02 setembro 2009

A Lenda do Ofício - análise crítica: Hermes


Prosseguindo a análise crítica da Lenda do Ofício e da sua compatibilidade com a História, deparamos, após a referência aos filhos de Lamech e aos pilares por eles construídos, com a seguinte passagem.

O nosso propósito é contar-vos com verdade como e de que maneira foram encontradas as pedras em que estas ciências estavam escritas. O grande Hermarynes, que foi filho de Cuby, o qual foi filho de Sem, que foi filho de Noé, mais tarde chamado de Hermes, o patrono dos homens sábios, encontrou um dos dois pilares de pedra e encontrou a ciência nele escrita e ensinou-a a outros homens.

O Hermes aqui referido não é o deus da mitologia grega com o mesmo nome, correspondente ao Mercúrio da mitologia romana. Trata-se aqui de uma divindade de segunda ordem egípcia, também referido por Hermes Trimegisto, o nome dado pelos neoplatónicos, místicos e alquimistas ao deus Thot que, tal como o Hermes grego, era o deus da escrita e da magia. Thot simbolizava a lógica do universo, era o deus da palavra e da sabedoria. Os egípcios atribuíam-lhe a autoria de um conjunto de livros sagrados (provavelmente na realidade escritos por diversos autores, ao longo de muitas gerações...), contendo ensinamentos sobre artes, ciências, religião e filosofia. Era, na cultura egípcia da antiguidade, considerado o depositário do Conhecimento.

Albert Mackey refere que, nos tempos medievais, Hermes Trimegisto era considerado generalizadamente o inventor de todas as ciências e, de entre elas, evidentemente, a Geometria e a sua aplicação prática na construção, a Arquitetura.

Mais uma vez, a corporação de construtores em pedra constroi a Lenda do seu ofício com base num mito, mas um mito histórico, isto é, aquilo que era, na época, considerado verdade histórica.

Nesta passagem da Lenda do Ofício perpassa também o que são algumas das suas características mais evidentes, o anacronismo e o sincretismo. É assim que Hermes é dado como bisneto de Noé e enxerta-se no mito do Dilúvio um personagem advindo da cultura egípcia, obviamente diversa e muito posterior.

Na Lenda, o papel atribuído a Hermes é apenas o de transmissor. Encontrou um dos pilares - não refere a Lenda qual - e os ensinamentos nele gravados e transmitiu-os a outros homens.

Obviamente que o que transmitiu foi a Geometria, conjuntamente com as outras ciências.

Não deixa de ser de alguma forma irónico que esta medieval apropriação de um re-humanizado deus de segunda ordem egípcio por parte dos maçons operativos venha, muito mais tarde, nos séculos XVIII e XIX a ter uma nova versão nos delírios dos ocultistas, neo-alquimistas e demais esotérico-birutas que pululavam por essa época.

A variante da ligação da Maçonaria ao Ocultismo, Hermetismo, Alquimia e quejandas correntes foi uma moda com alguma expressão no século XIX, que deixou alguns resquícios, aqui e ali, em segmentos rituais de alguns dos Altos Graus, mas que sobretudo deixou uma nefasta herança de um não negligenciável conjunto de escritos do Mago disto e do Cavaleiro daquilo, espuriamente ligados a uma determinada conceção, que então floresceu, da Maçonaria como integrante do Conhecimento dito Hermético e Oculto. Herança nefasta, na medida em que, quer o profano, quer mesmo aquele que ainda pouco progrediu no seu trabalho de aperfeiçoamento pessoal pelo método maçónico, têm os seus esforços de obtenção de material publicado de consulta e estudo sobre Maçonaria dificultados por um poluidor acervo de escritos e publicações esotérico-birutas, que só complicam a vida de quem busca conhecer e entender o que é a Maçonaria e o seu método de aprendizagem e evolução.

Os maçons operativos medievais "desgraduaram" um deus menor egípcio em homem. Os intelectuais românticos, embalados nas suas ilusões e crendices, "elevaram" homens a "magos"... Ironias da vida...

Por mim, confesso que, entre uns e outros, prefiro os simples construtores medievais. Ao menos esses construíram a sua Lenda do Ofício com base no que na época se pensava ser verdade histórica, enquanto que os "magos", ocultistas e outros cultores de esotérico-birutices pretenderam elevar os meros produtos da sua imaginação à categoria de verdade...

Fontes:

Wikipedia: Hermes ( http://pt.wikipedia.org/wiki/Hermes )
Wikipedia: Hermes Trimegisto ( http://pt.wikipedia.org/wiki/Hermes_Trismegisto )
The History of Freemasonry, Albert G. Mackey, Gramercy Books, New York

Rui Bandeira

29 agosto 2009

Animação para fim de férias

Vamos lá ver...
Esta 6ªfeira, que por acaso esta semana até calhou ao Sábado, em fase final de férias (!) e na fase final da "crise" (?) resolvi dar uma ajudinha à banca, esses nossos amigões com quem podemos contar sempre que tivermos dinheiro disponível.
O vídeo que Vos deixo hoje pertence a uma campanha de marketing de um banco, só que não é um anúncio qualquer.
Primeiro por estar bem feito, depois por estar completamente construido sobre o movimento de corpos humanos.
São pessoas que constroem as imagens, dando corpo à mensagem que se pretende fazer passar.
É um videozinho de fim de férias.
Fica só como curiosidade.

JPSetúbal

26 agosto 2009

A Lenda do Ofício - análise crítica: antes do Dilúvio

Lamech, as suas duas mulheres e Tubalcain, trabalhando metal

Tendo presente os limites e condicionalismos que apontei no texto anterior, vamos então tentar proceder a uma análise crítica do início da Lenda do Ofício.

Para que estejamos identificados, recordemos, então, o que nessa Lenda reza quanto aos tempos antediluvianos:

Vou contar-vos como estas valiosas ciências apareceram. Antes do Dilúvio de Noé, havia um homem, chamado Lamech, tal como está escrito na Bíblia, no quarto capítulo do Génesis; e este Lamech tinha duas mulheres, uma chamada Ada e outra chamada Sella; da sua primeira mulher, Ada, teve dois filhos, Jabell e Tuball e da sua outra mulher, Sella, teve um filho e uma filha. E estes seus quatro filhos criaram o princípio de todas as ciências no mundo. O seu filho mais velho, Jabell, fundou a ciência da Geometria. (...) E o seu irmão Tuball fundou a ciência da música (...). E o terceiro irmão, Tuball Cain, fundou a ciência de trabalhar ouro, prata, cobre, ferro e aço (...). Esses filhos sabiam bem que Deus iria tirar vingança dos pecados, ou pelo fogo, ou pela água; portanto, escreveram as suas ciências em dois pilares de pedra, que pudessem ser encontrados após o Dilúvio de Noé. E uma das pedras era mármore, pois essa não arderia com o fogo; e a outra pedra era argila cozida em tijolos e não afundaria na água de Noé.

Obviamente que nenhum documento histórico suporta esta parte da Lenda. O único elemento em que se baseia é a Bíblia, no Livro do Génesis.

No Génesis, existe a referência a dois personagens com o nome de Lamech. Um era descendente em sexta geração de Caim, filho de Methusael e a primeira referência a um polígamo na Bíblia, com duas mulheres, Ada e Tselah (na Lenda, Sella). O outro era descendente de oitava geração de Seth (Abel), filho de Methuselah, e foi o pai de Noé.

Alguns estudiosos consideram que estes dois personagens corresponderão a um único ser, apontando a semelhança dos nomes dos respetivos progenitores e, sobretudo notando que, na coletânea rabínica Genesis Rabba, refere-se que Na'amah, a filha de Tselah e Lamech, filho de Methushael (Methusael), foi a mulher de Noé, alegadamente o filho do outro Lamech, filho de Methuselah.

Seja como seja, a Lenda do Ofício não se perde em rabínicas subtilezas e toma como personagem Lamech, o primeiro polígamo referenciado na Bíblia, descendente em sexta geração de Caim.

A Lenda do Ofício parte, portanto, do mito bíblico, acrescentando-lhe os elementos da fundação das ciências pelos filhos de Lamech e a premonição de que o castigador e vingativo Jehovah do Antigo Testamento iria punir duramente os pecados humanos, fosse pela água, fosse pelo fogo - os dois grandes elementos com capacidade destruidora da Antiguidade Primitiva. E, anacronicamente - pois a escrita ainda não tinha sido inventada - relata a escrita do registo de todas as ciências em dois pilares, concebidos para resistir à água, um, e ao fogo, o outro.

Mito, evidentemente! Lenda, obviamente! No entanto, que deduções ou ilações de natureza histórica (melhor dito: proto-histórica) podemos tirar desta parte da Lenda?

Albert Mackey, na sua História da Maçonaria, informa-nos que esta história, na parte não bíblica, deriva de um registo de Josephus (historiador romano do Povo Judeu da Antiguidade, autor das Antiguidades dos Judeus), que conta a história do fabrico dos dois pilares como tendo ocorrido com descendentes de Seth (Abel).

Não sendo de presumir que os autores medievais da Lenda estivessem familiarizados com os textos rabínicos e fossem dados às subtilezas dos estudiosos que defendem serem os "dois" Lamech um único personagem, verifica-se que a Lenda parte da história relatada por Josephus, mas alterando os personagens.

Segundo Mackey, tal ter-se-á devido a uma adulteração do texto de Josephus ocorrida numa obra intitulada Polychronicon, da autoria de um monge beneditino, Ranulph Higden, que viveu no século XIV.

Portanto - e não esqueçamos que a Lenda do Ofício se estruturou na época medieval - esta parte da Lenda do Ofício radica num relato de um historiador, adulterado por outro. Mas resulta do que, na época da sua construção, era tido como um facto histórico. Esta parte da Lenda do Ofício terá, assim, sido incluída na mesma não antes do século XIV - altura da adulteração, no Polychronicon, do que Josephus escrevera. E corresponde ao que, na época, era tido como um facto histórico.

Fontes:

Wikipedia - Lamech
Wikipedia - Josephus
The History of Freemasonry, Albert G. Mackey, Gramercy Books, New York

Rui Bandeira

25 agosto 2009

O Acordo Ortográfico segundo Millôr Fernandes


Já anteriormente dei conta do meu apreço especial por Millôr Fernandes.

Não vale a pena fazer qualquer apresentação de quem é, desde há 70 anos (nasceu em 1923) um símbolo da irreverência e um pregador da liberdade.

Sou admirador do Millôr e é sempre um gozo a leitura dos seus textos aos quais nem a provecta idade do autor tira veneno crítico, concorde-se ou não com ele.

E não pede licença a ninguém para utilizar o "vernáculo" mais puro.

Dei com uma entrevista no "DN Artes" (http://dn.sapo.pt/inicio/artes/interior.aspx?content_id=1342820) na qual Millôr Fernandes define à sua maneira o acordo ortográfico luso-brasileiro.

O Rui na sua santa paciência estudou e aprofundou o texto do acordo e trouxe-nos para aqui uma série de lições inestimáveis, dando de imediato o exemplo com a utilização corrente dos termos desse "novo" entendimento.

Sendo o Rui também um confessado admirador de Millôr Fernandes quis trazer para o blog esta pérola sob a forma de entrevista, como contraponto ou complemento do trabalho do Rui.

Aqui fica para apreciação dos "A-Partir-Pedrenses"...


"O acordo ortográfico é uma merda"
por S.B.M.Hoje

Homenageou Raul Solnado na Veja com um texto de 1984. Agora, o que diria sobre ele?
Minha opinião é a de antes, e agora será de sempre. Grande amigo, grande profissional, uma estima envolvida no meu carinho por Portugal.
É mais fácil ou mais difícil fazer humor actualmente? Por um lado, o Brasil apresenta muita matéria-prima, mas, por outro, há o politicamente correcto e ainda a constante ameaça da indemnização por dano moral...
O humorismo, o meu, pelo menos, nasce do indivíduo mais as circunstâncias. Não é fácil em mim, como não seria no Solnado. É inevitável.

Tem algum plano em relação a Portugal: visita, peça para mostrar, comentário ou algo assim?
Não tenho planos de vida. Vivo. Portugal, porém, está sempre em mim.
Considero Lisboa a cidade mais amável do mundo.

Acha que o acordo ortográfico vai colar ou não? Foi justo ou uma imposição das Academias de Letras?
O acordo ortográfico é uma merda. A Academia é uma excrescência de velhos tempos.

Por falar em Academia, você costumava dizer que poderia entrar para a Academia Brasileira de Letras na cadeira de José Sarney. Mantém a ideia?
É a cadeira de número 38. Torço pra que ele dure muito. Pois se morre, serei um mentiroso nacional. Como ele, alías.

Como vê o Brasil de hoje?
Extraordinário. Não me pergunte em que sentido.

Como vê a área de comunicação, com twitter, internet, mensagem por telemóvel etc?
Quanto mais meios de comunicação se criam, mais longe fica a comunicação. No twitter ainda não entrei, mas alguém pôs um twitter com meu nome e neste momento, olho, já tem 49.780 entradas. Cada vez mais me levam a essa suprema vulgaridade: ser popular.

A propósito de acordo ortográfico...
"e prontes, cá fica uma intervenção bué da gira do cota !"

JPSetúbal

22 agosto 2009

Hoje é dia do Maçom (referência a dia 20 de Agosto)

Midia News é um sítio noticiosos em publicação desde há 10 anos no estado do Mato Grosso (Brasil), http://www.midianews.com.br

De lá retiramos este texto assinado por OTACÍLIO PERON, advogado da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) de Cuiabá e da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas de Mato Grosso (FCDL/MT).

Só hoje o trazemos ao Blog porque o aniversário do Rui é "sagrado" e merece obviamente ser referido sem qualquer concorrência aniversariante, ainda que não coincidente na data.

Hoje é dia do Maçom

Hoje, dia 20 de Agosto, comemora-se o Dia do Maçom. Várias homenagens estarão sendo prestadas neste dia, inclusive o Senado Federal, que estará realizando uma Sessão Especial para reverenciar a Maçonaria Brasileira. A meu sentir, uma justa homenagem, pois, não existe história do Brasil sem a história da Ordem Maçônica neste pais. Muitos desconhecem, mas a maçonaria teve participação intensa nos principais acontecimentos políticos e sociais do Brasil.
A independência do nosso país teve a participação efetiva da maçonaria capitaniada por Dom Pedro I, então Grão - Mestre do GOB. Dois outros fatos históricos relevantes merecem destaques os quais tiveram a participação marcante da ordem maçônica, a Abolição da Escravatura e a Proclamação da República.
A história brasileira nos deixou não só um legado de fatos, mas de grandes homens como José Bonifácio de Andrade e Silva, Gonçalves Ledo, Dom Pedro I, Deodoro da Fonseca, Beijamin Constant, Castro Alves, Rui Barbosa e Quintino Bocaiúva.
É notório o crescimento da maçonaria brasileira, e atualmente o GOB é uma das maiores potencias da América Latina, tendo como lema Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
Hoje, tantos outros maçons ilustres, contribuem para o engrandecimento do Brasil, quase sempre no anonimato, como a Ação Paramaçonica Juvenil, Maçonaria Contra as Drogas, e mais recentemente a defesa da Amazônia, contando sempre com a Fraternidade Feminina Cruzeiro do Sul.
Não podemos deixar de lembrar as ações de combate à miséria, a luta contra a degeneração de caráter e a corrupção de valores, enaltecendo sempre a probidade e o amor à Pátria.
Mato Grosso faz parte integrante da história maçônica brasileira, e os feitos dos maçons de hoje farão parte das páginas da história futura.
Por isso, nossas homenagens a todos os Obreiros da Arte Real no Dia do Maçom.


São alguns dados históricos importantes e vê-se o orgulho que é ser Maçon no Brasil.
Daqui vai um Abraço Fraterno e festivo a todos os nossos Irmãos.

JPSetúbal

21 agosto 2009

E Como acontece a cada

dia 21 de Agosto






PARABÉNS RUI
São os votos cá da malta que te estima e te quer bem.
Cumpras muitos com a felicidade da tua familia por perto, e já agora que nós vejamos.
Um grande abraço
A.Jorge, JPSetubal, Jose Ruah

19 agosto 2009

A Lenda do Ofício - análise crítica: Introdução

Uma análise do ponto de vista histórico da Lenda do Ofício deve ser feita segundo as regras da Ciência da História. E regra básica desta ciência é que a História é constituída por FACTOS - não lendas, nem mitos, nem hipóteses, nem probabilidades. Factos! Este o alimento da História e os factos são estabelecidos por DOCUMENTOS. Traços ou registos inequívocos de que algo sucedeu mesmo. O documento pode ser um registo de um facto ou um relato sério e credível. Tanto mais sério quanto maior crédito merecer o seu autor. Tanto mais credível quanto mais contemporâneo for o seu narrador.

Este princípio ou regra da Ciência Histórica coloca um problema sério, quiçá insolúvel, quanto a um grande período de sucessos da Humanidade Primitiva. Tudo o que sucedeu antes de haver escrita não está registado. Daí que se chame ao (imenso) período anterior à invenção da escrita Pré-História.

Em relação à Pré-História, por força da natureza das coisas, a fixação de factos não se faz mediante a sua comprovação documental, mas em face de indícios credíveis. Daí que sejam importantes todas as descobertas arqueológicas, que permitem analisar "livros não escritos" que indiciam como era a vida dos nossos longínquos antepassados dessas primitivas eras.

Mas se os indícios arqueológicos nos permitem deduzir as condições de vida genéricas de um determinado período, não nos possibilitam estabelecer um dado facto concreto - à míngua de registo contemporâneo, ou próximo disso.

No entanto, sucessos existem que estão marcados nas culturas de vários povos de muitos lugares. Os mitos primitivos, com algumas variantes, mais ou menos acentuadas, são comuns, na sua essência às culturas ocidentais como orientais, mediterrânicas como nórdicas, africanas, asiáticas ou europeias. Mesmo em alguns mitos dos povos primitivos do continente americano podemos reconhecer traços comuns com mitos do resto do globo.

A ciência dos nossos dias estabeleceu que o homem terá deixado de ser símio em África. Daí ter-se-á espalhado para a Ásia, desta para a América e a Europa, em movimentos diversos e momentos distintos e autónomos. O conjunto de mitos primitivos dos vários ramos de distribuição geográfica do bicho que se tornou Homem é, quando dotado de similitudes essenciais, significativo. Corresponde, pensa-se com foros de lógica, a memórias de factos relevantes efetivamente ocorridos, memórias passadas oralmente de geração em geração, alteradas quer por virtude do decurso do tempo, quer em face das diferentes condições geográficas e evoluções culturais dos diversos povos ou tribos.

Os relatos míticos de sucessos ocorridos milhares de anos antes da sua fixação escrita são, obviamente, inaceitáveis enquanto fonte histórica. Mas são significativos de uma dada tradição cultural - e tanto mais significativos e merecedores de atenção quanto comuns a diversas tradições.

Os Livros Sagrados de todas as religiões não terão sido ditados ou dados diretamente pela Divindade ou Divindades. Mas esses Livros Sagrados, enquanto repositórios de tradições, de contos, de lendas, de lembranças alteradas e adulteradas pelo decurso do tempo e do acrescentar de um ponto por quem conta um conto, são elementos indiciários de panos de fundo, de factos memoráveis ou extraordinários que, pela sua magnitude, importância, bizarria ou incapacidade de serem compreendidos, marcaram os imaginários primitivos.

O que de similar existe nas várias tradições das diferentes civilizações ou, simplesmente, povos primitivos é elemento fortemente indiciário de que algo dessa natureza comum efetivamente sucedeu. Não sabemos quando, nem onde, nem como, nem concretamente o quê (não há registos documentais...). Mas temos por indiciado que algo da natureza da essência dos diferentes mitos comuns terá sucedido e terá sido tão importante que impressionou, ao ponto de o seu relato ser transmitido e alterado e adulterado, de geração em geração, até ser fixado em escrita, milhares de anos depois da ocorrência.

Um desses sucessos é o que na Bíblia é descrito como Dilúvio. Não podemos saber se terão sido chuvas prolongadas e fortes, se alterações geológicas, se inundações fortes e inesperadas. Mas a existência de um mito primordial e comum a diversas civilizações de que existiu um alagamento, uma destruição de lugar ou civilização importante - tão importante que, no registo bíblico, é descrito como universal - é indício seguro de que algo cataclísmico relacionado com a água e a sua força destruidora ocorreu. Que muitos pereceram e só poucos sobreviveram. E que os poucos sobreviventes tiveram como que recomeçar de novo. A Bíblia chamou-lhe o Dilúvio. Outras tradições e mitos chamam-lhe, por exemplo, a destruição da mítica Atlântida...

Quanto mais recuados os tempos, menos provas existem, de menos indícios dispomos. Recuando aos primórdios do bicho feito Homem, muitas vezes, para além de ossadas aqui e ali descobertas - que de pouco, em termos factuais, servem - os únicos elementos que restam ao estudiosos são os relatos míticos dos ditos Livros Sagrados.

Os relatos dos Livros Sagrados, particularmente da Bíblia, não sendo fontes documentais históricas, assumem, à falta de melhor, o papel de registos de mitos correspondentes a sucessos muito antes ocorridos, seguramente adulterados, quiçá embelezados, porventura exagerados. Mas indiciam que algo do género ocorreu, algures nas profundezas do passado do primitivo bicho que se tornou Homem e se agrupou em tribos e se fixou aqui e acolá e construiu e viu destruído, e vagueou e lutou e algo fez e viu e viveu e achou memorável - e por isso passou de geração em geração, alterando, adulterando, acrescentando, embelezando, imaginando, relatando, contando, derivando, criando uma estória que não será História, mas que se baseia numa história efetivamente ocorrida.

Relativamente à Antiguidade profunda verdadeiramente antiga, tão antiga que já era antiga e imemorial nos primitivos tempos em que os textos bíblicos - e outros textos sagrados - foram escritos, apesar dos pesares o registo bíblico é um indício de que algo do género, parecido, tendencialmente da mesma natureza, ocorreu, repito, não se sabe quando, nem onde, nem exatamente o quê e como.

A Lenda do Ofício inicia-se nessas profundezas do tempo que foi a Antiguidade da Antiguidade, o tempo que os Primitivos, se deles tivessem consciência, considerariam primitivo. O relato bíblico não é - longe disso! - elemento histórico. Mas é o menos longínquo que possuímos para deduzir o que terá acontecido nessa infância da Humanidade.

Por aí - com todas as limitações para que neste texto alerto - começarei a minha análise crítica da Lenda do Ofício.

Rui Bandeira

14 agosto 2009

Mexigal... ou Portuguéxico ?

Hoje o monstro bloguista ataca de outro lado !
Ainda se lembram do monstro das bolachas ? Pois aqui é o monstro dos blogues que ataca de novo...

Mantenho este vídeo há muito tempo na esperança de que algo aconteça que faça com que eu possa apenas lamentar a situação mexicana.
Infelizmente não prevejo a breve prazo essa possibilidade.
Convém dizer que gostei do México as vezes que lá fui, e fui por razões diversas e a locais bem diferentes.
Gostei da maior Praça de Touros do mundo (impressionante, e eu não gosto de touradas !), gozei com a estátua do "pajarito" e do que ela representa (um touro que salto para as bancadas e marrou em tudo quanto era gente...), diverti-me com os mariachis e com a minha amiga Lupita (cantora mexicana de bela voz, mesmo com o prazo de validade a acabar...) e muito, muito mais que tive a oportunidade de ver, ouvir e... andar, andar, andar... porque tudo aquilo é muito grande e as piramides são altas e...
Bom, percebem que gostei do México !
Uma ressalva para a maior favela do mundo, que essa não tem graça nenhuma !
Mas num País onde tudo é o maior do mundo (segundo eles, claro) até o buraco do ozono é o maior do mundo.

Aqui acabam as diferenças com Portugal e os portugueses !!!
Não somos os maiores do mundo, não temos nada de maior do mundo, para o bem e para o mal somos assim.
De facto não é bem verdade que assim seja, porque no mar, acredito que fomos e podemos continuar a ser os maiores do mundo. Pelo menos isso, embora a situação portuguesa esteja em conversão na área do saber aplicado, coisa que nos faltava por completo mas que na última década tem mostrado que existe e em progresso bem animador.

Agora, calmamente, vejam, ouçam e comparem (mais ou menos como o "pare, escute e olhe"... da CP).
Comparem connosco, traduzam do "castelhanês" para português, ponham os nomes com as adaptações convenientes... e façam o que puderem em frente ao espelho.

Bom fim de semana e como diria um amigo meu... "Sorte, Saúde e dinheiro para gastos" !

JPSetúbal

12 agosto 2009

A Lenda do Ofício - 2.ª parte: a Idade Média

Rei Athelstan ou Athelstone

Continuo a divulgação, em tradução livre minha, da Lenda do Ofício, a lenda da origem da Maçonaria, tal como consta no manuscrito Downland, um manuscrito da maçonaria operativa, que se considera datar de cerca do ano 1.500. Relembro que, ao tempo, e conforme se verifica de vários manuscritos da maçonaria operativa que foram descobertos e estudados, as palavras Maçonaria e Geometria eram consideradas sinónimos entre os maçons operativos, os construtores em pedra reunidos em associações profissionais, que preservavam e transmitiam aos mais novos os segredos da construção, nomeadamente as regras geométricas que lhes permitiam facilmente determinar com acerto ângulos retos, alinhar paredes na vertical, etc..

No texto anterior, a Lenda evolui desde os primórdios da Humanidade, na era pré-diluviana, até à época do rei Salomão. O texto que segue prossegue a partir daí.

Homens da Fraternidade curiosos viajaram por diversos países, uns para aprenderem mais da arte de construir e aparelhar, outros para ensinar aqueles que tinham poucos conhecimentos. E assim sucedeu que houve um curioso Maçon, chamado Maymus Grecus, que esteve na construção do Templo de Salomão e que veio para França e aí ensinou a ciência da Maçonaria aos homens de França. E houve um, da linhagem real de França, chamado Carlos Martel; e ele era um homem que gostava muito desta ciência e aproximou-se deste Maymus Grecus, acima referido, e aprendeu com ele a ciência e obteve através dele os Deveres e as Regras; e mais tarde, pela graça de Deus, foi escolhido para ser Rei de França. E quando ele estava nessa função, contratou Maçons e ajudou a fazer Maçons de homens que não eram nada; e pô-los a trabalhar e deu-lhes os Deveres e as Regras e bom salário, tal como tinha aprendido de outros Maçons; e confirmou-lhes uma determinação de se reunirem anualmente; e acarinhou-os muito; e assim chegou esta ciência a França.
A Inglaterra em todo este tempo manteve-se alheia, quanto a qualquer assunto de Maçonaria, até ao tempo de Santo Albano. E nos dias deste o rei de Inglaterra, que era pagão, edificou as muralhas da cidade que agora se chama Saint Alban. E Santo Albano era um valoroso cavaleiro e nobre da corte do Rei e tinha a direção dos assuntos do reino e também da edificação das muralhas da cidade; e gostava dos Maçons e acarinhava-os muito. E fixou o seu salário bem, de acordo com os padrões do reino; pois deu-lhes dois xelins e seis dinheiros por semana e três dinheiros para as suas refeições. E antes desse tempo, por toda esta terra, um Maçon recebia apenas um dinheiro por dia e a sua refeição, até que Santo Albano emendou isso e deu-lhes uma carta-patente do Rei e do seu Conselho para reunirem em conselho geral e deu-lhe o nome de Assembleia; e, a partir daí, ele próprio ajudou a fazer Maçons e deu-lhes Deveres, tal como ouvirão mais tarde.
Pouco tempo depois da morte de Santo Albano, houve diversas guerras no reino de Inglaterra entre diversas nações, pelo que a boa regra da Maçonaria foi destruída até ao tempo dos dias do Rei Athelstone, que foi um valoroso Rei de Inglaterra e trouxe a esta terra descanso e paz; e construiu muitas grandes obras de Abadias e Torres e muitos outros tipos de edifícios; e gostava muito dos Maçons. E ele tinha um filho chamado Edwin, que gostava dos Maçons muito mais do que o seu pai. E era um grande praticante da Geometria; e dedicou-se muito a falar e a confraternizar com Maçons e a aprender a sua ciência; e depois, pelo amor que dedicava aos Maçons e à ciência, ele foi feito Maçon e obteve do rei seu pai uma carta-patente para realizar todos os anos uma assembleia, onde lhes conviesse, no reino de Inglaterra; e para corrigirem os erros uns dos outros e os atropelos que fossem feitos dentro da ciência. E realizou ele próprio uma Assembleia em York, e estes fez maçons e deu-lhes Deveres e ensinou-lhes as regras e ordenou que esta norma seria seguida para todo o sempre, e guardou então a carta-patente para a conservar e deu ordem para que fosse renovada de rei para rei.
E quando a Assembleia estava reunida, anunciou que todos os Maçons, velhos e novos, que tivessem alguma notícia ou conhecimento dos Deveres ou das regras que foram feitos antes nesta terra, ou em qualquer outra, deveriam deles dar conhecimento. E quando assim se fez, foram encontrados alguns em francês e alguns em grego e alguns em inglês e alguns em outras línguas; e o seu propósito foi de reunir todos num único. E fez um livro deles e de como a ciência foi fundada. E ele próprio proclamou e determinou que deveria ser lido ou contado sempre que um Maçon fosse feito, para lhe dar a conhecer os seus Deveres. E desde esse dia até agora as regras dos Maçons mantiveram-se dessa forma, tanto quanto os homens as podem executar. E a partir daí diversas Assembleias tiveram lugar e ordenaram certos Deveres, segundo o melhor juízo dos Mestres e Obreiros.

Por natureza, uma lenda não é realidade histórica. Nesta Lenda da Ordem é fácil, por exemplo, detetar anacronismos evidentes: Abraão contemporâneo de Euclides, um obreiro do Templo de Salomão contemporâneo de Carlos Martel.

Outros anacronismos não serão tão evidentes a quem não conheder profiundamente História e a História de Inglaterra, mas estão lá. Mas, anacronismos à parte, imprecisões expectáveis de uma estória que passa de geração em geração por tradição oral, se analisarmos bem a Lenda tendo sempre presente que Maçonaria é palavra utilizada como sinónimo de Geometria e que maçon é palavra utilizada tanto para significar o trabalhador de construção em pedra, como o estudioso de Geometria, como aquele que aplica noções de Geometria à arte de construir, como ainda aquele que se insere numa corporação organizada de construtores em pedra, poderemos verificar que esta Lenda tem mais correspondência com factos históricos do que, à primeira vista, se poderá supor.

Faço notar que, embora em inglês moderno se faça a distinção entre "mason" e "freemason", significando o primeiro termo "pedreiro" ou "construtor em pedra" e o segundo o que hoje se designa por maçon, aquele que se integra na Maçonaria especulativa, tal como existe desde o século XVIII, tal distinção inexistia, obviamente na época da maçonaria operativa, em que os termos "mason" e "freemason" eram indistintamente usados. Nesta tradução livre, optei por utilizar sempre indistintamente o termo maçon. Numas passagens do texto, significará o oficial do ofício da construção, noutras o cultor da ciência da geometria, noutras ainda o membro da corporação de construtores, e também porventura nalgumas delas assumirá simultaneamente dois ou mais destes significados.

Procurarei distinguir os vários significados do uso do termo, ao longo da análise crítica da Lenda do Ofício que me proponho levar a cabo. Sempre seguindo de perto os ensinamentos de Mackey, essa análise crítica será o objeto da série de textos que se seguirá.

Fonte: The History of Freemasonry, Albert G. Mackey, Gramercy Books, New York

Rui Bandeira


07 agosto 2009

Sigam... mas primeiro escolham !

Estamos em fase de férias gerais, ou quase.
E a propósito "do caminho" também em férias é bom que sigam o V. caminho, pensado primeiro, cumprido a seguir.
Como na vida !!! E férias são vida !

Claro que a afirmação inicial é destinada aos que têm férias. Infelizmente nem todos. Infelizmente nem serão para os que mais precisam.

De qualquer forma em tempo de calor sempre há algum relax... Os sentidos relaxam, os corpos dilatam, umas vezes por causa do calor, outras vezes por outras razões menos naturais (!).
Mas o Verão é assim, até mesmo um Verão em que a política portuguesa teria tanto para trabalhar.

Para animar o fim de semana supostamente quente, supostamente de Verão, supostamente de férias deixo-vos uma pérola tripla.

E quanto ao caminho a seguir... ... Quanto ao caminho a seguir, cada qual tem o seu.
Há que reconhecê-lo, estudá-lo (como os corredores dos ralies fazem em treinos para as provas), e depois , depois é andar pelo caminho descoberto, de preferência sem hesitações.

Se surgirem dúvidas (acontece aos melhores), há que ter a honestidade e a humildade de perceber que houve um engano e que é preciso corrigir.
E sendo caso disso recomeçar. Mas sempre por caminho próprio !
Nada de imitações nem de seguidismos.
Cada Homem é um ser único e, até ver, o Criador ainda não repetiu a combinação.
Como tal cada Homem tem um caminho próprio para andar... O seu caminho e não outro.

Já agora acrescento um detalhe geométrico. Os caminhos que percorremos não são paralelos.
Por tal razão eles cruzam-se em algum(ns) ponto(s), e é aqui que se vê a habilidade de cada um para conduzir na vida. Nestes cruzamentos não há sinais, nem avisos prévios.
Que acontece neles ?
Pois para alguns ocorrem acidentes que até podem ser graves, conflitos, quem passa primeiro, quem tem prioridade...
Outros aproveitam e fazem Amigos !!!

É outra das escolhas que temos que fazer ao longo do percurso e consoante as escolhas que forem sendo feitas assim o esforço vai sendo maior ou menor.

E se o percurso escolhido puder ser cheio, melhor. Cheio de vida digo eu !
Como diz o Professor Moniz Pereira, que no fim possamos ter, não uma vida com muitos anos, mas muitos anos cheios de vida !

Para este fim de semana cá fica um caminho... para ouvir e encher !



E como de costume... Bom fim de semana para todos e boas férias para os que estiverem de férias e boa semana de trabalho para os que, como eu, têm trabalho pela frente.

JPSetúbal

05 agosto 2009

A Lenda do Ofício - 1.ª parte: Antiguidade

Euclides

O manuscrito Downland, que se pensa datar de cerca do ano 1.500, é um dos manuscritos da maçonaria operativa que foram encontrados e estudados. Nele está, além do mais, transcrita a Lenda do Ofício a lenda da origem da Maçonaria (não esquecer que, conforme assinalei em Maçonaria = Geometria = Arquitetura, naqueles já remotos tempos Maçonaria e Geometria eram sinónimos).

Dada a sua extensão, vou divulgá-la em dois textos. Eis a primeira parte, em tradução livre minha:

(...) Pode um homem verificar que a ciência do trabalho se funda na Geometria, pois a Geometria ensina ao homem a dimensão e a medida, a forma e o peso, de todas as coisas na Terra, e por isso não existe homem algum que execute alguma ciência, sem que utilize alguma dimensão ou medida, nem nenhum compra ou vende sem que compre ou venda algo com medida ou peso, e tudo isto é Geometria. (...) Daí que se pense que a ciência da Geometria é a mais valiosa e que contém todas as outras.
Vou contar-vos como estas valiosas ciências apareceram. Antes do Dilúvio de Noé, havia um homem, chamado Lamech, tal como está escrito na Bíblia, no quarto capítulo do Génesis; e este Lamech tinha duas mulheres, uma chamada Ada e outra chamada Sella; da sua primeira mulher, Ada, teve dois filhos, Jabell e Tuball e da sua outra mulher, Sella, teve um filho e uma filha. E estes seus quatro filhos criaram o princípio de todas as ciências no mundo. O seu filho mais velho, Jabell, fundou a ciência da Geometria. (...) E o seu irmão Tuball fundou a ciência da música (...). E o terceiro irmão, Tuball Cain, fundou a ciência de trabalhar ouro, prata, cobre, ferro e aço (...). Esses filhos sabiam bem que Deus iria tirar vingança dos pecados, ou pelo fogo, ou pela água; portanto, escreveram as suas ciências em dois pilares de pedra, que pudessem ser encontrados após o Dilúvio de Noé. E uma das pedras era mármore, pois essa não arderia com o fogo; e a outra pedra era argila cozida em tijolos e não afundaria na água de Noé.
O nosso propósito é contar-vos com verdade como e de que maneira foram encontradas as pedras em que estas ciências estavam escritas. O grande Hermarynes, que foi filho de Cuby, o qual foi filho de Sem, que foi filho de Noé, mais tarde chamado de Hermes, o patrono dos homens sábios, encontrou um dos dois pilares de pedra e encontrou a ciência nele escrita e ensinou-a a outros homens. E na construção da Torre de Babel se fez o primeiro uso da Maçonaria. E o rei da Babilónia, que se chamava Nimrod, era ele próprio um maçon; e amava bem a ciência, e isto é dito pelos mestres em História. E quando a cidade de Nínive e outras cidades do Oriente foram construídas, Nimrod, o rei da Babilónia, enviou para lá três mil maçons a pedido do rei de Nínive, seu primo. E, quando os enviou, deu-lhes um Dever do modo seguinte: Que deveriam ser verdadeiros uns com os outros e que deviam gostar de estar uns com os outros e que deviam servir lealmente o seu senhor em troca do seu salário (...). E outros deveres de conduta lhes deu. E esta foi a primeira vez que aos Maçons foram impostos Deveres da sua ciência.
Mais tarde, quando Abraão e Sara, sua mulher, foram para o Egito, ali ele ensinou as sete ciências aos egípcios; e teve um valioso discípulo, chamado Euclides, que aprendeu bem e foi Mestre das sete ciências liberais. E no seu tempo, sucedeu que o senhor e os nobres do reino tinham tido muitos filhos, alguns das suas mulheres, outros de outras senhoras do reino; porque aquela terra é uma terra quente e propícia a gerar. E eles não tinham encontrado modos de vida satisfatórios para os seus filhos, de que muito gostavam, e então o rei do país convocou um grande Conselho e Parlamento para decidir como poderiam encontrar um modo de vida honesto para os nobres seus filhos, e não conseguiram encontrar boa maneira. E então anunciaram por todo o reino que se houvesse algum homem que os informasse, então deveria comparecer perante eles e seria recompensado pelo seu trabalho, de forma a deixá-lo satisfeito.

Depois que este pregão foi feito, veio então o valoroso Euclides e disse para o rei e todos os seus nobres: "Se me entregarem os vossos filhos para que eu os governe e lhes ensine uma das sete ciências, de forma que eles possam viver honestamente como nobres, deverão dar-me a mim e a eles uma carta-patente, de que eu tenho o poder de lhes determinar o modo como essa ciência deve ser regulada." E o rei e o seu Conselho concederam-lhe isso e selaram a sua carta-patente. Então o valoroso Doutor levou consigo os filhos dos nobres e ensinou-lhes a ciência da aplicação da Geometria ao trabalho de construção em pedra de igrejas, templos, castelos e palácios; e deu-lhes Deveres da seguinte forma.
O primeiro era que deviam ser verdadeiros para o Rei e para o Senhor de quem dependiam. E que deveriam gostar de estar juntos, ser verdadeiros uns com os outros. E que deviam chamar-se uns aos outros Companheiro ou Irmão, não por servo, ou escravo, ou outros nomes tolos. E que deveriam merecer o salário pago pelo Senhor ou pelo Mestre que servissem. E que deveriam designar o mais sábio deles para Mestre do trabalho e não deixar que essa designação fosse afetada por linhagem, riqueza ou favor, pois então o senhor seria mal servido e eles desonrados. E também que deveriam tratar o responsável pelo trabalho por Mestre, durante o tempo em que trabalhassem com ele. E muitos mais deveres de conduta que seria longo contar. E a todos estes Deveres fez jurar um grande juramento que naquele tempo se usava; e determinou que deveriam receber salários razoáveis, com os quais pudessem viver honestamente. E também que deveriam reunir-se anualmente, para discutir como poderiam trabalhar melhor e melhor servir o seu senhor, para ganho dele e deles próprios; e para corrigirem no seu próprio seio aquele que tivesse errado contra a ciência. E assim ali foi implantada a ciência; e o valoroso senhor Euclides deu-lhe o nome de Geometria. E agora é chamada em toda esta terra por Maçonaria.
Muito depois deste tempo, quando os filhos de Israel chegaram à Terra Prometida, que agora é chamada entre nós de Jerusalém, o rei David iniciou a construção do Templo que é chamado entre nós de Templo de Jerusalém. E o rei David apreciava os maçons e tratava-os bem e dava-lhes bom salário. E deu-lhes os Deveres pela forma que tinha aprendido no Egito, dada por Euclides, e outros deveres de conduta de que ouvirão falar mais tarde. E depois da morte do rei David, Salomão, que era filho de David, concluiu o Templo que o seu pai começara; e mandou vir maçons de diversos países e várias terras; e juntou-os, de forma a ter 40.000 trabalhadores em pedra e chamou-lhes maçons. E escolheu de entre eles 3.000 que determinou fossem Mestres e responsáveis pelo trabalho. E, para além disso, havia um rei de outra região que os homens chamavam Hiram, que era amigo de Salomão e que lhe deu madeira para a sua construção. E ele tinha um filho chamado Aynam (hoje designado por Hiram Abif) e ele era Mestre de Geometria e foi o Mestre Chefe de todos os maçons e foi o Mestre de todos os aparelhamentos e gravações das pedras e de toda a espécie de Maçonaria que dizia respeito ao Templo; e isto é testemunhado pela Bíblia, no Livro dos Reis, capítulo terceiro. E Salomão confirmou, quer os Deveres, quer as disposições que o seu pai tinha dado aos maçons. E assim foi a valiosa ciência da Maçonaria confirmada na terra de Jerusalém e em muitos outros países.

Fonte: The History of Freemasonry, Albert G. Mackey, Gramercy Books, New York


Rui Bandeira

31 julho 2009

O grande desperdício

Mais um exemplo espantoso de força moral, transformada em física.
Na Física aprende-se que existe uma energia potencial transformável em cinética sob determinadas leis, conhecidas e enunciadas.
Só que as leis da Física têm pouco a ver com o que é preciso para explicar os verdadeiros milagres de força de vontade que aqui são representados.

Vão aparecendo estes exemplos e de alguma forma vamos encontrando no nosso Portugal algumas melhorias no apoio a pessoas que de uma forma ou de outra necessitam mais dos outros.
Os exemplos que me vão entrando no correio e que depois eu vou aproveitando para trazer ao blog são lufadas de ar fresco no reconhecimento da força que cada um de nós tem por dentro.
É só querer, e ela aparece !

O lamento que resta é constatarmos que esta capacidade só aparece em casos de grandes dificuldades.
Que bom seria podermos desenvolvê-las para aplicação generalizada na transformação da Humanidade, independentemente da sua aplicação a necessidades próprias.

Pelo menos ficamos a saber aquilo que estamos a desperdiçar que é muito mais do que aquilo que estamos a aproveitar.


E por agora, grande abraço e bom fim de semana.

JPSetúbal

29 julho 2009

Entrevista esclarecedora

François Stifani
Muito Respeitável Grão-Mestre
da Grande Loge Nationale Française

A Grande Loja Legal de Portugal/GLRP tem uma ligação especial com a Grande Loge Nationale Française. Foi esta Grande Loja que a consagrou, então ainda com o nome de Grande Loja Regular de Portugal. Vamos, pois, estando atentos ao que se passa com os nossos Irmãos Regulares de França. E um dos sítios que regularmente consulto é o sítio da Grande Loge Nationale Française.

Deparei recentemente nesse sítio com um vídeo de uma entrevista do Muito Respeitável Grão-Mestre da GLNF, François Stifani que, apesar da sua grande extensão - 27 minutos - vale a pena ver.

Em primeiro lugar, pela naturalidade e simplicidade como o Grão-Mestre Stifani fala, com clareza, de assuntos tão diversos como o segredo maçónico, o que buscam os maçons regulares, a espiritualidade, a diferença entre a Maçonaria Regular e a Maçonaria da orientação do Grande Orient de France, a posição da Maçonaria Regular perante a religião católica e a Igreja Católica, a efetiva aplicação no seio da Maçonaria da divisa Liberdade-Igualdade-Fraternidade, etc.. Uma verdadeira lição, em poucos minutos, do que é Maçonaria.

Trata-se de uma entrevista concedida à TV 7, uma televisão regional francesa, de Bordéus. Mas não se pode deixar de notar que, se aqueles 27 minutos são verdadeiramente esclarecedores, sobretudo para os profanos, tal se deve também ao profissionalismo e qualidade do entrevistador. Perguntou o que precisava de perguntar para esclarecer os espectadores e deixou falar o entrevistado. Conduziu a entrevista como se de uma agradável conversa se tratasse, passando de tema a tema com a propósito, sem interromper malcriadamente o seu entrevistado, sem mostrar tomar partido a favor ou contra. O resultado foi um programa interessante, bem conduzido e elucidativo. Bem poderiam alguns e algumas profissionais da nossa praça, que se julgam estrelas do jornalismo televisivo, pôr os olhos e aprender com aquele profissional francês... É que, afinal, uma entrevista televisiva não tem propriamente como objetivo - exceto, parece, para algumas cabecinhas pensadoras que para aí andam... - fazer brilhar o entrevistador, qual estrela com aspirações a supernova... Uma entrevista televisiva é informação e o seu destinatário é o público. Não se destina a fazer brilhar nem entrevistador, nem entrevistado. Destina-se a INFORMAR. E, por isso, é-se bom profissional quando se conduz a entrevista, não com o propósito de contradizer, examinar, achincalhar, provocar, interromper, o entrevistado, não com o objetivo de encher o écran, mas com o único e reto propósito de criar as condições para que o entrevistado possa esclarecer a sua posição sobre os temas propostos. E depois o público faz o seu juízo: uns concordam, outros discordam, outros ainda ficam indiferentes...

Querem saber o que é, o que faz, como se situa perante a vida e a sociedade a Maçonaria Regular?

Pois bem, desde que entendam o francês, reservem 27 minutos do vosso tempo e... sigam este atalho:

http://www.glnf.fr/video2.asp
.

Às vezes, é pela forma mais simples que melhor se esclarece e se é esclarecido!

Rui Bandeira

24 julho 2009

Quando um jovem sonha

Quando um jovem sonha...:
"o mundo pula e avança, como bola colorida... "

Foi o nosso querido professor de Física/Poeta que ensinou e uma geração aprendeu.
Só que infelizmente a velocidade do desenvolvimento da sociedade humana não acompanha a velocidade de desenvolvimento dos sonhos nem da vontade de alguns (quero acreditar que cada vez em maior número) e o resultado faz com que a distância entre o que acontece em grande parte do mundo e o que gostariamos que acontecesse em toda a humanidade é cada vez maior.

Esta pequena interpretação deste pequeno jovem (bela voz !) vale o que vale (esta expressão é das coisas mais inteligentes que os nossos políticos, dirigentes desportivos, técnicos de sondagens e mais génios disparam a torto e a direito... com o ar inteligente que convém a estas declarações. Se estivessem ao pé de mim constatariam o ar intelectual que fiz nesta fase do texto...) e como tal é necessário ouvi-la com o distanciamento que fôr possível a cada um.
Mas trago-a para aqui porque a oportunidade é bem adequada ao que vemos nos jornais diários.
É mais um pequeno desafio ao pensamento "no outro" que o fim de semana pode ajudar a concretizar.
Se isso acontecer... valeu a pena !



E, como sempre... grande abraço e bom fim de semana.

JPSetúbal

22 julho 2009

Consagração da Grande Loja de Moçambique

Quem nos últimos dias passou pelo sítio da Grande Loja Legal de Portugal/GLRP, verificou estar lá publicado, com inusual destaque, um texto informativo com o mesmo título do que encima este arrazoado.

O inusual destaque indicia a particular importância que a GLLP/GLRP e o seu Grão-Mestre atribuem ao evento noticiado. Mas a institucionalidade do sítio em causa, que obriga a que o que ali é publicado como notícia seja sobretudo factual e objetivo, evitando-se os comentários e opiniões, não permitiu destacar, assinalar e enquadrar alguns aspetos significativos do evento e do que ele representa.

Em primeiro lugar, importa destacar a importância em si mesma do facto. Há muito, muito tempo que inexistia atividade maçónica publicamente conhecida em território moçambicano, em especial da Maçonaria Regular.

Em segundo lugar, é asado assinalar que a consagração da Grande Loja de Moçambique, sendo um início, é também um culminar de um processo preparatório minucioso, sério, discreto e persistente. Desde há vários anos que funcionavam, primeiro uma, depois outra, logo outra, Lojas sob a égide da Grande Loja Legal de Portugal/GLRP, ali estabelecendo as sementes e difundindo os princípios da Regularidade Maçónica. As sementes germinaram, os princípios consolidaram-se, o interesse foi crescendo, a aprendizagem foi-se fazendo. Sempre com a discreta ajuda e enquadramento da GLLP/GLRP. Foi um trabalho realizado longe dos holofotes, de formiguinha, de paciência, de método. Levado a bom porto. A gestação da Regularidade em Moçambique terminou no tempo próprio e agora é altura de os Irmãos daquele país seguirem o seu rumo administrando-se a si próprios, sem tutelas, sem protecionismos. Chegou a altura de uma nova Potência Maçónica Regular ser proclamada. Como é apanágio da Maçonaria, a nova Grande Loja de Moçambique é reconhecida como igual por todas as demais Potências Maçónicas que intervieram na sua Consagração e, paulatinamente, vai ser rconhecida como igual por todas as demais Potências Maçónicas Regulares do Mundo.

Em terceiro lugar, deve-se enquadrar devidamente o sucedido, quer pelo lado da Potência Maçónica consagrada, quer relativamente à consagrante. Estiveram presentes e intervieram na Consagração da Grande Loja de Moçambique e na Instalação do seu primeiro Grão-Mestre, nada mais, nada menos, do que quatro Grão-Mestres: o da GLLP/GLRP, Grão-Mestre Consagrante e Grão-Mestre Instalador, o da Grande Loja da Costa do Marfim, que exerceu os ofícios de Primeiro Grande Vigilante Consagrante e Primeiro Grande Vigilante Instalador, o da Grande Loja das Maurícias, que exerceu os ofícios de Segundo Grande Vigilante Consagrante e Segundo Grande Vigilante Instalador e o da Rússia, que, simbolicamente, tomou a seu cargo a imposição do Avental de Grão-Mestre ao recém-instalado Grão-Mestre de Moçambique. Estiveram ainda representadas, ao mais alto nível, a Grande Loja Nacional Francesa, através do Grão-Mestre Provincial da Ilha da Reunião, que exerceu as funçóes de Grande Orador, o Grande Oriente do Brasil, através do seu Grande Secretário Geral das Relações Exteriores, que assegurou o ofício de Grande Hospitaleiro, a Grande Loja da África do Sul, com uma numerosa delegação presidida pelo seu Past Grande Porta Espada, que, adequadamente, exerceu o ofício de Guarda Interno, e a Grande Loja do Gabão, através do seu Assistente do Grão-Mestre e Grande Secretário, que tomou a seu cargo a imposição da Joia e do Colar de função ao recém-instalado Grão-Mestre de Moçambique. Qual cereja em cima do bolo, esteve ainda presente o Secretário da Conferência Mundial de Grandes Lojas Regulares que, significativamente, procedeu à Proclamação da Grande Loja de Moçambique e do seu Grão-Mestre.

Esta comparência e cooperação de altos representantes de várias Potências Maçónicas representa um alto significado, quer para Grande Loja de Moçambique, quer para a GLLP/GLRP. Para aquela, a garantia do fácil, tranquilo e rápido reconhecimento de todo o Mundo Maçónico Regular. Foi consagrada pela Potência Maçónica Regular de Portugal, na presença da única Potência Maçónica Regular brasileira de nível supra-estadual, o GOB. Intervieram na sua consagração representantes, ao mais alto nível, de várias e importantes Potências Maçónicas africanas. Estiveram ainda representads duas outras indubitavelmente importantes Potências Maçónicas europeias, a GLNF e a Grande Loja da Rússia. Finalmente, foi proclamada pelo Secretário da Conferência Mundial de Grandes Lojas Regulares. Se isto não é demostrativo de consenso generalizado em torno da nóvel Grande Loja, não sei o que porventura será...

Também esta larga constelação de estrelas maçónicas presentes constitui um agradável conforto para a GLLP/GLRP. A Consagração por esta da Grande Loja de Moçambique foi respaldada, apoiada consensualmente, pelas principais Potências Maçónicas mundiais, algumas estando presentes e outras, embora não o estando, por princípios de atuação internacional próprios, como a UGLE (Grande Loja Unida de Inglaterra), apoiando a dita Consagração e que a mesma tivesse lugar através da GLLP/GLRP. A direção da tarefa de implantação da Maçonaria Regular nos países de língua oficial portuguesa em que esta ainda não está oficialmente implantada foi assumida pela GLLP/GLRP, com o consenso das demais Potências Maçónicas Regulares. E a generalizada prova da confiança no trabalho efetuado por esta leva-a, e aos seus obreiros, a perseverar na qualidade futura desse seu trabalho, no cumprimento estrito dos princípios da Regularidade e na sua divulgação.

Por tudo isto, foi um Grão-Mestre muito feliz, visivelmente contente e extraordinariamente satisfeito que encontrei no seu regresso da deslocação a Moçambique!

E tudo isto - por escolha própria - entendi não ser apropriado escrever no institucional sítio ds GLLP/GLRP. Mas considero poder e dever aqui ser publicado!

Rui Bandeira

17 julho 2009

Só sei que nada sei ?

Conta-se (ou cantava-se) nos meios académicos, pelo menos de Lisboa e Coimbra, uma historinha, mais ou menos "anedotificada", mas que retratava uma situação real passada numa aula de uma das várias "Matemáticas" pelo qual passaram os que andaram pelo Técnico ou pela Faculdade de Ciências de Lisboa nos idos de 60 do século XX (t'ou mesmo velho...!).

A coisa aconteceu com um professor de Matemática, conhecido e excelente cientista (está fora de dúvida), mas um tanto bronco no que tocava a sua vaidade pessoal, e rezava da seguinte forma:

- Meus senhores, no Congresso do último fim de semana só sábios eramos 14 !

Com toda esta modéstia é de prever que outras broncas sairiam de vez em quando, e saiam mesmo. Mas foi um excelente "prof" a quem muita gente da minha geração deve muito, do muito pouco que sabe.

Isto a propósito do vídeo/musiquinha de hoje, estilo "palavras cruzadas pensantes" para o fim de semana.

É que esta coisa de ponderar sobre o que se sabe ou não sabe, muitas vezes complica-se e damos connosco a pensar se de facto sabemos alguma coisa e que coisa é essa do saber.

Assim a modos como as "certezas" ácerca das quais eu sempre gosto de reproduzir um diálogo:

- Toda a gente que tem a certeza absoluta do que diz é estúpido...
- Tens a certeza ?
- Absoluta !

À hora a que habitualmente alinhavo estes pequenos introitos aos vídeos com que vou preenchendo as 6ªs feiras já não tenho paciência para dissertar sobre a relatividade do saber e do conhecimento, tanto mais que cada vez com maior frequência as “sardinhas assadas com pimentos” que ontem eram um veneno para tudo, hoje são um bálsamo para uma quantidade de maleitas perigosíssimas… !
O que significa que quanto mais certo estou de alguma coisa, mais perto estarei de um qualquer génio-novo vir provar que o quadrado é redondo e o círculo tem, nada menos do que quatro lados em bico concavo cruzados com semi-retas elíticas…
E quando um génio-novo diz… é porque é verdade, seja lá o que fôr !
Até aparecer o próximo génio-novo.

Portanto aqui Vos deixo um muito ligeiro alerta para as vossas convicções inabaláveis, tanto mais que a fixação das ideias está cada vez mais em risco.



E como diria o Rui, "G's" há muitos (!) e todos "G's".

Como sempre, desejo-vos a todos, a todos mesmo, um bom fim de semana cheio de boas e verdadeiras certezas.
Abraços.

JPSetúbal

15 julho 2009

G de... Maçonaria

Embora a Maçonaria Continental use o símbolo do esquadro e compasso apenas com estes dois elementos, a Maçonaria anglo-saxónica, de tradição e língua inglesa, usa como símbolo notoriamente reconhecido como o da Maçonaria uma imagem similar à que encima este texto, com o esquadro, o compasso e a letra "G".

É inevitável! O neófito, o recém-iniciado, uma das primeiras perguntas que coloca é qual o significado desta letra.

Também eu, naquele tempo em que era Aprendiz, fiz essa pergunta. Mas como eu sempre gostei de "beber do fino", não fui de modas e, quando se apresentou a oportunidade, fiz a pergunta ao Grão-Mestre! Era então Grão-Mestre, Fundador, o já falecido e, independentemente de infelizes sucessos posteriores, por mim muito admirado, Fernando Teixeira. Já noutro escrito o classifiquei como um vero príncipe da Renascença. Governava a Obediência com mão ferro envolta em luva de veludo. Experiente, sabedor - muito sabedor! -, inteligente e matreiro, bonacheirão na hora do descanso e ferreamente sério na altura do trabalho, era um líder carismático. Carisma que cultivava. E parte do cultivo desse carisma fazia-o com a disponibilidade que manifestava para ensinar, esclarecer, iluminar os Aprendizes com quem gostava de confraternizar.

Portanto, para mim não foi nada de mais fazer a pergunta que - imagino-o hoje - antes de mim dezenas ou centenas de outros lhe tinham feito: o que significa o "G"?.

O Fernando sorriu, recostou-se na cadeira e, mais uma vez, deu a resposta que já dezenas ou centenas de vezes dera: havia vários significados possíveis; uns defendiam que o "G" significava Gnose; outros que aludia a Geometria ou Geómetra, e por aí fora. Matreiro que era, nunca dizia o que se esperava que também dissesse e aguardava que a "brilhante sugestão" viesse do Aprendiz: e não significaria simplesmente "God" (Deus em inglês)? Mais um sorriso confirmava que a pergunta era aguardada e lá esclarecia que a Maçonaria era Universal, inerente a todas as línguas, que não parecia muito curial que um símbolo tão universal respeitasse a uma língua, e lá repisava as teses da Gnose (que lhe era cara, estudioso como era dos Mistérios Mitraicos) e da Geometria ou Geómetra.

Pese embora a minha admiração por ele, na altura pensei cá para os meus botões, aproveitando na íntegra o silêncio do Aprendiz, que "tá bem, abelha, a Maçonaria teve origem em Inglaterra, os ingleses são aqueles tipos que têm a mentalidade de pensar que, quando existe uma tempestade no Canal ds Mancha e a navegação tem de ser ali suspensa, é o Continente Europeu que fica isolado deles, queriam lá saber da língua dos outros; o "G" era de God e não se falava mais nisso!" A solução mais simples costuma ser a correta, para quê complicar?

Os anos passaram, a Mestre cheguei e Mestre sou e, cá para mim, embora, quando perguntado, exponha a tese da Geometria ou Geómetra (a da Gnose nunca foi do meu agrado, demasiado rebuscada que a acho), sempre que do meu interlocutor lá vinha a referência ao "God" eu lá admitia como possível, se calhar provável. Não podia eu desmerecer do que intimamente eu próprio pensava...

Pois bem! Aprender até morrer! Só os burros não mudam de opinião!

Estou finalmente convencido que o "G" significa Geometria.

No texto da semana passada referi como aprendi que, nos antigos manuscritos da Maçonaria Operativa, a palavra Maçonaria era comummmente usada como sinónimo de Geometria e da Geometria aplicada à construção, a Arquitetura. Pois bem, se "Maçonaria" era sinónimo de "Geometria", a inversa também era verdadeira. Na Maçonaria Operativa, falar-se de maçonaria era falar-se de geometria, falar-se de geometria era falar-se de maçonaria. Então, nada mais simples do que criar o símbolo da Ordem com os artefatos da profissão e a letra inicial da ciência em que se baseava: o esquadro, o compasso e o "G".

Portanto, afirmo e proclamo, abjurando das minhas antigas dúvidas e reservas: o "G" do símbolo da Fraternidade simboliza a Geometria. O que é o mesmo que dizer que... simboliza a Maçonaria!

Está assim explicado o título: "G" de... Maçonaria!

(E quanto a ti, meu caro Fernando Teixeira, meu sempre lembrado Grão-Mestre Fundador, que só por isso e pelo teu carisma obnubilas divergências posteriores, bem o sinto: se lá do assento etéreo em que subiste, memória deste mundo se consente... estou a ver o teu sorriso bonacheirão, contente e vitorioso! O "rapaz" foi teimoso, demorou vinte anos a lá chegar, mas finalmente acabou de te reconhecer a razão... - Não, meu caro, quanto à Gnose, não insistas... Já era um exagero... Concordemos em discordar... - Fica prometido: no próximo ágape ritual em que eu estiver, depois dos sete brindes rituais, chegada a hora dos brindes livres, eu proporei um brinde à tua memória. Porque de ti guardo e guardarei sempre enquanto por aqui andar a memória do teu carisma, da tua inteligência, da tua sabedoria, do muito de bom que fizeste e deixaste. Do resto, da divergência final, não cura a minha memória: já não eras tu, já era a doença final que te levou daqui. É assim que se constroem e se lustram as memórias daqueles que prezamos e admiramos!)

Rui Bandeira

13 julho 2009

Continuidade - Vem aí o 20º Veneravel.

Acontece todos os anos na primeira sessão do mês de Julho a eleição do Veneravel Mestre e do Tesoureiro.

A estabilidade da Loja permite que o processo eleitoral decorra sem quaisquer problemas ou dificuldades e consequentemente se eleve o espirito de união da loja.

Para os cargos de Veneravel e Tesoureiro foram eleitos respectivamente Rui C.L. e Alberto J.G. ambos mestres.

Se Alberto é um mestre recente e assume aqui o seu primeiro cargo de Loja, já Rui é um mestre com muitos, muitos anos de maçonaria. É do tempo da fundação da Grande Loja e não fosse ter tido que se ausentar durante uns anos já teria sido seguramente Veneravel há muito mais tempo.

Junta-se assim a experiencia de um com o desafio a outro no sentido de levar a Loja Mestre Affonso Domingues para mais um ano de trabalho que se espera gratificante.

A instalação decorrerá, previsivelmente, na primeira sessão de Setembro.


José Ruah

10 julho 2009

Modernices...

Desta vez não deixo passar a 6ªfeira sem Vos deixar uma prenda.

Vou fugir de novo das coisas sizudas, mas não menos sérias, para Vos trazer o resultado de uma daquelas modernices que andam para aí, que o pessoal agora inventa e impinge à malta, a "bué da malta", que fica "fixe à brava" com estas "manifs".

É assim, o mundo não pára e as sociedades vão assim de glória em glória até à... glória final.
Isto digo eu que sou otimista.
A imagem que junto hoje, dizem, disseram já vários entendidos na matéria, que não se repetirá.

- Olha que novidade... Se se repetisse é que eu ficava "estúpido", disse o "Lecas", "os cotas já malharam... áh, com'é que podem repetir ?"

Vejam e não fiquem invejosos por não serem capazes de fazer o mesmo.
Pensem que há mais assim. Não é Vosso exclusivo.



Sabem quem eram ? Quem eram, não, quem são, porque estes "não malharam, não...!"
O enorme par, com muito mau feitio, mas com uns pés de estarrecer.

Fred Astaire e Eleanor Powell aqui ficam para recordar... os que se recordarem, claro !

Ia esquecendo um pormenor. A "voz off" é... essa mesmo, "The voice" ! (Frank Sinatra).

Abração. Bom fim de semana.

JPSetúbal

08 julho 2009

Maçonaria = Geometria = Arquitetura

Albert G. Mackey

Estou agora a ler um livro que um dos meus Irmãos me ofereceu vai já para quatro anos e que os afazeres da vida, o imenso que há para ler e prioridades de leitura de outras obras relegaram para esta ocasião. É uma obra notável de um autor notável. O autor é Albert Gallatin Mackey. O nome dirá pouco a quem não for maçon- Trata-se do autor da conhecida Enciclopédia de Maçonaria (que está a ser publicada no sítio da Loja Mestre Affonso Domingues), um médico americano de Charleston, Carolina do Sul, também erudito historiador da Maçonaria. A obra é The History of Freemasonry - Its Legendary Origins (A História da Maçonaria - as suas Origens Lendárias).

A leitura desta obra permite-me relembrar algo aprendido em outras leituras, mas sobretudo permite-me aprender algumas coisas que não sabia. É assim, o Mestre maçon, se há algo que aprende, é que tem sempre mais a aprender...

A leitura desta obra oferece-me assunto para partilhar as minhas descobertas em vários textos. Começo hoje por algo que, sendo básico (depois de se saber...), permite compreender e interpretar melhor o significado real de algumas passagens dos textos primitivos da Maçonaria, anteriores à instauração da primeira Grande Loja de Londres e às Constituições de Anderson.

Existem diversos manuscritos que vêm do tempo da Maçonaria Operativa. O mais antigo de todos é o manuscrito Halliwell, que contém o chamado Poema Regius, que se crê datar de cerca de 1390. O manuscrito Cooke calcula-se que seja de um século depois. Do século XVI, segundo se crê, encontraram-se os manuscritos Downland e Landsdowne. Do século XVII, foram descobertos e estudados os manuscritos York, n.ºs 1, 2, 5 e 6, Harleian, n.ºs 1942 e 2054, Grand Lodge, Sloane, n.ºs 3323 e 3848, Aitcheson-Haven, Edinburgh-Kilwinning e Lodge of Antiquity. Já do século XVIII, mas anteriores à criação da primeira Grande Loja de Londres, descobriram-se os manuscritos, Alnwick, York, n.º 4 e Papworth.

Estes manuscritos contêm diversas informações sobre o que era a Maçonaria Operativa, entre elas a chamada Lenda do Ofício, a Lenda da criação e evolução da Maçonaria.

Uma das coisas interessantes desses manuscritos, vinda dos mais antigos e mantida nos mais recentes (que, em grande parte, eram cópias dos anteriores) é que a palavra Maçonaria era, nesses tempos, usada como sinónimo de Geometria. Assim, quando neles se escreve que Euclides é fundador da Maçonaria, o que se está realmente a dizer é que Euclides foi o criador da ciência da Geometria.

Por sua vez, a Geometria aplicada à construção, ou seja, a Arquitetura, também era designada por Maçonaria nesses manuscritos.

Ou seja, nos tempos da Maçonaria Operativa, dos construtores em pedra, a palavra maçonaria tinha três significados: a associação de construtores em pedra, que preservava e transmitia os segredos da profissão e regulava esta; a ciência da Geometria; a arte da Arquitetura.

Estes três significados, naturalmente, interligavam-se, porquanto os segredos da construção eram noções geométricas (tirar ângulos retos, a 47.ª Proposição de Euclides, mais conhecida entre nós por Teorema de Pitágoras, etc.), aplicadas à arte da Arquitetura e sua execução prática.

Não tinha ainda deparado com esta noção de que a palavra Maçonaria, nos documentos antigos, tinha também os significados de Geometria e de Geometria aplicada à construção, isto é, Arquitetura.

E esta noção permite compreender melhor os relatos desses documentos primitivos. Lidos com esta noção, talvez alguns pontos da Lenda do Ofício não sejam tão lendários como isso e correspondam a relatos, necessariamente imprecisos, da pré-história da Maçonaria, da ciência da Geometria e da arte da Arquitetura.

Pelo menos é uma interessante tese exposta pelo insigne historiador da maçonaria que foi Albert Mackey.

Fonte: The History of Freemasonry - Its Legendary Origins, Albert Gallatin Mackey, Gramercy Books, New York.

Rui Bandeira

04 julho 2009

Porque hoje é Sábado !

Pois é, porque eu me "distraí", porque eu me "atrasei", porque eu ando metido em 24 coisas ao mesmo tempo (é..., eu reconheço, sou burro...!) deixei passar a 6ª feira.
Sei que os habituais deste espaço ficaram a esfregar as mãos de contentes. Desta vez é que o "chato" cedeu ! Ficamos com um fim de semana limpinho.
Desenganem-se.
Mas porque hoje é Sábado ponho no blogue uma lufada de ar fresquíssimo, bem disposto, capaz de Vos deixar a pensar se me vão perdoar ou não...
Já não é mau ! Fica criada a dúvida, o que já é ganho.

Meus Caros, oiçam, reoiçam, trioiçam... e depois concluam como eu:
- BRILHANTE !
Vamos aplaudir de pé, mesmo.

Além de não acreditar que não ficaram, pelo menos, com um leve sorriso, seus mal encarados.

Queridos Irmãos, Amigos, Leitores, Bisbilhoteiros e demais ocasionais, para todos bom fim de semana.
E como disse o grande Vinicius "porque hoje é Sábado", aqui fica a nossa imagenzinha semanal:


JPSetúbal

02 julho 2009

O Silêncio dos Aprendizes

O Silêncio dos Aprendizes

Ao escolher este tema presto homenagem ao silêncio dos aprendizes em loja e em particular ao seu significado e objectivos, dado considerar que ele contribuiu decisivamente para a minha aprendizagem e para a minha evolução como pessoa e, espero que, como Maçon.

Silencio

Nas conversas prévias que tive com os Irmãos Mestres J:. R:. e R:. B:., integradas no meu processo de admissão à Maçonaria, houve desde logo algo que me causou alguma apreensão – como iria eu conviver com o silêncio que se impunha aos aprendizes em Loja. Ter uma opinião para transmitir e não o poder fazer, só poderia ser uma forma sofisticada de praxe ou de tortura, para ver se eu me aguentava....

Sendo normalmente uma pessoa interventiva, o ficar calado significava para mim quase que uma prova de fraqueza ou ignorância, e isso era algo que não estava habituado. No mundo profano, nomeadamente nas esferas empresariais, é normalmente preferível dizer alguma coisa, mesmo que inútil, do que não dizer nada, já que isso parece ser apreciado.

As minhas primeiras sessões em loja foram muito conflitivas – se não podia falar e só podia ouvir, o que é que eu estava ali a fazer? Durante este período, passei por várias fases evolutivas: equacionei ir-me embora, já que não queriam ouvir o que eu tinha para dizer e eu tinha muito para dizer; ponderei os inconvenientes de desrespeitar a regra, rompendo o silêncio; efectuei comparações entre os argumentos que eram utilizados e os que eu utilizaria na mesma situação, etc.. Creio que posso afirmar que a minha permanência na Maçonaria se deve a um acto de teimosia, já que decidi não desistir e ir até ao fim.

Gradualmente, fui começando a alterar a minha atitude perante o silêncio, principalmente a partir do momento em que conclui ser inútil preocupar-me em construir uma argumentação que depois não teria continuidade. Já que não podia falar, talvez existissem outras formas de rentabilizar o tempo que ali passava e a forma mais lógica e imediata parecia ser, ouvir e assimilar o que estava a ser dito. Tal “descoberta” fez-me começar a escutar de forma consciente, o que efectivamente se dizia, o que me conduziu a uma nova descoberta acerca de mim próprio: tinha tendência para só escutar os outros em função da resposta que teria de lhes dar e não por aquilo que tinham para me dizer.

Esta constatação levou-me a começar a tentar escutar os outros de forma desinteressada e sem reservas ou intenções. Foi um processo intencional, lento, com avanços e retrocessos mas extremamente agradável - sentir que começava a descobrir os outros e ver que a atitude destes se alterava gradualmente. De forma tímida no inicio, primeiro nos círculos familiares e depois entre amigos e em ambientes profissionais, foi encorajante ouvir frases como “não sei porquê, mas agora é mais agradável conversar contigo”...

No campo estritamente profissional e nomeadamente nos processos negociais, em que cada argumento antecipado pode constituir uma vantagem para os outros, descobri também que o escutar me permitia analisar melhor a situação e sobretudo preparar melhor a argumentação necessária à consecução de estratégias ganhadoras.

E no entanto toda esta simplicidade parece ser fruto de uma sabedoria milenar que já Hiram utilizava quando formava os seus aprendizes e companheiros, para os preparar para a construção do Templo de Salomão.

Quando o recém iniciado é advertido de que não poderá falar em loja, desde a sua iniciação até à sua passagem a mestre, devendo apenas ouvir e observar, está-se simplesmente a dar continuidade a um dos mais antigos costumes das ordens iniciáticas: o silêncio.

Voltado para si mesmo, calado, numa postura de reflexão e recepção, o Aprendiz Maçon deverá evitar resvalar para uma atitude passiva ou desinteressada. Pelo contrário, todos os seus sentidos devem estar atentos para o que se passa em loja. Ver, ouvir, receber, reflectir e guardar, são as palavras chave deste processo de aprendizagem e evolução interior. Juntar e interligar todas as informações que lhe chegam ao cérebro, estranhas e diferentes das que já conhece, formulando hipóteses e conclusões que lhe permitam uma visão cada vez mais elevada das observações que faz. Esta deve ser a maior preocupação do iniciado.

O ainda candidato é exposto pela primeira vez perante a regra de silêncio quando é introduzido na Câmara de Reflexão, permanecendo sozinho e ladeado por símbolos, palavras e frases, estimulado a pensar e a penetrar no fundo do seu interior. No silêncio da meditação, vai ao encontro de si mesmo, examinando minuciosamente o que lhe vai na alma. É então confrontado com a sigla Vitriol (Visita Interiora Terrae, Retificandoque, Invenies Occultum Lapidem), que na sua tradução para português significa: "desce ao interior da terra, e perseverando na rectidão, poderás encontrar a pedra oculta".

Após toda a cerimónia de iniciação, o candidato profano transforma-se em recipiendário silencioso, o recém iniciado assume o papel do hermetista, ou do alquimista na sua busca incessante da Pedra Filosofal, que uma vez descoberta, o transformará no homem perfeito. Este é o sentido que o maçom busca quando luta para transformar a sua Pedra Bruta na Pedra Cúbica, que poderá utilizar e encaixar perfeitamente na construção do seu novo Templo interior.

O conselho "lege, lege, relege, ora, labora et invenies", que significa lê, lê, relê, ora, trabalha e encontrarás, era dado ao eleito para conhecer e assimilar os mistérios da Alquimia. Hoje, continua sendo este o conselho dado ao iniciado. O maçon afasta lentamente todas as suas paixões, os seus vícios, os seus desejos incontroláveis, para vê-los transformarem-se em virtudes, domínio de si mesmo, tolerância e prudência, alcançadas no silêncio e na introspecção. O iniciado reconhece como fundamentais, as palavras "Vigilância e Perseverança" nas metodologias do seu estágio de observação. Quem fala muito pensa pouco, ligeira e superficialmente, e a Maçonaria quer que seus membros sejam melhores pensadores do que faladores.

Todo este processo pretende, na sua essência, preparar e induzir ao Aprendiz a necessidade da reflexão como método de transformação interna. Embora indirectamente, é possível estabelecer vários paralelismos e interacções com o Catecismo do 1º grau, nomeadamente:

  • Quando o Aprendiz afirma vir “vencer as suas paixões, submeter a sua vontade e realizar novos progressos na Maçonaria”, logo seguido de “Porque um Maçon deve desafiar-se a si próprio e evitar juízos de valor antes de consultar a sabedoria dos irmãos”. O silencio proporciona-lhe um método de progressão e impõe-lhe uma prática de reflexão que o levará a ponderar os seus juízos de valor em função de conhecimentos que deve reconhecer como mais profundos.
  • Na resposta “Antes queria ter a garganta cortada do que revelar os segredos que me foram confiados”, que pressupõe não só dedicação e respeito pela Ordem, mas também a capacidade de responder ou reagir após um processo de interiorização e valoração, que a pratica do silencio poderá ajudar a tornar inconsciente e natural.
  • Na resposta “Porque todas as forças destinadas a desenvolverem-se utilmente no exterior devem primeiro concentrar-se em si mesmas”, em que claramente transparece a necessidade de um trabalho interior prévio em que o silencio pode e deve ser uma peça fundamental.

Se mais não houvesse para aprender na Maçonaria, o ter conhecido o valor do silencio e tudo aquilo que este me proporcionou, já teria valido a pena.

Partindo de um silencio imposto, cujas motivações se fundamentam na sabedoria milenar do grupo e que constitui como que um tirocínio para o recém iniciado, passa-se para uma fase de utilização em termos interiores do silencio, evoluindo finalmente para um estadio de admiração pelo silencio em que a imposição se transforma em voluntariado que assim se transforma em sabedoria, fechando o círculo e preparando o iniciado para novas fases da sua evolução e do seu crescimento interior.

A. Jorge em 27.04.6000

01 julho 2009

Os segredos de Rosslyn (III)

(... continuação)

O Segredo das Pedras

Tendo descoberto irrefutáveis evidências que um alto grau da Maçonaria era conhecido por William St Clair, começámos a olhar mais atentamente do que antes para os mínimos detalhes do intrincado interior e exterior esculpido de Rosslyn. Uma pequena, porém fantástica descoberta, era a gravação de dois homens, lado a lado. Apesar desta escultura exterior estar danificada pelas intempéries e possuir aproximadamente trinta centímetros de altura, pudemos observar muito bem a maior parte dos seus detalhes. Ela mostra um homem vendado com vestimentas medievais, ajoelhado e segurando na sua mão direita um livro com uma cruz na capa, tendo os seus pés colocados de modo a formar um esquadro. Em torno do pescoço do homem há um nó corrediço, sendo a ponta deste segurada por um segundo homem que estava veste um manto templário com a cruz distintiva mostrada no seu peito.

Quando descobrimos esta pequena gravação, procurámos Edgar Harborne, uma autoridade da Grande Loja Unida da Inglaterra. Somados, tínhamos aproximadamente setenta anos de experiência maçónica e sabíamos exactamente o que estávamos a olhar. Edgar estava empolgado e surpreso, assim como nós, pois não havia qualquer dúvida; esta era a imagem de um candidato à Maçonaria durante o processo de sua iniciação no ponto crítico de seu juramento de obrigação. A forma dos pés, o cordame, a venda, o volume da lei sagrada - esta imagem mostra um homem sendo admitido na Maçonaria cinco séculos e meio atrás! Ainda mais, esta pequena estátua era a primeira representação visual de um Templário conduzindo uma cerimonia que nós agora consideramos ser unicamente maçónica.

O facto de ela apresentar um Templário conduzindo um candidato implica que a escultura estava a demonstrar um evento histórico que datava do período templário, deste modo ela poderia estar a mostrar-nos uma cerimónia maçónica de setecentos anos de idade.

Dentro da edificação, nós analisamos cada uma das pequenas esculturas. Isto era difícil, devidoa, em algum ponto do passado recente, alguma alma caridosa ter cobrerto completamente o interior com uma massa de areia e cal numa mal sucedida tentativa de proteger o trabalho de cantaria, o que obscureceu os pequenos detalhes.

No alto de dois meio pilares construídos na parede meridional, com uma altura de aproximadamente três metros, nós descobrimos pequenas representações que eram extremamente interessantes. Uma destas com apenas alguns centímetros de altura mostra um grupo de figuras com uma pessoa transportando uma peça de tecido, que tem no centro a face de um homem barbado e com cabelos longos. A figura que transporta o tecido não tem cabeça e, uma vez que há poucos danos ao edifício, parece, como pensamos, que ela foi deliberadamente removida. Isto fez-nos olhar para outras cabeças e ficámos impressionados pela distintiva aparência de cada uma delas. As faces não são amenas ou anónimas, como normalmente se vêem em edifícios semelhantes; elas dão a impressão de que eram deliberadamente semelhantes a indivíduos conhecidos - quase como máscaras mortuárias em miniatura.

Só nos restava especular: esta pequena estatueta representa alguém segurando o Sudário de Turim?

Só existem duas explicações para tal imagem: é o Sudário de Turim que está sendo transportado ou é aquilo que conhecemos por "Veránica"?.

A lenda não-bíblica de Santa Verónica narra como uma mulher (frequentemente associada à Maria Madalena) deu o seu manto (em algumas versões o seu véu) a Jesus para enxugar a sua face quando ele estava a deixar o Templo ou no caminho do Calvário transportando a sua cruz. Quando esta tomou o manto de volta, neste havia a imagem da face miraculosamente impressa no tecido. Estudiosos modernos acreditam que o nome "Verónica" é derivado do latim vera e do grego eikon, significando "a verdadeira imagem". O nome e a ideia são um tanto suspeitos, uma vez que a Igreja Católica Romana não reconhece uma santa chamada Verónica. Apesar desta negação de beatificação, o "manto original" pode ser encontrado na Basílica de São Pedro na Cidade do Vaticano.

Isabel Piczek, uma artista que tem estudado o Sudário de Turim e que provou que este não poderia ser uma pintura, esteve numa visita não oficial para ver a Verónica na Basílica de São Pedro. Ela descreveu esta experiência ao pesquisador do Sudário, Ian Wilson:

Sobre ele estava um pedaço de tafetá colorido do tamanho de uma cabeça, do mesmo tipo do sudário, levemente acastanhado. Ele não parecia estar remendado, apenas uma mancha de cor ferrugem acastanhada. Parecia um pouco desigual, excepto por algumas descolorações trançadas... Mesmo com a melhor das imaginações, você não é capaz de deslumbrar qualquer rosto ou imagem dele, nem mesmo a mais leve sugestão disto.

Estávamos cientes que esta antes inexpressiva relíquia "sagrada", ou a ideia por trás dela, possa ser anterior ao advento do Sudário, mas não era certamente logo após as exibições públicas do Sudário de Turim em Lirey que a popularidade de uma imagem do rosto sagrado cresceu. O Padre Thurston, um historiador cristão, categoricamente estabelece que a lenda da Verónica, como apresentada na actual Estações da Via Dolorosa, não pode ser datada de antes do final do século XIV. Tal datação significaria que a lenda surgiu após a primeira exibição pública do Sudário de Turim em 1357.

A cabeça de Cristo tem sempre sido representada nos ícones como tendo longos cabelos repartidos ao meio e com uma barba espessa e quando um pedaço de tecido surgiu com tal representação poderia ter difundido a ideia de uma "Verónica".

A coluna seguinte em Rosslyn possui uma cena igualmente pequena que mostra uma pessoa sendo crucificada, mas estranhamente, uma vez mais a cabeça foi removida. Os únicos danos aparentemente deliberados que nós conhecemos na edificação são as das cabeças portando o rosto no tecido e da pessoa crucificada. É como se alguém sentisse a necessidade de ocultar a identidade por detrás destas imagens. Nós imaginamos se a pessoa que encobriu o pilar de Jachin com gesso também removeu as cabeças dessas figuras chaves?.

Se estes eram uma simples Verónica e uma representação padrão de Jesus na cruz, não haveria necessidade de desfigurar os principais rostos.

A figura crucificada não está pregada numa ideia normal da cruz cristã, onde a parte superior continuava afim da trave horizontal, mas numa cruz na forma de um Tau judaico que possuí a forma de um T. As representações cristãs medievais frequentemente mostram uma segunda trave representando a placa que com zombaria, proclamava Jesus como sendo o Rei dos Judeus - mas nunca mostra uma cruz Tau.

"Tau" é a última letra do alfabeto hebraico e, como a letra grega "Omega", representa o fim de algo, especialmente a vida. É também verdade que a maioria das crucificações romanas eram feitas em estruturas com este formato, mas nenhum construtor do século XV teria condições de saber isto. Parece que o criador desta pequena gravação ou era muito bem informado a respeito da metodologia das crucificações romanas ou estava deliberadamente utilizando a simbologia judaica para a morte. Aquando da pesquisa para o nosso livro anterior, nós tinhamos trabalhado com a ideia de que a imagem do Sudário de Turim poderia ser a do último Grão-Mestre dos Templários e, se as nossas suspeitas de que o Sudário de Turim é a imagem de Jacques de Molay estiver correcta, nós poderíamos esperar que William St Clair estivesse atento a este facto, uma vez que a sua família esteve intimamente envolvida com os Templários que tinham fugido para a Escócia após a queda da Ordem - mas por que é que ele está representado desta forma? Talvez o Sudário seja muito mais importante do que tinhamos pensado.

O corpo governante da Maçonaria Inglesa e Gaulesa, a Grande Loja Unida da Inglaterra, é enfático sobre o facto de nada ser conhecido ao certo sobre a história da organização anterior à fundação da Grande Loja de Londres em 1717. Tem sido crítico para nós sugerir que há uma história a ser descoberta para aqueles que escolheram procurar, e aqui, em Rosslyn, nós possuíamos provas positivas de que os rituais maçónicos são pelo menos duzentos e setenta e cinco anos mais antigos do que a história oficial da Maçonaria, como definida pela Grande Loja Unida da Inglaterra.

O nosso próximo passo de pesquisa era olhar atentamente para como e porque a Maçonaria Inglesa perdeu contacto com seu passado e estabelecer o que está sendo escondido, se for o caso, por trás de uma cega recusa em conhecer qualquer história anterior a 1717.

Conclusão

Parece que os Cavaleiros Templários conheciam o que estavam à procura quando iniciaram sua escavação de nove anos e o seu voto de obediência fortemente sugere que outros estavam envolvidos por detrás disto tudo.

Rosslyn é uma cópia deliberada das ruínas do Templo de Herodes com um projecto que é inspirado na visão de Ezequiel da nova "Jerusalém Celeste". As pistas para a compreensão da edificação estavam colocadas dentro do então secreto ritual do Grau do Santo Real Arco da Maçonaria. William St Clair utilizou este método para nos contar que a edificação é "o Templo de Jerusalém", "uma chave para um tesouro" e "um lugar onde algo precioso está oculto", ou "a própria coisa preciosa".

A grande parede ocidental de Rosslyn pode ser conclusivamente encarada como uma reconstrução de parte do Templo de Herodes, e o nome "Roslin" possui o surpreendente significado "o antigo conhecimento passado ao longo de gerações", quando compreendido a partir do gaélico. A razão para este nome não está clara, mas Henri St Clair de Roslin era excepcionalmente íntimo de Hugues de Payen, o líder dos primeiros Templários.

Uma gravação no exterior claramente mostra um candidato sendo iniciado na "Maçonaria" por um homem usando um traje templário, e uma inscrição dentro da edificação demonstra que os construtores estavam familiarizados com um dos altos graus da Maçonaria, trezentos anos antes da data anteriormente aceita de sua origem.

Uma gravação dentro da edificação parece mostrar o Sudário de Turim sendo transportado por alguém e uma outra que mostra a crucificação de uma pessoa sem cabeça numa cruz Tau judaica. Talvez o Sudário de Turim esteja directamente conectado à história que Rosslyn narra em pedra.

Tradução livre de Texto de Dr. Robert Lomas e Christopher Knight

Os autores:

  • Christopher Knight nasceu em 1950 e em 1971 concluiu os seus estudos formando-se em publicidade e desenho gráfico. Demonstrou um forte interesse no comportamento social e no sistema de crenças tendo por muitos anos actuado como analista de consumo envolvido no planeamento de novos produtos e nas suas estratégias de vendas. Em 1976 tornou-se Maçon e actualmente é presidente de uma agência de publicidade e marketing.
  • Dr. Robert Lomas nasceu em 1947 e graduou-se com honra em engenharia eléctrica, dedicando-se após isso a pesquisa no campo de física dos estados sólidos. Mais tarde trabalhou no sistema de direcção para os mísseis Cruise e esteve envolvido no desenvolvimento de computadores pessoais mantendo sempre o seu interesse sobre história da ciência. Actualmente lecciona no Centro de Administração da Universidade de Bradford. Em 1976 tornou-se Maçon e rapidamente se tornou um conceituado orador e palestrante sobre a história da Maçonaria nas Lojas da região de West Yorkshire.