável Mestre ideal para iniciar este período de tranquila bonança. Também para se guiar a nau com rumo certo em mar bonançoso é preciso ser hábil e seguro. José M. foi-o: não inventou o que não havia necessidade de ser inventado, mostrou que é possível e desejável e profícuo trabalhar na rotina da Maçonaria e assim também estreitar os laços entre os maçons. Ao assegurar a normalidade com... normalidade, José M. mostrou à Loja que dirigi -la não é ser voluntarista, é assegurar que seja feito o que deve ser feito, quando deve ser feito. O facto de o seu exemplo ter frutificado e de a Loja, desde então, se ter habituado a vogar serenamente no mar calmo do seu trabalho de rotina, constitui o legado que o seu Veneralato deixou à Loja. Em boa hora teve a Loja à sua frente um elemento experiente que não buscou brilhar, mas apenas assegurar serenamente o exercício da sua função, pela forma como, naqueles tempo e lugar, a função devia ser exercida!

Os tempos de calmaria e bonança da idade adulta da Loja, que visivelmente foram sentidos a partir do Veneralato do José M. podem causar dificuldades a quem procura registar a memória da Loja. Mas em tudo o resto são favoráveis e agradáveis!

Rui Bandeira

02 outubro 2007

O undécimo Venerável Mestre

Um ano depois do que o deveria ter sido, João D. P. foi eleito Venerável Mestre da Loja Mestre Affonso Domingues. Foi o seu undécimo Venerável Mestre, exercendo a função de Setembro de 2000 a Setembro de 2001.

No ano anterior, cumprira o segundo ano consecutivo na função de 1.º Vigilante, o oficial da Loja que tem a seu cargo o acompanhamento e a formação dos Companheiros, além de, juntamente com o 2.º Vigilante, auxiliar o Venerável Mestre na administração da Loja. Exerceu essas funções com competência, destreza e grande lealdade. Foi uma ajuda sempre disponível, uma colaboração sempre de confiança. Assegurou, por delegação minha, quase todo o trabalho de ligação com a Grande Loja, inclusivamente a representação da Loja em três das quatro sessões anuais da Grande Loja. E só não assegurou essa representação na quarta, porque entendi dever eu assumi-la pessoalmente, porquanto ali se iam discutir assuntos do foro da minha especialidade profissional. A opção de delegar essa representação no João D. P. foi por mim tomada, por um lado, em resultado da minha pouca disponibilidade de tempo para actuar ao nível de Grande Loja e, por outro, pela vantagem que eu implicitamente via na existência de uma certa visibilidade da mesma pessoa a esse nível durante um período de tempo alargado.

O mandato de João D. P. como Venerável Mestre da Loja constituiu como que uma bissectriz dos dois mandatos anteriores. Prosseguiu a política de debate interno das questões de interesse para a Loja, embora talvez com menos enfoque do que aquele que eu imprimira. Também porque a necessidade de reabituar a Loja ao debate diminuíra. Deu mais atenção aos aspectos de formação e de análise simbólica do que aquela que eu lhes dera, sem, contudo, se centrar nesses aspectos com a quase exclusividade por que optara Luís P..

Ou seja, com João D. P. a Loja, recentrada no seu rumo, prosseguiu o seu caminho de forma equilibrada em todas as suas vertentes. A produção de pranchas por Aprendizes e Companheiros - essencial para que estes possam progredir até ao 3.º grau - prosseguiu nos níveis habituais, com o cuidado acompanhamento dos Vigilantes. Mas João D. P. insistiu particularmente no retomar de algo que as circunstâncias tinham feito rarear nos últimos tempos: a produção e apresentação de Pranchas Traçadas pelos Mestres da Loja. Começou por dar ele o exemplo. E foi paulatinamente insistindo na necessidade de os demais Mestres também o fazerem. Como sempre nestas coisas, demorou algum tempo e os frutos apareceram já depois do mandato de João D. P. Mas as sementes foram por ele lançadas. Hoje, em todos os anos maçónicos o Venerável Mestre tem de reservar parte de algumas reuniões para a apresentação de pranchas traçadas por Mestres. E o gosto do debate continuou a ser tão acarinhado na Loja que, apesar de toda a gente repetir que "prancha de Mestre não se comenta"... todos as comentam! Talvez com menos severidade e espírito de crítica do que se comentam as pranchas de Aprendiz (em especial) e as de Companheiro, mas há que compreender que também na Maçonaria "a antiguidade é um posto" e se respeitam os mais antigos... Além de que "praxar" os mais novos com ferozes críticas às suas pranchas, como é tradição na Loja Mestre Affonso Domingues, é uma saudável forma de incutir o gosto pela melhoria, pela competência, pela busca da melhor perfeição possível. Mas as críticas são também sempre matizadas pelos justos elogios, pois o trabalho sério deve sempre ser reconhecido...

As actividades viradas para a ajuda permaneceram e foram reforçadas. No mandato do João D. P. começou a estabelecer-se o princípio de que deveria haver mais do que uma doação de sangue por ano.

A actividade da Loja na Grande Loja foi objecto de atenção particular e a influência da Loja e dos seus obreiros no governo da Obediência, sempre em leal colaboração com o Grão-Mestre, foi reforçada pelo trabalho efectuado.

Em suma, com João D. P. a Loja atingiu a sua maturidade. A forma como trabalha não sofreu grandes alterações desde então - nem precisa! Equilibrada a Loja no seu interior, começou esta a voltar-se para o exterior, nas suas duas vertentes: na Obediência e perante a Sociedade.

Foi essa estabilidade interna, a fixação do modelo de funcionamento interno da Loja que, a meu ver, constituiu o legado do mandato do João D. P.. Daí para a frente, só foram efectuados pequenos e pontuais ajustamentos no modelo de funcionamento interno. Os Veneráveis Mestres a partir daí puderam dirigir as suas atenções para outros aspectos.

Rui Bandeira

27 setembro 2007

O décimo Venerável Mestre

Uma das vantagens do sistema de sucessão no exercício do ofício de Venerável Mestre informalmente instituído na Loja Mestre Affonso Domingues (e também em muitas outras Lojas, das mais diversas Obediências, ritos e latitudes) é que possibilita ao 1.º Vigilante um ano completo para analisar a Loja, verificar os seus pontos fortes e fracos, meditar sobre qual a melhor forma de dar o seu contributo aquando do exercício do seu mandato como Venerável Mestre - em suma, concede ao 1.º Vigilante um ano inteiro para preparar o seu projecto para o ano seguinte.

Dadas as circunstâncias em que eu fui designado/nomeado/empurrado/nomeado voluntário para ser 1.º Vigilante, eu utilizei esse período de reflexão para meditar sobre a melhor forma de evitar que situações semelhantes ocorressem num futuro próximo.

Foi neste estado de espírito que o mandato do décimo Venerável Mestre da Loja Mestre Affonso Domingues, Rui Bandeira, eu próprio, foi iniciado.

Tinha de confiar no instinto. E o instinto acenava-me que as circunstâncias que me tinham tornado Venerável Mestre da Loja Mestre Affonso Domingues um ano antes do normal reflectiam uma debilidade, um ponto fraco da Loja a que havia que começar a dar remédio: a Loja seguia disciplinada e confiantemente, mas também, de alguma forma algo acriticamente, o seu líder, o Venerável Mestre em funções. Toda a evolução que, ao longo de quase uma década a fizera crescer e trabalhar e unir-se também tinha levado a essa consequência, para mim nefasta: a Loja era disciplinada e unida (muito unida!), mas em torno do seu líder, não em torno do grupo. A sucessão de eventos ocorrida, a frequente necessidade de actuar com espírito de corpo e em uníssono, habituara a Loja a reagir à voz de comando do líder em funções e a executar as suas determinações. Isso era bom, na medida em que a Loja era disciplinada, eficaz e unida. Mas não bastava e era, sobretudo, perigoso. A quase pavloniana execução das determinações do líder do momento tornara a Loja uma Loja do Venerável, quando, ao invés, o Venerável é que é da Loja!

Havia que, sem perder o que era vantajoso - disciplina, espírito de corpo, eficácia, união - começar a criar as condições que impedissem que um qualquer Venerável, por erro ou desvario, um dia conduzisse ordenada e disciplinadamente a Loja para o abismo, se fosse esse o resultado das suas escolhas acriticamente seguidas!

A reflexão que pude efectuar, entre a minha eleição, em Julho de 1999, e a minha instalação, em Setembro seguinte, conduziu-me a esta conclusão, muito em resultado de algo que bastante me impressionou: todos sabiam que, normalmente, seria João D.P. que deveria ter sido nomeado 1.º Vigilante e vir a suceder a Luís P., não eu; no entanto, anunciado por Luís P. que o seu 1.º Vigilante afinal seria eu, ninguém questionou, ninguém, pelo menos publicamente, levantou dúvidas ou perguntou a razão da quebra do hábito, todos disciplinadamente aceitaram a indicação do Venerável Mestre e eu fui instalado com a habitual placidez! No entanto, o normal teria sido que, ao menos, tivesse sido questionada a razão da quebra da regra informal que, desde o início, era seguida na Loja! E mesmo que alguns manifestassem o seu desagrado!

Decidi, pois, aproveitar a imensa confiança que a Loja depositava no seu Venerável Mestre para a tornar mais crítica, para a habituar a decidir - e não a apenas seguir a decisão daqueles a quem ia confiando o exercício da função de Venerável Mestre. Para tal, havia que voltar a habituar a Loja a debater, a discutir, a pesar em conjunto razões e argumentos e, finalmente, a decidir, ela própria, o grupo. Só assim seria possível que, a seu tempo, o Venerável Mestre regressasse aos limites da sua função: dirigir a Loja, em consonância com o caminho escolhido por esta - não determinar à Loja o caminho que ela devia seguir.

As ordens de trabalhos de todas as reuniões do meu mandato passaram a incluir sempre, pelo menos, um tema, um assunto, para discutir e decidir. Ao princípio foi difícil! Recordo-me que, nas duas primeiras reuniões, quando eu coloquei o assunto do dia à discussão, ocorreu uma pausa de embaraçado silêncio, ninguém tomando a iniciativa... Nesse início, um pouco penoso, foram o João D. P., o meu ultrapassado 1.º Vigilante, e o José Ruah quem iam salvando a situação. A pouco e pouco, porém, a Loja foi recuperando o hábito de discutir, de pesar prós e contras, em suma, de decidir. No final do meu mandato, as reuniões já eram muito mais participadas e a Loja começava a deixar de ser uma Loja que se limitava a seguir o seu Venerável Mestre e recuperava o seu antigo dinamismo, enquanto grupo.

Recebi uma Loja de Venerável e entreguei ao meu sucessor uma Loja com Venerável. Esse foi o contributo que dei à Loja Mestre Affonso Domingues no ano em que fui seu Venerável Mestre.

Fi-lo com a colaboração de um Quadro de Oficiais que, além do ex-Venerável Luís P., era constituído pelos seguintes elementos, que foram imprescindíveis e essenciais para o normal desenrolar do mandato:

1.º Vigilante - João D. P.
2.º Vigilante - José M.
Secretário - José Ruah
Tesoureiro - Alberto R. S.
Orador - Luís R. D.
Mestre de Cerimónias - Rui D. R.
Experto - Ruy F.
Hospitaleiro - Vítor E. C.
Guarda Interno - Jean- Pierre G.
Organista - Alexis B.
Editor - António P.

A todos um muito obrigado!

Rui Bandeira

18 setembro 2007

Entre o Nono e o Décimo Veneravel

Sabia, mais ou menos, o que o Rui iria escrever sobre esta época da Loja. Tive tempo para pensar sobre se escreveria ou nao sobre este periodo.

Só hoje decidi. Ao ler o post do Rui A Ultrapassagem . Comecei por escrever na zona de comentários mas decidi passar para aqui.
Ao contrario do que se possa pensar , e na minha opinião estes foram os anos mais dificieis da Affonso Domingues.
O perigo vinha de dentro e como todos sabemos as guerras internas sao muito mais violentas que as externas.
Diz o povo
" Eu contra o meu Irmão, eu e o meu Irmão contra o nosso primo, Eu o meu irmao e o nosso primo contra o vizinho, eu,meu irmao, nosso primo e o vizinho contra o vizinho da rua de baixo, etc."
Anos antes a guerra nao era nossa, era imposta, nestes anos a desavença era interna.
Por isso aqui vai.
Creio que deve aqui ser dito que Luís D.P. era adepto de uma via esotérica que privilegiava a permanência pelo máximo período de tempo possível em cada lugar.

Começou por recusar ser 1º Vigilante quando convidado pelo Vítor. Recusou ser 1º Vigilante quando convidado por mim, escolhendo em ambas as alturas ser 2º Vigilante.

Não teve a possibilidade de repetir a dose em 1º Vigilante por força das circunstancias ( bem até que foi duas vezes pois o Jean P.G teve mandato e meio com duas eleições.)

Tentou ser Venerável dois anos consecutivos, mas aí a coisa foi mais difícil.

A Generalidade da Loja não foi nisso, e sobretudo ele Luís sabia bem que eu não iria nisso. Foi público e muito notório que fui um dos maiores críticos ao tipo de gestão do Luís, e as nossas discordâncias eram constantes e audíveis.

Reconheço que o meu mau feitio imperou, quem me conhece sabe que gosto das coisas feitas à minha maneira, mas que não sou Ditatorial (excepto em caso de força maior).

Esses anos da Loja vivi-os com algum distanciamento pois tinha acabado de mudar de emprego tendo na altura assumido funções num hospital, e tinha mudado de casa mas por força das obras fui obrigado a viver em Colares durante um ano, pelo que me sobrou muito pouco tempo para a Loja.

Não guardo grande saudade do Veneralato do Luís, e não fiquei admirado com a manipulação feita. Esse era o estilo. Sempre com um discurso de decisão democrática, sempre com uma decisão autocrática e muitas vezes não orientada ao que seriam os melhores interesses da Loja.

Por isso especulo aqui o seguinte:

Luís sabia que se tentasse ser reeleito teria uma oposição feroz, e que provavelmente não o seria uma vez que a reeleição obriga a um resultado de pelo menos 2/3 dos votos favoráveis.. Ficando numa situação insustentável.

Terá pensado que seria estrategicamente melhor afastar-se e não promover aquele "que ele pensava ser o seu Delfim" , criando assim um hiato de 1 ano antes de poder tentar retomar o poder.

Luís sabia que Rui Bandeira me conteria, porque somos amigos e porque eu nunca iria tornar difícil o Veneralato do Rui.

Comigo fora das contas ele tinha um ano de descanso e poderia preparar o futuro.

Só que feriu o "seu Delfim" e não contou, nem poderia contar, com as eleições para Grão Mestre que ocorreram durante o mandato do João D.P. .

Não contou com mais algumas coisas. Tomou-se “amores” por Ruy F. e por Gustavo P. , e sem querer ser muito mau, creio que incumbiu o primeiro de travar uma guerrilha comigo. A coisa correu mal.

Luís esqueceu-se de uma coisa fundamental, eu tinha sido o Venerável da Guerra e travar uma “guerrinha” com Ruy F. foi fácil, tendo acabado Ruy por sair da Loja

Gustavo P. acabou mal, praticamente expulso da Loja, e mais tarde expulso da Maçonaria.

E no que respeita à eleição para Grão Mestre, Luís encontrou-se frente a frente com João D.P., Luís era um dos 3 subscritores de uma candidatura e João um dos subscritores da candidatura oponente.

Eu era o “juiz”. Por assim dizer. Desempenhava funções de Grande Orador da Grande Loja e era o responsável pelo escrutínio.

Temos então que a estratégia de Luís fracassou.

Ao provocar a ultrapassagem perdeu aquele que ele achava ser o seu Delfim.

Ao mandar outros batalhar comigo, perdeu os seus aliados.

Acertou na premissa que Rui Bandeira me conteria. Mas o Veneralato só durou um ano e no ano seguinte, estando eu nas colunas e ele como guarda interno ficámos empatados na prioridade do uso da palavra e eu não me tinha esquecido.

Não podia prever a evolução da Grande Loja e com isso teve que defrontar João .D.P. , se é certo que ganhou a eleição o candidato de Luís e que com isso ele ficou como Grande Orador, também é certo que passado pouco tempo o Grão Mestre o destitui sem apelo nem agravo por incumprimento de funções. Ou seja aquele que poderia ter sido o seu trunfo ele também não o aproveitou.

Falhou também a sua tentativa de ser o único responsável pela instrução dos aprendizes. Essa função estava acometida aos Vigilantes e estes desempenharam-na.


Era uma estratégia que teoricamente ( leia-se esotericamente) estava bem montada, mas que esbarrou numa série de problemas reais e em tipos com mau feitio, que tendo dado tudo o que tinham para conter as agressões externas não iam nunca dar de barato a destruição interna.


Terminando a especulação, que como qualquer especulação apenas reflecte o que eu penso, retomo a realidade

Hoje Luís não aparece nas sessões há uns 4 anos. Soube que está tentar regularizar a sua situação de quotas para poder sair com alguma dignidade.

Como pessoa Luís estava sempre pronto a ajudar. Como Venerável Mestre foi na minha opinião um desastre.

Ainda hoje a Loja não tem um membro que seja da linha esotérica como o eram Luís e Ruy F.

Não sei porquê, ou se calhar até sei.
José Ruah

17 setembro 2007

A ultrapassagem

No texto O nono Venerável Mestre, referi que Luís P. exerceu a função com alguns laivos de autoritarismo. Convém esclarecer que tal sucedeu não porque Luís P. fosse especialmente autoritário, mas porque a sua concepção da maçonaria e da Loja era de que esta era dirigida pelas três Luzes (O Venerável Mestre e os dois Vigilantes), sob o comando do Venerável Mestre.

Luís P. exerceu as funções de 1.º Vigilante no Veneralato do oitavo Venerável Mestre, Jean-Pierre G. O 2.º Vigilante da Loja, nesse Veneralato, foi João D. P.. Com a eleição de Luís P. para Venerável Mestre, a prática usualmente seguida na Loja implicava que o novo Venerável indicasse para exercer o ofício de 1.º Vigilante o Mestre que exercera as funções de 2.º Vigilante no ano anterior. Essa prática só muito raramente foi quebrada e, por regra, por indisponibilidade do Mestre que devia passar de 2.º a 1.º Vigilante. Foi, aliás, o caso de Luís P. que, mostrando-se especialmente interessado na formação dos Aprendizes, exerceu, a seu pedido, as funções de 2.º Vigilante dois anos seguidos, com isso, por opção própria, atrasando em um ano, quer o exercício do ofício de 1.º Vigilante, quer, depois, o de Venerável Mestre.

À época, existia a tendência - que entretanto a Loja veio a abandonar, optando por outro critério - de que o Mestre que exercia num ano o ofício de Orador viesse a ser designado 2.º Vigilante no ano seguinte. No mandato do Jean-Pierre G., quem exerceu o ofício de Orador fui eu.

Não estranhámos, assim quando, após a sua eleição, Luís P. nos convocou, a João D. P. e a mim, para uma reunião em sua casa. Deveria constituir a formalização dos convites para o exercício dos ofícios de 1.º e 2.º Vigilantes. Porém, esta particular reunião, tendo efectivamente esse objectivo revelou-se diferente do que esperávamos! Como normalmente sucedia, jantámos, conversando sobre tudo um pouco. Mas, quando passámos ao escritório do Luís P., contra o que era habitual ele não estava acompanhado do seu habitual bloco de notas, onde, por regra, tinha apontados os assuntos que pretendia tratar. Passou, sem mais delongas, ao objecto da reunião. E João D. P. e eu não podíamos ter ficado mais espantados. Luís P., directamente, sem rodeios, declarou-nos que tinha ponderado muito bem no assunto e que tinha decidido (!) que o 1.º Vigilante não seria João D. P., mas Rui Bandeira, mantendo-se João D. P. como 2.º Vigilante!

Olhei para o João D. P.. Estava tão espantado como eu! E certamente magoado, até porque Luís P. fora o seu padrinho, isto é, o maçon que assinara em primeiro lugar o seu pedido de admissão na Loja!

De imediato, declarei que isso estava fora de questão, que não aceitaria ultrapassar o João D. P. e que nem sequer via qualquer razão válida para que ele fosse excluído do exercício do ofício de 1.º Vigilante.

Luís P., não gostou! Mas, como era seu timbre, não elevou a voz, não manifestou desagrado, iniciou uma longa dissertação pela qual procurava demonstrar que João D. P. ainda não estava preparado para vir, no ano subsequente, a dirigir a Loja e que era meu dever avançar em sua substituição. Confesso que muita pouca atenção dei a essa dissertação. Olhava atentamente o João D. P. e procurava descortinar o que lhe ia na alma. Julgo ter visto sucessivamente decepção, tristeza, desapontamento e, subitamente, resolução.

Preparava-me para responder ao longo responso do Luís P. encerrando a conversa com a minha recusa de exercer um ofício que a prática da Loja apontava para que fosse exercido pelo João D. P., quando este, com um gesto, me fez sinal que pretendia ele falar primeiro.

Com toda a calma, João D. P. disse apenas três breves frases: estava desapontado pela posição de Luís P.; não queria ser factor de conflito, qualquer que ele fosse; nas circunstâncias, achava melhor que fosse eu o 1.º Vigilante seguinte e não se importava de me seguir, em vez de me preceder, no exercício dessa função!

Fiquei desarmado! Olhei para o João D. P. e li no seu olhar uma triste, mas determinada, resolução. Ao trocarmos olhares, encolheu leve e discretamente os ombros, como quem diz "não vale a pena", e acenou-me ligeiramente com a cabeça, em sinal de incentivo. Olhei para Luís P. e vi-o já recostado, com um ligeiro sorriso de quem sentira que atingira o objectivo. Eu pensava em ainda protestar, em manter a minha recusa, mas vi que era inútil: daí para a frente, teria dois a convencerem-me; recusar seria abrir uma brecha, uma fonte de conflito e de incerteza, cujas consequências me sentia incapaz de prever. Perguntei a João D. P. se era esse mesmo o seu propósito. Reafirmou que, em face das circunstâncias criadas, achava que era a melhor solução, que não tinha o menor problema em ser meu 2.º Vigilante e que acreditava que faríamos um bom trabalho juntos. Cedi. Aceitei.

A reunião terminou pouco depois. João D. P. e eu saímos juntos de casa de Luís P. Perguntei a João D. P. porque abdicara, porque aceitara ser ultrapassado por mim, pois bem vira que eu o apoiaria. Respondeu-me que era a melhor solução, que não acreditava que a Loja resistisse sem graves mazelas a um desacordo expresso entre o Venerável eleito e os seus dois naturais Vigilantes, que, a não ser assim, não saberíamos que consequências poderia ter uma fonte de perturbação inesperada, que podia abrir um processo que podia ser atribulado e conflituoso, pois não acreditava que Luís P. desistisse do seu propósito de evitar que ele fosse Venerável Mestre no ano seguinteao seu mandato.

Até hoje, só posso explicar a decisão de Luís P. de afastar da sua sucessão aquele que precisamente todos consideravam o seu delfim, o obreiro com quem tinha mais afinidades, por uma questão pessoal porventura havida com João D. P. ou com a mulher deste.

Esta decisão de Luís P., que João D. P. e eu acabámos por acatar, revelou-se, porém, um catalisador de mudança relativamente à forma de gerir a Loja. No texto sobre o Décimo Venerável Mestre direi porquê.

Rui Bandeira

13 setembro 2007

O nono Venerável Mestre

Entre Setembro de 1998 e igual mês de 1999, exerceu funções o nono Venerável Mestre da Loja Mestre Affonso Domingues, Luís P..

Luís P. foi um dos maçons que mais tempo se manteve no grau de Aprendiz, não por desinteresse ou falta de assiduidade, mas porque recusou, várias vezes, ser elevado ao Grau de Companheiro, por não se sentir preparado para tal! Já Mestre maçon, sempre revelou um particular interesse pela formação, especialmente pela formação dos Aprendizes, de que foi directamente responsável, salvo erro, dois anos, enquanto 2.º Vigilante da Loja. Foi ele o 2.º Vigilante que, conforme o José Ruah referiu aqui, lhe pediu para continuar mais um ano nessa função, em vez de, como seria normal, avançar para 1.º Vigilante, preferindo ser ultrapassado na informal "linha de sucessão" da Loja por Jean-Pierre G.. Ou seja, Luís P. revelou um particular interesse pela formação maçónica e pelo trabalho com os símbolos, quer como formando, quer como formador.

Tinha, além disso, uma concepção rigidamente esotérica, quase crística, senão mesmo crística da Maçonaria. Para ele, a Maçonaria é essencialmente um método de desencadeamento e evolução de um processo iniciático, tendente à aproximação do Homem ao Divino - um processo paralelo, por exemplo, ao misticismo monástico cristão. isto é, e se bem interpreto o seu pensamento, o método iniciático maçónico é um dos métodos de aproximação do Homem ao Divino, como o são o dito misticismo monástico ou o budismo. Luís P. privilegiava, assim, o estudo, a teoria, a análise simbólica, tendo porém o cuidado de alertar para os perigos do que costuma designar de "devaneios esotérico-birutas" muito presentes em muita "literatura", principalmente do século XIX.

Luís P. procurou aplicar estes seus princípios no governo da Loja, durante o seu mandato. Privilegiou, assim, a formação, o apoio, dos Aprendizes - e, por arrastamento, dos Companheiros. Na minha opinião, já enquanto 2.º Vigilante estabelecera as bases e a forma de proceder à instrução dos Aprendizes que ainda hoje se pratica na Loja Mestre Affonso Domingues - designadamente o hábito, que permanece, de os Aprendizes e Companheiros terem uma sessão de instrução uma hora antes da sessão de Loja que se realiza no segundo sábado de cada mês. Manteve e reforçou essa actuação. E nisso deixou um bom legado à Loja.

Também deixou o legado de a formação dos Companheiros ser muito similar à dos Aprendizes, apenas incidindo no Catecismo de Companheiro e nos símbolos do grau. Na minha opinião, esse legado não será tão positivo, porquanto a minha concepção do grau de Companheiro é de que os objectivos deste são radicalmente diversos dos do grau de Aprendiz e, portanto, não devem ser prosseguidos com os mesmos métodos. Mas isto são contas de outro rosário...

Durante o seu mandato, a Loja esteve virada para dentro, para a formação, para a reflexão, para a união do grupo em prol do aperfeiçoamento dos seus membros.

Luís P. dirigiu a Loja segundo a sua concepção, sem derivas. Quem concordou, aproveitou; quem não concordou, suportou. Foi talvez, até agora, o último Venerável "autoritário" da Loja. Alguns não concordavam lá muito com a orientação de Luís P.. Mas a Loja ainda estava na fase de actuar segundo a batuta do seu Venerável Mestre e, portanto, a concepção de Luís P. foi aplicada sem objecções de maior.

No entanto, esta sua concepção de direcção da Loja não viria a vingar - e a mudança começaria mais cedo do que mais tarde, ironicamente devido a uma decisão pessoal do Luís P... Mas essa será matéria para outro texto...

Rui Bandeira

07 setembro 2007

O oitavo Venerável Mestre

O oitavo Venerável Mestre, tal como ocorrera com José M. M., completou o mandato do seu antecessor e foi eleito e assegurou um novo, e agora completo, mandato. Porém, e até hoje, foi o único Venerável Mestre duas vezes eleito para essa função. Com efeito, José M. M. completara o mandato do seu antecessor por designação do Grão-Mestre; o oitavo Venerável Mestre, como bem lembrou aqui o José Ruah, foi, após a decisão da Loja, subsequente à cisão ocorrida em 1996/1997, de permanecer leal ao Grão-Mestre, regularmente eleito para completar o mandato de José Ruah que, pelas razões que estão explicadas no texto para que remete o atalho acima, entendeu renunciar ao seu mandato. Em Julho de 1997, na reunião normalmente agendada para eleições, foi reeleito para continuar a ocupar a Cadeira de Salomão entre Setembro de 1997 e igual mês de 1998, o que ocorreu.

Jean-Pierre G. foi o oitavo Venerável Mestre da Loja Mestre Affonso Domingues e, mais uma vez, a Loja teve a fortuna de ter o homem certo a dirigi-la no momento certo. Sendo, como o seu nome indica, de origem e cultura francesas, Jean-Pierre G. não possuía a fraqueza, tão comum nos portugueses, do "nacional-porreirismo". Como ele muitas vezes disse e repetiu, com ele "serviço é serviço, conhaque é conhaque", isto é, a amizade não colidia com o dever, a obrigação e o poder de dirigir impunham-lhe que tomasse as decisões que entendia certas, independentemente das amizades, e havia um tempo para folgar e um tempo para trabalhar. Tão simples como isto, mas tão saudavelmente distante de algumas das nossas atávicas idiossincrasias...

Assim, Jean-Pierre G. foi um Venerável Mestre que fez o que tinha a fazer. Recebeu uma loja escaqueirada pela cisão e não se lamentou - apanhou os cacos. Recebeu uma Loja amputada dos seus mais experientes quadros e não se apoquentou - trabalhou com os quadros que havia, que ganharam experiência em exercício. Recebeu uma Loja que perdera organização e não se desorientou - organizou-a.

Jean-Pierre G. foi o gestor de meios, de homens e de expectativas que a Loja precisava. Quando teve de ser autoritário, foi-o. Recordo-me de uma certa ocasião em que se debatia a limpeza do quadro de elementos que não compareciam a reuniões e não pagavam quotas. Um dos elementos em causa era um Grande Oficial, que exercia, e bem, e com dedicação e zelo, uma função importante e que era da particular confiança do Grão-Mestre. Absorvido nessas funções, há mais de um ano que não comparecia em Loja. A Loja hesitava. Era certo que há muito não vinha às reuniões. Mas era Grande Oficial... E de confiança do Grão-Mestre... E estava a fazer um bom trabalho... E era um tipo porreiro... Jean-Pierre G. viu no que aquilo ia dar e resolveu cortar a direito: tudo isso está muito bem, mas eu é que sou o Venerável Mestre e foi a mim que me encarregaram de decidir. Porreiro ou não porreiro, de confiança ou não, Grande Oficial ou não, o certo é que ultrapassou o período fixado para estar ausente da Loja e deve ter o mesmo tratamento que os outros, que aqui não há filhos e enteados - ou vem à próxima reunião ou até lá pede para mudar de Loja, senão, decide-se a sua exclusão e o Grão-Mestre que arranje outro Grande Oficial. E ponto final! Todos os elementos da Loja se entreolharam, mas todos meteram a viola no saco: realmente o Irmão estava em falta; e não havia nada nos regulamentos que justificasse que tivesse um tratamento de privilégio; e o Venerável Mestre fora eleito para decidir... Resultado: antes da reunião seguinte, o Secretário da Loja recebeu o formal pedido de transferência para outra Loja, onde era mais conveniente para esse Irmão comparecer, e o problema ficou resolvido!

Com Jean-Pierre G. a Loja aprendeu que a fraternidade não exclui o rigor, que a amizade não autoriza privilégios, que quando é tempo de trabalhar, é tempo de trabalhar. Se o caminho se faz caminhando, então é preciso caminhar, não apenas pensar em fazê-lo.

Tenho para mim que, naquela época, muito beneficiou a Loja em ser dirigida por alguém com uma mentalidade diferente, em que o rigor não era incompatível com a boa disposição. Com efeito, Jean-Pierre G. era e continua a ser um homem com um extraordinário sentido de humor, brincalhão e bonacheirão - mas só na hora do conhaque; na hora do serviço, faz-se o que se tem de se fazer, enquanto se tem de fazer.

Ainda hoje a Loja é um refúgio de boa disposição, de descontraída brincadeira entre Irmãos que se tornaram amigos e que facilmente integram e enturmam os novos. Mas ainda hoje a Loja, dir-se-ia que por reflexo adquirido no tempo do Jean-Pierre G., quando trabalha, trabalha - com rigor e espírito de procurar fazer o melhor possível e de ser hoje melhor que ontem, esperando que seja pior do que amanhã.

Rui Bandeira

24 julho 2007

O fim da infância

Os minutos seguintes foram dos mais complicados da história da Loja. Quase 40 Homens adultos nos braços uns do outros – não importava que caminho tinham votado – chorando.

José Ruah, in Um dia fui Venerável Mestre da Mestre Affonso Domingues - 2


Nesta passagem, José Ruah não exagerou nem um bocadinho! Foi assim mesmo que se passou! No entanto, ao longo de duas reuniões, com várias horas, dois grupos de membros da Loja esgrimiram razões, arremessaram argumentos, prouraram influenciar os aparentemente indecisos para a sua posição, sabendo ambos que a maioria, num ou noutro sentido, seria muito pequena. Foi uma luta leal, mas uma luta dura! Assim sendo, como foi possível que, minutos após a decisão, que determinou vencedores e vencidos, não existissem nem uns, nem outros, mas apenas Irmãos chorando as circunstâncias, despedindo-se uns dos outros, mutuamente se desejando felicidades e esperando que um dia se reunissem os que então se separavam?

A resposta está em que a Loja Mestre Affonso Domingues teve, então em escassos sete anos de existência, a felicidade e a arte de viver a Maçonaria bem vivida e, assim, criar o que é, não apenas o mais importante, mas o básico, o essencial, numa Loja Maçónica: o cimento da união na diversidade, a argamassa da fraternidade na diferença. Esses escassos sete anos bem vividos permitiram aprender - e praticar! - que discordar não implica querelar, que o respeito do outro implica a aceitação do seu pensamento, ainda que diferente do nosso, que o meu Irmão é meu Irmão não apenas quando concorda comigo, mas também quando nos opomos. E que a oposição não implica zanga, nem desrespeito, nem quebra de afectividade. Numa palavra, a Loja teve a oportunidade de aprender a Tolerância!

Um episódio anterior aos eventos de 1996 / 1997 ajuda a entender o espírito que se criara na Loja.

Ocorreu já não sei bem quando, creio que dois ou três anos antes, talvez no Veneralato do Manuel A. G.. Então, a Loja ainda se reunia nas instalações do Monte Estoril, junto ao Jardim dos Passarinhos, como nós designávamos o local. A sala onde decorriam as reuniões era muito pequena: acomodava confortavelmenteaté 15 / 20 elementos, mas, acima desse número, era francamente exígua. A Loja estava numa fase pujante, recuperada da sua fase de cansaço. A presença de obreiros nas sessões de Loja ultrapassava sistemática e significativamente o "máximo suportável" naquele espaço e era sistematicamente muito difícil "arrumar" toda a gente e conseguir garantir o mínimo de espaço para que o Mestre de Cerimónias e os outros Oficiais de Loja que necessitavam de o fazer circulassem. Várias vezes houve em que se não pôde sentar toda a gente. Resumindo, estávamos com Loja a mais e espaço a menos!

Nestas circunstâncias, era inevitável que se debatesse as medidas a tomar para ultrapassar o problema, tanto mais que, então, não se descortinava para breve a disponibilização de mais desafogadas instalações. Rapidamente se chegou à conclusão que se tinha que dividir a Loja. Essa necessidade foi consensualmente aceite. Decidido então esse passo, havia só um pequeno, mínimo, insignificante detalhe a resolver para que se executasse a consensual e necessária solução: definir quais seriam os obreiros que sairiam da Mestre Affonso Domingues e criariam a nova Loja, filha da anterior.

Aqui chegados, chegou a ser cómico de ver! Todos, mas virtualmente todos, os que, minutos antes, tinham facilmente chegado à conclusão da inevitabilidade da divisão da Loja em duas, assim que perceberam o que implicava a decisão... começaram a olhar para o lado, a assobiar para dentro, a demonstrar um súbito e irresistível interesse pela posição dos respectivos dedos nas respectivas mãos! Quando tocou a saber-se quem é que iria então sair e criar a nova Loja, ninguém se chegou à frente!

Ao fim de alguns minutos de expectante silêncio, alguém - já não me lembro quem, talvez o Venerável Mestre - declarou o óbvio: se ninguám se dispõe a sair para outra loja, então não se pode dividir a Mestre Affonso Domingues em duas...

Mal estas palavras foram ditas, pareceu que se libertou algo no ambiente: os olhares ausentes tornaram-se presentes, as caras fechadas abriram-se, as posturas hirtas descontrairam-se! E alegremente toda a gente concluiu que realmente o melhor era não dividir a Loja, que a falta de espaço não era um problema tão difícil assim, que, com mais um jeitinho ainda se acomodavam mais uns quantos, etc., etc....

E nunca mais se falou na falta de espaço nem em dividir a Loja - ideias disparatadas, obviamente!

Dois anos depois, as circunstâncias fizeram que o problema do espaço fosse o menor dos nossos problemas. Mas sempre tive para mim que o que, naquelas duas reuniões esteve, para os NOSSOS obreiros, verdadeiramente em causa não foi quem se mantinha fiel ao Grão-Mestre e quem concordava com a sua destituição. Isso foram detalhes... cada um tomou a sua decisão e só tinha de prestar contas à sua conciência. O que verdadeiramente esteve então em causa foi decidir quem ficava e quem saía!

E o que todos choraram então foi a raiva e foi a frustração de, desta vez, o problema não ter sido só de espaço (esse resolvia-se outra vez, aperta daqui, encosta dacolá...), ter sido bem mais grave, bem mais fora do nosso controlo, bem impossível de ser resolvido por nós! Foi o termos descoberto que afinal nem tudo podia ser resolvido com a nossa Cadeia de União...

Na vida chega sempre um momento assim, o momento em que somos obrigados, muito a contragosto, a aceitar que não podemos tudo. Então, chora-se de raiva, de frustração, de desgosto. Mas cresce-se!

E foi assim que a Loja Mestre Affonso Domingues saiu da infância!

Rui Bandeira

23 julho 2007

Um dia fui Veneravel Mestre da Mestre Affonso Domingues - 3

Com a devida desculpa de nao publicar com maior intervalo mas terei amanha segunda feira uma quase total impossibilidade de o faze. Por isso aqui fica a 3º e ultima parte das minhas memorias relativas ao ano em que fui Veneravel Mestre da Mestre Affonso Domingues.
Restava cumprir a minha palavra.

Convoquei de imediato uma sessão ritual da Loja, para uma sala do Hotel Penta (era assim o nome na altura), informei a grande Secretaria desse facto e solicitei a presença de um Grande Oficial para que logo após a votação fosse imediatamente instalado o candidato eleito.

Não dei qualquer hipótese ao J.P.G. , que era o 1º Vigilante na altura. Ele tentou demover-me, dizendo que faltavam uns meses para acabar o ano, que estávamos em Março e em Julho haveria eleições, etc. etc.

Não podia ser. Além da palavra e compromisso assumidos e ainda sou dos que foi educado dando valor à palavra de honra, havia um outro factor fundamental.

Eu tinha sido um “Comandante de Guerra” e a Loja precisava de um “Comandante de Paz”. Eu, não por vontade própria, mas por força das circunstâncias tinha ficado ligado à separação, ao infortúnio, à tristeza.

A Loja não podia a ficar a viver no meu Mundo, precisava de avançar firme e sólidamente, e o J.PG. , que como disse no inicio havia sido convidado porque o 2º Vigilante no mandato anterior me solicitou o favor de ficar mais um ano enquanto tal, era essa pessoa.


A Sessão decorreu sem grandes sobressaltos, a Loja estava farta de sobressaltos. A ordem de trabalhos foi a normal, foram então lidos todos os decretos emanados pelo Grão Mestre, toda a correspondência existente.

Apresentei então uma prancha – chamemos-lhe assim – na qual expliquei tudo o que se havia passado e lembro-me de terminar dizendo que a História me julgaria pelo que havia decidido e pelas acções que tomei.

Posto isto foi feita a votação da única candidatura existente que foi votada unanimemente, pelo que passei o malhete ao Grande Oficial presente, um amigo R. Cruz na altura Vice Grão Mestre, para que procedesse à Instalação do Novo Venerável Mestre.

A Sessão terminou, tendo-se seguido um jantar no próprio hotel com a presença das nossas mulheres.

No fim do jantar informei o J.P.G que me iria ausentar dos trabalhos de Loja durante um período cuja duração desconhecia. Continuaria a pagar as quotas, não deixando de ser membro da Loja, mas apenas não apareceria nas sessões.

Ter sido “Comandante de Guerra” e não querer ser “ Eminência Parda” conjuntamente com o facto de provocar a Instalação de um novo Venerável ser a única maneira de poder garantir que o poder passava de mão para mão sem que com isso eu ficasse impedido de prosseguir no caminho da Regularidade foram as razões da minha decisão de afastamento. A razão de não poder ser só Venerável de uma parte foi a que achei que seria melhor percebida e a que daria menos discussão.

Baseada nas razões anteriores esta ausência tinha um duplo objectivo.

Permitir-me-ia afastar de todos os problemas da Loja, mas sobretudo permitiria ao novo Venerável e à Loja poderem reiniciar o caminho sem a minha presença e logo com mais liberdade de acção.

Voltei passados 9 meses, tendo combinado com o J.P.G que chegaria atrasado e que entraria de forma ritual, com resposta ao inquérito usual nessas circunstâncias.
Foi-me indicado um lugar nas colunas e não no Oriente como era de direito, mas era assim que tinha que ser.

Só na sessão seguinte é que ocupei o meu lugar de Ex-Veneravel, na cadeira à esquerda da do Venerável.


Epilogo

A Fraternidade e o Espírito Maçónico que a Loja passou aos seus Membros verificou-se.

Aqueles que não seguiram o caminho da Loja cumpriram escrupulosamente a palavra dada e mesmo intimados a por a funcionar a Loja Mestre Affonso Domingues, à semelhança do que acontecia com outras Lojas, recusaram fundamentando com a palavra dada.

Alguns voltaram à Loja, mas ficaram apenas um ou dois anos. Outros abandonaram a vida Maçónica activa, mas continuam a ser Maçons no seu espírito, e no nosso.

Alguns comparecem à refeição (almoço ou jantar) que a Loja organiza pelo Solstício de Inverno.

Todos, estou seguro, guardam a medalha da Loja em local de destaque, nem que seja só nos seus corações.

Tudo o que levei a cabo naquele ano de 1996 /1997 nao teria sido possível se aqueles que eu tinha escolhido para me acompanharem na gestão da Loja não tivessem confiado nas minhas decisões e não me tivessem apoiado.

Nos nossos rituais, iniciação no 1º grau, é mencionado um princípio muito importante:

“No entanto, reflicta que nem os adultos isolados e plenamente desenvolvidos podem efectuar sozinhos qualquer grande empreendimento. Pôde fazer sem dificuldade a
sua viagem com o passo firme de um homem maduro mas foi-lhe certamente bem útil a companhia de um homem experiente que se comportou como um Irmão. “

Isto aconteceu na altura e acontece hoje.

Cabe referenciar que aquele que foi o meu quadro de Oficiais na altura da convulsão, ficou praticamente todo com a Loja e se a memória não me atraiçoa, quase todos foram Veneráveis Mestre da Loja. Fica assim uma palavra para:

J.P.G. ; Luís D.P. ; Rui Bandeira ; António P. ; João D.P. ; que foram Veneráveis e para Acácio R. que teve papel fundamental como Grande Secretário da GLLP/ GLRP e Rui.D.R. que tem sido apenas obreiro.
Tenho que salientar que aquele que escolhi como Mestre Organista, A.B., continua hoje a ser o Mestre Organista da Loja e provavelmente continuará a sê-lo enquanto quiser.

A Loja Mestre Affonso Domingues continua. Tem vindo nestes 10 anos a fazer o seu trabalho de forma irrepreensível, sempre mantendo o espírito que a caracterizou desde o início.

Este ano como no ano anterior e espera-se à semelhança do que acontecerá para o ano que vem, na primeira sessão do mês de Julho a Loja elegeu mais um Venerável Mestre, o 18.º

A Loja tem neste momento no seu quadro mais de 40 Obreiros (numero mais ou menos constante nos últimos 5/6 anos), é uma das maiores da GLLP/ GLRP, tem uma frequência média às sessões de 20 Obreiros com a particularidade de uns só virem à sessão de sábado e outros só virem à sessão de quarta-feira (o que extrapolado se todos viessem sempre seriam frequências de 25 a 30 obreiros por sessão).

Nas ultimas eleições para Grão Mestre votaram 20 Mestres do quadro em 29 possíveis.

Estão nos passos perdidos 2 ou 3 candidatos para serem admitidos, e prevê-se que ingressem na Loja, vindos de outras Lojas mais 2 ou 3 membros.

A Loja continua com os projectos de Solidariedade que acarinhou desde sempre, ajuda a instituições carenciadas, grupo de dadores de sangue e outros. Não negligenciou nunca os planos de formação dos aprendizes e companheiros. Mantém um rigor ritual invejável.
Produz por ano uma dezena de pranchas como mínimo. Mantém uma actividade social com as famílias.
Discute todos os assuntos internamente, e apresenta-se sempre em Grande Loja com opinião formada sobre os assuntos em discussão, votando de acordo com o que foi determinado internamente e não para fazer jeitos a A ou B.
Dirimiu sempre os problemas surgidos internamente, nos graus apropriados e soube sempre encontrar uma solução.

Por tudo isto e por mais um sem numero de coisas posso, sem falsas modéstias nem vaidade, afirmar que a História já me julgou e que as minhas decisões foram as correctas.

Mas mesmo assim precisei de 10 anos para conseguir escrever estas memórias.

Foi de facto um Veneralato muito diferente. Muito diferente dos anteriores, felizmente muito diferente dos posteriores, mas sobretudo muito diferente do que eu tinha planeado e eu tinha pensado em fazer um Veneralato diferente!!!

Um dia fui Venerável da Melhor Loja Maçónica que conheço. Na verdade só dirigi 5 sessões em 22 possíveis, não fiz nada do que tinha planeado fazer e fiz tudo o que tive que fazer.

Ser Maçon é isso mesmo, fazer o que se tem que fazer.

Revelo aqui um segredo.

Um dia vou querer ser Venerável da Loja Mestre Affonso Domingues, mas esse dia ainda está muito, mas mesmo muito, distante.


José Ruah


Fica assim concluido este texto que reflecte as minhas memorias de um ano muito complicado para a Maçonaria Regular em Portugal. Quis o Grande Arquitecto que fosse eu o Veneravel Mestre da Mestre Affonso Domingues.