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28 setembro 2007

Presença do Conde Lippe em Portugal

A - Introdução

Iniciam-se estas reflexões por um ligeiro esboço da situação político/militar em Portugal antes da Guerra dos 7 anos. Procura-se seguidamente apresentar um breve perfil do Marechal-General Conde de Lippe, quer como militar, quer como homem, fazendo referência daquilo que se julgou ser o mais importante legado ao nosso país; e conclui-se focando o Conde de Lippe como Maçon.

D. José I era o rei de Portugal e tinha como Primeiro-Ministro, Sebastião José de Carvalho e Melo, a quem concedeu o título de Conde de Oeiras em 1759, e mais tarde, em 1769, o título de Marquês de Pombal.

Sem ameaças exteriores e com a necessidade interna de diminuir o poder do exército, o governo de D. José I, descurou completamente o aparelho militar. O Marquês de Pombal, por desafecto às instituições militares, ou porque de todo o absorvia o delírio de aniquilar a companhia de Jesus e a Nobreza, recordo que só os nobres tinham acesso aos postos mais elevados da hierarquia militar, tornou-se tão sensível a degradação do exército e a sua penúria, que teve dificuldade em reunir tropas que policiassem Lisboa após o terramoto de 1755. Portugal estava em paz há 48 anos, desde a guerra de sucessão de Espanha (1701-1714). Os militares desabituaram-se de suportar as armas, os generais de suportar a disciplina e o poder político de suportar o exército, na prática, não existiam Forças Armadas. Em 1756, deflagrou, para a época, uma autêntica guerra mundial – a guerra dos 7 anos – entre a França e a Inglaterra. Portugal manteve-se neutral, solução aparentemente lógica, mas a verdadeira razão desta postura, era e tem-no sido frequentemente, por não termos Forças Armadas que nos permitissem batermo-nos com as potências beligerantes, ou melhor, a ausência de Forças Armadas. Contudo, um encontro naval entre as esquadras Inglesas e Francesas em águas territoriais Portuguesas, com a subsequente derrota Francesa e a perseguição aos navios Franceses até junto dos Fortes da cidade de Lagos. Este episódio serviu de motivo para reclamações da França e uma posterior invasão do território nacional por forças espanholas, em 1762, que se tinha mantido também neutral. Mas, após a subida ao trono de Carlos III em 1759, anti-britânico, facilitou uma aliança entre a Espanha e a França, denominada na época “Pacto de família” assinado em 15 de Agosto de 1761, pois os Bourbon reinavam em França, Espanha, Nápoles e Parma. De salientar que D. José I recusou-se a aderir ao pacto, em virtude da velha aliança Luso-Britânica.

Toda a política externa de Portugal andava à volta da antiga aliança com a Inglaterra, mais por interesse de manter as suas ex-colónias, nunca se virando para a Europa, fronteira terrestre. País ribeirinho e projectado pelo mar nos outros continentes, encontrou-se sempre numa situação incómoda de ser fronteira, zona de interesse, campo de manobra, margem de discussão e apetites, das grandes potências europeias, entre os poderes marítimo e continental – a dialéctica entre o mar e a terra. Porque a geografia é tirânica e persistente, não era a 1ª vez que enfrentávamos este dilema, nem seria a última – com Napoleão de 1801 a 1814, a situação ainda foi mais dramática pela intensidade da luta. Situação que ainda hoje persiste, embora atenuada pela perda do Ultramar.

O Conde de Oeiras solicitou ajuda para a defesa do território pela invasão das tropas Espanholas à Inglaterra. O pedido era explícito na necessidade de nomear um “Mestre-de-Campo-General” que conseguisse organizar o exército, e o envio de uma vasta quantidade de equipamento e tropa. O Rei de Inglaterra, Jorge II, escolheu Guilherme Schaumburg-Lippe, conde reinante do pequeno condado Schaumburg-Lippe desde os seus 24 anos de idade. O Conde de Lippe, embora fosse Alemão de nascimento, possuía uma elevada reputação militar e gozava de grande estima, até porque era membro da família real Inglesa.

B – O conde Lippe como militar:

O conde Lippe chegou a Portugal em 02.07.1762 regressando ao seu condado em Setembro de 1764 e fazendo uma visita a Portugal no período 1767-68, fez-se acompanhar por vários oficiais alemães, entre os quais, o príncipe Carlos Luiz Frederico, Duque de Mecklamburg, marechal de campo do exército Inglês e irmão da rainha Inglesa. O Conde de Lippe verá consagrado o tratamento por Alteza Sereníssima, ocupará o lugar cimeiro da hierarquia e debate os problemas directamente com o Conde de Oeiras. A sua autoridade encontra-se plenamente consolidada após o episódio, real ou inventado, do atentado contra o Rei D. José I, e a espectacular eliminação física de um conjunto de elementos da primeira nobreza, considerados como “conspiradores”.

O Conde de Lippe assentou praça nas guardas inglesas, posteriormente passou à marinha e esteve na companhia contra os turcos em 1745. Em 1748, sucedeu ao seu pai no governo do seu condado. No começo da guerra dos 7 anos (1756) ligou o exército que organizara, segundo as regras prussianas, às tropas de Hanôver. Teve o cargo de grão mestre de artilharia, tomando parte em várias batalhas. Para um militar experiente no campo de batalha e que acompanhava a evolução dos exércitos mais modernos da época, quando chegou a Portugal, verificando o estado do nosso exército e para fazer face à invasão das tropas Espanholas, concentrou o seu primeiro esforço em disciplinar o exército. Fê-lo, quer no campo da moral, tentando acabar com uma das maiores fontes de deserção das praças e do descontentamento dos oficiais – o pagamento do pré atempadamente. No campo material, procurou fardar e equipar o pessoal o melhor que pôde.

Em 1762, inicia-se a invasão espanhola e as primeiras 5 praças, caíram sem que tivesse sido dado um tiro. O Conde de Lippe, avaliando um fraco valor militar das suas tropas, procurou apenas obstar a que o exército espanhol não entrasse muito em território nacional, mas o suficiente para ter que se dispersar e limitou-se a uma guerra de posição, concebendo a sua estratégia:

- Conseguiu mobilizar a população para o conceito do “direito de defesa” em que atacava as rectaguardas e flancos e essencialmente as colunas de reabastecimento. Tipo guerra de guerrilha.

- Constitui um exército de 15.000 homens em igual proporção de portugueses e ingleses dispersando-os em 5 destacamentos que os colocou em expectativa, de modo a poder lançá-los, com oportunidade, nos pontos ameaçados, para ofensivas rápidas, mas determinadas.

- Guarneceu as praças com as tropas menos preparadas

Madrid, apercebendo-se da estratégia montada, obrigou à suspensão da ofensiva, querendo substituir o Comandante da Forças – Marquês de Sarria - pelo Conde de Aranda, oficial mais experiente em campanha.

Esta quebra de ímpeto, permitiu ao Conde Lippe, rearticular os seus destacamentos, manobrando-os em reacção ao inimigo. Entretanto, a paz de Fontainebleau pôs termo à guerra dos sete anos e fazia suspender as operações entre Portugal e Espanha. O tratado de paz definitivo que assegurou a restituição recíproca de prisioneiros e a devolução das praças ainda ocupadas (Chaves e Almada) só foi assinado em 10 de Fevereiro de 1763, sendo publicado em Lisboa no dia 25 de Março. Desde o início da campanha e durante ela, teve contra si, a má vontade dos vedores (entidades que tinham por missão o pagamento dos salários e aquisição dos géneros e artigos militares) como também da maioria dos generais e oficiais superiores, fidalgos aparentados entre si. O Conde era militar das luzes desejoso de aprender, intelectual e militar ímpar, ao contrário da grande maioria dos oficiais portugueses de perfil tradicional.

Ao perfil do Conde de Lippe, permito-me sublinhar ou acrescentar alguns traços, que parece justo serem realçados:

  1. Grande capacidade de comando. Se comandar é o correcto exercício da autoridade sobre as forças militares e a autoridade é a capacidade de ser obedecido, ele conseguiu, com a prudência e o tacto que a difícil situação recomendava, mas com um elevado sentido de responsabilidade e perseverança, tornando-se efectivamente no Comandante do Exército Português.

  2. Sentimento de honra. Servindo um rei estrangeiro em terra alheia, desinteressado dos bens materiais e repouso que a condição lhe merecia. A transformação que exerce no espírito do soldado Português, aliás, como ele descreve nas suas memórias “Admirável perseverança do soldado português”, que suportou as maiores privações, e que, não obstante o pronto estrago do calçado, marchava alegremente por aqueles caminhos de agudos rochedos, deixando por toda a parte vestígios dos seus pés ensanguentados.

  3. Elevada capacidade de organização. Sendo já evidente na campanha de 1762, ficou sobejamente comprovada pela sua acção posterior, pelo cuidado posto na reorganização do exército.

C – O Conde Lippe como homem:

Vejamos em breves traços o seu perfil e personalidade. O conde chegou a Lisboa em 2 de Julho de 1762, com 38 anos, de nome completo Frederico Guilherme Ernesto, filho do conde Alberto Wolgang, estudou em Leida e Montpelier. Era versado em matemática, ciências militares, artilharia, história, filosofia e ainda ciências políticas a até medicina. Dominava várias línguas e foi grande amador musical, exímio executante de cravo e violino. Além da vastíssima cultura intelectual, era dotado de forte constituição física, sóbrio na alimentação e pouco dormia. Era forte na esgrima, cavalgando admiravelmente e muito ágil no salto em altura. Magro, nervoso e robusto, de testa larga, olhos rasgados e proeminentes. Inteligente e benévolo, era sóbrio na palavra, mas esta corria-lhe sempre lúcida e afável. Trajava, sempre fato azul singelo, sempre abotoado, não se distinguindo senão pela cruz da Águia Negra bordada, que usava sempre na sobrecasaca. Andava sempre de chapéu armado e de botas altas.

Não resisto a transcrever, como o seu secretário e intérprete, Manuel Arriaga Brun da Silveira, o descreve: “ O que desculpa e disfarça tudo, é o Sr. Marechal, menos o que respeita ao serviço de El-Rei, em que então não se pode conter. Não vi homem mais desprezador dos trabalhos, das fadigas, do fausto; reparte o tempo no conhecimento do país e na expedição das ordens e exposições. É inimigo da lisonja, do cortejo, do cortejo, do aplauso; o que quer é ver o soldado, o oficial no seu posto; dá com uma cega generosidade e mostra não saber o que é uma moeda de 6.400; é calado, amigo do silêncio e da ordem”.

D – Transformação do exército – Legado

Terminada a campanha de 1762, o conde de Oeiras não quis descurar o problema militar e, protelando a partida do Conde de Lippe, desejoso de regressar a casa, aproveitou a sua permanência para dotar o exército de uma nova organização e de regulamentação adequada a consolidar a disciplina das tropas e promover a sua instrução

O Conde de Lippe, pela sua experiência concluiu, que só poderia ter êxito se se verificasse:

- Total envolvimento do poder político nessa transformação. Este tem de compreender a necessidade da mudança, disponibilizar recursos e acima de tudo acompanhar o processo de mudança, já antevia a necessidade de subordinação das Forças Armadas ao poder político.

- A transformação das forças armadas tem de ser sentida e levada a cabo por toda a hierarquia da organização nomeadamente na sua estrutura superior, principalmente a capacidade de liderar a motivar toda a cadeia de comando.

- Em resumo, para se efectuar a mudança militar, são essenciais três fontes: normas culturais, a política e a estratégia, e novas tecnologias.

Elaborou os regulamentos sobre:

- Pessoal: Regionalização do recrutamento

- Justiça: A manutenção da disciplina nas fileiras constitui uma das suas principais preocupações, tendo sido introduzido pela 1ª vez o conceito de foro militar.

- Liderança: O Conde acaba definitivamente com as promoções por favor adoptando critérios de competência e mérito. Passa a ser-se nobre por ser oficial e deixa de haver oficiais só por serem nobres.

- Ensino: Cria o real colégio dos nobres, assim como bibliotecas em todas as unidades militares. Segundo afirmava – a leitura serve para se formar o espírito militar e prover-se de ideias: por ela se enriquece com as luzes e com a experiência dos outros.

- Treino: Determina a execução de manobras militares, periódicas, com o objectivo do ensino e prática das evoluções e implementação de novas tácticas. Faz com que o poder político, representado pelo rei e pelo primeiro-ministro, estejam presentes.

- Tecnologia: Restaura várias fortalezas e a construção do Forte da Graça em Elvas completou o sistema defensivo.

Posteriormente e com a partida definitiva do Conde de Lippe, o governo do Marquês de Pombal desinteressou-se pela sua obra, quase em absoluto. Segundo alguns autores, a inexistência de um exército forte, disciplinado e bem comandado deriva de uma deliberada intenção do Conde de Oeiras de não criar algo que pudesse constituir um entrave à forma como exercia o poder.

Em conclusão, o legado do Conde de Lippe, não são apenas livros e documentos que podemos ler em transcrições, ou que dormem tranquilamente na poeira dos arquivos. O seu legado é o exemplo do profissionalismo, a transcendência da missão de defesa, a actualidade de muitas das suas preocupações. É enfim, a necessidade de o reler, para quem tem, por dever conseguir a nossa defesa sem termos que chamar, outra vez, um Conde de Lippe.

E – O Conde de Lippe como maçon:

Como já referi, o Conde de Lippe residiu em Portugal de 2 de Julho de 1762 a 20 de Setembro de 1764, e, posteriormente, de 16 de Setembro de 1767 a 1 de Março de 1768. Era maçon de rito alemão da estrita observância. Através do seu perfil, já pudemos observar, que nele imperavam os valores sagrados de uma espiritualidade humanista e de uma ética radicada no respeito pelo semelhante e pela sociedade. Observava com rigor a fraternidade assente na igualdade de oportunidades e na correcção das desigualdades, no respeito por todos. Praticava a tolerância, a paz e compreensão, única forma de tornar profícua a busca da luz.

Rodeou-se de oficiais também maçons, que trouxe consigo para Portugal. O seu papel na Maçonaria foi relevante desde 1762, quando os seus oficiais, conquistaram adeptos em franjas do tecido social, principalmente no exército, mas também na nobreza, diplomacia, mercearia e cultura. Fundaram-se várias lojas: em Lisboa, Valença, Funchal, Coimbra, Almada, Elvas, Olivença, Estremoz e outras, onde quer que existissem guarnições militares importantes. E quando não houve oportunidade, ou iniciativa, para a instalação de oficinas, houve “irmãos“, dispersos por todo o país que difundiram os ideais maçónicos, contribuindo para o seu melhor conhecimento por parte dos Portugueses. A tradição da profunda influência do Conde de Lippe na Maçonaria Portuguesa mantinha-se ainda bem viva em meados do século XIX, conforme declarações de “irmãos” bem informados, como Silva Carvalho em 1846, ou Miguel António Dias em 1853.

A sua intervenção teve ainda mais relevo, até porque na época, a Maçonaria encontrava-se adormecida, pelas seguintes razões:

Em 28 de Abril de 1738, o Papa Clemente XII, a coberto da bula In Eminenti Apostolatus Speculu, formulou a primeira das muitas condenações da Igreja Católica contra a Maçonaria. Condenava e proibia os conventículos, local de reunião dos Pedreiros-livres, proibia aos católicos que neles entrassem, ou de qualquer forma, que os propagassem, ocultassem e auxiliassem, sob pena de excomunhão, e ainda ordenava aos bispos e aos inquisidores que inquirissem os transgressores e contra eles procedessem, castigando-os.

O inquisidor-mor Português, cardeal D. Nuno da Cunha, lembrando a existência de lojas maçónicas em Portugal e a consequente necessidade de fazer publicar a bula em Lisboa quanto antes.

O Edital da Inquisição, datado de Lisboa a 28 de Setembro de 1738, após sumariar a bula papal, admoestava e exortava todos os católicos portugueses e residentes em Portugal, a que lhe dessem cumprimento, e mandava, sob pena de excomunhão, que todos, quer eclesiásticos quer seculares, denunciassem ao Santo Ofício, as lojas ou assembleias maçónicas que conhecessem, dentro do prazo de 30 dias. Para que não se pudesse alegar desconhecimento, o edital era enviado aos abades, priores, reitores do reino e conquistas, para que o lessem e publicassem nas igrejas e fizessem afixar às respectivas portas.

Assim, a intervenção violenta do poder inquisitorial travou durante algum tempo a expansão da Maçonaria.

Com a morte de D. João V, a 30 de Julho de 1950 e a subida ao trono de D. José, o poder caiu gradualmente nas mãos de Sebastião José de Carvalho e Melo, futuro Conde de Oeiras e Marquês de Pombal.

Acontece que o novo ministro nunca permitiu que a inquisição perseguisse os maçons.

A razão mais plausível, é que Carvalho e Melo pode ter sido iniciado Maçon em Londres, entre 1738 e 1744, ou, com menos probabilidade em Viena, entre 1745 e 1749, tal como foi aceite sócio da prestigiada Royal Society. Em Viena, conviveu com Maçons conhecidos e ilustres, p. ex. Manuel Teles da Silva, duque e príncipe de Silva Tarouca, e dá-se como certo que tivesse visitado a loja “Aux Trois Canons”.

Verificou-se uma tolerância plena para com maçons confessos, guindando-os aos mais altos cargos e favorecendo-os com a sua protecção declarada.

O quarto de século que grosso modo, correspondem à governação de Sebastião José Carvalho e Melo – Marquês de Pombal, além de ser rico em iniciações, quer de cidadãos nacionais que residiam no território, como tivemos oportunidade de verificar, também aqueles quer que residissem no estrangeiro ou de passagem, pertencentes às mais variadas profissões, verificam-se uma riqueza de simbologia maçónica, nomeadamente em construções, fotografias e estátuas.

BIBLIOGRAFIA:

1 – História da Maçonaria em Portugal de Oliveira Marques
2 – Maçonaria Regular de José Manuel Anes
3 – General Barrento – O exército português antes e depois do Conde de Lippe
4 – Um olhar actual sobre a transformação do Conde de Lippe de Miguel Freire
5 – Nova história militar de Portugal.


A. M. L.

14 maio 2007

Gomes Freire de Andrade

No texto Fundação da Loja e Primeiro Venerável Mestre, menciono os nomes das cinco Lojas com a numeração de 1 a 5 da GLLP/GLRP. Dessas, uma foi dedicada a um maçon patriota e mártir: Gomes Freire de Andrade.

Gomes Freire de Andrade nasceu em Viena de Áustria em 27 de Janeiro de 1757 e passou ao Oriente Eterno executado no Forte de S. Julião da Barra, em 18 de Outubro de 1817.

Era filho de Ambrósio Freire de Andrade, embaixador de Portugal, e de uma senhora, condessa de Schafgoche, vinda de antiga e ilustre família da Boémia.

Teve a educação que na época se costumava dar aos filhos da nobreza. Destinado à carreira militar, assentou praça de cadete no regimento de Peniche, sendo em 1772 promovido a alferes. Passou à Armada Real, embarcando em 1784 na esquadra que foi auxiliar as forças navais espanholas no bombardeamento de Argel.

Regressou a Lisboa em Setembro, promovido a tenente do mar da Armada Real, e em Abril de 1788 voltou ao antigo regimento no posto de sargento-mor. Tendo alcançado licença para servir no exército de Catarina II, em guerra contra a Turquia, partiu para a Rússia. Em São Petersburgo conquistou as maiores simpatias na corte e da própria imperatriz. Na campanha de 1788-1789, comandada pelo príncipe Potemkin, distinguiu-se nas planícies do Danúbio, na Crimeia e sobretudo no cerco de Oczakow, sendo o primeiro a entrar na frente do regimento quando a praça se rendeu em 17 de Outubro de 1788, depois de cerco prolongado. Praticou muitos actos de bravura, sendo aos 26 anos recompensado com o posto de Coronel do exército da imperatriz, que em 1790 lhe foi confirmado no exército português, mesmo ausente.

Em 1816 foi eleito Grão-Mestre da Maçonaria portuguesa e tornou-se a «alma» de uma conspiração liberal contra o Marechal Beresford, oficial que administrava Portugal sob mão de ferro, como se tratasse uma colónia inglesa, despertando grande descontentamento junto dos oficiais e intelectuais portugueses. A 25 de Maio de 1817, em estado avançado dos preparativos da insurreição contra Beresford, Gomes Freire foi preso conjuntamente com outros 11 conspiradores, por denúncia de três maçons (três traidores, como na Lenda do 3.º grau...), José Andrade Corvo de Camões, Morais de Sarmento e João de Sequeira Ferreira Soares.

Gomes Freire de Andrade foi enforcado por ordem do Marechal Beresford no cadafalso na Torre de S. Julião da Barra e os demais no Campo de Santana, hoje denominado, em sua memória, Campo dos Mártires da Pátria.

Narra Borges Grainha que um dia antes da execução um coronel inglês, Robert Haddock, visitou o Grão-Mestre na cadeia e ofereceu-lhe como irmão a oportunidade para a fuga. Gomes Freire recusou a oportunidade!

Em 1853 foi erguido um monumento no sítio onde morreu sendo desde então homenageado como um dos heróis da luta pela instituição da monarquia constitucional em Portugal e um dos mártires mais eminentes da Maçonaria portuguesa.

A execução de Gomes Freire de Andrade é tema de uma das obras relevantes do teatro português do século XX, Felizmente há luar, de Luís de Sttau Monteiro.

Tem o seu nome uma Ordem Honorífica da Maçonaria Regular Portuguesa, a Ordem General Gomes Freire de Andrade, destinada a honrar os que prestam relevantes serviços à Maçonaria Regular.

Rui Bandeira

20 abril 2007

Carlo Collodi, o maçon que criou Pinóquio

Carlo Collodi não era o seu verdadeiro nome, antes um pseudónimo usado por Carlo Lorenzini. Mas foi por Carlo Collodi que ficou mundialmente conhecido.

Nasceu em Florença em 24/11/1826 e aí passou ao Oriente Eterno em 26/10/1890. Foi jornalista, escritor e combatente voluntário na Guerra de Independência de Itália, entre 1848 e 1860.

Publicou as obras "Gli amici di casa" e "Un romanzo in vapore. Da Firenze a Livorno. Guida storico-umoristica", por volta de 1856. O seu primeiro livro infantil foi publicado em 1876 e intitulou-se "Raconti delle fate". Em 1877 escreveu "Giannettino" e no ano seguinte " Minuzzolo". Em 1881, inicia a publicação de um periódico virado para o público infantil, o "Giornale per i bambini". Foi nesse peródico que originalmente foi publicada, em curtos capítulos, a "Storia di un burattino" (História de um Boneco), o primeiro título do que veio a ser o livro mundialmente conhecido por "Aventuras de Pinóquio", a sua obra-prima. Em 1887, publica ainda "Storie allegre".

A condição de maçon de Carlo Collodi, apesar de não estar confirmada por nenhum documento oficial, é indisputadamente reconhecida. Aldo Molla, profano que, em Itália, é geralmente reconhecido como o historiador ofical da Maçonaria, manifesta essa certeza. Vários elementos biográficos de Carlo Collodi parecem confirmá-la: a criação em 1848 de um jornal chamado "Il Lampione", que, como ele dizia, devia "iluminar todos aqueles que vagueavam nas trevas"; a participação na Guerra da Independência integrado nos voluntários toscanos, em 1848, e a sua, também voluntária, integração no exército piemontês em 1859; a sua extrema proximidade ao reconhecido maçon Mazzini, de quem se declarava "discípulo apaixonado".

Os princípios caros à Maçonaria expressos na trilogia Liberdade - Igualdade - Fraternidade estão expressos nas "Aventuras de Pinóquio": a Liberdade, porque Pinóquio é um ser livre e que ama a Liberdade; a Igualdade, porque a única aspiração de Pinóquio é ser igual aos outros e porque nenhuma personagem é superior às demais, nem em importância, nem em nível social; a Fraternidade, porque este é o sentimento principal que faz agir as personagens nas diferentes situações.

Os elementos para elaborar este texto foram recolhidos aqui e ali.

Rui Bandeira

16 abril 2007

O maçon Rudyard Kipling

Nasceu em Bombaim, Índia, em 30 de Dezembro de 1865, mas foi educado em Inglaterra. Regressou à Índia, a Lahore, em 1880. Aos 17 anos, era sub-editor do Jornal "The Civil e Military Gazette". Casou com uma americana, Caroline Starr Balestier, em 1892. Foi o primeiro escritor britânico a receber o Prémio Nobel da Literatura, em 1907.

Foi iniciado na Loja Hope and Perseverence (Esperança e Perseverança), n.º 782, em Lahore, em 5 de Abril de 1886, beneficiando de uma dispense especial emitida pelo Grão-Mestre Distrital, por ter apenas 20 anos de idade e não ter, consequentemente, atingido a maioridade legal, então fixada nos 21 anos. Passou a Companheiro a 3 de Maio seguinte e foi elevado a Mestre a 6 de Dezembro, ainda antes de completar os 21 anos de idade.

Foi, por um curto período de tempo, Secretário da Loja. Em 1887, passou a integrar os Altos Graus (Arco Real).

Deixou Lahore e passou a residir em Allahabad em 17 de Abril de 1888, tendo-se, em consequência, transferido para a Loja Independence and Philanthropy (Independência e Filantropia), desta cidade. Demitiu-se da mesma em 1895, residindo já, então, nos Estados Unidos. Porém, já desde 1989 que cessara a sua actividade maçónica.

Apesar de a sua actividade maçónica ter durado menos de quatro anos, os seus escritos comungam abundantemente dos ideais maçónicos. Para além do conhecidíssimo If (cuja adaptação em português o JoséSR publicou no texto anterior), podemos dar conta disso em The Mother Lodge, My new-cut Ashlar, The Palace, A Pilgrim's Way e The Widow at Windsor.

Foi amigo de Baden-Powell, tendo-o influenciado quanto aos princípios que este veio a instituir no Movimento Escotista. Serão também devidas a essa influência as ecvidentes similaridades entre os ideários escotista e maçónico.

Passou ao Oriente Eterno em 18 de Janeiro de 1936.

Elementos para este texto retirados daqui e das ligações nele existentes.

Rui Bandeira

19 março 2007

Harry Houdini

Quando se pensa em ilusionista, o nome que classicamente logo ocorre é o de Houdini, o grande mestre do escapismo, a sua imagem de marca.

Harry Houdini, de seu verdadeiro nome Ehrich Weiss, nasceu em Budapeste em 24/3/1874 e morreu em Detroit em 31/10/1926, com 52 anos, portanto. Ficou famoso pela sua habilidade em se libertar de algemas, mas também de correntes e cadeados, dentro de caixas, dentro de tanques fechados, dentro e fora de água.

O que é menos conhecido é que Houdini foi maçon, iniciado na Loja Santa Cecília, N.º. 568, de New York, em 17 de Julho de 1923, passado a Companheiro em 31 de Julho e elevado a Mestre em 21 de Agosto seguintes.

Em Outubro de 1926, morreu, de forma estúpida. Após apresentar um espectáculo para uma platéia de estudantes em Montreal, no Canadá, enquanto ainda exibia o "super tórax", um dos estudantes, pugilista amador, invadiu os bastidores e, sem dar tempo para que Houdini preparasse os músculos, golpeou-lhe o abdómen com dois socos. Os violentos golpes romperam-lhe o apêndice, e seis dias depois, morreu num hospital de Detroit.

As exéquias maçónicas em honra de Houdini tiveram lugar em 4 de Novembro de 1926, em New York.


Rui Bandeira

08 março 2007

Simón Bolívar, Revolucionário e Maçon

Segundo os historiadores Júlio Mancini e Américo Carnicelli, o Libertador Bolívar foi iniciado na maçonaria em 1803, na Loja "Lautaro", que funcionava em Cádis, Espanha, onde também se iniciaram outros próceres da independência das colónias espanholas da América do Sul. Outro historiador, o Marquês de Villa Urrutia, assinala a mesma data, mas sustenta que a Loja não se chamava "Lautaro", mas sim "Caballeros Racionales". Ambas as Lojas existiam em Cádis em 1803. A confusão virá das visitas que Bolívar costumava fazer à Loja "Caballeros Racionales". A Loja "Lautaro" foi fundada em 1800 por inspiração de Francisco de Miranda, que residia em Londres, fazendo planos para uma expedição libertadora da Venezuela. Dizem que sugeriu esse nome em homenagem ao caudilho araucano, que venceu o conquistador Valdívia em 1554, em Tucapel (Chile). Porém, Miranda nunca esteve na Loja "Lautaro" de Cádis, porque a sua cabeça foi posta a prémio pelos espanhóis. De Londres através de amigos que viajavam para a Península Ibérica, mandava cartas e desse modo mantinha contacto com dito centro maçónico. Mais tarde, José de San Martín, fundou em Buenos Aires, Argentina, outra Loja "Lautaro", em lembrança da Loja de Cádis. Depois fez o mesmo em Santiago de Chile e Lima, onde as Lojas "Lautaro" foram centros de patriotas na luta pela independência.

Em 1801, quando Bolívar tinha 18 anos de idade, contraiu casamento em Madrid, com Maria Teresa del Toro, sobrinha do Marquês del Toro, seu amigo de Caracas. Depois de viajar por França e outros países, regressou à Venezuela com sua esposa para se dedicar à administração das suas ricas propriedades rurais. Mas a felicidade durou-lhe muito pouco. Após dez meses de permanência em solo venezuelano, a febre amarela acabou com a jovem existência de Maria Teresa del Toro, lançando Bolívar na desolação. Órfão e viúvo aos vinte anos, pois tinha perdido seus pai, mãe e esposa, andou vários meses percorrendo vários lugares de Venezuela, em calada tristeza, até que os seus familiares conseguiram convencê-lo a que voltasse para a Europa. Finalmente,em 1803, embarcou num barco que o levou a Cádis, Espanha. Então esse porto andaluz era a principal porta de entrada da Europa, pela sua situação vantajosa na comunicação com a América e com África. Ali residiam muitos estrangeiros e vivia-se um interessante ambiente liberal. Poucos dias depois da sua chegada a Cádis, o jovem Bolívar fez amizade com alguns intelectuais que frequentavam a Loja "Lautaro", com os quais conversava sobre as ideias de liberdade e a necessidade de lutar contra toda forma de opressão. Atraído por esse pensamento revolucionário, decidiu ingressar na Loja "Lautaro", onde conheceu outros latino-americanos, como José de San Martín e Mariano Moreno, que mais tarde também seriam próceres da Independência. Na Loja "Lautaro", discutia-se sobre os princípios de "liberdade, igualdade e fraternidade", sobre a dignidade do homem e a possibilidade de converter em Repúblicas às colónias espanholas de América. A verdade é que a Loja "Lautaro", fez germinar na mente de Bolívar, a ideia de acabar com o domínio espanhol na Venezuela, para semear ali a semente da liberdade para o resto da América do Sul. O mesmo Bolívar diria, anos mais tarde, que, sem a morte de sua esposa, não teria realizado a sua segunda viagem a Europa e ingressado na Loja "Lautaro", onde a maçonaria lhe mostrou novos caminhos. Comentando esse episódio na vida de Bolívar, afirmam alguns historiadores, que sem o temporão desaparecimento de Maria Teresa del Toro, o impetuoso venezuelano não teria podido ter as ideias que o impulsionaram à luta pela Independência, antes viveria placidamente em Caracas ou San Mateo. A sua entrada na maçonaria e as suas viagens fizeram-lhe ver as coisas de um modo diferente. A morte de sua esposa pô-lo muito cedo no caminho da política, fazendo-lhe seguir depois a carroça de Marte em lugar de seguir o arado de Ceres. Já iniciado na maçonaria, Bolívar viajou para Madrid, de onde saiu rumo a França em Maio de 1804, acompanhado de seu amigo Fernando Toro, também venezuelano e primo de sua defunta esposa. Jovem e rico, frequenta os salões mais elegantes e trava amizade com o sábio alemão Alexander Humboldt, outro maçon, recém chegado de uma viagem científica por terras da América do Sul. Em Paris, alternava as suas visitas aos círculos literários, mundanos e políticos, com a sua assistência às sessões de lojas maçónicas e principalmente da Loja "Mãe Escocesa de Santo Alexandre da Escócia", onde se encontrou com o seu velho mestre e amigo Simón Rodríguez, que era maçon e inimigo da monarquia espanhola. Simón Rodríguez saiu da Venezuela em 1797, por ter participado no movimento revolucionário de José Maria Espanha e Manuel Gual. Então Simón Bolívar tinha só onze anos, mas mantinha intacta a lembrança do seu professor humanista e rebelde. O vínculo maçónico e a admiração que Bolívar sempre teve pelas ideias revolucionárias de Simón Rodríguez, selou a amizade de mestre e aluno, com um cálido abraço de fraternidade. Desde então até ao regresso de Bolívar à Venezuela, passando pelos Estados Unidos, em 1806, sempre estiveram juntos, falando de política, participando em fóruns, visitando povos e sobretudo aperfeiçoando a ideia de libertar a Venezuela.

Bolívar recebeu o grau de Companheiro, o segundo na maçonaria simbólica, numa Loja francesa em 11 de Novembro de 1805. Sobre essa cerimónia existe um documento, guardado no arquivo do Supremo Conselho do Grau 33.° para a República de Venezuela. Desde que chegou a Paris, Bolívar frequentava a Loja "Mãe Escocesa de Santo Alexandre da Escócia", onde assistiu ao número regulamentar de sessões para se fazer credor da respectiva ascensão. Na maçonaria simbólica ninguém sobe de grau sem ter preenchido satisfatoriamente o requisito da assiduidade e o progresso nos conhecimentos próprios da Ordem. O documento da ascensão de Bolívar ao grau de Companheiro foi adquirido em Paris pelo escritor venezuelano Ramón Díaz Sánchez, que, antes de o doar ao Supremo Conselho do Grau 33.°, em Caracas, o fez examinar por peritos em paleografia e por historiadores bem informados sobre a actividade maçónica de Bolívar. O dito documento, escrito em francês, traduzido diz textualmente o seguinte: "À Glória do Grande Arquitecto do Universo, etc., Ao 11.º dia do 11.° mês do Ano da Grande Luz de 5805, os trabalhos de Companheiro foram abertos no Oriente pelo R:. I:. de la Tour d' Auvergne. O Oeste e o Sul iluminados pelos RR:. II:. Thory e Potu. A leitura da última prancha traçada foi feita e sancionada. O Venerável propôs elevar ao Grau de Companheiro o R:. I :. Bolívar, recentemente iniciado, por causa de uma viagem que está em vésperas de empreender. O parecer dos II:. foi unânime para sua admissão e a votação favorável; o R:. I:. Bolívar foi introduzido no Templo e após as formalidades requeridas prestou ao pé do Trono o juramento de uso; colocado entre os dois Vigilantes, foi proclamado Companheiro Maçon da Resp:. Mãe Loj:. Escocesa de Santo Alexandre da Escócia. O trabalho foi coroado por uma tríplice bateria e o I:., tendo-a agradecido, tomou lugar à cabeça da Coluna do Sul. Os trabalhos foram fechados da maneira costumada. (Ass.) J. A Tour D'Auvergne, Venerável Mestre; (Ass.) Thory, Primeiro Vigilante; (Ass.) Potu, Segundo Vigilante; (Ass.) Jura De; (Ass.) P. Vidal, G:. de J:. do 33°; (Ass.) D'Auduar, 33°; (Ass.) Simón Bolívar; (Ass.) C. Abraham; (Ass.) Jeanne de la Salle". Dias depois, com seu flamejante Grau de Companheiro, Bolívar, acompanhado do seu amigo e mestre Simón Rodríguez, empreendeu uma viagem de observação e estudo por Itália e Suiça. Em Roma, fez o seu famoso juramento do Monte Sagrado, porque tinha fixado em sua mente a ideia de lutar pela independência de Venezuela.

Em Maio de 1806, quando Bolívar já preparava sua viagem de regresso a Venezuela, foi elevado ao Grau de Mestre, na mesma Loja "Mãe Escocesa Santo Alexandre da Escócia", juntamente com os Companheiros Manuel Campos, Antonio Bianchi, Crussaire e o conde Jean Sérurier, segundo se depreende de documentos impressos conservados na Biblioteca Nacional de Paris. Esse facto foi corroborado pelos historiadores Julio Mancini e Marquês de Villa Urrutia. Desde o seu regresso à Venezuela em fins de 1806, após visitar os Estados Unidos, Bolívar, até Agosto de 1810, não teve actividade maçónica, salvo uma visita que fez a uma Loja de Filadélfia e os contactos esporádicos que tinha com alguns membros das Sociedades Patrióticas, que, sem serem lojas maçónicas propriamente ditas, agrupavam pessoas com instrução maçónica, como Juan Germán Roscio, Vicente Saías e Juan José de Landaeta. Quando chegou a Londres, em companhia de Luis López Méndez e de Andrés Belo, teve em Francisco de Miranda um fraternal irmão maçon e cordial amigo. Em fins de Agosto, Bolívar, que visitava em seus momentos livres a loja maçónica "A Grande Reunião Americana", fundada e dirigida por Miranda, foi confirmado no sublime Grau de Mestre, numa cerimónia especial que saía um pouco dos ritos maçónicos. No momento de sua confirmação, Miranda, como costumava fazer com todos os que recebiam essa honra, tomou a Bolívar o juramento seguinte: "Eu não reconhecerei por governantes legítimos de minha Pátria senão aos eleitos pela livre e espontânea vontade do povo; e sendo o sistema republicano o mais aceitável à Governação das Américas, empregarei todos os meios que estejam ao meu alcance para o fazer admitir a seus habitantes". Este juramento que fez Bolívar no momento de receber sua confirmação de Mestre, é o quinto voto que exigia Miranda aos maçons que chegavam a essa cimeira do simbolismo. Esta versão, publicada pelo historiador Américo Carnicelli, foi confirmada pelo maçon e prestigiado historiador argentino Bartolomé Mitre, no seu livro sobre a organização dos 'Caballeros Racionales". Bolívar, permaneceu em Londres até 25 de Setembro de 1810, data em que empreendeu o regresso à Venezuela na corveta "Saphire". Miranda fá-lo-ia depois, a 10 de Outubro, no navio "Avon".

Nos últimos anos, apareceram provas da alta hierarquia maçónica do Libertador Bolívar, o qual não se limitou ao Grau de Mestre, antes chegou ao cume do escocismo, que é o Grau 33.°. O Libertador Bolívar, em 1923, tinha conseguido indiscutível prestígio continental. O seu nome ocupava com frequência a primeira página dos diários mais credenciados dos Estados Unidos, Inglaterra e França. No Museu Maçónico de New York, em conjunto com muitas relíquias maçónicas dos heróis da Independência das Américas, exibem-se o avental e o colar do Libertador Bolívar, com os ornamentos próprios do Grau 32.°. Mas o historiador maçónico venezuelano Celestino B. Romero chegou mais longe. Após uma exaustiva investigação, conseguiu reunir suficientes provas para informar num livro que ao Libertador Bolívar foi outorgado o Grau 33.° e último do Rito Escocês Antigo e Aceite. Celestino B. Romero foi Grão Mestre da Grande Loja da República de Venezuela e Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho do Grau 33° para a República de Venezuela. Estudioso e dedicado à investigação da história maçónica, tinha acesso aos arquivos da Ordem onde se guardam velhos e desconhecidos papéis, alguns com antiguidade de mais de 170 anos. Numa de suas visitas ao vetusto arquivo, fez um sensacional achado. Encontrou um amarelecido documento, que revela que no ano 1823, chegou a Caracas o R:. I:. José Cerneau, alto dignatário do Supremo Conselho dos Estados Unidos, com a missão expressa de conferir as máximas honras aos maçons que se distinguiram na luta pela liberdade da Grande Colômbia. O R:. I:. José Cerneau, investido de amplos poderes, em nome do Soberano Grande Consistório de Chefes da Alta Maçonaria dos Estados Unidos, segundo consta no Boletim do Arquivo Nacional, em seu número 2, no mês de Abril de 1824, elevou ao Grau 33.° Diego Bautista Urbaneja, Carlos Soublette, Andrés Narvarte, Lino de Clemente, Manuel M. Quintero, José de Espanha, Vicente do Castelo, J. Porfirio Iribarren, José Marra Pelgrón, José Manuel Landa, Francisco Vicente Parejo, José Gabriel Lugo, José Manuel Morais, Santiago Mariño, Tomás José Sanabria, Marcelino da Praça, Felipe Estévez, José Remigio Martín, Ramón Landa, José Marra Lovera, Gerónimo Pompa, José Manuel Rivero, Manuel Cala, Juan José Cande, Francisco Carabaño, Judas Tadeo Piñango, Juan Bautista Monserrate, José Marra Ponce, Joaquín Tellechea, Manuel Vicente Huizi, Juan Maimó, José Santiago Rodríguez, Simón Bolívar, Rafael Lugo, Francisco Conde, José Manuel Olivares, José Cordeiro, Carlos Cornejo, José Marra de Vermelhas, Antonio Febres Cordeiro, José Marra do Castelo, Andrés Caballero, Juan M. Barry, George Woudwery, Leonardo Jiménez, José Tadeo Monagas, Diego Vallenilla, Manuel Maneiro, José Francisco Bermúdez, José Antonio Páez, Juan Bautista Arismendi, Manuel López de Umérez, Francisco Aranda, José Áustria, Leonardo de Lorenzy, Matras Padrón, Rafael Guevara, Manuel Echeandía, Juan Escalona, Valentín Osío, José Manuel Gonell, Santos Michelena, José de Lima, Pedro Gual, Carlos Padrón, José Grau, Miguel Vargas, Esteban Escobar, Manuel Muñoz, Rafael Urdaneta, Ramón Machado, Agustín Armario, Tomás Yánez, Andrés Torrellas, Pablo de Michelli, Fernando Peñalver, Pedro Briceño Méndez, Rafael Formoso, Juan Bautista Dalla Costa, José Freyres e José Blanco (Presbítero). De acordo com esta lista, publicada em Abril de 1824 no Boletim do Arquivo Nacional e corroborada pelas investigações que levou a cabo o R:. I:. Celestino B. Romero, é indubitável que o Libertador Bolívar obteve o Grau 33.°.

Simón Bolívar, Libertador da América do Sul, Revolucionário e Maçon passou ao Oriente Eterno em 17 de Dezembro de 1830, na Quinta San Pedro Alejandrino, em Santa Marta, Colômbia, onde era assistido pelo médico francês Prosper Reverend. Por uma ironia do destino, a casa onde faleceu o Libertador era do espanhol Joaquín de Mier. Os restos mortais do Libertador Simón Bolívar, foram repatriados em 1842, e trasladados para o Panteão Nacional da Venezuela em 28 de Outubro de 1877, durante a governação do maçon Antonio Guzmán Blanco.

Este texto foi adaptado e traduzido daqui.

Rui Bandeira

23 fevereiro 2007

O maçon Mozart

Wolfgang Amadeus Mozart é talvez o maçon mais famoso. Para se ter uma ideia, se se fizer uma busca no Google utilizando a palavra chave Mozart, encontra-se nada mais nada menos do que 42 milhões de páginas referenciadas; pesquisando nestes resultados com a palavra chave maçon, obtém-se, para o conjunto Mozart maçon o número de 213.000 páginas referenciadas; se, em vez de maçon, efectuarmos, nos resultados obtidos com a pesquisa Mozart, outra pesquisa, agora com a palavra chave mason, em inglês, para este conjunto Mozart mason o número de páginas referenciadas sobe para 1.030.000!

Em resumo, não é segredo para ninguém que Mozart foi maçon e mesmo os mais distraídos podem facilmente tropeçar com essa informação na Rede. É assim evidente que uma galeria de Maçons célebres não pode deixar de conter um texto sobre o mais célebre dos célebres maçons! Eis então um breve retrato do maçon W. A. Mozart.

Mozart tinha onze anos quando, atingido pela varíola, foi tratado por um médico vienense de apelido Wolff, que era um conhecido maçon. Em agradecimento pela sua cura, Mozart compôs uma melodia que ofereceu ao Dr. Wolff, que intitulou An die Freude (À alegria). O texto musicado era claramente de inspiração maçónica e o jovem Mozart não poderia ter composto a melodia sem conhecer o seu sentido.

Um ano mais tarde, Mozart travou conhecimento com o célebre Dr. Messmer, também maçon.

Aos dezasseis anos de idade, Mozart compôs O heiliges Band (Ó Sagrada Escritura), sobre um texto de Lens existente num conjunto de textos maçónicos, reservado apenas aos maçons e a que, naturalmente, era suposto nenhum profano ter acesso...

Um ano mais tarde, um maçon importante, von Gebler, encomendou a Mozart dois coros e cinco entreactos para acompanhar um drama heróico, Thamos, rei do Egipto (prefigurando o que mais tarde virá a ser uma ópera intitulada A Flauta Mágica).

Ou seja, entre os 11 e os 17 anos o contacto de Mozart com maçons e a sua forma de pensar e ver o Mundo foi frequente.

Em 1783, tinha então Mozart 27 anos de idade, o famoso Gemmingen, que conhecia o compositor, instala a sua própria Loja Maçónica em Viena e convida Mozart para se juntar a ela e aí exercer o ofício de Mestre da Harmonia. Mozart reflecte. Em Novembro do ano seguinte, apresenta a sua candidatura à Loja Zur Wohlthätigkeit (Beneficência). Foi aí iniciado em 14 de Dezembro de 1784.

A 7 de Janeiro de 1785 (apenas 24 dias depois da sua iniciação!), Mozart é, na Loja Zur wahren Eintracht (Verdadeira Concórdia), passado ao grau de Companheiro. A 10 de Janeiro, termina o Quarteto de Cordas em Lá Maior (K 464), no qual o movimento Andante se refere ao ritual de Iniciação Maçónica. A 13 de Janeiro (6 dias depois da passagem a Companheiro, 30 dias depois da sua Iniciação!), Mozart é elevado ao grau de Mestre. Quatro dias mais tarde, compõe um Quarteto de cordas em Dó Maior (K 465), que se refere ao grau de Companheiro. Em Março de 1785, termina o Concerto em Dó Maior (K 467), cujo Andante faz claramente alusão ao terceiro grau, o de Mestre.

A 6 de Abril de 1785, participa na cerimónia de Iniciação do seu próprio pai, Leopold Mozart.

Mozart participa em inúmeras reuniões de Loja e compõe numerosas obras destinadas a serem tocadas em sessão. Visita as Lojas Zu den drei Adlern (Três Águias) e Zur gekrönten Hoffnung (Esperança Coroada).

Entretanto, a doença que lhe virá a ser fatal (o síndroma de Schönlein-Henoch) progride. Mozart compõe as suas três grandes obras com simbologia maçónica: A Clemência de Tito, a Flauta Mágica e o Requiem.

A morte de Mozart origina uma reunião de exéquias fúnebres de seus Irmãos. Uma oração fúnebre proferida na ocasião foi impressa. Hoje, dela resta apenas um exemplar. Eis a sua tradução:

O Grande Arquitecto do Universo acaba de retirar à nossa Cadeia Fraternal um dos elos que nos era mais caro e mais valioso. Quem não o conhecia? Quem não amou o nosso tão notável Irmão Mozart? Há poucas semanas ainda, ele encontrava-se entre nós, glorificando com a sua encantadora música a inauguração deste Templo. Quem de nós imaginaria que seria tão rapidamente arrancado do nosso seio? Quem poderia saber que três semanas depois choraríamos a sua morte? É o triste destino imposto ao homem, de deixar a vida deixando a sua obra inacabada, e tão excelente ela é. Mesmo os réis morrem deixando à posteridade as suas intenções inacabadas. Os artistas morrem depois de terem devotado as suas vidas a melhorar a sua arte para atingirem a perfeição. A admiração de todos acompanha-os ao túmulo.No entanto, se os povos choram, os seus admiradores não tardam, muito frequentemente, a esquecer-se deles. Os seus admiradores talvez, mas não nós, seus Irmãos! A morte de Mozart é para a arte uma perda irreparável. Os seus dons, reconhecidos desde a infância, tinham feito dele uma das maravilhas deste tempo. A Europa soube-o e admirou-o. Os príncipes gostaram dele e nós, nós poderíamos chamá-lo: “meu irmão”. Mas se é óbvio honrar o seu génio, não nos devemos esquecer de comemorar a nobreza do seu coração. Foi um membro assíduo da nossa Ordem. O seu amor fraternal, a sua natureza inteira e devotada, a sua caridade, a alegria que mostrava quando beneficiava um de seus irmãos com a sua bondade e o seu talento, tais eram as suas imensas qualidades, que nós louvamos neste dia de luto. Era simultaneamente um marido, um pai, o amigo de seus amigos e o irmão de seus irmãos. Se tivesse tido fortuna, faria todos tão felizes como ele desejaria.

As informações para elaborar este texto foram recolhidas aqui.

Rui Bandeira

09 fevereiro 2007

Thayendanegea o Chefe Maçon




O Indio (Americano Nativo - no dizer politicamente correcto) Thayendanegea da tribo Mohwak, tambem conhecido por Joseph Brant, e que foi lider das Seis Naçoes Indias para além de missionario anglicano, era também Maçon.


Nasceu em 1742 no Ohio e o significado do seu nome mohwak é " o que coloca duas apostas ", tendo herdado a chefia da tribo de seu pai. Estudou latim e grego, tendo traduzido para Mohawk literatura religiosa.

Ajudou o exercito Ingles a combater os "Americanos" na guerra de independencia.

Foi iniciado em 1776 na Hiram’s Cliftonian Lodge No. 47

Elevado April 26, 1776 Lodge No 417 at the Falcons, Leicester Fields, London

Mestre Fundador em 1798 da Brantford Lodge No. 31 - Affiliated: Barton Lodge, now No. 6, Hamilton, Ontario.

O texto original poderá ser lido em ingles aqui

Como se pode ver o Universalismo da Maçonaria já vem de há muito tempo.

JoseSR

O maçon Kit Carson

Quando eu era miúdo, a banda desenhada chamava-se "histórias aos quadradinhos". Na época, as publicações eram a preto e branco e grande parte delas era dedicada às "cobóiadas". Desse tempo, recordo que um dos meus personagens preferidos era o Kit Carson. Mas Kit Carson não é apenas um personagem de banda desenhada. Kit Carson existiu mesmo. Nasceu no Kentucky, no condado de Madison County (não confundir com o local a que se refere o filme realizado e protagonizado por Clint Eastwood, As Pontes de Madison County, que se situava no Iowa) e... foi maçon!

Christopher (Kit) Carson nasceu em 24 de Dezembro de 1809. Quando tinha aproximadamente 1 ano, a família mudou-se para o condado de Howard, no
Missouri, onde cresceu, frequentando a escola somente até à terceira classe.

Aos 17 anos, fugiu de casa e juntou-se a uma caravana que se dirigia para o Novo México, onde a sua história maçónica começou, tinha ele 44 anos de idade.


Foi iniciado a 22 de
Abril de 1854, passado ao grau de Companheiro em 17 de Junho de 1854 e elevado ao grau de Mestre Maçon em 26 de Dezembro de 1854, na Loja Montezuma, em Santa Fé, Novo México. Na década de 50 do século XIX, havia pelo menos 10 Maçons que viviam na vizinhança de Taos. Em 16 de Novembro de 1859, pediram e obtiveram autorização da Grande Loja do Missouri para o levantamento de colunas da Loja Bent, em Taos. Kit Carson foi o primeiro 2.º Vigilante e, no ano seguinte, exerceu o ofício de 1.º Vigilante. Com o abatimento de colunas da Loja Bent, em 1865, Kit Carson regressou à Loja Montezuma, de Santa Fé, Novo México.

Kit Carson foi proclamado herói nacional dos Estados Unidos em 1854. Passou ao Oriente Eterno em 23 de Maio de 1868, em Fort Lyon, Colorado. Os seus restos mortais repousam, juntamente com os de sua mulher, no cemitério de Taos.

Como é que sei isto tudo? Porque o li no sítio da Grande Loja do Novo México, mais precisamente aqui!

Rui Bandeira